5
Acordei antes mesmo de o despertador tocar, porque meus olhos se abriram automaticamente quando eu ouvi um barulho na cozinha. A maldita curiosidade fez com que eu me levantasse para ver quem estava lá.
Quando cheguei ao cômodo, vi um garoto alto, de cabelos castanhos, bebendo água.
— Juliano?
Ele se virou assustado, com as feições contraídas, mas depois as relaxou.
— Ah, Rê! — Ele sorriu. — O que está acontecendo comigo? Eu não sou de acordar cedo...
Eu soltei uma risadinha e dei de ombros.
Olhei o relógio, faltavam 10 minutos para o despertador tocar.
— Hmm, Ju, tenho que ir me trocar para o trabalho, ok? — Dei um sorrisinho.
Ele continuou a me olhar profundamente nos olhos.
— Você vai com seu carro hoje? — perguntou. Eu não entendi o porquê dessa pergunta.
— Não. Hoje eu vou de carona com a Amanda.
— Vai ter que substituir as outras funcionárias de novo? — disse enquanto olhava o relógio.
— Ah, espero que não — consegui dizer antes de sair correndo para o quarto.
Cheguei lá e Amanda já estava se trocando. Faltava menos de uma semana para o seu aniversário e eu ainda teria que decidir o que dar de presente para ela. A coisa mais difícil era dar alguma coisa para Amanda; ela tinha tudo o que se poderia imaginar.
— Mamãe me disse que não é para a gente ir de uniforme hoje. Ou nós não iremos trabalhar — começou pensativa, sem completar a frase, mas vi um sorriso discreto surgir no canto de seus lábios. —, ou ela irá nos dar uniforme novo, para a coleção nova.
Sim, Amanda era maníaca por moda por causa de sua mãe.
— Isso é bom — sussurrei enquanto procurava alguma roupa decente para usar.
Quando estávamos indo para o carro de Am, nos deparamos com Juliano na porta. Ele pegou na minha mão me impedindo de passar.
— Posso buscá-la na hora que seu turno acabar? — Ele me olhou de modo conquistador.
Com o máximo de dignidade que eu poderia transparecer, assenti com a cabeça. Ele rodeou suas mãos em minha cintura e tive que me esforçar para respirar.
— Amanda não irá se importar, não é? — sussurrou em meu ouvido.
Olhei para a cara, agora mal-humorada, de minha melhor amiga. Ela iria se importar, lógico que iria.
— Não. Ela sabe viver sem mim. — E pisquei.
Entrei no carro acenando para ele. Amanda me encarou com outro olhar de desejo, como nas vésperas da discoteca.
— O que foi aquilo?
Eu suspirei.
— Ele vai me buscar no trabalho.
Ela apenas ficou calada com uma cara de contradição. E isso eu já esperava.
Quando chegamos à loja, Sra. Laísa estava com um uniforme lindo nas mãos. Era um vestido vermelho bem justinho, com detalhes em branco e preto. Amanda praticamente pulou no pescoço da mãe.
— Ai, mamãe, obrigada. É lindo, não é, Becca? — Ela me olhou animada.
Eu nem precisei mentir, porque era perfeito.
— Ele é muito lindo, maravilhoso e sexy. E ainda é um vestido, não short como antes.
— Bem, podem ir experimentá-lo, meninas. O que vocês estão esperando? — perguntou a Sra. Lemos.
Eu ri e peguei meu vestido em suas mãos.
— Acho que as meninas do próximo turno vão amar o vestido — murmurou ela para si mesma.
O vestido caiu muito bem para Amanda, parecendo destacar a beleza de seus cabelos loiros.
A manhã passou lenta e cansativa, só pelo fato de que Juliano iria me buscar essa tarde.
