12°
DAMON aproveita a multidão gritando e correndo e me puxa para longe. Nossos passos são apressados e vejo de relance a cobra preta como a noite rastejando pelo chão. Damon a pega em um piscar de olhos e continuamos correndo para fora da casa.
— Para onde vamos? — pergunto enquanto descemos as escadas. Os seguranças não nos impedem, estão correndo para dentro, para ver o por que da gritaria. Chegarão tarde.
— Não sei. Só vamos sair daqui. Não quero lidar com isso e você? — ele me encara enquanto andamos apressados até seu carro. Víbora em seu pescoço. Por cima do ombro vejo meu pai me procurando.
— Vamos. — respiro. Damon sorri e abre a porta do carro para mim. Não é o mesmo de ontem. Esse é um Corvette vermelho com o teto solar abaixado.
Enquanto ponho o sinto de segurança, ele coloca Víbora em meu colo. Nossa salvadora. Damon arranca com o carro segundos depois, logo quando meu pai e seus seguranças quase nos alcançam.
Meu coração bate rápido como o carro que dispara pela noite. Fecho os olhos sentindo o vento em meu rosto.
Isso tudo é loucura. Por que estamos fugindo para início de conversa? E o por que eu o defendi? Devia ter deixado meu pai lhe estrangular pela insinuação sem vergonha e mentirosa.
Abro os olhos e lhe dou um tapa atrás da cabeça.
— Por fazer insinuações mentirosas. — esclareço quando ele abre a boca. Damon fica vermelho. Espere... Ele está corando.
— Desculpe.
— Por que você o irritou daquele jeito?
— Oscar já havia mencionado sobre como seu pai é super protetor. Eu quis testá-lo. — diz simplesmente. Não sei se lhe dou outro tapa.
— Ele podia ter acabado com você. — lembro a ele porque realmente achei que meu pai fosse fazer, considerando como segurou Damon.
— Sam iria interferir. — ele retruca, fazendo careta ao dizer o nome do pai. Ele deve odiá-lo muito e com motivo.
— Eu não vi nem ele nem Oscar levantar um dedo para ajudá-lo.
Damon dá de ombros e apoia o cotovelo na janela do carro enquanto segura o volante com a outra. Ele não parece bêbado como achei que estava quando lhe bati.
Víbora está enrolada em si mesma em meu colo. Faço carinho nela.
— Você gostou mesmo. — Damon diz baixinho com um sorriso. Devolvo o sorriso.
— Às vezes nos surpreendemos com nossas escolhas e companhias. — dou a ele um olhar que diz o quanto estou surpresa comigo mesma por estar em um carro com ele e uma cobra. Odiava ambos até duas horas atrás. Talvez eu ainda o odeie um pouco.
Las Vegas é linda a noite.
A cidade toda está iluminada, despreocupada com a hora, dia ou estação do ano.
O vento balança meu cabelo que soltei depois de uma hora passeando pela cidade. Damon também está sem o blazer e a gravata borboleta. Ele tirou quando paramos no sinal.
Pelo canto do olho, eu o observo batucar os dedos no volante. O cabelo bagunçado pelo vento, mas de alguma forma deixando-o mais bonito. Não me conformo que ele seja tão lindo.
Paramos em uma praia. Não pergunto por que paramos aqui, apenas saio do carro, deixando Víbora dormindo no banco. Damon sobe o teto solar e pega o blazer antes de sair.
A camisa social dobrada até os cotovelos e os dois primeiros botões abertos. É irritante.
Seus olhos verdes encaram os meus. Ele arqueia a sobrancelha como quem diz “o quê?”. Lhe dar as costas é minha resposta.
O vento nos acompanha enquanto caminhamos pela areia ao som das ondas quebrando. Com os saltos nas minhas mãos, me permito sentir a água gelada em meus pés.
— A água está tão fria quanto você é, Damon. — digo para o garoto caminhando ao meu lado. Ele ri.
— Acredite, Elleonor, eu posso ser bem quente quando quero.
Até mesmo a água ficou menos gelada.
Desvio da intensidade do seu olhar, sentindo o sangue subir para minhas bochechas. Odeio como ele consegue fazer isso. Nem mesmo Brad me deixa tão nervosa, corada e sem palavras de uma vez só.
Paro quando noto que ele não está me seguindo. Olho para trás e vejo-o longe da água, deitado em cima do blazer, de pernas cruzadas e os braços atrás da cabeça.
Vou até ele e paro na sua frente.
— Você está linda. — diz de repente. Odeio a sensação de estar corando de novo por causa dele.
— Você não disse isso quando eu realmente estava bonita. — faço uma careta. Meu cabelo está bagunçado por causa do vento. Estou sem nenhum acessório e descalça.
— Aquela garota mimada não era você. — diz simplesmente.
— Não? — dou risada com deboche.
— Não, não é.
Ficamos nos encarando por um longo minuto até que decido sentar ao seu lado. Encaro meus pés descalços.
O que Brad pensaria de tudo isso? Ele com certeza vai saber do que aconteceu. Eu quero contar a ele o que aconteceu? Para que? Brigar e ele pedir desculpas e fazer promessas?
