17°

KENAN foi embora no sábado à noite.

Ele simplesmente foi... Entrou em um avião e foi para o outro lado do mundo e uma parte do meu coração foi com ele, deixando um enorme vazio.

Nós dois choramos e ele quase se atrasou para o voo. Fizemos promessas e já quebrei a primeira, que era não ficar chorando pelos cantos. Uma outra foi de não deixar nada entre nós mudar, mas sei que isso é inevitável. Ele vai fazer novas amizades... Uma nova vida... Tento não pensar que ele vai me esquecer.

Quando acordo segunda-feira, estou me sentindo indisposta e nem mesmo me levanto. Fico na cama pensando o que meu melhor amigo deve estar fazendo agora. Quero ligar para ele, mas Kenan deve estar ocupado, então lhe mando uma mensagem.

Ele não responde de início, confirmando que está ocupado.

Rolo na cama por uma hora até papai bater na porta.

— Está aberta. — sento na cama e observo meu pai entrar. Ele já está de terno e gravata e todos aqueles anéis de outro nos dedos. O dono de Casino encarnado.

— Não vai para escola? — papai beija minha cabeça e depois senta na cama.

— Estou indisposta — abraço meus joelhos e pisco os olhos para ele. — Posso ficar?

— Claro, querida. O que você quiser. Vou pedir para Magda trazer seu café da manhã.

Abraço meu pai e beijo seu rosto.

— Obrigada, papai! — eu já sabia que ele não se incomodaria, afinal, por ele eu teria aulas particulares em casa.

Papai mandou Magda fazer muffins. Continuo me sentindo ainda triste e fico na cama o dia todo, assistindo desenho animado e gritando Magda para me trazer mais comida.

Minha cama está cheia de pratos inacabados que não deixei Magda levar de volta, caso eu quisesse comer o resto. Pela primeira vez não me importo com as calorias nem nada parecido.

Estou quase dormindo de novo quando a cabeça de Beverly aparece na porta. O cabelo cacheado fazendo uma cortina.

— Imaginei que precisava de uma amiga. — ela sorri e finalmente entra no quarto. Em uma mão ela balança uma garrafa de vinho e na outra duas taças.

— Você é uma fofa. — sorrio para minha amiga. A única que tenho agora. Beverly me abraça sem se importar com toda a bagunça de comida na minha cama ou o fato de eu ainda estar de pijama às quatro da tarde.

— Se você está na fossa, eu venho buscar você. É assim que irá funcionar agora, entendido? — Beverly me entrega as duas taças e abre a garrafa, despejando o líquido vermelho escuro.

— Igualmente… A propósito, como está sua situação? — bebo um pouco do vinho e reviro os olhos para o gosto maravilhoso.

— Eu vim aqui por três motivos. Primeiro: ver se está está bem e melhorar seu humor — ela faz uma pausa para beber mais vinho. — Dois: contar que minha mãe pediu o divórcio ontem...

— Isso é uma maravilha! — encosto minha tava na sua.

— Não é? Ela o colocou para fora do quarto deles hoje... Você precisava ver como ela o enfrentou. E ainda prometeu arrancar cada centavo dele. Foi a coisa mais bonita e corajosa que já vi minha mãe fazer.

Por um momento, acho que ela vai chorar, mas Beverly pisca algumas vezes, sorri e faz outro brinde silencioso.

Estou feliz que tudo tenha se resolvido para ela.

— A terceira coisa... — um sorriso malicioso. — Um tal garoto estava muito preocupado com você e praticamente me obrigou a vir.

— Quem? — franzo as sobrancelhas. Brad não deve estar muito preocupado comigo depois do que falei a ele e outro garoto... Só se fosse...

— Damon Westlake.

Claro. Uma parte boba e infantil de mim se alegra ao saber disso. Uma parte racional lembra que isso não significa absolutamente nada.

— Não vai dizer nada? — Beverly sacode meu braço. Ajeito meus óculos e tento conter o sorriso.

— Nós somos amigos. — dou de ombros e bebo mais vinho. Tento imaginá-lo preocupado comigo... Naquele dia que discutimos, foi preocupação com o jeito que Brad me tratava?

— Mentirosa! Você está vermelha! — minha amiga está eufórica. Bebo o resto do meu vinho e fico de pé.

— Vou tomar um banho. Não vou demorar. — passo por ela antes que possa me puxar de volta.

— Elleonor Macallister, volte aqui! — Beverly grita, mas já estou dentro do banheiro, encostada na porta.

Fecho os olhos e me deixo sorrir. As lembranças da nossa última noite estão frescas na memória. Dos seus lábios roçando nos meus; nossas respirações misturadas; o olhar faminto dele; quando ele ronronou “delicioso” depois de lamber meu rosto; sua língua quente contra minha pele...

Um calor estranho invade meu corpo e abro os olhos. Engulo em seco e afasto Damon dos meus pensamentos. Ou tento, pelo menos.

