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Lalo chegou em Paraty por volta das 18 horas, embora a estrada estivesse tranquila, sentia-se cansado, fazia tempo que não pegava estrada, seu corpo doía devido ao espaço limitado das poltronas do ônibus e das muitas horas sentado. Chegando na rodoviária decidiu ir direto para a pousada descansar. Teria os outros dias para aproveitar a cidade. O dia seguinte, quinta-feira, amanheceu quente e com nuvens que prometiam chuva, Lalo caminhou pelas ruas de pedra do centro histórico, observando a arquitetura antiga e fazendo fotos, aguardando pela chuva.
Enquanto Lalo aproveitava a manhã em Paraty, Beatriz embarcava no ônibus rumo à cidade no Terminal Tietê, em São Paulo. Ao contrário de Lalo, ao chegar em Paraty por volta das 15 horas, Beatriz apenas deixou a mala na pousada e trocou o jeans por um vestido leve para suportar o calor que fazia na cidade e saiu para explorar o lugar, ignorando o cansaço da viagem. Ambos caminhavam, cada qual a seu modo, pelo centro histórico da cidade, apreciando o casario antigo naquela quinta-feira, talvez em algum momento passaram pela mesma rua no mesmo momento, talvez um deles tenha entrado em algum comércio no exato momento em que o outro saía por uma outra porta.
Na sexta, Beatriz acordou cedo e tomou um ônibus rumo às praias de Trindade, enquanto Lalo contratara um barqueiro para uma volta pelas ilhas e praias de Paraty. À noite, o centro histórico da cidade era movimentado e os restaurantes e barzinhos colocavam mesas do lado de fora, ocupando as ruas de pedra, Lalo escolheu uma charmosa cafeteria desfrutando de um som ambiente acolhedor, com poucas pessoas ao redor, Beatriz preferiu um barzinho descolado com música ao vivo e bem cheio, quem sabe não faria novas amizades por ali, embora gostasse de passear sozinha, gostava de ter com quem conversar, ainda mais em uma viagem.
Beatriz saíra tarde do barzinho rumo ao hostel no qual estava hospedada, coincidentemente, duas moças que conhecera no barzinho estavam hospedadas no mesmo local. No sábado, acordou um pouco mais tarde, tomou rapidamente o café da manhã e, junto das garotas que conhecera no dia anterior, partiu rumo ao cais, já um pouco atrasadas para embarcar na escuna que partiria às 11 horas. Lalo fez um percurso de jipe pelas cachoeiras e alambiques da região, não era muito chegado a banhos de mar ou cachoeira, também não gostava muito de beber, mas apreciava a natureza e esses alambiques costumavam ser interessantes, pois era possível conhecer os processos de fabricação das bebidas. Ao contrário de Beatriz, Lalo seguia sem fazer amizades, conversava com o guia do passeio e com as pessoas que estavam aproveitando o passeio junto dele, mas conversas triviais para evitar silêncios desconfortáveis.
Quatro dias na cidade pareciam suficientes para conhecer os principais pontos da cidade, mas a vontade era de ficar por ali por muito mais tempo e explorar cada canto demoradamente, ou apenas descansar apreciando a paisagem sem fazer absolutamente nada. Apesar da vontade de permanecer ali, o domingo chegou trazendo aquele gostinho nostálgico de despedida. Lalo arrumou as malas no domingo pela manhã, sabendo que no dia seguinte teria de voltar ao trabalho e à rotina angustiante, mas não queria pensar nisso, pelo menos até o dia seguinte. Beatriz reinstalou o aplicativo de mensagens, mandou uma notícia no grupo da família, dizendo que embarcaria às 9 horas no ônibus de volta à São Paulo, enfiou o celular na mochila e desceu para o café da manhã, sem esperar ou conferir se alguém tinha respondido sua mensagem, sabia que quando colocasse os pés em casa, ouviria um sermão com as mesmas falas de sempre "Você não é mais criança, precisa ser mais responsável", como se ela tivesse passado os últimos 5 anos festejando sem limites, mas não queria pensar nisso, não queria pensar em como as pessoas à sua volta pareciam nunca valorizar os seus esforços, e facilmente confundiam sua espontaneidade com falta de responsabilidade.
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