Capítulo 1 (não revisado)

"Todas as pessoas cruéis descrevem-se como modelos de sinceridade."

Tennessee Williams.


No interior do Rio Grande do Sul, a pacata cidade de Santo Agostinho estava em expectativa pois ia inaugurar uma nova casa noturna que prometia ser a melhor da região. Santo Agostinho era uma cidadezinha de duzentos e cinquenta mil habitantes, tranquila, com ruas muito arborizadas e poucos prédios que se situam principalmente no centro. Como todas as cidades, tinha as suas partes boas e ruins, já que, apesar de ser bem pacata, havia duas favelas e uma delas era tomada pelo crime organizado. Isso ocorria principalmente porque Santo Agostinho tinha uma localização geográfica que facilitava o tráfego de drogas e armas que vinham de fora do país. A criminalidade, porém, era baixa e situava-se geralmente na periferia, sendo uma cidade muito tranquila e agradável de se viver.

Outro fator que a tornava um polo centralizador era o fato dela ter uma grande universidade federal, a maior do interior do estado e que recebia jovens estudantes de todas as regiões do Rio Grande do Sul, outros estados e até de alguns países vizinhos, uma vez que possuía as melhores faculdades de agronomia e veterinária do país.

Uma semana antes de inaugurar a nova danceteria, que já estava famosa e badalada antes mesmo de começar as suas atividades, os dois proprietários, o gerente e um engenheiro dos bombeiros, inspecionavam o local com este último apontando todo o tipo de irregularidades.

– Os senhores não estão aptos a operar a casa noturna – afirmou o técnico, enfático –, pois está tudo completamente fora dos conformes. É necessário aumentar consideravelmente a saída ou criar, no mínimo, duas saídas de emergência muito bem sinalizadas e que comportem ao todo sete metros de largura. No estado atual, só podem dar vazão a noventa pessoas por minuto o que, numa emergência, é muito pouco e geraria pânico e muitos feridos. Também lembrem-se que as portas de emergência devem abrir para fora e com facilidade, jamais para dentro. Precisam aumentar a quantidade de extintores de incêndio, especialmente perto do palco, do bar e na cozinha, novamente muito bem sinalizados. Para o isolamento acústico do salão, vocês usaram materiais de péssima qualidade e que, no caso de haver um incêndio, será bastante perigoso em vista de largar uma fumaça à base de cianeto que é muito tóxica. Outro detalhe a se considerar é que a capacidade máxima de clientes deve ser limitada a mil e duzentos elementos, já que a área é de apenas seiscentos e vinte metros quadrados. Só que, com a estrutura atual, até metade disso já seria um grande perigo e uma tremenda irresponsabilidade.

O veredicto soou como um estrondo nos ouvidos de Francisco Mendes, um dos proprietários que sentiu imediatamente o prejuízo que iam ter.

– Não há tempo de fazer isso até à inauguração! – resmungou, muito nervoso. – Sem falar que já temos uma festa encomendada para breve!

– Sinto muito, mas eu não vou fornecer o certificado de segurança sem que as normas sejam obedecidas. É por isso que temos a ABNT – respondeu o engenheiro, enfático. – Não tenho o menor interesse em ter a morte de seres humanos na consciência e é o que aconteceria no caso de um azar.

– Não tem como dar um jeitinho, senhor Pimentel? – questionou Dionísio Varela, o outro proprietário que estava habituado a tentar subornar para resolver problemas. – Podíamos conversar e chegar a...

– Esse é o problema de sempre. – O engenheiro interrompeu, bastante irritado. – O famoso jeitinho brasileiro. Espero que não repitam isso pois sou funcionário público e vocês estão cometendo um crime. Eu não sou homem de aceitar subornos e posso denunciar vocês. Para vossa informação, isso dá cadeia!

– Calma, tchê – pediu Francisco, assustado. – Vamos providenciar tudo e não pretendemos subornar ninguém.

– Nesse caso, marquem uma nova inspeção quando estiverem dentro das normas e terei o maior prazer em fornecer o certificado de segurança para os senhores – afirmou o engenheiro, visivelmente mais tranquilo. – Do jeito que está, nada feito, pois já disse que eu não quero a responsabilidade de mortes inocentes pesando nos meus ombros.

