37°
DEPOIS do nosso pequeno show, fomos almoçar em um dos restaurantes chiques que Oscar frequenta. Eu mal toquei na minha comida, mas bebi duas taças de vinho, fui obrigada a parar porque, segundo Oscar, eu estava bebendo demais.
— Alguma notícia sobre a minha mãe? — pergunto a Jason quando entro em seu escritório.
— Não. — ele não olha na minha cara e eu também não falo mais nada, apenas saio do escritório.
Conviver com ele tem sido um pesadelo. Se antes essa casa era silenciosa, agora é pior. No café da manhã, não falamos nada mais que um “bom dia”. Das poucas vezes que jantamos juntos essa semana, eu comi o mais rápido que pude.
Essa tem sido a minha vida.
Suspirando, pego o frasco que escondo nas minhas roupas. Roubei esse calmante de Jason há alguns meses. Tomo dois comprimidos.
Enquanto espero o remédio fazer efeito, vou até outra gaveta e observo os objetos dentro.
A jaqueta de couro preta com uma rosa atrás; o canivete com as iniciais D.S (S de Sanders, sobrenome de sua mãe) e o desenho retratando a mim mesma. As outras coisas que trocamos naquele jogo foram desafios ou coisas parecidas.
Quando minhas pálpebras ficam pesadas demais, rastejo para debaixo dos lençóis e apago.
Na manhã seguinte, eu faço tudo exatamente como um robô. Visto meu uniforme, calço as botas que usei ontem e ponho meus óculos. Ainda não comprei lentes novas e não me importo o suficiente para querer usá-las agora.
Meu cabelo está no mesmo rabo de cavalo de ontem e eu não passei muita maquiagem, além de um pouco de blush, rímel e gloss. Graças ao calmante consegui dormir uma noite inteira e não preciso de corretivo.
— Aqui — entrego a Robert a caixinha em que as lentes de contato vêm. — Compra três dessa.
Oscar não foi gentil quando me disse que óculos não combinavam comigo. “Escondem seu rosto e apaga sua beleza”, ele disse. Acho que esperou que fosse um elogio. Quis fazê-lo engolir os óculos. Mas ao invés disso, balancei a cabeça e disse que não usaria mais em público.
Não consigo me concentrar nas aulas. Minha mente se reserva entre pensar na minha mãe e em Damon.
O detetive particular que Jason contratou ainda não tem nenhuma notícia da minha mãe. Jason garantiu que o Sr. Collins é um dos melhores, mas já faz uma semana que ele foi contratado e ainda não tem nenhuma pista. Não sei o que isso deve significar.
Damon... Bom, eu o evitei hoje, como vou fazer pelo resto da vida. Mas ainda dói. E suas palavras não saem da minha cabeça. Ele se declarou para mim e eu lhe dei as costas. Sou uma pessoa horrível, com certeza?
— Vai ficar com essa cara o dia todo? — Beverly cutuca meu braço. Estamos no pátio, matando tempo no intervalo.
— É a única que tenho. — murmuro e volto a beber meu milkshake. Minha amiga bufa e volta a desenhar, no momento em que Bonnie senta ao meu lado.
— Olá, vadias. — Bonnie sorri para mim. Beverly a ignora e diz para mim:
— O ar ficou meio tóxico aqui. Vou ao banheiro. — e sai.
— Oi — murmuro. Eu tenho murmurado muito ultimamente. Bonnie olha para o milkshake e antes que eu diga alguma coisa, ela tira a bebida da minha mão. — Sabe, tem mais desses na cantina...
— O que há de errado com você? — ela fica de pé. Seu cabelo está escovado e brilhando com a luz do sol. Bonnie e eu podemos ter muitas desavenças, mas não posso negar que é linda.
— Não tem nada de errado comigo. — dou de ombros, sem me importar muito que ela acabou de roubar meu milkshake.
— Não? Nem Brad que ainda rasteja por você, está gostando desse seu novo visual. — Bonnie franze o cenho para minhas botas e os óculos.
— Eu não estou nem aí para o que Brad gosta. O papel de agradá-lo é seu agora. — reviro os olhos e fico de pé, dando as costas para ela.
— Você esqueceu isso. — Bonnie diz. Viro-me para dizer que ela pode ficar com o milkshake quando sinto algo gelado em meu cabelo e rosto.
Milkshake de morango suja as lentes dos meus óculos, assim como no meu cabelo, escorrendo pelo meu rosto e pingando no meu uniforme.
— Mas que porra! — ouço alguém exclamar, mas estou paralisada demais para distinguir a voz.
— Ah, o que foi? Achei que um pouco de milkshake ajudaria no visual dela. Você gostou, Elle? — ouço Bonnie dar risada. Apesar da bebida gelada, meu rosto está quente.
Tiro os óculos e passo a mão pelo rosto, tirando o excesso do milkshake e olho para Bonnie.
— Uau, esse é seu jeito brilhante de se vingar de mim? — tento fazer cara de entendida quando na verdade estou, sim, morrendo de vergonha. — Esperava mais de você, Bonnie.
Dou um sorrisinho para ela. Seu rosto está vermelho de raiva e fico contente com isso. Ao nosso redor, as pessoas estão filmando, rindo e cochichando. O ensino médio é um inferno.
— Você quer mais? Ótimo! — Bonnie arranca um milkshake da mão de um garoto e arremessa em mim. Esse é de chocolate e se espalha pela minha blusa.
Certo, isso já está ficando humilhante demais...
— Você se acha superior a todos nós, não é? — Bonnie começa, outro milkshake na sua mão — O que faz de você tão especial, Elle? Um pai rico e dono de Casino? Caras rastejando por você? — o milkshake voa na minha direção e me protejo com o braço, a bebida escorrendo por ele.