Mas o que eu tentava encaixar em minha cabeça era o porquê de Juliano decidir almoçar comigo. Ele nunca havia feito isso, nem ao menos sugerido. Eu controlei meus pensamentos — que voavam de "Ele vai buscá-la para pedi-la em namoro" a "Ele vai jogar você no carro e fugir para uma ilha deserta".
Eu ri sem humor e pensei se tinha realmente algum motivo. Talvez ele tivesse me convidado por que quis ser gentil, ou me considerava uma amiga...
Quando Sra. Lemos nos dispensou, Amanda me olhou com a cara seca.
— Acho que seu namoradinho a está esperando. Eu vou sozinha, já que você vai com ele.
— Ele não é meu namorado. Hmm, você já sabe o que vai fazer no seu aniversário? — perguntei, desviando descaradamente de assunto.
Ela mordeu a isca.
— Ainda não. Ah, mas de presente você pode me dar um vestido lindo que eu vi na loja da amiga da minha mãe. É um bom presente. — Que bom que Amanda era direta.
Eu revirei os meus olhos.
Foi quando passei pela porta que eu avistei na minha frente um dos carros mais bonitos que já tinha visto. Senti minha boca cair, mas nem me importei de fechá-la. Juliano saiu de seu Audi TT Roadster prata (sempre adorei carros) e veio em minha direção.
Amanda sacudiu a cabeça negativamente e nem se despediu.
Rindo da minha reação, Ju fechou delicadamente minha mandíbula.
— Ganhei hoje de meu pai. Ele me deu de aniversário — explicou.
— Mas seu aniversário não é daqui a alguns meses? — perguntei confusa.
— É, mas ninguém entende os pais... Eu pelo menos não entendo os meus.
Ele abriu a porta do seu carro novo para mim e se virou para minha figura ainda pasma na calçada.
— Você será a primeira mulher a andar nesse carro, sabia? É um privilégio. Hmm, você está querendo se bronzear?
Eu olhei para cima, o sol rachando de quente. Eu me aproximei dele e timidamente me ajeitei no banco do passageiro.
— Você sabia que iria ganhá-lo? — falei, enquanto ele se sentava no banco ao meu lado.
O interior do carro era igualmente bonito, com rádios de última geração e bancos de couro.
— Desconfiava, apenas. Tem preferência de restaurante?
— Nem tenho.
Fiquei um tempo admirando o carro por dentro, pensando em como era diferente do meu, ou do da Am.
Amanda tinha um Veloster amarelo. Era bem estilo Amanda. Balancei a cabeça. Nunca vi carro tão chamativo.
Paramos em frente a um restaurante italiano conhecido como o melhor da cidade. Eu amava comida italiana e acho que ele já sabia disso. Adivinhando meus pensamentos, falou:
— João comentou uma vez que você ama comida italiana.
— Ah. É, eu gosto mesmo.
Comemos em silêncio, sem conversar muito. Eu preferia assim.
— Sabe, vou ficar mal-acostumada desse jeito, Ju — falei quando ele não quis me deixar pagar a conta.
— Não tem problema... Vou levá-la para casa, senão daqui a pouco Amanda liga para a polícia pensando que eu a sequestrei.
— Larga de ser bobo — falei. Senti minha curiosidade superando os meus bons modos. Eu precisava saber da resposta para minha pergunta... — Hmm, ela me contou que ela largou de você porque você a traiu. É verdade?
Bem, acho que agora que perguntei não tem mais volta, né?, pensei comigo mesma.
— Ah! — Ele ficou surpreso. — Por que você tem que ser tão direta?
Eu ri, claramente não ofendida.
— Curiosidade.
— Bem... Uma vez eu errei, sei disso, mas não foi por mal. Está bem, não deveria ter feito aquilo — culpou-se.
Eu levantei as sobrancelhas.
— Eu fui a uma festa e fiquei com uma garota. Meu primeiro namoro sério foi com Amanda; a imaturidade e a inexperiência pesaram — confessou, a expressão em seu rosto visivelmente arrependida.