– Claro, senhor Pimentel – respondeu Francisco, aliviado em ver que o engenheiro tranquilizou-se. – Faremos tudo o que disse, obrigado pela sua atenção.

Ambos ficaram a olhar o bombeiro sair, um homem resoluto e de estatura mediana. Após, formam para a sala dos fundos, onde ficava o escritório. Francisco disse para o sócio, meio chateado:

– Bah, Dionísio, tu quase arruma a maior bronca pra nós. Tava na cara que aquele sujeito não ia aceitar bola. – Virou-se para o gerente e continuou. – Joel, vê se tu compra mais dez extintores de incêndio dos tipos que ele mandou.

O gerente saiu para acatar a ordem enquanto os donos ficaram sentados, pensando:

– Não vamos conseguir abrir semana que vem. – disse Francisco, coçando a cabeça. Acendeu um cigarro e continuou. – Só para quebrar as paredes e fazer as duas saídas de emergência vai levar um mês! Mas que porra. Por que não nos avisaram isso?

– Que nada, Chico. – O sócio recostou-se e a cadeira rangeu por causa do peso excessivo. Tranquilo e rindo, disse. – Deixa comigo que eu vou falar com um amigo lá dos bombeiros e dou um jeitinho bem rápido. Milzinho em cada mão e tá resolvido. Deixa que eu cuido de tudo.

– Tu tem certeza, tchê? – Francisco ficou apreensivo. – Cara, a gente pode dar-se mal pra caramba!

– Xá comigo que eu resolvo esse perrengue – tranquilizou o amigo, rindo novamente. – Amanhã, vamos ter outro fiscal aqui, um bem diferente.

– Bah, tchê. – Francisco fez cara preocupada. – Eu achava melhor a gente fazer a coisa certa...

– Corta essa, velho. – Insistiu Dionísio, irritado. – O pessoal da UFSA já marcou uma festa aqui prá semana que vem e vamos perder uma bolada graúda se não abrirmos. Além disso, o chefe não vai gostar nada dessa situação. Ele quer ver a casa funcionando o quanto antes. Tchê, eu resolvo as coisas, deixa comigo, ok?

– Tá bom. Tu que sabe. – Os dois sócios, embora não tivessem qualquer parentesco, bem que passariam por irmãos, pois ambos tinham um metro e setenta e cinco, cabelos pretos, espessos, olhos castanhos, peso excessivo com algumas gorduras localizadas saindo pela cintura e um jeito que não inspirava confiança de qualquer tipo. Dionísio, entretanto, era uma pessoa com trejeitos de crueldade e nitidamente desviado para a marginalidade. Já Francisco estava mais para o tipo comedido, um tanto medroso com a contravenção e ao mesmo tempo atraído por ela, gostando de usufruir porém sem coragem para agir diretamente, o que fazia a sociedade dos dois ser praticamente perfeita. Ele observou Dionísio sair da boate, caminhando com segurança e rindo.

No dia seguinte, outro engenheiro dos bombeiros apareceu no local, olhou tudo anotando em uma planilha e sorrindo. No final da inspeção, qe foi muito superficial, aprovou tudo.

– Não te disse, Chico? – Dionísio riu. – Tá resolvido.

Na semana posterior, a boate abriu e tornou-se o maior fervo da cidade. Era um recinto essencialmente retangular e bastante amplo. Do lado esquerdo, junto à parede e a meio do comprimento, ficava o bar e ao fundo o palco onde bandas podiam tocar ao vivo. Do lado oposto ao palco e antes do bar, ficava a parte com as mesas para os clientes que queriam permanecer sentados e que eram servidos por garçons. À direita, do outro lado do salão, um pequeno corredor levava para os sanitários, fora do recinto principal.

Na noite da inauguração, a fila para entrar na Beijo da Noite foi enorme e os seguranças tinham dificuldade em conter as pessoas, a maior parte muito curiosa para conhecer a nova boate, tão difundida na mídia pelos dois últimos meses.

Enquanto uma música mecânica tocava, os clientes, na sua maioria jovens, iam entrando lentamente, alguns sentando-se em mesas perto do bar, enquanto outros iam garantindo os seus lugares junto ao palco. A ala VIP foi-se enchendo aos poucos com aqueles que pagaram por essa área relativamente isolada por muretas e que ficava perto do palco com acesso facilitado para os garçons que os atendiam preferencialmente. Era uma área exclusivamente de mesas, sem pista de dança. Para dançar, eles tinham que se dirigir ao centro do recinto.

