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Às 8h40min, Lalo chegou à rodoviária de Paraty, o ônibus que vinha de Angra dos Reis já estava parado à espera dos passageiros que embarcariam em Paraty e o motorista já começava a organizar as malas e mochilas dos passageiros no bagageiro do ônibus. Lalo aproximou-se e aguardou sua vez pacientemente. Dez minutos mais tarde, Beatriz chegou à rodoviária, a maioria dos passageiros já tinham embarcado.

Ao entrar no ônibus, ela percebeu que havia um rapaz sentado na poltrona ao lado da sua e ela sentiu um misto de tristeza e alegria, tinha um pouco de receio em sentar-se ao lado de um homem desconhecido em uma viagem longa, mas se ele fosse legal, poderiam conversar e tornar-se-iam amigos. Ficou observando-o do corredor do ônibus, enquanto esperava um passageiro terminar de guardar suas bagagens no porta embrulho. O rapaz usava óculos de armação preta e redonda, o que lhe conferia um ar de nerd, e parecia entretido com um livro. Decidiu ter o pensamento positivo e acreditar que ele era um cara legal. Assim que o passageiro terminou de guardar suas coisas, sentou-se na poltrona dando passagem à Beatriz, que caminhou até seu assento.

— Bom dia! – disse com um sorriso largo no rosto.

— Bom dia! – respondeu Lalo, já levantando-se e dando passagem a Beatriz, antes mesmo que ela pedisse ou mencionasse que o lugar na janela era dela.

— Valeu!

Lalo apenas meneou a cabeça. Assim que Beatriz acomodou-se, ele voltou ao lugar dele, ao lado dela, colocou o cinto de segurança e continuou a leitura do seu livro. Beatriz o olhava de soslaio, pensando se deveria ou não puxar conversa com ele, enquanto o observava disfarçadamente percebeu que ele era bonito, não tinha uma beleza avassaladora, dessas que chama atenção, mas uma beleza diferente, talvez a beleza estivesse mais no mistério de querer conhecer o rapaz. Ficou pensando em perguntar que livro ele estava lendo, mas e se o livro fosse daquela autora da moda que ela odiava, ela já ia começar a julgá-lo. Riu do próprio pensamento e ajustou o cinto de segurança ao ouvir o motorista dar partida no ônibus.

Pontualmente às 9 horas, o motorista entrou no ônibus para se apresentar, fazer algumas recomendações de segurança e explicar sobre as paradas. Lalo fechou o livro e o guardou, não conseguia ler com o ônibus em movimento, colocou os fones no ouvido e selecionou uma playlist no Spotify®. Beatriz pode ver que o livro em questão não era da autora de quem ela não gostava, era um que estava na sua lista de "Livros para ler", e quando pensou em perguntar se o livro era bom, se ele estava gostando da leitura, percebeu que ele tinha colocado os fones. Pensou consigo mesma por que demorara tanto para falar com ele? Normalmente, ela só falava e pronto.

***

Beatriz aproveitava a paisagem da estrada, vez ou outra, observando de canto de olho o rapaz a seu lado, ele parecia ter adormecido na poltrona ao lado durante aquelas horas iniciais de viagem. Percebendo que ele de fato estava dormindo, Beatriz passou a observá-lo mais atentamente. Ele era magro e alto, os joelhos batiam na poltrona da frente, pensou que ele não deveria estar muito confortável naquele assento. E, se ficasse bem quietinha e se concentrasse conseguia ouvir o som que saia dos fones de ouvido dele, nunca tinha ouvido aquela música, mas era algo suave, tipo um indie folk. Quanto mais o observava, mais ela o achava bonito e ficava com mais vontade de conhecê-lo. Quantos anos ele teria? Uns 30 e poucos, no máximo, diria isso mais pela barba rala por fazer. Talvez se não tivesse barba, pareceria ainda mais jovem.

A primeira parada aconteceu por volta das 11 horas da manhã, pouco antes da parada, Lalo despertou e Beatriz quase foi pega em flagrante observando-o, mas virou-se rapidamente em direção à janela do ônibus escondendo um sorriso. Ele se espreguiçou desajeitadamente no pouco espaço que cabia a ele no banco, com receio de incomodá-la, consultou às horas no celular e voltou a guardar o objeto no bolso da calça. Ela pensou em perguntar a ele que horas eram e daí começar uma conversa, mas por alguma razão que não sabia explicar, não conseguia pensar em nada para dizer a ele de forma natural, logo ela, que costumava ser tão espontânea.

O ônibus parou exatamente nesse momento em um posto de gasolina com uma pequena loja de conveniência e lanchonete, o motorista anunciou a parada de 15 minutos e Lalo soltou-se do cinto de segurança para descer na parada, precisava esticar as pernas um pouco. Beatriz aproveitou a parada para ir ao banheiro e observar mais um pouco o rapaz, percebeu que ele era alto, deveria ser pelo menos uns 20 centímetros mais alto que ela, que não se considerava baixa, embora algumas pessoas dissessem que ela era baixinha, ela acreditava ter uma estatura mediana, pouco menos de 1,65cm.

Do lado de fora do ônibus, Lalo tomava um café em um copinho de isopor encostado à mureta que cercava a lanchonete, criando uma divisão entre a mesma e o posto. Os 15 minutos de parada passaram rápido, quando o motorista entrou no ônibus ligando o motor, Lalo tomou de um só gole o restante do café, seguindo em direção ao ônibus. Percebendo que Beatriz ainda não estava lá, sentou-se, mas não se acomodou na poltrona para não atrapalhar a passagem dela quando chegasse. Pela manhã, quando a viu pela primeira vez, não prestou muita atenção na moça, mas durante a parada percebeu que ela tinha um sorriso fácil, viu como ela conversava alegremente com a atendente da lanchonete e com alguns passageiros do ônibus, ela parecia muito gentil e comunicativa, ele apreciava pessoas assim, gostaria de se comunicar com as outras pessoas com a mesma facilidade.

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