— Daí vocês brigaram, terminaram e são inimigos desde sempre. Isso é irracional. — Franzi o cenho.
— Eu sei, mas a gente não consegue se dar bem desde então. Sou um canalha mesmo.
— Você era só... um garoto. Agora você é uma pessoa melhor. Não cometeria o mesmo erro, né?
— Se eu fizesse isso com você, você me daria outra chance?
Opa. Era uma pergunta que eu nem imaginava que ele faria.
— Ah! Bem, depende, né? Se você mostrasse que mudou...
Quando vi o que eu havia feito, melhor, falado, eu acrescentei:
— Todo homem que reconhece o erro e não o cometeria de novo merece uma segunda chance.
Sorrimos juntos. E quando percebi já estávamos em casa.
Amanda estava passando um pano em seu carro e quando saí do super Audi de Juliano, ela me fuzilou com os olhos.
— Sam estava atrás de você — deu o recado.
— Ãhn, obrigada, Amanda — agradeci.
— Ele liga para você sempre, não é? — Juliano me olhou do jeito que aqueles detetives olham para os suspeitos no tribunal.
— Ah, sim. Somos muito íntimos. Apesar de tê-lo conhecido há pouco tempo, sei que ele é muito legal... E eu gosto dele. — Agora alguém me explica por que eu estava falando isso para Juliano?
— Hmm, que bom.
Subi as escadas em direção ao meu refúgio feliz, praticamente despencando-me na minha cama por um momento. Levantei-me, pegando roupas no armário para tomar banho, e ouvi Amanda entrando no quarto.
— Como foi ontem o curso? — Lógico que ela estava preparando o ambiente.
— Bom. Conversei bastante com Sam ontem — confessei, sorrindo um pouco.
— Mas o que a criatura estava fazendo lá?
— Ele começou a fazer cursinho lá também, não é o máximo?
— Ah, com certeza — afirmou, olhando de relance para mim. — Onde você e Juliano foram almoçar hoje?
— Naquele restaurante italiano bom que fica lá no centro. Esqueci o nome agora...
— Que novidade! Você esquecendo as coisas.
Irônica e ciumenta como sempre.
Ciumenta? Seria esse o motivo de Amanda não gostar que eu fique perto de Juliano? Fiquei indignada com a minha capacidade de pensar nisso. Lógico que não.
— Eu esqueço, às vezes — pronunciei na defensiva.
Eu me levantei para tomar banho e durante todo o tempo apenas uma única palavra repetia na minha cabeça, como um eco: Ciumenta, ciumenta, ciumenta.
Saí para a área da piscina para me sentar à sombra de uma árvore e pensar. Eu precisava muito disso.
Eu estava atenta ao canto dos passarinhos quando senti um corpo não estranho se sentar ao meu lado. Sabia que era um garoto de imediato e sabia também quem era o garoto. Ele começou a mexer no meu cabelo me deixando cada vez mais relaxada. Aproximou-se mais e encostou minha cabeça em seu peito. Por um momento, eu não sabia se eu estava acordada ou sonhando. Pelo fato de que Amanda ria escandalosamente, era verdade.
João era tão... estranho!
Ele começou passando a mão em meu cabelo, depois me puxou ao seu peito e agora ele estava sussurrando poesias em meu ouvido.
— Ei, João. Desde quando você conhece poesias? — Meus olhos se estreitaram. Ele estava querendo alguma coisa. — O que você quer?
— Nossa, está bem. Tentei te agradar.
Suspirei.
— Conseguiu. Agora...
— Tudo bem, tudo bem. É que estava pensando... A gente estava combinando de sair hoje, com o Arthur e a turma dele.
Sorri. Na turma de Arthur, Sam estava incluído.
— A gente? — perguntei.
— É... Amanda, Maria Elisa, eu e Pedro.
Eu sabia que Pedro havia feito uma amizade bem forte com David, assim como eu fiz com Sam.