Eu cambaleio para trás. Sim, isso está ficando humilhante. Principalmente quando lágrimas ameaçam tomar meu rosto.
Bonnie está rindo agora, assim como todos os outros. Uma garota baixinha e que não lembro o nome agora, entrega outro milkshake para Bonnie.
O que está acontecendo? Promoção de milkshake no colégio?
— Fiquei sabendo que agora está namorando Oscar Westlake. O irmão dele não serviu para você? — mais líquido escorre em mim quando ela atira o copo. Preciso sair daqui.
— Vá para o inferno! — vocifero para ela, mas Bonnie ri. Estou prestes a lhe dar as costas quando um líquido escorre pelas minhas costas. Brad aparece na minha frente logo depois.
— Parece que você está um pouco doce hoje, Elle. — Brad se junta a Bonnie e aos outros para rir de mim.
Dou outro passo para trás, para conseguir sair da rodinha que se formou, mas escorrego no líquido meloso e caio no chão, arrancando mais risadas. Sinto como se estivesse em uma piscina de milkshake quando mais três são arremessados em mim. Meus atos de me proteger são inúteis e fico ainda mais suja e grudenta.
Tento levantar, mas caio de novo. Ótimo. Com certeza nunca fui tão humilhada na minha vida. Vou processar essa escola por distribuir milkshake como se fosse água.
— Você quer uma ajudinha, Elle? — Brad se aproxima e por um momento acho que ele realmente vai ajudar, mas ele me empurra quando estou conseguindo levantar e caio pela terceira vez.
— O que... Ah, meu Deus! — Beverly. Nunca amei tanto essa garota como agora. — Seus imbecis! Perderam a cabeça?
Ela não espera eles responderem e vem me ajudar, sem se importar com a bebida doce cobrindo-me toda.
— Ei, Brad. — fico imóvel quando ouço a voz de Damon. Não queria que ele me visse assim...
Paro de raciocinar quando Damon acerta Brad. Um perfeito soco de esquerda, fazendo Brad cair, como um bonequinho. Em seguida, Damon vira para mim. Se meu rosto não estivesse coberto de milkshake, ele veria minhas bochechas rosadas.
— Vamos. — Damon segura meu outro braço e ele e Bonnie me ajudam a chegar no vestiário, sem que eu escorregue, já que minhas botas estão tão sujas quanto eu.
— Vou arrumar roupas para você. — Beverly avisa antes de sair. Não olho para Damon quando entro na cabine com chuveiro. Ele nem devia estar aqui dentro, na verdade.
Suspiro de alívio quando tiro as roupas gosmentas do meu corpo e ligo o chuveiro. Se um dia reclamei do chuveiro da escola, eu não sabia o bem que ele fazia.
Não sei quanto tempo eu fico no banho, mas saio apenas quando tenho certeza que não tem nenhum resquício de milkshake em mim.
— Damon? — pergunto por ele, hesitante. Talvez ele já tenha saído já que não tem motivos para-
— Sim? — sua voz sai rouca e me sobressalto.
— Hã... Você podia... Hum... Pegar uma toalha para mim? — mordo o lábio e espero sua resposta. Eu deveria ter pegado uma quando entrei, mas estava desesperada demais para tomar banho.
— Um segundo — ouço seus passos pelo vestiário, depois um armário abrindo e fechando e seus passos de novo quando ele aparece. Quer dizer, seu braço — Aqui. — encaro seu braço estendido e a toalha na sua mão. Sorrio e pego.
— Obrigada. — enrolo a toalha em mim mesma e pego as roupas torcidas. Eu passei sabonete nelas e esfreguei, mas com certeza vou passar a usar o outro uniforme.
Saio da cabine e vou para parte dos armários, onde Damon está sentado no banco, bem em frente ao meu armário.
Fico vermelha quando ele olha para mim. Não deveria já que ele já me viu apenas de lingerie.
— Está frio aqui, não é? — sento em uma distância saudável dele, lembrando-me do acordo e que tenho que me manter afastada.
Encaro meus pés descalços e suspiro. Onde Beverly está? Já deve ter passado uns quinze minutos ou mais.
Meus ombros ficam aquecidos de repente e percebo que Damon acabou de pôr sua jaqueta em mim. Lhe dou um pequeno sorriso.
— Obrigada — tento não pensar no seu cheiro, mesmo quando respiro. Damon se retrai levemente, mas percebo o movimento, como se ter tirado a jaqueta doesse. — Dói muito?
Ele me olha surpreso, como se não esperasse que eu ainda me preocupasse com ele.
— Sim. — Damon responde, por fim.
— Deixa eu ver — as palavras saem antes que eu possa contê-las. Damon arqueia a sobrancelha. — Uma coisa por outra. Deixe eu ver.
Damon resmunga, mas levanta a camisa. Encaro o hematoma roxo, meio azulado. Só consigo pensar que isso foi por minha causa.
— Você está tomando os analgésicos e pondo compressas de gelo? — pergunto quando ele abaixa a camisa.
— Sim.
— Você também está evitando fazer esforço, certo? Apesar que aquele soco em Brad não seria aprovado pelo médico. — arqueio a sobrancelha. Damon ri e meu coração acelera. O quanto senti falta da sua risada...
— Sim e ele mereceu.
— Está se alimentando bem?
— Por que você se importa? — Damon pergunta baixinho. Desvio de seus olhos para minha mão que está há centímetros da sua.
— Sempre vou me importar com você. — não importa o que nossos pais façam, sempre irei me importar com você.
Damon faz menção de tocar minha mão bem quando Beverly entra. Eu recuo.
— Devem caber em você. — diz ela. Agradeço e vou me vestir.
Quando volto, Damon já foi.
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2bjs, môres♥
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