0 0 3.── pouco problemático. . . 𖦹
❛❛ , ⠀0 0 3 𖦹 C A P. T R Ê S
( ⠀gotham⠀ )⠀ ✦ pouco problemático
Tim acordou com o crânio implorando por misericórdia quando o despertador decidiu fazer um escândalo na mesa de cabeceira. Ele resmungou, amaldiçoando o mundo, seus péssimos hábitos noturnos e especialmente o fato de ter aceitado aquele compromisso como se fosse uma pessoa realmente funcional pela manhã ― ele não era.
Enrolando-se nos lençóis como um burrito ressentido, já meio caminho andado de volta pro sono, escutou malditas batidas arrebentarem pelo quarto inteiro. Enterrou o rosto no travesseiro, engolindo um "vai se foder" que só não saiu porque, bom, podia ser o Alfred.
E ele já tinha tido aquele constrangimento uma vez, quando xingou o mordomo pensando que era o Jason.
― É, Tim Drake... você deveria ter deixado a porcaria daquela missão para Bárbara ― resmungou.
Do lado de fora, escutou a voz familiar de Dick:
― Se eu tiver que esperar mais que cinco minutos, você paga meu café. E eu gosto do caro.
Tim soltou um riso indignado. Claro que seu "irmão" mais velho era pontual como um relógio suíço ― e chato pra caralho.
― Se esperou até agora, aguenta mais um pouco ― retrucou, arrastando-se para fora da cama com a dignidade de um zumbi pós-ressaca vendo Dick entrar no quarto. ― Cadê a Emma para te manter ocupado?
― Não ache que vai conseguir me perturbar uma hora dessas. Isso não cola mais. ― Dick cruzou os braços, um pé na porta. ― Todos sabemos que você pediu para te acordarem cedo só para ter desculpa pra reclamar o dia inteiro.
Tim finalmente arrastou o corpo para se sentar, esfregando os olhos com os nós dos dedos.
― Dick, você nunca vai entender o valor dramático de uma reclamação pela manhã.
― Uau, Tim! Que grande coisa ― ele retrucou, seco. ― O que aconteceu ontem? Parece que um trator passou por cima de você.
Tim soltou um riso abafado.
― Foi quase isso...
Lembrou da queda de dois andares direto numa caçamba de lixo fechada. Do soco que não desviou. Do chute no estômago que o deixou sem ar. Tava sem foco, virou um saco de pancadas ambulante até conseguir, no desespero, prender os criminosos com a ajuda da polícia.
― Noite ruim? ― Dick perguntou, olhando pro roxo no abdômen dele. ― Ou só sendo imprudente de novo?
― Não, você não vai bancar o Bruce comigo essa hora da manhã, Richard. ― Tim se levantou, pegando a camisa jogada no chão e vestindo enquanto Dick ria. ― Ele nem me culpa tanto quando eu falho, já você... ele te trocou pelo Jason.
― Ouch! ― Dick levou a mão ao peito, rindo. ― Tá bravinho hoje? Pensei que íamos fazer a checagem de perímetro de boa, mas se for pra escolher entre você e o Jason como companhia de mau humor, pelo menos ele faz piada com isso.
― Só contigo. ― Ele revirou os olhos, passando pelo mais velho. ― O Jay me trata bem.
Tim desceu as escadas com a energia de um morto-vivo, mas pelo menos já conseguia fingir que estava acordado. O cheiro de café invadia a cozinha ― graças a Deus por Alfred ― e ele se dirigiu direto para a máquina como um homem em missão. Dick, claro, vinha logo atrás, todo energético e irritantemente bem-disposto, apoiado no balcão com um copo de suco verde na mão.
― Sério, isso? ― Tim fez uma careta. ― Você virou um personagem de filme de yoga agora?
― Chama-se saúde, Timmy. ― Dick deu um gole exagerado, sorrindo. ― Recomendo. Talvez você não precise de três cafés para funcionar.
― Eu funciono perfeitamente com café, ódio e ironia, obrigado. Aprendi isso com você no seu auge. ― Ele tomou um gole direto da caneca, ignorando o calor que queimou sua língua. ― E pare de me chamar de Timmy.
Dick abriu um sorriso largo.
― Tá nervosinho, Timmy?
Tim respondeu com um gesto obsceno, mas foi interrompido pela voz seca de Jason, que apareceu na porta da cozinha.
― Pelo amor de Deus, já tão brigando e nem saímos ainda?
― Ele começou. ― Tim apontou para Dick, enquanto Jason pegava uma maçã da fruteira e dava uma mordida, ignorando os dois.
― Eu só existo, e isso já é motivo pro Tim surtar. ― Dick deu de ombros. ― Mas relaxa, Jay, a gente ainda não chegou na parte em que ele reclama do meu modo de dirigir.
― Porque você dirige como um maníaco! ― Tim esbravejou.
― E você reclama como uma velha de 90 anos.
Jason mastigou devagar, olhando de um para o outro com expressão entediada.
― Vocês dois são insuportáveis. Por isso que o Damian não quer mais fazer rondas com vocês.
― O Damian não quer fazer rondas com ninguém ― Tim corrigiu. ― Ele só sai com o Bruce e olhe lá.
― Justo. ― Jason deu outra mordida na maçã. ― Mas se vocês não se comportarem, eu conto pra ele que tão discutindo igual casal de romcom.
Dick riu, e Tim revirou os olhos, mas não conseguiu segurar um sorriso.
― Tá bom, tá bom. ― Ele levantou as mãos em sinal de rendição. ― Vamos lá fazer esse perímetro antes que o Bruce ache que a gente tá enrolando.
― Finalmente! ― Dick jogou o copo vazio na pia. ― Só mais uma coisa...
― O quê?
― Você realmente vai sair de pijama?
Tim olhou para baixo. Calça de dormir, camiseta velha do Batman que o Jason tinha dado como piada.
― ...Vou sim. ― Ele deu um sorriso sarcástico. ― Quero ver a cara dos bandidos quando um cara de pijama derrubar eles.
Jason tossiu, quase engasgando com a maçã.
― Eu não mereço isso... vocês são muito idiotas.
― Você lida bem com isso. ― Dick jogou, puxando Tim pelo braço em direção à garagem.
Tim resmungou, mas seguiu ― afinal, era difícil ficar realmente irritado com aqueles dois.
Eles desceram as escadas da mansão Wayne em um silêncio relativo — se você ignorasse os suspiros dramáticos do Tim, os olhares divertidos do Dick e os resmungos de Jason. O sol da manhã invadiu os vitrais do hall de entrada, e Tim apertou os olhos como se a luz fosse um ataque pessoal.
― Você tá andando que nem um zumbi ― Dick comentou, abrindo a porta da garagem. ― E dá pra parar de ficar fazendo pose de "odeio a humanidade"? Tá parecendo o pirralho.
Tim deu de ombros, enfiando as mãos nos bolsos do casaco. Dick riu, jogando as chaves do carro pra ele.
― Pega. Você dirige. Assim você não tem tempo pra ficar filosofando sobre o quanto a vida é injusta antes das nove da manhã.
Tim pegou as chaves no ar, revirando os olhos, mas sem reclamar. Dirigir significava controle. E controle significava menos chance de Dick encher o saco dele por "andar distraído" ― que, na verdade, era só ele processando informações em tempo real, mas okay.
O carro ― um audi preto discreto, nada chamativo para não levantar suspeitas ― roncou quando Tim ligou o motor. Dick se acomodou no banco do passageiro, ajustando o cinto e olhando Jason no banco de trás, e deu um tapinha no painel como se estivesse parabenizando o carro por aguentar o motorista.
