Capítulo 10 - parte 2 (não revisado)
O avião pousou em Brasília e Omar desceu. Ele veio sozinho, porque não queria envolver mais ninguém caso as coisas dessem errado, uma vez que existia um alto grau de haver problemas.
No aeroporto alugou um carro e com o GPS do telefone, localizou o seu alvo, parando dois quarteirões antes e caminhando calmamente. Era um bairro residencial muito pacato e tranquilo. Parou na frente de um prédio e observou-o atentamente. O porteiro apareceu, desconfiado.
– O que deseja aqui? – preguntou.
– O senhor sabe se tem algum apartamento para alugar ou vender? – perguntou-lhe, sorrindo delicadamente. – Achei o prédio bacana e o bairro bem tranquilo. É que estou me mudando para Brasília ainda este mês.
– O prédio é do governo – afirmou o porteiro. – Não tem nada para alugar.
– Ah, tá. – Omar fingiu decepção. – Obrigado, amigo.
– Olhe – disse ele, que quis ser gentil para compensar a grosseria inicial –, no outro quarteirão tem um prédio bem parecido com este. O zelador é meu amigo e comentou que vagou dois apartamentos.
– Obrigado pela dica, amigo.
– Basta seguir para lá – apontou a direção. – É o segundo prédio.
Omar continuou caminhando, deu a volta ao quarteirão, pegou o arro e procurou um hotel por perto. De noite, vestiu as roupas negras e saiu pelos fundos, passando desapercebido com toda a facilidade. Estacionou não muito perto e andou pelas ruas quase vazias durante uns dez minutos até chegar ao prédio desejado. Em um canto escuro, subiu o muro de grades e pulou para dentro, aliviado por não haver cerca de alta-tensão.
Evitou a câmera de segurança e alcançou as traseiras. Sem dar por nada, o porteiro dormitava na mesa em frente à entrada principal. Silencioso, Mancha Negra subiu as escadas até ao quinto andar e localizou o apartamento. Com o chaveiro que retirou do deputado morto, ele procurou a chave certa, achando-a na terceira tentativa. Entrou e fechou rapidamente a porta atrás de si.
Ficou um minuto em silêncio total, verificando se havia alguém no imóvel. Não ouviu nada e revistou os cômodos todos, concluindo que estava realmente vazio.
Localizou o escritório, fechou a porta, as cortinas e acendeu a luz. Olhou o lugar e viu as estantes, localizando o cofre. Tranquilamente pôs-se a abrir, procurando descobrir a combinação e dando graças a Deus que era um cofre de segredo mecânico.
Abriu a porta e retirou todo o conteúdo, analisando pasta por pasta e encontrando o seu dossier no meio. Feliz da vida, separou tudo o que precisava. Nomes, contas bancárias, depósitos, relações de atividades. Em uma mochila de computadores portáteis, além de um micro, guardou as pastas que subtraiu e devolveu o resto para o cofre, fechando-o. Apagou a luz e preparou-se para sair quando a porta do escritório foi aberta.
Com um salto rápido, Omar colocou-se atrás dela. Dois homens entraram e acenderam a luz, falando alto e tranquilamente.
– Nossa, que morte horrorosa ele deve ter tido! – disse o da frente. – Mas daí a culpar o tal delegado, sei não.
– E Josué, Murilo? Ele foi baleado de forma terrível e todos os seguranças mortos.
– Porra, cara, eles atiraram na filha do sujeito. Apesar de ser um inimigo, concordo com ele e respeito isso. Eu faria a mesma coisa no lugar dele.
– Esses gaúchos são todos malucos – disse o segundo. – Afinal qual é a dificuldade em matar o cara. Ele é humano, não é?
– Aí é que está – afirmou Murilo, contrariado – ele está mais para um demônio que qualquer outra coisa e ainda por cima comenta-se que é uma lenda na polícia federal. Alguns dizem que é mais seguro sair na porrada com um leão do que enfrentar o sujeito. Você sabe o segredo do cofre, Plínio?
– Está no envelope que ele deixou comigo. Temos que pegar aquele computador e destruí-lo. Se cair em mãos erradas, estamos ferrados.
Omar prestou bastante atenção a tudo o que diziam. Devagar e com muita calma, esgueirou-se para trás das cortinas, que iam até ao chão, pois sabia que vasculhariam a sala assim que não encontrassem o notebook.
– Ponha aí: quatro para a direita, seis para a esquerda, seis para a direita, um para a esquerda.
– Tá abrindo, Plínio.
– Tire tudo de dentro. – Omar ouviu o barulho das pastas sendo jogadas em cima da mesa. – Só tem isso?
– Só – respondeu. – Aqui dentro não tem nenhum computador!
– Tem que haver. Eu vi Cervantes colocar aí dentro, caraca.
– Então quem tirou?
– E eu vou saber?
– Vamos revistar a sala – disse Murilo. – Quem sabe ele não esteve aqui e usou o micro, deixando em algum outro lugar.
Apesar de revistarem meticulosamente o escritório, não encontraram Omar, embora fizessem uma bagunça enorme.
– Vamos ver o resto das pastas.
– Cara, alguém esteve aqui. – Murilo ficou nervoso. – Falta tudo o que é importante para nós. Eu acho que aquele delegado deve estar envolvido nisso. Bem que eu disse que deviam matá-lo há mais tempo. Vou mandar apagar esse desgraçado e a família toda amanhã mesmo. Quero ser se esse superdelegado pode contra uma centena de capang...