Em pouco tempo, o local ficou lotado e a banda principal começou sua apresentação, levando os ouvintes e fãs ao delírio.

Do pequeno escritório administrativo, Dionísio observava pela janela polarizada, olhando a boate cheia a abarrotar.

– Que beleza hein, Chico? – sorriu abertamente. – Estamos com a casa cheia.

– Acho que tem gente demais. Quantos entraram?

– Mil e oitocentos fregueses, sem falar que tem uma fila enorme lá fora.

– O bombeiro disse que nossa capacidade máxima deveria ser de mil e duzentos, tchê...

– Que se dane o tal de Alberto Pimentel – interrompeu o sócio, zombeteiro e rindo do amigo. – Olha como a casa está lotada e tranquila.

Nesse primeiro dia, a boate ficou aberta até às sete da manhã...

― ☼ ―

Mal estavam no início da segunda noite, Francisco recebeu um telefonema importante:

– "Chico, o que foi que andou rolando por aí?" – perguntou o interlocutor. – "Tem um engenheiro dos bombeiros que fez um relatório muito perigoso para nós. O pessoal da prefeitura ficou de olho aberto, até mesmo os que eu comprei, e um deles veio me dar um toque!"

– Chefe, Dionísio já resolveu tudo, comprando um pessoal de lá. Pode ficar tranquilo que temos toda a documentação bem certinha.

– "Só que esse sujeito está acusando vocês de corrupção!" – insistiu o "chefe", do outro lado da linha. – "Se, por acaso, houver nova inspeção vocês passam nela?"

– Não creio que passemos, Cobra. Esse engenheiro não quis liberar o certificado de segurança. Sem ele, nada de alvará. Daí, Dionísio resolveu essa peleja molhando a mão de um cara graúdo dos bombeiros.

– "Bem, eu já mandei alguém dar um jeito no sujeito que acusou vocês. Ainda bem que tenho muita influência no governo, mas agora vejam se vocês se cuidam. E tratem de me informar no caso de algum problema similar aparecer novamente para que eu resolva isso antes de chegar às autoridades."

– Certo, chefe, fica tranquilo.

No dia seguinte, saiu nos jornais que um certo engenheiro dos bombeiros morreu baleado durante um atentado na saída de um bar. Com ele teriam sido encontradas drogas e uma substancial quantia em dinheiro. Apesar desse tipo de crime ser incomum, ninguém deu atenção à notícia exceto a família e amigos da vítima que não acreditaram na história de drogas e dinheiro ilícito. O pobre bombeiro deixou mulher e dois filhos, um de dois anos e outro de quatro, tudo porque foi honesto a ponto de apontar a corrupção!

Todavia, o investigador da polícia destacado para desvendar o assassinato não se deu por satisfeito com as evidências apresentadas, achando que os fatos eram demasiado superficiais, especialmente porque esse tipo de crime era bastante incomum na sua cidade. Durante a investigação, começou a levantar informações sobre homem e seus hábitos, indo cada vez mais a fundo.

Ele era um homem determinado e suficientemente inteligente para não se expôr a partir do momento que achou que foi mais do que uma simples rixa de drogas. Discreto e com ajuda da viúva que desejava provar que o marido era honesto e um homem muito caseiro, o investigador levantou todas as informações bancárias da vítima, descobrindo que o engenheiro era realmente íntegro, jamais tendo sido depositado na sua conta algo que não fosse o salário, que nem era dos melhores.

O que levou o policial a realmente ter a certeza de que se tratava de um crime invulgar foi justamente quando a viúva o chamou poucos dias depois e mostrou um extrato bancário atualizado onde havia um par de depósitos de quantias vultuosas e feitos com datas anteriores, mas que não existiam dois dias antes. Além disso, ao tirar novo saldo, constataram que o dinheiro não estava mais na conta. O delegado Moacir comparou os extratos que ela lhe forneceu com os novos e concluiu que a coisa podia ser muito maior do que pensava e que provavelmente envolvia gente poderosa a ponto de influenciar um depósito retroativo no banco. Pediu para a viúva não tocar no assunto com mais ninguém de modo a que ela não acabasse virando a próxima vítima e despediu-se, prometendo investigar aquilo a fundo.