― Então... ― Dick começou, olhando pela janela enquanto Tim manobrava para sair da garagem. ― Vai me contar o que realmente aconteceu ontem ou eu vou ter que adivinhar pelos seus hematomas?
Tim apertou os lábios, virando o carro na saída do beco.
― Você já adivinhou, então pra que perguntar?
― Porque eu sei que não foi só "uma noite ruim". ― Dick virou o rosto pra ele, sério por um segundo. ― Você tá esquecendo coisas, Tim. Coisas básicas. Desvios, golpes...
― Eu sei ― a resposta saiu mais cortante do que ele pretendia. Tim respirou fundo, aliviando o aperto no volante. ― Tô resolvendo.
Dick estudou o rosto dele por um momento, depois recostou-se no banco com um suspiro.
― Tá. Mas se "resolver" incluir mais um prédio e mais uma caçamba de lixo, pelo menos me avisa antes. Assim eu levo uma câmera pra registrar o highlight da sua carreira.
Tim não conseguiu segurar um meio-sorriso.
― Vai tão pro inferno, Dick.
Tim pisou no acelerador, e o carro avançou pelas ruas de Gotham, o céu cinzento da manhã se refletindo no asfalto molhado da noite passada. E, por enquanto, pelo menos, o mau humor dele tinha espaço para um pouco de companhia. Jason estava encostado no banco de braços cruzados, quando Tim o olhou pelo retrovisor, mas desviou quando seus olhares se encontraram.
― Então, Drake... ― Jason começou, ajeitando-se com um movimento casual. ― Quem é Iván?
Tim travou por meio segundo, mas recuperou rápido demais... pelo menos era o que ele achava. Jason, porém, não era besta.
― Ninguém importante ― Tim respondeu, desviando do olhar e observando o GPS.
― Ninguém importante? ― Ele riu. ― Porque o Demôniozinho tá dizendo por aí que você tá saindo com um "problemático exibido que acha que é o centro do universo"?
Tim sentiu o calor subir pela nuca.
Maldito Damian!
― Ele exagera. Iván é só... um cara.
― Um cara que o Baby-Bat detesta o suficiente pra ficar fazendo discurso no jantar? ― Jason levantou uma sobrancelha. ― Isso já é um feito, Drake.
Dick, que até então estava só observando, franziu o cenho.
― Espera, saindo? Tipo... saindo sair?
Tim virou pra eles, irritado.
― Por que todo mundo tá fazendo um escândalo? É só um rolê casual. Nada sério.
Jason deu uma risada curta.
― Claro, claro. E eu acredito em Papai Noel. ― Ele se inclinou pra frente, com aquele olhar de "tô te encurralando". ― Mas se esse Iván é tão nada demais, por que você tá todo defensivo?
― Eu não tô defensivo! ― Tim protestou, mas até ele percebeu que soou exatamente como alguém que estava.
― Tá sim! ― Jason apontou pra ele. ― Você fica assim quando tá escondendo merda. Lembra daquela vez que fingiu que não tava investigando o Bruce sozinho e quase morreu? Exatamente essa vibe.
Tim revirou os olhos.
― Não é a mesma coisa.
― Ah, não? ― Jason se inclinou entre os bancos, olhando para o mais novo. ― Então me conta. Quem é o playboy que conseguiu deixar você interessado e o Damian possesso?
Tim respirou fundo. Sabia que não ia escapar, mas odiava quando transformavam coisas pessoais dele em assunto de família.
― Ele é só um cara que conheci com Damian no St. Swithin's. Trabalha no Red Lotus, é sarcástico, e sim, um pouco exibido ― admitiu, relutante. ― Mas não é um problema.
Jason deu um sorriso lento.
― Uh-huh. E o Damian odeia ele porque...?
― Porque o Damian odeia todo mundo ― Tim resmungou.
― Justo ― Jason riu. ― Mas se ele tá especificamente obcecado em falar mal desse Iván, é porque tem coisa aí.
Tim já estava cansado da conversa.
― Tá bom, já deu. Não é da conta de vocês.
Jason levantou as mãos em rendição, mas o sorriso ainda era de quem sabia que tinha ganhado.
― Tá certo, príncipe.
O motor do carro roncou suavemente enquanto Tim dirigia pelas ruas de Gotham, o silêncio dentro do carro perdurou por alguns minutos até que Dick tentou quebrar o gelo.
― Então... esse perímetro é no Armazém 14, né? O que a gente tá esperando encontrar lá?
― Atividade suspeita, segundo Bruce ― Tim respondeu seco, os dedos apertando o volante com mais força que o necessário. ― A Babs flagrou transmissões de rádio não autorizadas saindo de lá.
Jason, esticado no banco de trás como um gato preguiçoso, deu um suspiro exagerado.
― Ah, ótimo. Mais um galpão abandonado cheio de capangas entediados. Já estou emocionado.
Tim ignorou o comentário, mantendo os olhos na estrada. Sua mente ainda estava presa na conversa sobre Iván. Ele sabia que Jason estava só provocando, mas... era tão difícil contar para sua família que novamente estava com alguém, não porque eles não aceitavam, mas sim porque as piadinhas de namoradinhos ia ser sempre assunto para eles o irritarem.
― Já checou se tem alguma conexão com o Penguin? Ele adora usar esses lugares velhos pra esquema ilegal.
― Já e adivinha? ― Tim respondeu, mudando de marcha bruscamente. ― Nada.
Jason observou Tim pelo retrovisor, um sorrisinho desdenhoso no rosto.
― Tá quietinho hoje, Replacement. Tá com vergonha ou tá pensando no namorado?
Tim sentiu um músculo na mandíbula contrair.
― Jason, eu juro por Deus que se você não calar a boca, eu te jogo desse carro em movimento.
― Tá nervosinho. ― Jason riu. ― Bom saber que eu ainda tenho esse efeito em você.
O carro parou em um beco escuro a alguns quarteirões do armazém. A rua era relativamente abandonada, com alguns barris caídos, lixo espalhados pelo chão, um cheiro de água estagnada e apenas galpões que deveriam servir para atividades ilícitas. Poucas vezes iam até aquele lado de Gotham, era um submundo que Bruce dizia que era algo que ele mesmo devia tomar conta, mas desta vez, talvez por ser dia e ele estivesse ocupado, preferiu que eles fossem verificar em seu lugar.
A porta do carro abriu com um clique seco. Tim saiu primeiro, esfregando a nuca enquanto esticava o corpo. Seu uniforme ainda tinha as dobras de ter ficado jogado no banco de trás a noite toda. Do outro lado, Dick girava o bastão de escrima com movimentos fluidos, testando o peso. Jason já estava de pé na calçada, a mão descansando no coldre da perna, os canos das pistolas reluzindo na luz do dia.
O armazém surgiu no fim da rua, um bloco baixo de tijolos escurecidos e com pichações a vista fazendo referências a gangue do Coringa e a corte das corujas. Tim encolheu o bastão com um clique e olhou para os outros.
― Plano? ― Dick puxou a máscara para os olhos.
― Entrada padrão ― Tim respondeu, conferindo o batarang no coldre. ― Eu cubro o telhado. Dick, você pega a entrada principal. Jason...
― Me enfiam nos fundos de novo, é? ― Jason já tinha as pistolas nas mãos, os dedos batendo de leve nos cabos. ― Pelo menos me deixem algum bandido pra atirar.
Dick soltou um suspiro, mas os cantos da boca subiram.
