38°
— SEBASTIAN e Kendall? — pergunto sem acreditar.
— Pois é. Eu disse a você que Sebastian não é quem você pensa.
Quando não digo nada, Max prossegue.
— Há um tempo eles vêm se pegando, até que há um pouco mais de um mês atrás, ele disse que não queria mais nada com ela. Deixou ela sem mais nem menos... Ou melhor, deixou ela por você.
— E ela contou isso pra você? — pergunto a ele no mesmo tom de ironia.
— Eu esperava que depois de perder a memória, você seria menos ingênua.
— Ela pode estar muito bem mentindo para você.
— Do mesmo jeito que ele está mentindo para você?
Nós nos encaramos. Então é isso? É sobre qual de nós está sendo enganado? Não tem porquê Sebastian mentir para mim, mas Kendall pode estar mentindo apenas para manter o relacionamento com meu irmão. Talvez ela me odeie e queira fazer com que Max e eu briguemos e que ele odeie Sebastian. Mas com qual intuito?
— Ele me contaria, Max — digo por fim. Meu irmão balança a cabeça.
— O que você sabe sobre Sebastian, agora que perdeu a memória? Ele contou coisas a você e pode ter inventado todas elas. Sim, Sebastian é apaixonado por você, mas não há provas de que ele não a está enganando.
— E Kendall? Por que ela confessaria os sentimentos a você assim?
— Por que está defendendo ele, Madelaine? — Max me pressiona.
A verdade é que eu não quero acreditar que fui enganada tão facilmente; que deixei ser manipulada assim, tanto antes, como agora. Eu vi a emoção nos olhos dele. Era mentira? E aqueles desenhos? Se é mentira, o que eles significam?
— Está muito tarde para essa conversa. — Fico de pé.
— Você não encara a verdade.
— Não é atoa que somos gêmeos, então.
Saio do seu quarto o mais rápido possível. Odeio o fato de ele poder estar certo. Sebastian pode ter inventado tudo aquilo, mas ainda sim...
Vamos supôr que não perdi a memória, mas o que houve entre Sebastian e eu também nunca aconteceu e ele não passa do amigo esquentadinho do grupo. Eu já o vi com Kendall? Mesmo que apenas conversando? Ele já deixou parecer que estava com alguém?
Eu não prestava atenção o suficiente nele para reparar nessas coisas. Mas eu nunca o vi namorando sério, apesar de ser um grande pegador. Então toda essa suposição me levou a nada.
~•~
Ouço os passos de minha mãe antes de ela aparecer no sótão.
— Voltou a pintar? — ela pergunta, surpresa.
De fato, eu estou de frente para uma tela, terminado uma pintura. Acordei cedo e como estou proibida de ir para escola por pelo menos duas semanas, não tinha muito o que fazer. Não consegui ficar no meu quarto e olhar para todos aqueles desenhos de novo e de novo. Então fui para estufa, ajudei Laura a cuidar de algumas flores, mas quando acabamos, me vi sem nada para fazer de novo e me aventurei no sótão, apenas para ver como estava e parece que eu estive aqui à pouco tempo, considerando o pincel sujo no chão e a lata aberta.
Eu não pintava há dois anos, mas então uma imagem... Não, um sonho, eu acho. Sei que apenas acordei com a imagem de um céu estrelado e quando olhei para a tela, sabia que tinha que pintar.
— É o que parece. — Deixo o pincel de lado, me afastando para observar a pintura; o azul mais intenso e hipnotizante e as estrelas... Pareceu tão nítido e olhando agora... Parece até...
— Ficou lindo, querida. — Minha para ao meu lado, passando o braço por meus ombros. — Fico muito feliz que tenha voltado a pintar, mas essas tintas tem um cheiro muito estranho.
— Tintas cheiram assim, mãe. — Balanço a cabeça, me agachando para juntar os pincéis.
— Não faz bem, o cheiro... E aqui tem mofo e muita poeira — ela continua falando e eu sorrio. Max diz que nossa mãe tem TOC com sujeira e eu com organização. — Vou comprar tintas novas para você.