Decidido, começou a levantar toda a vida do falecido: amigos, onde ia, onde se alimentava e o que fazia fora do trabalho. Resumindo, procurava averiguar todos os seus hábitos até ao mais ínfimo detalhe, ficando cada vez mais convencido que o engenheiro sofreu um atentado e foi assassinado, mas não por drogas. Pensativo, questionou-se que razão poderia ter motivado o crime e concluiu que: ou foi queima de arquivo ou foi um inimigo perigoso e poderoso.

Como Alberto Pimentel era muito bem quisto por quase todos colegas e Moacir pressupunha que as drogas e o dinheiro foram plantados no corpo após o crime, deduziu que havia algo de muito errado nisso. Sempre insistente, pesquisou sobre o que ele tinha feito por último no trabalho, descobrindo que foi a inspeção na boate Beijo da Noite e ficando cada vez mais intrigado.

Convencido de que estava no caminho certo, começou a apertar o cerco, concluindo que aquela boate devia, de alguma forma, estar envolvida em algo bem ilícito. Nessa mesma noite, na sua casa e sentado no escritório, escreveu bastante no computador. Ele tinha o hábito de manter um diário e, além disso, mandou um e-mail para um grande amigo que vivia em Porto Alegre, também delegado de polícia, mas agente federal. Contou-lhe tudo e pediu conselhos.

O amigo sugeriu que fosse com muita calma e evitasse chamar a atenção, pois poderia ser perigoso para Moacir. Pediu, também, que resguardasse os dados da investigação. Ele estava nos EUA fazendo um curso no FBI e ia ficar lá quase um ano, mas prometeu ajudar ao retornar, uma vez que pretendia tirar férias e iria a Santo Agostinho. Insistiu muito para que o amigo não se precipitasse nem se expusesse.

O policial estava tão desconfiado da verdade que recorreu a um detetive particular amigo dele para grampear ilegalmente o local de forma a obter alguma pista dos criminosos.

Duas semanas depois, recebeu um CD com as gravações feitas e guardou-as no cofre da sua casa para ver mais tarde, pois ia sair para jantar fora, uma vez que a esposa e filha estavam em Santa Cruz do Sul visitando os pais dela. Enquanto caminhava, meditava a respeito da investigação, procurando imaginar as relações possíveis. Ao fim de algum tempo, o delegado desistiu de pensar no caso e relaxou um pouco, pensando na esposa e na filha.

No dia seguinte, Moacir descobriu, ao ver o jornal da manhã, que o detetive particular amigo dele foi assassinado misteriosamente, ficando estarrecido. Na delegacia, tomou ciência que um colega já assumiu o caso, mas nada lhe contou sobre a amizade de ambos, pois temia pela própria vida.

Continuou a sua investigação da forma mais discreta possível e, ao terminar o expediente, saiu da delegacia e deixou o carro em casa. Novamente decidido a jantar fora, voltou para a rua, caminhando e pensando para que restaurante iria, pois ali perto havia vários. Enquanto andava, lembrou-se que, com a notícia da morte do amigo, acabou esquecendo de ouvir o disco e decidiu que faria isso tão logo voltasse para casa, concluindo que o detetive devia ter sido morto porque descobriu algo sobre o caso. Possivelmente haveria alguma coisa naquele CD que pudesse elucidar as coisas. Mal andou dois quarteirões, uma motocicleta parou ao seu lado e o policial virou o rosto para ver quem se aproximava, dando um sorriso. Quando se virou para caminhar até ao recém-chegado, um estampido agudo chegou aos seus ouvidos. Moacir sentiu uma dor muito intensa e caiu morto antes mesmo de entender o motivo do seu assassinato. O criminoso acelerou a motocicleta e desapareceu na escuridão da noite.

― ☼ ―

No dia seguinte, a esposa do delegado Moacir ficou em choque ao retornar com a filha adolescente e saber do assassinato do marido, pois jamais imaginou que tal coisa pudesse acontecer. O policial destacado para investigar o crime deu a notícia para a mulher com o máximo de cautela, tentando minimizar o efeito do impacto.