― Só não atira em ninguém até a gente saber o que tem lá dentro.
― Tá, tá. Prometo pensar nisso.
Tim ignorou ele e começou a escalar o prédio ao lado, usando a garra para alcançar o telhado do armazém. O vento bateu em seu rosto, ajudando a limpar um pouco a irritação por ainda estar cheio de sono. A noite não havia sido agradável e agora o dia tampouco parecia melhor. Ele se agachou, observando o interior do armazém através de uma claraboia suja. Vários homens armados andavam pelo local, carregando caixas marcadas com um símbolo familiar.
O emblema dos Sullivan.
Ele ativou o comunicador.
― Temos atividade. É os Sullivan. Tráfico de armas.
― Eu sabia que ia ser divertido ― a voz de Jason ecoou no ouvido dele.
― Mantenham o silêncio. ― Dick ordenou. ― Vamos interceptar.
Tim estava prestes a se mover quando ouviu uma voz áspera vindo de dentro:
― O carregamento sai em 20 minutos. O Velho Sullivan não admite atrasos.
― É o Vik Sullivan ― Dick reconheceu a voz no comunicador. ― Ele mesmo.
Tim sentiu um alívio irracional.
Mas a missão ainda estava em andamento.
― Vamos! ― ele disse, quebrando o vidro da clarabóia.
Os três invadiram o armazém em sincronia. Tim derrubou dois capangas com golpes precisos, Dick acertou um salto espetacular sobre uma pilha de caixas, e Jason... bem, Jason atirava nos joelhos dos capangas de Sullivan com um sorriso. Um dos capangas caiu com um queixo quebrado; o segundo nem teve tempo de gritar antes de um golpe no plexo solar o deixar sem ar.
Mas Viktor não estava no meio deles. Tim perdeu qualquer sinal dele em meio a briga; ultrapassou os capangas sem lutar, deixando o trabalho inteiro para Dick e Jason. Quando alcançou a porta dos fundos, só viu os faróis do sedan preto desaparecendo na curva.
― Você só tinha uma função, Timmy ― Dick disse no comunicador, ofegante. ― Dar suporte e interceptar o Vik.
― Deixa pra lá, Grayson ― Jason interrompeu, acompanhado pelo som de um carregador sendo trocado. ― Tudo bem, Tim. Temos a próxima.
― Merda! ― Ele girou o bastão e acertou o último capanga com um golpe seco.
Tim recuou para dentro do armazém, os dedos correndo sobre o visor do computador de pulso. O drone zumbiu ao ser ativado, varrendo o local em padrões de calor enquanto transmitia os dados para a Batcaverna. O ar pesava com o cheiro de pólvora e sangue, e ele sentiu o bastão pulsar na mão, os dedos inquietos batendo contra o metal.
Dick caiu de cima de uma pilha de caixas, aterrissando na sua frente com um baque surdo. O uniforme azul estava encardido, manchado de poeira e fuligem. Ele guardou os bastões nas costas com um movimento seco.
― E aí, gênio? ― O tom de Dick foi ácido. ― Como a gente explica pro Bruce que você deixou o Vik escapar? De novo.
Jason se aproximou, esbarrando em Dick de propósito ao ultrapassá-lo.
― Dá um tempo, Garoto Maravilha ― debochou, virando-se para o mais novo. ― O Vik escapou, fim da história. Ninguém aqui tá feliz com isso. Não foi como se o Timmy tivesse deixado o cara passar de propósito.
Tim não respondeu.
Os dedos dele apertaram o bastão com mais força do que o necessário fazendo as luvas de kevlar ranger contra o metal Não era só a missão falhada ― era saber que o Bruce ia ouvir e analisar os relatórios das suas últimas duas missões. Dick e Jason podiam se dar ao luxo de errar, mas ele? Ele ainda tinha que provar que merecia estar ali, mesmo que Bruce dissesse que não era necessário.
Antes que pudesse dizer algo, Tim virou-se quando escutou o som genérico de um telefone descartável, abafado pela pilhas de caixas em volta. Os três congelaram no local, cogitando a possibilidade de terem caído direitinho em uma armadilha. Dick pegou os bastões e Jason apertou as pistolas, ficando todos em silêncio.
Tim inclinou a cabeça, os sentidos aguçados. O som vinha da pilha de caixas perto da porta dos fundos, onde o carro de Viktor estava estacionado. Ele trocou um olhar rápido com Jason, depois com Dick, e fez um sinal claro com as mãos: Vou investigar. Cubram-me.
Dick hesitou, mas Jason apenas deu um meio sorriso.
― Se for emboscada, grita, gêniozinho.
Tim avançou em silêncio, cada passo calculado para não fazer barulho no cascalho e vidros quebrados. Entre duas caixas marcadas com o emblema vermelho dos Sullivan, viu o telefone antigo vibrando no chão, a tela rachada piscando com uma chamada. Ele se agachou lentamente, os dedos fechando-se cuidadosamente em torno do aparelho. A pele sob sua máscara ficou úmida de suor. O nome na tela fez seu estômago se revirar.
I. Campra.
Não. Não podia ser.
Ele franziu o cenho, confuso, não podia ser a primeira pessoa que lhe veio à mente. Tim engoliu seco olhando por cima dos ombros os irmãos distraídos e então abriu o celular, atendendo a ligação, e foi quando a voz veio que ele sentiu algo que não sentia há tempos.
― Callahan me mandou te avisar ― disse Iván. ― Já cumpri minha parte. Tô fora disso, entendeu?
E antes que Iván pudesse dizer mais alguma coisa, Tim esmagou o celular no chão com um soco. A dor latejou em sua mão se espalhando por todo o seu braço, mas ele ignorou o melhor que pôde. Quando se levantou, Dick e Jason estavam encarando-o, perplexos.
Ele simplesmente virou as costas e começou a caminhar.
― Oh! Robin! ― Jason chamou. ― Timothy! Dá pra falar o que diabos acabou de acontecer?
Tim parou, mas não se virou.
― Desde que eu estraguei tudo, o Bruce não me olha do mesmo jeito ― ele disse, a voz mais baixa do que pretendia. ― E tudo bem decepcionar qualquer um, menos ele. A missão falhou. É isso. Agora temos que ir, porque eu ainda tenho um compromisso.
Jason soltou um suspiro exasperado, tirando o capacete com um movimento brusco.
― Encontrar o Iván, é? ― ele perguntou, os dedos tamborilando no vermelho fosco do capacete.
― Talvez.
Tim deu de ombros, arrancando as luvas com mais força que o necessário antes de jogá-las no porta-malas do carro. Pegou seu laptop e o apoiou no capô, os dedos voando sobre o teclado com uma intensidade que beirava a agressividade.
― Você tá digitando como se o teclado te devesse dinheiro, Replacement ― Jason comentou, cruzando os braços diante o peito.
Tim ignorou.
― Olha, se você não quer falar sobre o Iván, beleza... ― Dick começou, em um tom mais conciliador. ― Mas a gente só quer saber se você tá bem.
― Eu tô perfeitamente bem ― Tim respondeu, sem tirar os olhos da tela.
Jason soltou uma risada.
― E o Damian deixou vocês bem incomodados com o Iván, não? ― Tim revidou, os olhos ainda fixos na tela.
Jason ergueu uma sobrancelha.
― Você acha mesmo que o pestinha odeia ele sem motivo?
Tim apertou os lábios. Esse era o problema. Damian não odiava gente sem motivo. Ele simplesmente ignorava quem não valia seu tempo. O fato de ele estar tão obcecado em falar mal do Ivan...