— Ótimo — murmuro, sabendo que não adianta ir contra minha mãe.
Entrelaço nossos braços e tiro minha mãe do sótão, levando-a para o primeiro andar.
— Mãe... Posso perguntar uma coisa? — tento não parecer nervosa.
— Claro, meu bem.
— Você e o papai sabiam sobre Sebastian e eu? — Talvez minha mãe possa saber alguma coisa sobre a nossa relação.
— Soubemos apenas quando você ficou presa naquele elevador e ele veio ver você depois.
— E... E como foi?
— Eu fui ver vocês algumas vezes, para ver se estava tudo bem e todas as vezes encontrei vocês abraçados e rindo... Você estava feliz com ele. E você o deixou entrar.
— Por que isso é tão importante? — eu murmuro, encarando meus pés enquanto andamos.
— Você passou dois anos sem deixar ninguém entrar, nem mesmo eu e nem sei o motivo. — Sinto seu olhar em mim, mas não retribuo. — Sebastian é importante para você e você para ele.
— Sebastian diz sempre ter sido apaixonado por mim — confesso a ela, com um suspiro.
— Ele disse finalmente, então?
— O que quer dizer com isso? — Olho para ela, incrédula. Minha mãe dá de ombros.
— Sebastian sempre gostou de você. Desde quando vocês estudam juntos — minha mãe diz isso como se fosse nada demais.
— Mas como você sabe disso? — Ela nunca me contou, apesar que seria estranho minha mãe contar que um garoto estava gostando de mim.
— Eu via os olhares e os sorrisos que ele sempre dava quando você não estava olhando, por isso não fiquei tão surpresa de ver vocês dois juntos.
Estou me perguntando agora se eu fui cega por todo esse tempo.
~•~
Na manhã seguinte, encontro Laura na sala de chá, guardando toda porcelana em caixas. Os dois sofás e as poltronas também sumiram. E o tapete.
— O que está fazendo? — Agacho ao seu lado, para ajudá-la a guardar.
— Christine não contou? — Laura sorri para mim. — Ela mandou esvaziar essa sala para você. Acaba de ganhar um estúdio de pintura, menina.
Quase deixo a xícara cair.
— É sério? — Não paro de sorrir. Desde criança, eu queria que essa sala de chá fosse um estúdio de pintura por causa da janela grande, onde a luz do sol ilumina tudo perfeitamente, mas minha mãe nunca deixou... Até agora.
— Ela ficou muito feliz que você voltou a pintar. Até comprou tintas novas e telas. — Laura aponta para atrás de mim e eu vejo as tintas e telas de tamanhos variados, assim como mais quatro cavaletes e uma coleção de pincéis.
— É agora que digo que tenho a melhor mãe do mundo? — pergunto, me sentindo boba por querer chorar e nós duas rimos.
Depois de ajudar Laura e meu pai chegar para o almoço e levar as caixas para a cozinha, eu fechei as portas da não mais sala de chá, mas estúdio de pintura e comecei a pintar.
Pintei a estufa, usando as tintas novas de cores lindas. Minha mãe comprou também solvente e óleo de linhaça; verniz artístico; espátula para misturar as tintas; carvão e lápis para desenhar; paleta para as tintas e potes para o óleo e o solvente.
Na parede afastada ela mandou pôr uma mesa para facilitar meu trabalho e apesar de eu ser organizada, está tudo uma bagunça no fim do dia. O chão de carvalho já tem manchas de tintas e eu estou completamente suja. Tem tinta em meus dedos e cabelo e provavelmente no meu rosto. Eu também esqueci de usar o avental.
O sol já se foi faz tempo, mas permaneci aqui, pintando com a luz elétrica mesmo. Estou misturando tinta a óleo rosa e branco na paleta, quando ouço vozes altas do lado de fora. Deixo a paleta de lado e pego uma flanela. Ainda estou limpando as mãos quando abro as portas, me deparando com o bando e uma garota baixinha.