Durante o serviço fúnebre, sua filha Adriana chorava desalmadamente, enquanto a viúva ficava como que apática. Do seu rosto não saíam lágrimas e tão-pouco palavras da sua boca, permanecendo quieta e abraçada à filha. Qualquer observador mais atento diria que a morte do marido foi-lhe completamente inócua, mostrando total indiferença, embora tivesse preocupação pela filha, mas outro poderia afirmar que ela sofreu tamanho choque que ainda não voltou à realidade, tornando-se apática e talvez ambos os observadores pudessem estar certos... ou errados.

Mais tarde, já descansada da viagem e do serviço fúnebre, recebeu a visita do investigador e respondeu as perguntas que lhe fazia, mas omitiu tudo o que podia, pois lembrava-se perfeitamente do marido falar em complô ou coisa muito pior. Júlia conhecia esse delegado, que era amigo do marido e visitava a sua casa com frequência, mas nem assim cogitava entregar o computador do Moacir ou as pastas onde ele guardava as investigações que fazia. Sabia que o falecido marido guardava tudo no cofre e, quando o visitante foi-se embora, pegou no computador e colocou-o no cofre, uma vez que conhecia a combinação. Muito triste, pensou no padrinho da filha e desejava ardentemente que ele estivesse ali para as ajudar e apoiar.

O policial procurou descobrir por todos os meios o que aconteceu, mas não obteve sucesso. Vasculhou diversas opções para identificar o assassinato e até teve a ideia de verificar o que Moacir investigava. Entretanto, continuava sem resultados. Com este, o delegado passou a ter nas mãos nada menos do que três assassinatos sem uma solução à vista, já pensando em arquivar as investigações como crimes não resolvidos.

― ☼ ―

O ano foi passando e o assunto dos três assassinatos ocorridos em menos de duas semanas foi esquecido, ao contrário da casa de espetáculos e festas, a boate Beijo da Noite, que estava cada vez mais famosa e movimentada, funcionando sem parar todas as noites. O gerente e os proprietários traziam diversas bandas para tocarem lá, sempre com sucesso crescente, promovendo eventos festivos enormes e badalados, na maior parte das vezes com o diretório central de estudantes da universidade. Ao contrário do que Francisco temia, nunca ocorreu nada de errado.

― ☼ ―

Com o término do primeiro ano, foi necessário renovar a licença e Dionísio, novamente, interferiu.

– Então, amigo – disse para seu contato. – Vamos dar aquele jeitinho especial com o certificado de segurança?

– Por mim tudo bem, mas o engenheiro cresceu o olho e quer mais bola. – Informou o bombeiro.

– E de quanto falamos?

– Ele quer onze mil.

– Bah, tchê, onze pila é muito!

– Eu sei, mas ele sabe que vocês faturam muito bem e é o único que vai assinar esse certificado sem olhar nada. Os outros dois são muito certinhos e não dá pra arriscar. Afinal, isso é só uma vez por ano. Faz de conta que tem um funcionário de mil Reais por mês, Dionísio.

– Mas daí é doze, e não onze.

– E o meu? – O interlocutor sorriu debochado. – Tu esqueceu de mim?

– Não, pensei que estava tudo junto.

– Como eu disse, o olho dele cresceu, mas eu não. Me contento com os mil, ok?

– Tá bom. Quando o quera for lá, faremos o pagamento como da outra vez.

– Amanhã de manhã ele estará lá.

– Chico – pediu o sócio quando este chegou à boate no final do dia seguinte, logo após a saída do engenheiro corrupto. – Aqui está o certificado dos bombeiros. Dá pra tu entrar com a renovação da documentação do alvará?

– Claro – respondeu Francisco. – Me dá a papelada.

O ano estava perto do fim e bem tranquilo com a casa sempre muito badalada, não parando nunca.

― ☼ ―

Santo Agostinho é uma cidade fictícia.

ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. Órgão que determina regras a serem cumpridas para inúmeras coisas, desde um padrão de escrita para teses de doutorado até instalações elétricas e diretivas de segurança de todos os tipos.

Universidade Federal de Santo Agostinho.

FBI – Polícia federal americana.

Pila, no Rio Grande do Sul, é uma palavra de atribuição a dinheiro. Onze pila seria onze Reais. Neste caso, porém, seria onze mil. Em geral as centenas, milhares ou milhões, são subentendidas.

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