― Ele tem ciúmes ― Tim resmungou, como se fosse óbvio.
Dick e Jason trocaram um olhar.
― Ciúmes? ― Jason repetiu, como se a palavra fosse absurda.
― Sim, ciúmes ― Tim insistiu. ― Ele não gosta que eu tenha amigos fora da Família Wayne.
― Ou... ― Jason inclinou-se pra frente, com um sorriso malicioso. ― Talvez ele só tenha percebido algo que você tá se recusando a ver.
Tim sentiu um calafrio.
― Tipo o quê?
― Que talvez esse Ivan esteja muito interessado em você por motivos errados. ― Jason encolheu os ombros. ― Você é um Drake, um Robin, e agora um herdeiro Wayne. Você acha mesmo que alguém chega em você só porque gosta da sua personalidade encantadora?
Tim ficou em silêncio.
Ele já tinha pensado nisso, é claro. Mas Ivan nunca tinha dado nenhum sinal de que sabia quem ele era fora do contexto em que se conheceram. Até agora...
― Você tá sendo paranóico ― Tim disse, mas sua voz soou menos convincente do que ele gostaria.
― Ou precavido ― Jason corrigiu. ― Só toma cuidado, Drake. Porque se esse cara não for quem ele diz ser...
― Eu lido. ― Tim cortou, levantando-se da cadeira. ― Agora, se não se importam, temos que ir para casa e eu preciso trocar de roupa e curativos.
Ele fechou o computador após enviar os relatórios à Batcaverna, entrando no carro sentindo os olhares deles queimando suas costas.
Tim ajustou a gola da camisa branca e soltou um suspiro enquanto se encarava no espelho. Não é que ele desgostasse do que via, só estava ciente demais de como aquilo era o tipo perfeito de imagem que o Iván usaria pra chamá-lo de "mauricinho" sem nem precisar se esforçar. As abotoaduras com as iniciais "TD" nas mangas não ajudavam muito. Naquele momento, ele estava mesmo vestido como um mauricinho de manual.
Arrancando a gravata, desabotoou dois ou três botões da camisa e enfim sentiu o corpo relaxar um pouco. Ainda parecia mais arrumado do que deveria, considerando que ia à um restaurante na Chinatown, mas pelo menos não estava mais parecendo que saiu direto de uma reunião do Bruce. Checou o celular. 18h00. Iván tinha dito que às terças o movimento era menor, mas Tim torcia para que o lugar não estivesse completamente vazio. A última coisa que queria era ficar sozinho com os próprios pensamentos à solta.
Saiu do quarto em silêncio. As vozes de Dick, Jason, Damian e Bárbara vinham do andar de baixo, provavelmente debatendo alguma coisa como sempre. Pensou em avisar que estava saindo, só por formalidade, mas desistiu. Não queria mais uma rodada de comentários sobre Iván. Precisava ouvir o que Iván tinha pra dizer ― direto dele ― ou acabaria se sufocando em suposições que ele mesmo já estava começando a criar.
Sem o motorista, pegou o Bentley preto e saiu sem fazer alarde na mansão. As ruas de Gotham já escureciam mais cedo naquele inverno, e as luzes da cidade ― dos postes aos letreiros neon ― se espalhavam pelo vidro do carro. Quando chegou à Chinatown, o clima mudou. As lanternas vermelhas espalhadas pelas ruas davam ao bairro um ar quase acolhedor, mesmo em meio à noite fria e tensa para Tim.
Parou o carro em frente ao Red Lotus, um restaurante com uma enorme flor de lótus em neon vermelho no topo. Ficou por um instante ali dentro, as mãos apertando o volante, tentando afastar a imagem que vinha assombrando sua cabeça desde aquela manhã quando viu o nome de Iván no celular de Sullivan. Depois de respirar fundo, saiu, ajeitou a roupa se olhando de relance no reflexo da lataria e seguiu para a entrada.
Assim que a porta se abriu, um sino tilintou no alto da porta e algumas cabeças se viraram. O restaurante estava mais cheio do que ele esperava para uma terça-feira. Não era ruim, só... surpreendente. Caminhou até uma mesa num canto, perto da vitrine com vista para a avenida ― a parte mais tranquila do lugar.
― Bem-vindo ― disse um garçom com leve sotaque chinês, algo comum por ali. ― Já sabe o que vai querer ou quer dar uma olhada no cardápio?
Tim olhou em volta, procurando Iván, mas não o viu em lugar nenhum. Pelo menos não ainda.
― Um mapo doufu ― respondeu, com um sorriso contido. ― E um chá oolong.
― Só isso?
Tim assentiu.
― Trago assim que estiver pronto. Enquanto isso, pode aproveitar nossas entradas.
Alguns garçons passaram pela mesa deixando pequenas cestas com guiozas grelhadas, tofu seco com cebolinha, amendoins cozidos com especiarias e pastéis de cebola chinesa. Ele agradeceu com um aceno discreto e pegou uma das guiozas.
Estava acostumado com a culinária chinesa. Na época da escola, ele e os amigos iam direto pra Chinatown ― era mais barato, divertido, e os festivais de dragões sempre deixavam ele encantado. Toda vez que podia escolher o que comer no aniversário, pedia comida chinesa. Gostava de comida italiana também, mas os sabores intensos, picantes e cheios de personalidade da cozinha chinesa sempre chamavam mais sua atenção.
Enquanto mastigava devagar, tentando se distrair com o movimento do restaurante, Tim percebeu como aquele lugar tinha o dom de fazer o tempo passar mais devagar. A conversa das pessoas, o tilintar de talheres, o som abafado da música ambiente... tudo parecia funcionar como uma bolha fora da realidade de Gotham. E era exatamente o que ele precisava.
Mas, a ansiedade não dava trégua a ele. Ela esteve o consumindo quase o dia inteiro. O olhar de Tim ia da porta para o relógio do celular em ciclos curtos. Iván ainda não tinha aparecido no salão. Ele se perguntava se ele tinha ido trabalhar naquele dia ou se só tinha chegado após o horário.
Só que antes que pudesse sentir-se ainda mais frustrado, a porta abriu. Tim não precisou olhar duas vezes.
Iván entrou com uma mochila de entregas, vestindo um casaco escuro sobre uma camiseta simples do Yungblud. Estava com o cabelo cacheado meio bagunçado pelo vento e aquele jeito relaxado que parecia irritar e atrair ao mesmo tempo. Os olhos castanhos dele procuraram pelo salão até encontrarem o Drake ali no canto. E quando encontraram, o sorriso de canto surgiu ― pequeno, mas direto, como se dissesse "mauricinho".
Tim sentiu o estômago revirar, e não era culpa do mapo doufu.
Iván seguiu para os fundos do restaurante. Tim conseguiu vê-lo por uma fresta da porta conversando com quem parecia ser o dono. Tirou a mochila das costas, trocou algumas palavras e recebeu uns tapinhas amigáveis no ombro. Era difícil imaginar Iván metido com os Sullivans, pelo menos à primeira vista.
Logo depois, ele voltou para o salão e veio direto até a mesa, sem tirar os olhos de Tim. Sentou de frente, tirou o casaco e jogou nas costas da cadeira.
― Achei que você fosse desistir ― disse ele, checando o relógio no pulso antes de lançar um olhar rápido para os pratos e depois, de novo, para Tim. ― Achei que não ia querer me ver pela terceira vez.
― Pensei o mesmo de você ― Tim respondeu, tentando parecer mais tranquilo do que estava.