— Uau, parece que alguém aqui esqueceu de tomar banho. — Turner sorri para mim antes de me abraçar, sem se importar com a tinta.
Depois sou passada para Wesley, depois Ethan e por último Carson. Sebastian está entre eles, mas tudo que consigo lhe dar é um sorriso.
— O que estão fazendo aqui? — pergunto.
— Você também se esqueceu que hoje é quinta? — Wesley arqueia a sobrancelha. É claro que não esqueci que hoje é o dia de filmes, mas...
— Quem é ela? — Tinha esquecido da garota baixinha — mais baixa que eu — que está sorrindo.
— Não está reconhecendo o meu rostinho bonito? — A garota ri, segurando o cabelo em cada lado, como Maria Chiquinha.
Semicerro os olhos, mas então a imagem de uma garota de sete anos de idade com Maria Chiquinha e aparelho surge.
— Déborah? — estou surpresa. Faz anos que não a vejo, depois que foi embora para o Canadá...
Ela me abraça também e eu retribuo, ainda sem acreditar que uma das poucas amigas de infância que eu tive, está aqui.
— A amizade verdadeira é linda, não é mesmo? — Carson revira os olhos quando nos afastamos.
— Mais linda que sua cara, com certeza — Déborah responde e eu arqueio as sobrancelhas, surpresa.
— Diz isso, mas ama o meu rostinho bonito. — Carson pisca para ela e eu olho para os outros.
— Muitas coisas mudaram, M&M's. — Ethan dá um sorriso malicioso para os dois. — Agora o Carson está namorando.
— Não estamos namorando! — Carson e Déborah dizem juntos e minhas sobrancelhas se erguem ainda mais.
— Então não me considera sua namorada? — Déborah pergunta e apesar do tom de brincadeira, mágoa brilha em seus olhos.
— Você acabou de dizer que não namoramos! — meu amigo se defende, realmente parecendo arrependido.
— Mas você disse primeiro. — Déborah cruza os braços em desafio. Carson abre a boca para dizer algo, mas Wesley interrompe.
— Não vão ter outra DR agora. Carson, vai pegar bebida. — Wesley aponta para cozinha e o loiro olha uma última vez para minha amiga antes de ir. — Déborah, você vem com a gente.
Eles vão para a sala de estar, mas como tecnicamente estamos na porta do estúdio, a sala de estar está a nossa frente, eu continuo observando eles, até que se sentam no sofá e ligam a TV.
— Eles são sempre assim? — pergunto a Sebastian, o único que ficou.
— Sempre. Mas ele gosta dela e ela, dele. Só não querem admitir. — Sebastian balança a cabeça e eu viro para ele, ficando de costas para nossos amigos.
— Do mesmo jeito que você não admitiu que gostava de mim todos esses anos? — Cruzo os braços e arqueio a sobrancelha. Estou decidindo se devo questioná-lo sobre Kendall.
— Não... Não exatamente... — Sebastian cora e eu não achei que fosse ver isso nunca na vida.
— Então não gostou de mim todos esses anos? — ah, sim, eu vou me aproveitar disso.
— Não. Quer dizer, sim. Sim, eu gostei. Eu gosto, na verdade... Eu só... — Ele para quando eu fracasso em esconder meu sorriso. — Está brincando comigo?
— Não. Claro que não. — Franzo as sobrancelhas, tentando me livrar da expressão de divertimento.
— Mentirosa. — Ele semicerra os olhos, sorrindo de modo brincalhão.
— Não sou mentirosa! — Lhe dou um tapa no braço e Sebastian segura minha mão antes que eu recue. Seu toque me causa um arrepio estranho e meu coração bate mais rápido.
Eu recuo, engolindo em seco.
— Eu... vou tomar banho. — Não olho para ele antes de subir as escadas, correndo, e entrar em meu quarto, fechando a porta atrás de mim.
Levo minha mão ao peito — a mesma mão que ele tocou —, bem acima do coração e o sinto bater em ritmo frenético.
O que quer que senti por Sebastian, ainda está aqui e isso é assustador.
~•~
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