— Hmm, eu vou. Queria muito ver Sam.
João balançou a cabeça.
— Você o viu ontem — acusou.
— É, eu sei. — Ri.
O sol começou a cair no horizonte. O final de mais um dia e o começo de uma noite perfeita.
— Ãhn, vou me arrumar antes que fique tarde.
O banho estava maravilhosamente bom. Tentei não pensar em nada durante ele. Não deu certo. Como eu poderia esquecer em pensar que daqui a pouco eu estaria com Sam?
O que me intrigou é que eu estava estranhamente ansiosa para vê-lo...
Terminei meu banho e quando entrei no meu quarto avistei Amanda encostada na porta fechada.
— O que você tem? — perguntei.
— Pergunta errada. O certo seria você se perguntar: "O que eu tenho... na cabeça". — Eu bufei. Amanda sofria de bipolaridade. — Becca, por favor, por favor, por favor. Não dê bola para o Juliano.
— Só porque ele ficou com outra não é motivo para odiá-lo eternamente, Am!
— Pelo jeito você se convenceu realmente — comentou com um tom de voz desagradável.
— É, ele se confessou.
— E se fosse com você, Becca?
Torci os lábios.
— Eu o perdoaria.
— Até parece — debochou.
— Amanda! Se eu fosse você, pararia com esse ciúme, ou seja lá o que você tenha, e pense racionalmente. Nada disso vai mudar. Juliano não quer ficar comigo. E eu ficarei aqui com meu sentimento platônico. Talvez eu arrume um namorado que me faça feliz, que me ame, que me faça amá-lo. E pronto, nada de Juliano — confessei, me jogando na minha cama. Eu odiava quando ela fazia aquilo.
— Se você quer tanto sofrer desse jeito com seu sentimento platônico, vá em frente, mas não joga a culpa em mim, não. Saiba que eu não estou com ciúmes. Eu nunca mais quero ao menos chegar perto de Juliano. O que ele fez foi desprezível! — sibilou colocando uma calça de cós baixo e uma regata colada.
— Ele era outra pessoa... Mudou com o tempo — defendi Juliano, que nem estava aqui para se defender de Amanda.
— Você fala isso porque não foi com você! — Ela me encarou e saiu do quarto, batendo a porta após ter passado por ela.
Pude ver de relance os olhos dela brilhantes.
Eu afundei meu rosto no travesseiro e tentei não pensar. E o que eu pude imaginar era que se eu fosse sentimental como Amanda — suspirei ao pensar nela —, eu iria esgotar o meu estoque de lágrimas.
Depois da crise, eu respirei fundo e terminei de me arrumar. Já estaria na hora de sairmos?
O que me motivava a ir era que eu estaria com Sam. Esse era o único motivo.
A noite foi boa, dancei muito com Sam e com João, mas continuei sem falar com Amanda. Ela não estava tão radiante como sempre e eu percebi que cutuquei sua ferida.
O resto da semana passou morto e infeliz. Eu ia para o trabalho em meu carro e Amanda no dela. A gente não conversava direito e nem ria mais.
Sam e eu conversamos bastante nos dias de curso, com Victória de penetra e Tarcísio olhando feio de longe. Desabafei para meus dois amigos de curso (apesar de que Sam era muito mais do que apenas um simples amigo de curso) e ele prometeu passar na república sexta-feira. Eu mal esperava chegar a hora.
Eu estava mais distraída do que o normal. Não conseguia me concentrar e tropeçava diversas vezes ao dia, na maioria das vezes em formiguinhas imaginárias.
E já era sexta-feira. A Sra. Lemos deixou a mim e a Am de folga. Motivo: Amanhã será aniversário de Amanda.
Eu ainda nem tive oportunidade de conversar com ela, me desculpar. Quando eu chegava a casa, ela não estava ou já dormia. E no trabalho é que eu não ia lidar com esse assunto!