Talvez eu não conte nada e ele não fique sabendo de nada também.
— Fale-me sobre você. — peço ao me deitar. Ele está de olhos fechados e não diz nada. Penso que ele está dormindo e pressiono o dedo em sua bochecha – a que estapeei. Me assusto quando ele segura meu pulso em um ato rápido.
— Ainda está dolorida. — explica ao abrir os olhos.
— Ah. — mordo o lábio, mas não puxo a mão. Damon segura minha mão com as suas, examinando os arranhões causados pelo acidente. A mão que ele está segurando, os arranhões foram mais feios e vão deixar cicatrizes. Eu arranquei a casca que estava formando, deixando a pele vermelha e atrasando a cicatrização.
Damon senta, o rosto sério. Faço o mesmo.
— Eu nunca pedi desculpas por isso. — seus dedos fazem carícias na pele exposta. Fecho minha mão em volta de seus dedos. Ele ergue os olhos para mim.
— Foi um acidente. — digo olhando em seus olhos ao perceber o quanto isso o tem atormentado. Damon abre minha mão de novo.
— Eu deveria me desculpar mesmo assim — ele leva minha mão até seus lábios e dá um beijo demorado. — Desculpe, Elle.
Sinto meu corpo todo esquentar, minhas bochechas corarem, meus dedos dos pés formigarem. Espero que ele não perceba que minhas mãos estão suando.
Engulo em seco quando ele pega minha outra mão e beija também. Os olhos fixos em mim. Queria que abrisse um buraco para que pudesse enfiar minha cara ou uma onda gigante me engolisse.
— Fale-me sobre você. — peço de novo. Ele abaixa os olhos e volta a traçar linhas imaginárias na palma da minha mão.
— Eu tenho dezessete anos, sou do signo de áries... Sou alérgico a abacaxi...
— Você é alérgico a abacaxi? — franzo as sobrancelhas. Ele ri, concentrado nas linhas imaginárias.
— É, então se planeja me matar, já tem uma dica. — ele olha para mim e pisca.
— Que horror! — tento puxar a mão, mas ele segura e seu olhar é um desafio e uma súplica. Deixo ele continuar, gosto disso.
— Fui para Inglaterra depois que minha mãe morreu, quando eu tinha oito anos — aperto seu joelho com a mão livre, como um consolo. Ele dá de ombros. — Eu morava com minha tia lá, mas ao que parece, ela enjoou da minha gloriosa companhia.
— Não imagino o porquê.
Sua risada mexe com algo dentro de mim.
— Então, — Damon continua — não há mais nada muito relevante para ser dito sobre mim, além do que você já sabe. Como por exemplo: a minha beleza inegável, meu ótimo gosto para animais de estimação e para garotas temperamentais.
— Ei! — lhe dou um tapa no braço. Damon ri.
— Viu? Temperamental.
— Idiota.
— Já falei sobre mim. Sua vez. — sua atenção está em meu rosto e sou obrigada a desviar para seu pescoço.
O que posso dizer a ele? Que fui criada com uma segurança exagerada e até hoje não posso ir ao shopping sem alguém atrás de mim? Ou seria melhor eu contar que minha mãe me deixou e no seu lugar eu faria o mesmo? Talvez eu devesse incluir meu relacionamento com Brad também.
Depois de alguns momentos calada, percebo que não há nada interessante sobre mim. Sou apenas uma garota mimada e hipócrita.
— Você já sabe tudo sobre mim. — digo secamente. De repente estou chateada comigo mesma por não saber quem eu realmente sou. Eu tinha certeza até conhecer Damon, o único que me questionaria sobre isso.
— Eu quero saber sobre a verdadeira Elleonor. Aquela que não finge na frente dos amigos ou do pai. — seu olhar me encontra e não sou capaz de suportar a intensidade que carrega.
— Essa é quem eu sou — puxo minha mão e cruzo os braços. Damon continua com a mão no ar, como se ainda me segurasse. — E o que você sabe sobre isso? Me conhece há três dias.
Damon não diz nada por um tempo, então encaro o mar quebrando a minha frente. Eu raramente vou à praia. Meus amigos preferem clubes e quando vamos a uma praia, é alguma particular. Onde geralmente só fica o nosso grupo. É legal ter a praia só para si, mas... É ruim viver em uma bolha, às vezes.
Deito em cima do seu blazer e encaro as estrelas. Aquela poesia de Damon vem à minha mente. Para quem será que ele escreveu? Pela data rabiscada em um canto da folha, notei que foi escrito há dois anos. Quem ele amou tanto há dois anos?
— Você está certa. — diz ele de repente. Franzo as sobrancelhas até me lembrar do que falei há minutos.
Damon permanece sentado de costas para mim, com as pernas esticadas enquanto brinca com a areia.
Não falamos mais nada um para o outro e me ocorre que ele pode estar chateado por eu não querer falar sobre mim, sendo que ele falou. Mas às coisas que ele disse não foram nada muito relevantes, além da alergia a abacaxi, coisa que posso usar no futuro. Fora isso, nada.
Como posso explicar a ele algo que nem eu mesma sei?
O que acharam desse capítulo?
É um dos meus preferidos!
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