― Se tentou parecer menos mauricinho, aviso logo que não deu certo. ― Iván soltou, pegando um pedaço de tofu seco com cebolinha. Deu uma mordida e mergulhou o resto no molho, sorrindo com gosto. ― Mas tá bonito. Formal demais pra Chinatown, mas bonito.
Tim soltou uma risada e revirou os olhos.
― Achei que já tinha voltado pra sua torre de vidro, com vista panorâmica e tudo ― Iván continuou.
― Quem disse que eu moro numa torre? ― Tim retrucou, levantando uma sobrancelha.
― Ninguém. ― Iván deu um sorriso rápido à ele. ― Mas você tem toda a vibe. Tipo... café caro, sapato que não suja, e uma crise existencial a cada três semanas.
― Só a cada dois meses, na verdade.
― Parabéns. Um recordista.
Tim pegou um gole do chá, escondendo o riso atrás do copo. Estava quase aprendendo a lidar com o jeito de Iván. Ele provocava como se estivesse testando limites ― não só os de Tim, mas os dele mesmo também. Era difícil entender até onde ele ia com aquilo. Às vezes parecia só diversão. Outras vezes, como agora, tinha algo por trás.
― Então, essa é sua terça-feira tranquila? ― Tim perguntou, empurrando o prato com os vegetais na direção dele.
― Uhum. Se o mundo acabar entre agora e meia-noite, pelo menos eu morri comendo decentemente. ― Iván pegou mais um pedaço de tofu, dessa vez sem molho. ― E sem moto, o que é uma vitória. Tá tão calmo hoje que quase pensei em ir embora mais cedo... mas aí lembrei que tinha um mauricinho curioso pra saber como é a vida real.
― Eu não sou tão curioso assim.
― Claro. Só veio até Chinatown por acaso, pediu comida por acaso, sentou na mesa por acaso e tá aqui olhando pra minha cara por... quê? Trabalho de campo? Ou apenas por acaso?
― Trabalho de campo? ― Tim repetiu, dando um leve sorriso. ― Se for, você tá péssimo como objeto de estudo.
― Tsc... ― Iván resmungou, com a boca meio cheia de tofu. ― Eu deveria ter vestido minha camisa social de marca.
― Concordo, não gosto tanto de Yungblud. ― Tim olhou de cima a baixo, fingindo avaliar enquanto recebia um olhar torto de Campra. ― Tá se esforçando pra parecer um adolescente alternativo ou é falta de tempo mesmo?
― Não começa. ― Iván apoiou o cotovelo na mesa, inclinando um pouco na direção dele. ― Tem muita coisa errada nessa camisa branca engomada que você tá usando pra jantar num lugar que serve tofu em tigela de plástico, eu ao menos estou mostrando meu bom gosto musical.
Tim abriu um sorriso e empurrou a xícara de chá de leve para o lado, cruzando os braços.
― Bom, isso é melhor do que sair do trabalho direto com cheiro de molho.
Iván arqueou uma sobrancelha.
― Você realmente tá tentando me zoar por ter um emprego? Que fofo.
― Eu também trabalho.
― Que vida dura você deve ter, Timothy. ― Iván fez um gesto com a mão, arrancando um riso sardônico dele. ― Deixa eu adivinhar, você é tipo o gestor financeiro do Bruce "Rico" Wayne?
― Algo assim.
― Deve ser extremamente difícil sair de reunião e escolher entre três tipos de água importada pro café da manhã. ― Ele deu um sorriso ladino ao brincar com os palitinhos de queijo, mais contido dessa vez. ― Só que tenho quase certeza que você não veio aqui somente para isso.
Tim se recostou na cadeira, os olhar fixos no Campra.
― Então por que eu vim?
Iván mordeu um pedaço de guioza, mastigou devagar, e respondeu só depois de engolir.
― Porque você esbarrou em mim numa noite, me encontrou no orfanato onde cresci, saiu comigo até um bar e terminou a noite querendo saber mais. E agora que sabe o suficiente, ficou curioso com o resto.
Tim hesitou um segundo. Ele podia negar, fingir desinteresse, bancar o indiferente. Mas os dois sabiam que ele não estaria ali se isso fosse verdade.
― Você que disse pra eu vir, lembra?
― E você apareceu. Então a culpa é minha por ter falado ou sua por ter vindo?
O Drake inclinou a cabeça, os olhos castanhos se apertando ao analisar Iván, que parecia genuinamente impassível.
― Talvez dos dois.
Iván riu, um som rápido, como se não estivesse esperando essa resposta.
― Olha só. Temos um momento de honestidade. Que avanço. ― Ele se endireitou na cadeira. ― Você sabe mais sobre mim do que eu gostaria. Isso já ficou claro. Mas isso não significa que você entendeu.
Tim encarou por um momento.
― Então me explica.
Iván sorriu de canto, um pouco cansado.
― Você chega aqui, pede chá como se estivesse de férias, mas quer respostas simples, rápidas, como se tudo fosse limpo. Mas comigo não funciona assim. ― Ele umedeceu os lábios. Tim franziu a testa, tentando decifrar. ― Minha vida não tem essa organização que você gosta. Não é bonitinha, não tem lógica. E definitivamente é um pouco problemática.
― Eu aguento muitos problemas.
― Não os meus. ― Riu Iván sardonicamente, admirando Tim que franziu o cenho.
Tim não respondeu. Observou. Começava a perceber que havia mais por trás do sarcasmo que Iván normalmente usava de armadura. Aquela atitude despreocupada parecia ensaiada. Mas tinha falhas.
― Eu sei que já deve ter procurado meu nome por aí, deve ter visto minhas incontáveis passagens pela policia. ― Iván empurrou um vegetal com o garfo, mantendo o olhar firme. ― Deve ter lido sobre minha vida em Blüdhaven, sobre minha família. E mesmo assim veio. Por quê?
― Porque eu queria saber quem você é. Não o que aconteceu com você.
Iván esperava deboche. Esperava julgamento. Esperava aquele típico tom de quem tá só caçando uma boa história pra contar depois em festas de gente rica. Mas o que encontrou foi silêncio e uma sinceridade desconcertante. O tipo que te desmonta sem encostar em você.
Ele cruzou os braços, como se isso pudesse proteger o que ainda restava dele.
― E aí? Isso é o quê? Psicologia reversa ou joguinho de detetive entediado?
― Nenhum, acho eu... ― Ele deu um meio sorriso, olhando o ambiente antes de voltar-se a Iván. ― Prefere me contar sobre você ou prefere que eu crie uma ideia completamente distorcida e ache que você saí por aí cometendo crimes?
Iván desviou os olhos. Mas só por um segundo. Como se estivesse fazendo um cálculo de risco. Tim não era como os outros. Ele sabia disso. Mas saber não tornava mais fácil. E encarar alguém como Tim ― um mauricinho surpreendentemente resistente e inteligente ― era aceitar entrar num jogo onde as regras mudavam a cada frase.
― Tá bom. Já que você tá aqui, mauricinho... faz uma pergunta. Uma só. Mas não vem com cara de interrogatório.
― Uma só?
― Uma. E escolhe bem. Eu sou generoso, mas não sou fácil.
Tim pensou por uns segundos. Depois se inclinou sobre a mesa, diminuindo o espaço como se isso facilitasse a resposta.
― Por que você quis me ver de novo? Foi por mim... ou pelo que eu sou?
