33°
— O que você vai fazer? — ouço Damon me perguntar, mas já estou saindo do carro, caminhando para dentro da casa.
Não me importo com a minha maquiagem borrada ou por ainda ter lágrimas rolando em meu rosto. Não quando tudo que consigo sentir é raiva, decepção, tristeza e dor. Dor pelas mentiras. Dor por ser enganada. Dor pela minha mãe. Minha mãe que sempre pensou em mim, mesmo a quilômetros de distância. Dor pela mulher que teve que fazer uma escolha difícil ao deixar a filha e ir em busca da própria felicidade. Dor por mim, que fui forçada a ter a minha felicidade restrita para caber dentro do mundo de um homem egoísta e possessivo que só pensa nele mesmo.
Quando entro dentro da casa e encontro todos quase aliviados ao me ver, é a dor que pulsa em minhas veias que me faz ir para cima do homem que tentou tirar a esperança de mim.
— Pare. — braços fortes envolvem minha cintura antes que eu alcance Jason.
— Ela estava doente! — eu berro para ele e todos que quiserem ouvir.
Há meia hora atrás, nem mesmo minha vó sabia disso. Ou seja, não sabemos que doença é essa, se ela está viva, se ela já... Não consigo nem considerar a ideia.
— O que está acontecendo? — Jason pergunta, parecendo realmente confuso.
— Mentiroso! Você é um desgraçado mentiroso! — tento me livrar dos braços de Damon, mas ele me aperta mais.
— Elleonor, o que é isso?
— Ela voltou por mim e você inventou mentiras para ela! — estou soluçando agora, sem conseguir controlar as lágrimas que inundam meu rosto. — Para quê?! Por que impedir que eu visse minha mãe?!
Jason arregala os olhos, entendendo a minha fúria.
— Filha...
— Não me chame de filha se não sabe ser um pai decente! — eu grito. Ele se assusta e pergunto-me se pareço descontrolada agora. Não importa.
— Sua mãe nos abandonou...
— Ela abandonou você. Minha mãe sempre esteve comigo, aqui — aponto para o meu coração. — E ela poderia estar ao meu lado hoje se você não tivesse mentido para ela!
— Nós vamos para casa e conversar sobre isso lá. — como ele consegue estar tão calmo? Ele não vê a gravidade da situação?
— Eu te odeio! Eu odeio ser sua filha. Odeio você por fazer minha mãe escolher...
— Basta! Você não tem o direito de falar assim comigo, garota! — Jason grita, vindo na minha direção, mas Damon já me pôs atrás de si. Uma muralha de músculos entre mim e meu pai, como um dia fui entre os dois. — Saia da minha frente.
— Não. Você não vai encostar nela. — a voz de Damon é fria e eu nunca ouvi ele falar desse jeito.
— Sam. — Jason olha para o homem sentando em uma poltrona próxima, sorrindo. Se divertindo com o show. Oscar em pé atrás dele.
— Ande, garoto, isso é assunto de pai e filha. — a voz de Sam não causa efeito algum em Damon porque ele continua encarando Jason, sem mover um músculo.
Eu deveria fazer alguma coisa. Qualquer coisa menos ficar parada olhando para ele por cima do ombro de Damon. Isso está indo além do assunto relacionado a minha mãe.
— Saia! — Jason diz mais uma vez. Seus olhos castanhos – infelizmente idênticos aos meus – estão faiscando de raiva.
Em um minuto, estou encarando meu pai, no outro, estou sendo puxada para longe de Damon.
Oscar segura meus braços com força o suficiente para deixar hematomas. Eu o subestimei quando disse que não parecia ser forte.
— Não acredito que deixei você me enganar. — Oscar diz enquanto me debato em seus braços.
Tenho um vislumbre de Damon e Jason brigando antes de ser arrastada da sala.
Brigando. Eles estão brigando. Por minha causa Damon está agora saindo aos socos com meu pai.
Isso não vai acabar bem. Damon é forte, sim e provavelmente sabe se defender, mas meu pai... Ele pode não ser jovem, mas está fisicamente bem para uma luta com um adolescente de dezoito anos.
— Me solte! — continuo me debatendo, mas parece ser inútil. Meu coração está batendo rápido, rápido demais. Mal consigo respirar e tudo ao meu redor parece querer me engolir.
Não! Agora não...
Meu raciocínio começa a ficar lento.
Por favor...
Tudo fica preto um segundo depois.
Não sei exatamente quanto tempo fiquei inconsciente, mas foi o suficiente para Oscar me pegar no colo e me carregar não sei pra onde.
Começo a me debater de novo.