Meu celular vibrou e eu já tinha entendido que Sam tinha chegado. Ele não tocou a campainha para não acordar todos os demais, educado como sempre. Cheguei à porta e ele estava com um pacote de amendoim e duas garrafas de refrigerante de 600ml geladinha. Fiquei surpresa com o fato de que eu estava sorrindo.
— Sam! — gritei, lhe dando um abraço e ajudando a pegar as coisas.
— Rebecca... Melhor? — Ele sorriu um pouco preocupado.
— Um pouco com você aqui.
As frases que antigamente (algumas semanas atrás) pareciam ser cantadas não me incomodavam mais. Ele era tão conhecido que eu nem me importava.
— Entra. Vamos sentar lá perto da piscina.
— Opa. Eu estou logo atrás de você — disse, enquanto me seguia para os fundos.
— Ai, Sam. Como você descobriu que eu estava doida para comer amendoim com Coca? — perguntei enquanto pegava suas mãos.
Ele me olhou um pouco surpreso. Acho que ele não entendia meu lado 'conheço você há meio mês, mas já me sinto íntima'. Eu fiquei com vergonha e tirei a minha mão da dele.
— Não, pode ficar. Você apenas me... surpreendeu — confessou, sorrindo de lado. Ele envolveu suas mãos em minha cintura e eu encostei minha cabeça no seu ombro.
Quando nos sentamos à beira da piscina, ele tirou algo inesperado do bolso e me entregou.
— Faltam quantos dias mesmo para seu aniversário? — brincou enquanto eu tateava o embrulho.
— Mais ou menos um mês. Sam, você não... — eu comecei a falar, mas ele me interrompeu.
— Se você recusar, eu saio daqui agora. É meu presente adiantado, não aguentei segurar. Eu vi em uma loja e achei que tinha a sua cara — declarou olhando para baixo.
— Obrigada — agradeci enquanto abria meu pacote.
Era um Ipod vermelho sangue, muito lindo. Devia ter custado bastante dinheiro...
— Sam, é muito... lindo. Nossa, eu amei. Vem, você vai escutar música aqui comigo.
— Ainda tem que passar as músicas para ele...
— Espere aqui, eu já volto — prometi enquanto corria até meu quarto.
Passei todas as músicas para meu Ipod e voltei para os fundos. Sam havia colocado os amendoins em um pote e aberto a Coca.
— Servida? — perguntou ironicamente.
— Aham. Pega aqui, olha. — Eu entreguei um fone de ouvido para ele e fiquei com outro. Ele encostou-se à parede que ficava atrás da piscina e eu deitei em seu peito.
— Don't Cry, Guns 'n' Roses? — perguntou, incrédulo.
Eu virei meu rosto para achar o dele.
— Sim, você não gosta?
— Eu adoro, mas não sabia que você gostava...
— Ah, tá.
— Hmm, então... — começou, preparando as palavras. — Por que você e a Amanda não se desculpam logo?
— Sabe, tem sido bastante difícil me encontrar com ela a não ser nas horas de trabalho. E lá não é lugar para isso...
Peguei um amendoim e comecei a brincar com ele.
— Mas você sabe o que falar para ela quando chegar a hora? — perguntou.
Essa era fácil — eu tinha pensado muito no assunto. Eu já tinha chegado à conclusão que Amanda não estava com ciúmes de mim por querer namorar Juliano, ela estava tentando me poupar de todo o sofrimento que ela passou.
— Com certeza. Só estou esperando Am acordar.
Após ter aliviado essa tensão, a conversa voltou a fluir normalmente.
— Você acha que quando eu fizer 19 anos eu vou ficar com rugas? — perguntei (não sei por que) para Sammy.
Depois de uma longa crise de riso, ele me respondeu:
— Não, Rebecca. 19 anos ainda é pouco.