Iván estalou a língua no céu da boca. Era a pergunta que ele esperava, um sinal claro de que a tinha acertado em cheio. E odiava. Era claro que ele suspeitava que Tim suspeitaria que o encontro deles não foi repentino, mas sim planejado, porque alguém com a ficha de Iván certamente armaria para atrair riquinhos.
― Primeiro de tudo: eu tô pouco me fodendo com quem você é ou de onde você veio. ― Umedeceu os lábios, como se estivesse limpando uma resposta antes dela sair. ― Eu quis te ver porque você me olha como se ainda não tivesse decidido se quer gostar de mim ou me odiar. E isso é bem mais interessante do que parece.
Um silêncio se instalou entre eles. Não do tipo vazio. Do tipo que pulsa. Que grita entre os olhares. Tim se apoiou na mesa, a distância agora só um respiro. Iván encarou. Depois, só por um segundo, seus olhos desceram até os lábios dele. E voltaram. Como quem toca sem encostar.
― Você é mais complicado do que finge ser ― Tim disse.
― E você é mais teimoso do que devia. Isso nunca termina bem, mauricinho.
― Talvez não ― Tim respondeu, sem desviar. ― Mas você ainda não me viu quando eu decido ir até o fim.
― Uau. Agora eu fiquei com medo. ― Iván debochou, mas o sarcasmo vacilou. ― Só me avisa se isso virar obsessão, tá? Gente rica tem umas fixações bizarras.
Ele pegou o copo d'água e girou nos dedos como se precisasse ocupar as mãos pra não fazer outra coisa ― tipo segurar as de Tim. Ou dar um beijo só pra tirar a dúvida. Mas, Drake não disse nada. Só o observava. O jeito que Iván evitava encarar por muito tempo. Como os ombros ficavam tensos no silêncio. Ele estava todo cheio de segredos, mas Tim estava começando a gostar da ideia de desvendá-los ― um por um.
― Já conheceu muita gente que te olhou assim? — Tim perguntou, num tom neutro.
― Assim como?
― Como se ainda não tivesse certeza.
Iván deu um sorriso torto.
― Menos do que você imagina. Mais do que eu gostaria.
Tim inclinou-se um pouco para frente, como se aquilo fosse apenas parte da conversa. Mas os olhos dele estavam mais atentos agora.
― Você fala como se já tivesse vivido umas cinco vidas. E ainda assim parece... recente. Como se não tivesse passado tempo suficiente pra curar nada.
Iván ergueu as sobrancelhas, surpreso pelo comentário. Mas não rebateu.
― Você diz isso como se me conhecesse.
― Não conheço. Mas tô tentando.
O silêncio veio de novo, rápido e curto. Iván apoiou os braços na mesa, os dedos entrelaçados. Havia algo no olhar dele agora ― mais sério, mais... velho, talvez. Um tipo de cansaço que não combinava com o sarcasmo de antes.
― Eu já me enrolei em muita coisa errada ― disse Iván de repente, sem preparar Tim para aquilo. ― Nada heroico. Nada que alguém chamaria de digno. Só o que era necessário para sobreviver. Gotham é um lugar que te obriga a isso.
O Drake não interrompeu. Só escutava com atenção.
― No começo, era só para conseguir o básico. Comer, pagar um quarto, ficar longe da rua. Depois, virou outra coisa. Eu achava que, se me metesse nos lugares certos, ou errados, dependendo do ponto de vista, encontraria alguém que soubesse algo sobre o que aconteceu com meus pais. Que tivesse estado lá, que tivesse visto alguma coisa. Qualquer pista servia.
Iván falou devagar, como se estivesse repetindo uma história que contava poucas vezes ― ou talvez nunca para ninguém. Josh era uma exceção, ele sempre esteve metido nas mesmas merdas, e talvez fosse o motivo pelo qual eram como irmãos.
― E você encontrou?
Iván soltou uma risada sem humor, balançando a cabeça.
― Não. O pior é isso. Quanto mais fundo eu ia, mais longe daquela verdade eu ficava. Comecei a esquecer por que tinha começado. Já não era mais sobre eles. Era sobre mim. Sobre não morrer, conseguir respeito, espaço. Sobre virar alguém que ninguém pudesse derrubar.
Ele fez uma pausa longa, dando um sorriso sem animo ao lembrar-se de tudo que tinha feito apenas em alguns anos. Não se orgulhava, mas foi o único jeito que encontrou de sobreviver.
― Aí, um dia, percebi que já não sabia mais quem eu era. E que, se continuasse naquele caminho, acabaria igual aos caras que eu dizia odiar.
Tim ficou em silêncio. Não porque não tivesse nada para dizer ― pelo contrário, a cabeça dele estava cheia de perguntas e respostas não ditas ―, mas porque não queria quebrar aquele momento raro. Ver Iván assim, sem escudos, sem a habitual armadura de sarcasmo, era algo que acontecia poucas vezes, e Tim sentia o peso disso.
― Foi aí que você decidiu sair? ― perguntou, com a voz baixa, quase cuidadosa.
― Foi aí que eu tentei. ― Iván deu de ombros. ― Demorei para conseguir cortar tudo. Me afastei do que ainda dava para salvar. O resto... só larguei. Troquei de vida. Tentei começar de novo. E, até hoje, ainda tento. Se tudo der certo, talvez eu consiga sair de Gotham de vez.
Tim ficou observando. Aquela história fazia sentido ― mas também deixava espaço suficiente para Iván esconder o que quisesse. Afinal, alguém com o passado dele sempre teria segredos guardados, feridas ainda abertas.
Ele permaneceu ali, quieto, sentindo o nó que aquela confissão apertava dentro dele. Tim não sabia exatamente o que esperava daquela conversa ― uma confissão, talvez, ou a confirmação de alguma intuição ―, mas o que encontrou foi algo mais desarmante do que qualquer suspeita. Iván não parecia estar tentando manipular, nem esconder nada com palavras vazias. Parecia, simplesmente, cansado.
E Tim, sem falar nada, percebeu que aquela desconfiança , que ele carregava contra Iván, começava a relaxar um pouco no peito. Respirou fundo. Pela primeira vez desde que sentaram juntos, sentiu um alívio, como se uma parte dele finalmente tivesse permissão para confiar ― ainda que só um pouco, ainda que só por enquanto.
― Obrigado por dizer isso ― falou, simples, sem mais nada.
Iván ergueu os olhos vagarosamente, talvez esperando sarcasmo, julgamento, ou uma pergunta cortante, mas não encontrou nada disso no rosto de Tim. Só uma expressão clara, sincera, inesperada.
― Pensei que você ia me chamar de irresponsável. Ou idiota.
― Já fiz coisa pior para tentar entender o que não tinha resposta. ― Tim sorriu, um pouco triste. ― Só demorei mais para admitir isso.
Iván inclinou a cabeça, curioso.
― Então isso é empatia agora?
― É o mais perto que eu consigo chegar.
O sorriso que escapou de Iván foi pequeno, quase imperceptível. Mas estava lá. Mais honesto do que qualquer palavra trocada entre eles naquela noite ― ou em todas as noites anteriores, cheias de farpas, olhares cortantes e silêncios que doíam mais que um soco no escuro.
Tim notou. É claro que notou.
― Você é estranho ― disse Campra, arrastando as palavras.
Tim revirou os olhos, mas não conseguiu disfarçar o jeito que os cantos da boca teimavam em subir.
― E você é péssimo em aceitar que alguém pode estar do seu lado.
Iván o encarou. Não rebateu. Não soltou uma ironia afiada. Apenas assentiu, uma vez, quase imperceptível ― como quem admite uma verdade que ainda não sabe como caralhos processar.