— Ah, você acordou. Já estava ficando preocupado. — um sorriso sínico toma seus lábios. Entramos em um quarto e ele me põe no chão. O quarto que eu estou hospedada com Camille. Não sei onde ela está, a propósito.
Distante, consigo ouvir sons de briga. Isso tudo é culpa minha. Eu deveria ter esperado os três meses para poder me virar contra Jason. Não devia ter deixado a raiva me controlar e agir de forma impulsiva.
Antes que começasse a implorar a Oscar que fosse lá embaixo e separasse a briga, Jason entra no quarto. Seu olho roxo me diz muito sobre o que aconteceu lá embaixo, mas ainda sim os sons continuam. Então se ele está aqui....
— O que fizeram com ele? — me apresso em perguntar. Oscar sorri antes de sair do quarto, deixando-me sozinha com o homem que um dia tive orgulho de chamar de pai.
— Ele está recebendo o que merece por me desafiar. — palavras duras e cruéis. Eu estremeço. Damon uma vez disse que seu pai mandou baterem nele...
— Por favor, por favor, deixe-o em paz. Ele só estava tentando me ajudar...
— Está pedindo por favor agora? E a história de me odiar? — Jason franze as sobrancelhas, mas apesar da falsa confusão em seu rosto, noto que ele está se divertindo.
— Ainda odeio você pelo que fez, mas Damon...
— Damon é um inconsequente, Elle! Esse garoto está fazendo sua cabeça! — seu tom de voz se eleva e ele me olha furioso.
— Como ele faria minha cabeça? Eu vivo com você há quase dezoito anos, sei do que é capaz! Sei que mentiu para minha mãe... — minha voz falha e me odeio por parecer tão fraca e pequena.
— Sua mãe pra lá, sua mãe pra cá. Por que insiste nesse assunto? Aquela mulher deixou você! Nos deixou... — Jason passa as mãos pelo rosto e suspira.
— Ela é minha mãe. — é tudo o que eu digo. Sei que em partes ele está certo. Mamãe nos deixou, sim, mas foi por culpa dele. Não posso culpá-la por isso.
— Você tem me decepcionado muito. Primeiro, seu envolvimento com Damon e agora isso? — ele realmente parece chateado. Decepcionado até. — Por que não pode se esforçar um pouco? Se não por você, por mim. Tudo que fiz na minha vida, foi por você...
— E o quê, exatamente, você fez, papai? Monitorar cada passo meu? Ah, não, você deve estar falando da sua brilhante ideia de “unir as famílias” — faço aspas com os dedos. — Se quer saber, não me sinto nenhum pouco grata por isso.
Enxugo meu rosto. Minhas mãos estão tremendo e eu volto a pensar em Damon. O que devem estar fazendo com ele...
Passo por Jason e saio correndo pelo corredor. O chão está frio sob meus pés, fazendo os pelos dos meus braços se arrepiarem.
Meus ouvidos são inundados com gritos... Não, não gritos, mas um som agudo nítido de dor...
Acelero meus passos e quando chego no topo da escada e olho para baixo, meu coração para.
Dois homens estão segurando Damon pelos braços, enquanto outros dois se revezam para... Para baterem nele. Sua cabeça está inclinada para o lado, como se ele estivesse inconsciente, mas sei que não está porque ouço seu gemido de dor quando um dos homens acerta seu estômago. Seu rosto está ensanguentado e consigo ver múltiplos hematomas no abdômen.
O que fizeram... O que fizeram....
Desço os degraus o mais rápido possível, quase tropeçando nos meus próprios pés.
— Parem! — eu grito para os homens. Eles olham para mim e depois para o lado. Então noto Sam e Oscar, assistindo enquanto espancam ele. — Faça-os parar!
Mas eles me ignoram. Damon geme de dor de novo e eu perco a cabeça. Tudo o que sinto é raiva e desespero quando pego um vaso de cerâmica que admirei mais cedo, perto do carrinho de whisky e atiro na cabeça de um dos homens.
Pedaços de cerâmica se quebram em sua cabeça, mas ele não desmaia, apenas recua e me olha furioso.
— Segure a garota. — ouço Sam ordenar e mais dois homens surgem, segurando meus braços.
Os outros voltam sua atenção para Damon.
— Por favor, deixe-o! — eu berro, enquanto me debato, exatamente como estava fazendo com Oscar, antes de desmaiar. — Parem!
Lágrimas borram minha visão, mas ainda consigo ver o sangue no rosto de Damon. A dor em cada respiração. Vão matá-lo. Se continuarem, vão matá-lo. Por minha causa. Tudo por minha causa.
Eu disse que não me venderia para Oscar apenas para manter a farsa. Mas vou fazer isso para manter Damon vivo.
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2bjs, môres♥
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