— Eu estou ansiosa. Quero ver o que eu vou ganhar de presente do meu pai e da minha mãe — confessei dando um sorrisinho nada ingênuo. Ele riu.
Foi nesse momento que eu percebi que os meninos já estavam acordados. O que significava que Amanda também...
— Vou lá falar com ela — murmurei a Sam.
Ele assentiu com a cabeça, me encorajando, e eu me levantei.
Quando cheguei ao quarto, Am estava lá. Ela estava sentada com uma expressão triste.
— Amanda — comecei, esperando que ela olhasse para mim —, você me perdoa por ter sido tão intolerante, estúpida, idiota e cega? Acusei você de ciúmes sem ao menos entender que você queria mesmo que eu não passasse pelo o que você passou. E nem foi mesmo minha intenção magoar você desse jeito. Somos melhores amigas desde sempre, não consigo ver minha vida sem você. Por favor, me perdoa.
Após um longo momento de silêncio, ela, que até então tinha se virado de costas, olhou para mim com os olhos cheios de lágrimas. Senti meus olhos carregados também antes de ela começar a falar.
— Diga-me um dia que eu não seja capaz de perdoar você, Becca. — Ela sorria enquanto abria seus braços para me abraçar.
— Bem, então vamos curtir o dia!
Amanda parou na cozinha para comer alguma coisa e eu saí correndo para a área da piscina para encontrar Sam. E o encontrei perto do som.
Aproximei-me a uma distância razoável e pulei nele.
— Obrigada, Sammy — suspirei, só para ele ouvir.
Eu senti o cheiro de seu perfume. Como ele conseguia continuar cheiroso mesmo com esse calor excessivo?
— Posso chamá-lo de Sammy, não é?
Ele sorriu um sorriso de orelha a orelha.
— Lógico. Você me deu um apelido, agora eu tenho que lhe dar outro. — Eu iria sugerir Rê, já que todo mundo me chama assim, mas seria muito chato da minha parte sugerir um apelido para mim mesma. — Que tal Becca?
Eu senti uma ternura invadindo meu coração e ri.
— Só Amanda me chama de Becca. Vic às vezes. Eu não me importo — falei, enroscando meus braços em volta dele. — Você não sabe o tanto que eu estou feliz por ter minha melhor amiga de volta!
— Você falou com ela?
— Aham. Agora somos como antes! Você me motivou também, sabia? Obrigada.
— Se você parar de dar desculpas na hora de sair comigo, estarei grato — brincou, com o sorriso de canto mais bonito dele.
Eu deixei a boca cair.
— Ei, eu não dou desculpas. Apenas ocorrem imprevistos. — Fiz um biquinho.
Ele gargalhou.
Senti alguém chegando delicadamente e abraçando-me por trás. Pela meiguice de seu abraço e o fato de colocar sua cabeça em minha clavícula, sabia que era Amanda. Qual outra menina da república faria isso?
— Sabe, Amanda... Fiquei sabendo que amanhã é seu aniversário. Vai ter festinha? — perguntou ele.
— O que você acha, Sammy? — contra-ataquei.
— Você acha que eu sou uma louca para não comemorar meu aniversário? — Amanda falou logo depois de mim.
— Que você vai comemorar eu sei, mas o que você vai fazer para comemorar? Boate? Baile do Havaí? Chá das três? — implicou Sammy, ironizando bastante na última pergunta.
Amanda lhe deu um soco.
— Algo muito mais criativo do que chá das três, né? Três horas nem é ao menos um horário bom para se fazer um chá — pronunciou dando pulos de alegria; foi estranho. — Que tal piquenique amanhã?
Uma gotinha de suor pingou na minha testa com essa terrível palavra: Piquenique. Eu não poderia falar que tivesse lembranças agradáveis com isso.
No meio de tudo, me lembrei de minha briga com Amanda; ela querendo me proteger de um garoto. Eu sabia que garotos eram perigosos... Então por que chamei Am de ciumenta?
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