O silêncio que se instalou entre eles era diferente agora. Ainda denso, ainda carregado daquela tensão que sempre os definiu, mas... tranquilo. Como se, por um instante, os dois tivessem parado de se cercar de perguntas e decidissem simplesmente existir ali, naquele restaurante de fundo de Gotham, onde a luz néon de um poste piscava como um aviso mal funcionando.
Tim recostou na cadeira, os braços relaxados, os dedos batendo uma batida absurda na mesa.
― E se um dia você realmente for embora de Gotham... ― começou, devagar. ― Avisa antes.
Iván arqueou a sobrancelha.
― Por quê?
Tim sorriu ― aquele sorriso. O que Iván já tinha aprendido a reconhecer como perigoso.
― Pra eu saber se corro atrás.
O olhar de Iván demorou. Ficou preso nele por segundos que pareciam se arrastar, sério, atento, como se estivesse tentando decifrar se aquilo era uma piada. Uma provocação. Ou... uma promessa.
E quando respondeu, foi baixo. Sem cinismo. Sem escudo.
― Eu aviso.
O silêncio confortável que começava a se instalar entre os dois foi abruptamente assassinado por um som seco e ritmado ― os acordes iniciais de "Crying Lightning" explodindo do bolso de Tim como um soco no meio de um beijo.
Iván arqueou a sobrancelha imediatamente, o canto da boca se curvando num sorriso lento, pesado de ironia.
― Sério mesmo? ― ele perguntou, cruzando os braços e inclinando-se para trás, como se Tim fosse um caso perdido digno de estudo. ― Crying Lightning? Achei que seu toque seria algo tipo... uma notificação corporativa. Algo como "conselho administrativo, linha 2" parecendo a Alexa.
Tim revirou os olhos, mas não conseguiu segurar o sorriso. Pegou o celular devagar, sem atender, deixando a música tocar mais alguns segundos enquanto o display piscava com o nome de alguém, ou melhor, de Jason ― totalmente irrelevante naquele momento.
― É uma música boa. ― Encerrou o assunto como quem não deve explicações.
Iván riu ― um som breve, cheio de sarcasmo, mas com algo a mais por baixo. Como se, no fundo, ele gostasse da escolha, mesmo que morresse antes de admitir. Arctic Monkeys era bom, disso não podia discordar, mas era ultrapassado.
― Claro que é. Dramática, cheia de raiva mal disfarçada, letra demais. Perfeita pra você.
Tim olhou de lado, o sorriso enviesado.
― Isso foi um elogio?
― Eu nunca faço elogios.
― Então foi uma exceção?
Iván não respondeu. Apenas soltou um leve riso pelo nariz e desviou o olhar, como se não fosse dar a ele o gosto de uma resposta. Mas o sorriso ainda estava lá ― pequeno, teimoso ― no canto da boca.
Tim silenciou a música e guardou o celular no bolso, os olhos ainda presos nele.
― Você também ouve, não ouve?
― Já ouvi. Quando era mais amargo. ― Iván virou o copo d'água, bebendo o resto devagar. ― Mas não colocaria como toque. Isso aí é exposição emocional demais pra um telefonema.
― E eu sou o dramático.
― Você é o disfarçado. O tipo que se veste com camisa social e acha que ninguém percebe o caos embaixo.
Tim riu, cruzando os braços. Estava gostando demais daquilo ― da provocação, do jeito que Iván o encarava como quem testava limites, mas também como quem queria ser descoberto.
― E você é o tipo que finge ser mais descomplicado do que é.
― Ninguém quer saber o que tem por baixo da bagunça, Tim.
― Eu quero.
Iván parou. O sorriso desapareceu por um segundo, os olhos ficando mais atentos, mais escuros.
― Isso foi mais dramático que a música.
― E mesmo assim, você ainda tá aqui.
Eles se olharam. Demais. Nenhum dos dois falando, mas dizendo mais do que qualquer provocação conseguiria. A tensão entre eles ― feita de farpas, olhares longos demais e silêncios que doíam ― parecia quase tátil agora.
― Você devia atender ― Iván disse, por fim, indicando o bolso de Tim com o queixo. ― Vai que é o mundo corporativo desabando sem você.
― Se for, que desabe em silêncio. Mas é meu irmão. ― Tim apoiou os cotovelos na mesa. ― Agora eu tô ocupado.
― Fazendo o quê?
― Tentando decifrar um cara que se acha mais enigmático do que realmente é.
Iván arqueou a sobrancelha, o sorriso voltando aos poucos.
― Boa sorte com isso.
― Eu não dependo de sorte.
Iván o encarou por mais alguns segundos, a expressão se desfazendo num meio sorriso lento ― o tipo que não admitia, mas também não negava nada.
― Agora você tá só me provocando.
― E você tá deixando.
Iván soltou um riso mais baixo, rendido.
― Isso nunca acaba bem.
― Já ouvi isso antes. ― Tim inclinou-se para frente, o sorriso afiado. ― Mas ainda tô aqui.
Iván não respondeu. Apenas olhou.
Tim girou a xícara de chá vazia entre os dedos, o metal batendo de leve contra a mesa enquanto seus olhos não se desgrudavam dos de Iván. A tensão do momento anterior tinha se dissipado, mas algo mais queimava dentro dele agora ― não era curiosidade sobre o passado de Iván, não exatamente. Era algo mais... pessoal.
― Você já me conhecia antes daquela noite?
A pergunta saiu mais suave do que ele pretendia.
Iván ergueu uma sobrancelha, mas não pareceu surpreso. Apenas apoiou os braços na mesa, entrelaçando os dedos como quem se prepara para uma partida de xadrez que já conhece de cor.
― Não ― a resposta veio curta. ― Nunca tive muito interesse no seu tipo.
Tim sorriu, o canto da boca subindo naquele jeito que já sabia que irritava Iván ― e, suspeitava, talvez o deixasse um pouco interessado também.
― Meu tipo?
― Rico. ― Iván deu de ombros, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo. ― Filho da Gotham privilegiada. Gente que olha os becos de longe, pela janela blindada do carro, antes de seguir pro próximo jantar beneficente.
Tim não se ofendeu. Sabia que era assim que Iván via ele ― via gente como ele ― e, pior, sabia que tinha razão, pelo menos em parte. Mas isso não significava que ele fosse se desculpar por existir.
― E mesmo assim sabia quem eu era?
Iván soltou um som baixo, quase um riso abafado.
― Mais ou menos. Sabia dos Drakes. É impossível não saber, se você cresceu num orfanato que dependia da filantropia das famílias tradicionais de Gotham. ― A palavra saiu com um amargor contido, mas não agressivo. Só... honesto.
Ele se recostou na cadeira, os olhos perdidos por um instante, como se visse algo distante ― algo que Tim não conseguia ver mesmo se quisesse.
― Sabia que existia um herdeiro. Que aparecia em eventos e sorria bonitinho nas fotos da alta sociedade. Mas seu nome? Seu rosto? Sua rotina? Nunca me importou. Saber quem era o mauricinho da vez não me botava comida no prato.
Tim assentiu devagar. Não havia rancor na voz de Iván ― apenas cansaço. O cansaço de quem passou a vida olhando para cima, sabendo que nunca seria bem-vindo lá.
― Mas agora você sabe. ― Tim disse, neutro, como quem não está pressionando, mas sim, está.
Iván olhou para ele de novo, e dessa vez, seus olhos não estavam tão defensivos.
― Agora eu sei. ― Ele fez uma pausa, o sorriso voltando, pequeno, quase imperceptível. ― Mas não pelos motivos óbvios.
