42°
ELA se foi.
Como prometido, não soltei sua mão. Eu fiquei. Eu sorri quando ela me deu seu último sorriso. Eu ouvi quando ela deu seu último suspiro. Eu vi a minha mãe morrer no mesmo dia que a reencontrei.
Depois disso, tudo foi um borrão. Médicos entraram na sala para uma confirmação oficial? Acho que sim. Alguém me envolveu em um abraço... Robert. Lembro da sua cicatriz.
Eu não chorei. Ouvi alguém dizer que é um estado de choque. Não sei dizer, não quero saber.
O sol está brilhando quando voltamos para Las Vegas. Mas eu não teria notado caso um calor não aquecesse meu corpo frio. E apesar do sol, meu coração e mente ainda parecem estar no escuro.
Jason abre a porta do carro para mim e quando entro, sento um banco depois. Não quero ficar perto dele. Não quero falar com ele.
— Beba isso. — ouço sua voz distante, mas não viro para ele ou dou a entender que ouvi.
Não sei quanto tempo passa e também pouco me importa. Tudo poderia estar congelado e eu ainda não reagiria.
Eu quero gritar. Quero gritar e dizer que está doendo, mas não consigo. Estou sufocando. Minha dor está me sufocando.
Não consigo dormir. Toda vez que fecho os olhos ouço suas palavras ou vejo seu rosto. Ela era tão jovem. Ainda havia tantos lugares que poderia ver... Poderíamos ter viajado juntas... Nós precisávamos de tempo. Eu precisava de tempo.
O carro para e eu observo a casa à minha frente. Essa prisão. Eu odeio essa casa. Se eu pudesse tacar fogo nela... Se pudesse destruí-la...
Isso não acabaria com a minha dor, não é?
Percebo alguém nos degraus da escada. Seus olhos verdes fixos em mim.
Damon fica de pé quando me vê. Talvez ele tenha vindo gritar comigo pelo o que disse a ele. Não me importo. Que ele grite comigo. Que me bata se quiser. Eu não me importo.
— O que está fazendo aqui? — Jason parece estar gritando, mas Damon continua andando até parar na minha frente.
— Eu sinto muito.
E talvez tenham sido as palavras mais sinceras que ouvi nas últimas horas, mas deixo ele me abraçar. Deixo-me ser abraçada e amparada. Deixo-me abraçá-lo. Deixo as lágrimas tomarem meu rosto e um ruído estranho sair de dentro de mim.
Não sei quanto tempo passa, mas meus joelhos fraquejam em algum momento e logo depois sinto-me ser carregada. Damon aperta meu corpo contra o seu enquanto me leva em seus braços.
Sinto um macio familiar logo depois e presumo estar em minha cama. Encolho rapidamente com o frio do quarto e Damon me cobre.
— Agora pode ir embora. — ouço a voz de Jason. Ele está aqui no meu quarto. Preciso mandá-lo embora. Não quero ele aqui.
Abro os olhos e encontro Damon sentado na cama e percebo que está ajeitando meu travesseiro. Seu rosto está tenso e quando ele finalmente olha para mim, decido que não quero que vá embora.
Abro a boca para dizer alguma coisa, mas tudo que consigo é soluçar. Encaro seus olhos e suplico silenciosamente.
— Não vou deixar você — Damon sussurra para mim, entendendo meu pedido. Ele fica de pé e encara o homem parado há poucos passos de distância. — Não vou embora, Jey. Pode me ameaçar o quanto quiser. Pode até ligar para Sam, mas eu só saio daqui quando ela mandar eu sair.
— Está me desafiando, garoto? — ele parece pronto para brigar e não quero ver sangue hoje. Ou pior... Morte.
— Por favor! — apesar da força que faço para falar, minha voz é um sussurro e eu estou ofegante. Jason olha para mim e deixo ele ver exatamente como estou: me afogando e não é de hoje.
Depois do que parece ser uma eternidade, ele olha para Damon de novo e com a voz rouca diz:
— Cuide dela. — com isso ele sai.
Volto a chorar desesperadamente e não me importo que me vejam chorando. Nada me importa agora. Eu não consigo me importar. Até respirar está parecendo um sacrifício.
— Estou aqui com você. Estou aqui com você. — Damon sussurra várias vezes ao me aninhar em seus braços. Fico chorando em seu peito até a escuridão me envolver.
Tive um sonho lindo com minha mãe. Ela me levava em uma das suas viagens e me ensinava a nadar. Mas era só um sonho.
Acordo no escuro, apenas o abajur iluminando o quarto. Uma respiração acaricia meu rosto e demoro um tempo para lembrar e perceber que Damon ainda está aqui. Que não foi embora.
Seus braços ainda estão ao meu redor e ele deve estar desconfortável considerando quanto tempo passou.
Acaricio seu peito e se ele estava dormindo ou não, acordou. Sua mão cobre a minha e ele a beija.