O vinho acabou e tivemos que pegar outra da adega do meu pai. Estamos jogando dardos na sala de jogos com o som estrondando pela casa.

Acho que estamos bêbadas.

— É uma vergonha você não saber jogar pôquer! — Beverly grita por cima da música ao errar o alvo, mas acho que ela não percebe. — Seu pai é o dono de um Casino, Elle!

Miro no alvo e acerto a borda preta. Bom para uma bêbada.

— Ele diz que esse mundo não é para mim, então nunca quis me ensinar. — dou de ombros. Bebo mais um gole do meu vinho.

— Seu pai é um chato obsessivo por controle. — minha amiga revira os olhos. Ela imediatamente se toca do que disse, mas não pede desculpas. Como poderia, se é verdade?

— Isso vai acabar, Bev. Eu vou ser livre como uma borboleta saindo do casulo e voando pela primeira vez. — dou um meio sorriso para ela.

— Isso é tão poético! — Beverly cutuca minhas costelas. Eu a encaro esperando que entenda que é verdade. Minha amiga parece sóbria de novo quando me abraça — Você voará mais longe que qualquer borboleta, Elle. — ela sussurra. Meus olhos ardem e eu lhe aperto.

— Obrigada, Beverly.


Eu a convenci de dormir aqui, prometendo mais uma garrafa de vinho. Nunca tínhamos ficado tão próximas como nessas últimas semanas e nunca me senti tão grata.

Beverly está trançando meu cabelo na frente do espelho e não sei como ela consegue já que não estamos tão sóbrias. Ela principalmente.

— Então Damon estava preocupado? — pergunto finalmente. Encaro a garota baixinha atrás de mim. Seu rosto moreno está corado por causa do vinho e seus cachos são tão lindos quanto os de Kenan...

— Ah, como estava! Ele ficou querendo seu número, mas como eu disse que não daria sem sua permissão, ele ficou estressado.

Eu nunca o vi realmente estressado ou irritado além daquele dia na sua casa.

— Depois ele implorou para que eu viesse aqui, mesmo eu dizendo que viria à noite, mas ele prometeu não me deixar em paz se não viesse antes. Liguei para ele quando você estava no banho.

Encaro seus olhos através do espelho. Seu sorriso é a prova de que não ouvi errado.

— Ele suspirou de alívio depois que falei que você não estava doente.

Queria poder ver sua cara. Por que ele se importa tanto? Queria perguntar isso, mas da última vez ele disse que não sabia. Talvez nada tenha mudado.

Não, muita coisa mudou desde que nos conhecemos...

— Então...? — Beverly segura meus ombros. Sei que ela não está falando das duas tranças embutidas e perfeitas que ela acabou de fazer.

— Somos amigos. — encaro a jaqueta de couro que estou usando. Beverly não perguntou por eu a estou usando ou quem me deu.

— Não vou dar uma de casamenteira, mas... Ele faz bem a você, Elle. Talvez ele seja o que você precise.

— Um bad boy arrogante? — arqueio a sobrancelha.

— Não, alguém que veja quem você realmente é. Damon não olha para você e vê a filha de um dono de Casino ou uma garota frágil e que precisa ser protegida. Sabe por que ele te irrita? Ele sabe que você aguenta, Elle. Damon vê você. Ele enxerga além.

Suas mãos apertam meus ombros e ela me dá um sorriso reconfortante.

— E o que eu devia fazer? — sussurro. Eu sei que ela está certa e isso me dá medo.

— Viva, Elle. Não seja uma dessas pessoas que senta na frente do espelho um dia e se pergunta o que podia ter sido ou feito. Seja aquela que tem orgulho de ter vivido tudo o que quis e talvez você se arrependa de algumas coisas, sim... Mas você viveu.

— Você é doida. — afirmo de repente. Beverly ri com deboche.

— Uma doida que vai viver tudo o que puder.

Ficamos em silêncio por um tempo. Ela procura alguma coisa na minha gaveta, mas estou prestando atenção no meu reflexo.

Através dos óculos, vejo a garota que eu podia ter sido desde o início. Sem me esconder, sem medo e inseguranças... O que ela faria? Se eu fosse essa garota, eu teria deixado de usar máscaras? Mostraria meu verdadeiro eu sem ter medo de ser excluída, diferente e fora dos padrões?

— Eu tenho medo — sussurro para mim mesma mais do que para minha amiga. Ela para de revirar minha gaveta e encara os meus olhos. — Tenho medo de ele ou qualquer outro ver quem eu sou e não ficar. E se me derem as costas?

— E se verem quem você é e ainda ficarem? — Beverly segura minha mão. — Mas antes, Elle, você mesma precisa ficar. Você precisava olhar para dentro de si e aceitar o que encontrar. A questão é: até quando você vai adiar isso?



A Elle estava precisando ouvir essas coisas, né?

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2bjs, môres♥

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