Tim inclinou a cabeça, os dedos parando de girar a xícara.
― Então por quê?
― Porque você é insistente. ― Iván girou o copo entre os dedos, imitando o gesto de Tim. ― E... mais estranho do que eu imaginava. Você podia ter ficado no seu mundo, mas resolveu entrar no meu. A maioria não faz isso sem agenda.
Tim não desviou o olhar.
― E você acha que eu tenho uma?
Iván segurou seu gaze por um segundo, dois, antes de responder.
― Eu ainda tô decidindo.
O silêncio que se instalou entre eles não era desconfortável ― pelo contrário. Era carregado, mas não de desconfiança. Era mais como se ambos soubessem que estavam no meio de algo que nenhum dos dois sabia nomear, mas que nenhum deles queria interromper.
Tim soltou um suspiro leve, quase um riso.
― Você é péssimo em dar o benefício da dúvida.
― E você é teimoso demais pra largar quando devia. ― Iván respondeu, o sorriso de volta, afiado como sempre, mas com algo mais agora, algo que soava quase... carinhoso.
― Talvez. ― Tim desviou o olhar por um segundo, só para encontrá-lo de novo. ― Mas se te conhecesse antes, acho que ainda teria vindo atrás.
Iván piscou. Por um instante, parecia genuinamente surpreso. Mas não respondeu. Apenas o encarou, o sorriso desaparecendo aos poucos, como se estivesse tentando entender se aquilo era verdade.
E tudo nele ― o jeito que seus olhos ficaram mais escuros, a maneira como seus dedos pararam de tamborinar na mesa ― dizia que ele acreditava.
Que, no fundo, ele já sabia.
O Red Lotus estava mais vazio quando Tim levantou da cadeira, esticando as costas com um suspiro dramático ― mas os olhos nunca deixando Iván, que pegou o maço de cigarro nos bolsos do jeans e o isqueiro, colocando sobre a mesa.
― Então é isso? ― perguntou, provocativo. ― Vou embora e você não vai fazer nenhum discurso emocionante?
Iván revirou os olhos, mas o canto da boca subiu, teimoso.
― Se você quer drama, liga a TV.
Tim sorriu desacreditado.
― Eu gosto do seu drama.
― Não tenho drama. Tenho razão. ― Iván empurrou a cadeira para trás, levantando também, mas não se aproximando. Apenas olhando. Como se estivesse decidindo algo.
Tim esperou.
Por um segundo, pareceu que Iván ia falar algo ― algo que não fosse sarcasmo, algo que quebrasse as regras não escritas entre eles. Mas então ele apenas soltou um suspiro e cruzou os braços.
― Vai lá, Drake. Antes que alguém ache que você tá me pagando pra aturar você.
Tim riu, balançando a cabeça.
― Tá com medo de alguém pensar que você gosta de mim?
― Tô com medo de alguém achar que eu perdi a sanidade.
Tim fez uma expressão de falsa ofensa, levando a mão ao peito.
― Dói, Iván. Dói muito.
― Vai chorar no carro blindado?
― Só se você vier consolar.
Iván olhou para ele. Aquele olhar que era meio raiva, meio algo muito pior. Tim sentiu um frio na espinha ― do bom tipo.
― Vaza, antes que eu mude de ideia sobre você.
Tim sorriu, lento, deliberado. Ele deu meia-volta, mas não antes de ver o jeito que Iván ainda estava olhando para ele ― como se estivesse calculando algo. Algo que Tim queria descobrir.
Ele saiu do restaurante com os passos leves, o sorriso ainda grudado no rosto. O ar gelado da noite de Gotham o recebeu fortamente como um lembrete de que, sim, ele ainda estava vivo, e sim, aquela conversa tinha realmente acontecido. Toda a paranoia que estava começando a criar de Iván estar envolvido com a gangue criminosa dos Sullivan parecia ter caido por terra e ele sentia-se até mais aliviado.
Estava puxando o celular do bolso quando o aparelho vibrou com Crying Lightning começando a tocar novamente. Ele tinha que mudar aquele toque.
Dessa vez, atendeu com um resmungo.
― O que foi, Jason?
― Irmãozinho... ― escutou a voz de Todd atingi-lo com provocação e diversão. Algo tinha acontecido. ― Você sabe que seu comunicador na roupa ficou ligado essa noite toda, né?
Tim congelou.
― O quê?
― É... ― Jason parecia estar se divertindo demais com a situação. ― Quase todo mundo ouviu. Dick quase engasgou com o café. A Barbara riu demais. E o Bruce...
Tim fechou os olhos, sentindo o calor subir pelo pescoço. Maldição.
― Jason!
― ...ficou muito quieto.
― Você tá mentindo.
― Quem me dera. ― Jason soltou um suspiro falso, como se estivesse sofrendo com a situação. ― Mas não, Timmy. Todo mundo ouviu você flertando que nem um adolescente com o inconsequente Campra.
Tim apertou a ponte do nariz.
― Jason!
― Mas, vamos falar do que realmente importa ― a voz de Jason ficou insuportavelmente provocadora. ― Você tá caidinho no idiota, hein?
― Não.
― "Ah, Iván, me avisa se for embora pra eu correr atrás~" ― Jason imitou com uma voz aguda e ridícula. ― Porque claramente ele não tá te enganando e você não tá caindo que nem um patinho.
Tim podia ouvir o sorriso no rosto do irmão.
― Ele não é—
― Drake, pelo amor de Deus, o cara te chamou de rico mimado e você sorriu. Se isso não é estar caidinho, eu não sei o que é.
Tim respirou fundo.
― Eu vou matar você!
Jason riu, alto e sem piedade.
― Já tentou. Boa sorte com seu Romeu das ruas, irmão. A gente torce por vocês.
A ligação caiu antes que Tim pudesse xingar. Ele ficou parado na calçada, o rosto queimando de vergonha, o celular apertado na mão. Maldito Jason. Maldito comunicador. Maldito Iván! E, pior de tudo? Ele não conseguia parar de pensar na próxima vez que iria vê-lo.
❛❛ , ⠀0 0 1 𖦹 Eu simplesmente amei escrever a dinâmica do Tim e seus meios-irmãos, tentei passar bem mais a vibe que eu imagino que eles tenham para situações assim e fiquei muito empolgada. 🥲 Eles são muito meus amores sim. Também tivemos Iván e seus segredinhos que agora deixaram nosso príncipe com uma pulga atrás da orelha, mas não dá para negar que eles juntos são muito TUDINHO! 🤧
❛❛ , ⠀0 0 2 𖦹 Tenho feito atualizações lentas nos últimos tempos, mas vou tentar melhorar isso conforme vá conseguindo um pouco mais de tempo livre e disposição, quero muito desenvolver a relação do Tim com o Iván e toda a história que os envolve, mas também quero ter todos os cuidados possíveis com o enredo 🤌🏼
F̗̩̓̓̈́̐U̦̎̎̀̈́̓Z̹̣̗̓̓̎̋͋Z̖̣̏̍̀Y̦̩̩̖̓̋̀B̗̓͒̒̍R̛̦̐̔̏̒̍Ä̖̦́̏̈Ì́̈́̈́̍̀N̹̖̤̈́̓̐
⸄𝟸⸅⸄𝟶⸅⸄𝟸⸅⸄𝟻⸅ ©︎ 𝚌𝚊𝚛𝚝𝚎𝚛 𝚏𝚊𝚗𝚏𝚒𝚌𝚝𝚒𝚘𝚗
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