– Não, não vai – interrompeu Omar, que saiu do esconderijo erguendo a mochila e mostrando. – É isto que desejam?
– De onde surgiu o senhor?
– Das sombras da morte, onde mais, tchê?
– O que deseja?
– Matá-los, ora. Definitivamente, vocês não deviam ter dito isso. Quem ameaça a minha família, morre. – Omar ergueu a arma e deu dois disparos acertando no meio da testa de cada um. – Adeus.
Depois, com requintes de sadismo, colocou ambos nus e em situação bem comprometedora. Pôs a mochila nas costas e saiu do prédio tão sorrateiro como quando entrou, caminhando rapidamente para o carro. No hotel, entrou no quaro sem ser visto por ninguém, ligando para a esposa e falando alguns minutos para saber o estado do genro e da filha.
De manhã, muito cedo, ele foi para o aeroporto e comprou uma passagem para Porto Alegre onde tomou outro voo para Santo Agostinho.
Os corpos só foram encontrados dois dias depois e a polícia estava perdida, sem qualquer pista do duplo homicídio, desconfiando de crime passional.
― ☼ ―
Em casa, Omar digitalizou todos os documentos, compilando um dossier enorme e publicando em um blog na internet, tendo o cuidado de fazer isso em um blog fora do país para não ser censurado. Além disso, mandou uma cópia anônima para cada jornal e revista do Brasil, além dos principais jornais do mundo. Uma semana depois, o maior escândalo de corrupção envolvendo o governo foi exposto. Todos os dados foram apresentados, inclusive as ordens da execução de várias pessoas, até do delegado Omar Schmidt e contas bancárias no exterior com saldos atualizados de todos os corruptos.
O escândalo foi tão grande que dez ministros caíram, junto com a presidência do partido deles. Nem mesmo o mensalão teve tamanha repercussão e, no anonimato, um homem deleitava-se com o estrago que fez, sabendo que esse era o seu trabalho. Muita gente foi presa, exceto o chefe da quadrilha e isso deixou o delegado furioso. Decidiu esperar um pouco para a poeira assentar, antes de fazer a sua última aparição que vingaria definitivamente todas as vítimas da corrupção.
― ☼ ―
Seis meses depois, Omar voltou a envergar a roupa negra e retornou a Brasília, fazendo uma visita inocente a um certo ministro na calada da noite, invisível como sempre. Despejou o veneno na xícara de café que estava na sua mão, enquanto ele assistia televisão. Depois, deu a volta e sentou-se no sofá ao seu lado, com a pistola apontada para a cabeça dele.
– Parece que o senhor conseguiu safar-se daquele escândalo.
– Não estou envolvido em escândalos – respondeu, irritado e assustado.
– Por favor, Excelência. – Omar tirou a máscara. – Não ofenda a minha inteligência. Afinal, fui eu que vos entreguei! Vocês provocaram a morte de centenas de jovens, justo por consequência de uma ganância sem limites. O senhor vive bem; tem a sua aposentadoria como ex-presidente, recebe um ótimo salário de ministro...
– Olhe, companheiro, eu...
– Cale-se, bastardo. Bem sei que pretendem manter a hegemonia do governo e precisam de muita grana para isso, mas a política não pode continuar assim, um jogo sujo como esse.
– Mas eu...
– Já o mandei calar a boca. – Omar ergueu a arma. – E não adianta nada o que vai dizer, pois nunca me comprará. Bem, o senhor é o chefe desta alcateia e, a meu ver, responsável por inúmeras mortes, mesmo que executadas por terceiros. O meu genro foi gravemente ferido e quase morreu, sem falar na minha filha baleada e a minha casa metralhada. Não, se o senhor continuar vivo e no poder, vai começar tudo novamente, pois sabe que eu sou o autor das denúncias e do resto.
– Eu imploro, por favor...
– Não se preocupe. – Só atirarei se fizer besteira. – Sabe, eu fico imaginando aqueles podres jovens tentando inalar o ar, mas os pulmões deles estavam cheios de sangue, impossibilitando a respiração. Que morte mais cruel, não acha?
– É cruel sim – concordou o ministro, assustado. – Mas isso não foi nossa culpa.
– Claro que foi. Sua culpa. O senhor é o chefe dessa gangue. Aqueles jovens encontraram na boate Beijo da Noite, o verdadeiro hálito fétido e putrefacto da ceifeira, o Beijo da Morte. Pois eu, na minha decisão de o castigar, também o contemplei com um lindo Beijo da Morte. – Omar olhou para o relógio e sorriu. – Parece que sente algumas cólicas. O senhor está bem?
– Eu, eu, eu... – O ministro criminoso debruçou-se sobre si mesmo. Sem forças disse. – Socorro...
– Isso é só o começo, em breve, vai asfixiar e então terá sentido algo parecido com o que vocês fizeram para aqueles jovens.
Omar terminou de ver o homem agonizar e voltou a desaparecer na calada da noite para se aposentar definitivamente. No aeroporto, aguardou tranquilo a chegada do seu avião, que estava atrasado, mas ele não tinha qualquer pressa desde que conseguisse chegar à sua casa e ver a esposa, os filhos e aposentar de vez o Mancha Negra.
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