— Como você está? — sua voz é incrivelmente gentil, mas mesmo assim não respondo. Damon se arrasta na cama para ficar na altura dos meus olhos e a luz do abajur ilumina seu rosto. Ele parece preocupado. — Você não quer falar?
Desvio dos seus olhos e encaro sua camisa branca. Ele já deve estar se arrependendo de ter ficado.
— Tudo bem. Você pode piscar uma vez para “não” e duas para “sim”. Pode ser? — Damon entrelaça nossas mãos e espera minha resposta.
Pisco duas vezes.
— Boa garota — ele dá um meio sorriso e suspira logo depois. Seus olhos vão para minhas roupas. — Você precisa tomar banho.
Diferente das outras vezes, ele não parece ofensivo ao dizer isso, apenas preocupado.
— Você consegue tomar banho sozinha? — preocupado. Muito preocupado para se oferecer para me dar banho e não dar nenhum sorriso malicioso.
Pisco duas vezes.
— Bom. Vamos.
Damon me ajuda a levantar e me guia até o banheiro. Começo a tirar a roupa enquanto ele enche a banheira.
Tiro primeiro a blusa rosa e a jogo no chão. Pelo canto do olho vejo Damon muito concentrado na torneira, como se fosse a coisa mais interessante do mundo.
Desabotoo a calça e puxo o zíper. Não abre. Tento de novo. Nada. Está enganchado ou emperrado, não sei, mas não quer abrir.
Frustração transborda em mim e forço o zíper com mais força. Quero xingar, mas tudo que consigo é um som de frustração.
Damon está segurando meu pulso agora.
— Calma. — diz ele para mim. Deixo mais braços relaxarem ao lado do corpo e o observo se ajoelhar em minha frente. Suas mãos repetem meus movimentos para abrir o zíper, mas com ele funciona.
Damon me ajuda a tirar a calça, mas não olha muito para mim. Evita principalmente quando tiro o sutiã e depois a calcinha. Não me importa que ele me veja nua, já viu outras mulheres nuas, não serei a primeira.
Entro na banheira e sou recebida pela água quente e cheiro de rosas, mas nem isso parece ser o suficiente para minha dor.
— Está bom para você? — ouço a voz e encaro seus olhos.
Pisco duas vezes.
— Certo... Vou pegar algo para você comer. Não vou demorar. — mas ele não sai. Damon fica me encarando e não sei se ele espera outro piscar de olhos para provar que entendi. Eu apenas mergulho na água.
Totalmente submersa. Se eu deixar a água entrar em meus pulmões... A sensação de afogamento será a mesma?
Me impulso para cima e limpo os olhos, quando abro Damon ainda está aqui.
— Eu já volto.
Meia hora foi o tempo que fiquei na banheira. Eu queria ter ficado mais, mas Damon entrava no banheiro de cinco em cinco minutos, acho que para ver se eu não me afoguei. Então da última vez decidi sair e ele ficou vermelho ao me ver nua e molhada.
Ele não me ajudou a me vestir, mas secou meu cabelo. Eu não sabia que ele sabia usar um secador até então.
— Beverly ligou. — diz ele ao colocar a bandeja de comida em minhas pernas.
Não digo nada. Não quero ver Beverly. Talvez ela esteja preocupada, mas falar com ela... Explicar o que aconteceu, reviver as lembranças... Não.
— Eu disse que você não está em condições de receber ninguém... — Damon me entrega um copo de suco. Encaro seus olhos. Ele parece cansado e é culpa minha. Sou egoísta por mantê-lo aqui. Mas não me importo de ser egoísta um pouco mais.
Bebo o suco de maracujá e olho para bandeja de novo. Ele trouxe apenas um copo, uma tigela de mingau e um sanduíche.
Olho da tigela para ele, a pergunta em meu olhar.
— Ah... Não estou com fome. — mentiroso.
Pego o sanduíche dividido em dois e entrego uma metade a ele. Damon sorri, mas pega.
— Tudo bem... Eu amo sanduíches mesmo. — quase dou risada.
Como minha metade do sanduíche em silêncio. Damon não tira os olhos de mim e não perde nenhum movimento meu. Me pergunto o que ele acha que vou fazer. Se acha que sou um perigo para mim mesma e vou fazer alguma loucura.
Quero falar para ele não se preocupar com isso, mas falar requer esforço e não quero me esforçar, mesmo sabendo que responder suas perguntas lhe deixaria menos preocupado.
Seu telefone toca quando eu me deito. Ele olha para tela, mas desliga.
— Pedi para trazerem algumas coisas já que vou ficar aqui com você. Não é muito legal ficar com a mesma roupa, sabe.
Eu não tinha pensado nisso. Estou sendo mais egoísta do que pensei.
— Não demoro. — ele beija minha cabeça e sai.
Sozinha, volto a pensar na minha mãe. Ela estava feliz em me ter por perto. Mesmo morrendo, estava feliz que sua filha segurasse sua mão. Uma coisa simples, mas que a fez ter paz no último momento.
*O Damon é um fofo preocupado com a Elle ♥️*
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2bjs, môres♥
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