The Faucet

(...) Por isso, em seu coração, Caim estava sempre procurando maneiras de manipular o mundo ao seu redor, obter uma vantagem, manter-se em guarda.

Barbary Hambly

Três de novembro de 1888, sábado, (...) Inglaterra.

Abro os olhos, o tique-taque do relógio me deixa irritado e assim consigo manter minha mente focada e não dormir. Isso está fugindo do meu controle, atacar pessoas, andar pela casa, desenhar mapas e pessoas, sendo que mal sou capaz de reproduzir uma flor com perfeição, eu estou virando outra pessoa.

Estico as mãos em frente ao corpo, Scorpio as enfaixou para que os dedos sem unhas não infeccionassem e agora ele acha que eu me mutilo durante a noite.

Respiro fundo e me levanto, melhor não ficar deitado ou posso acabar cochilando, saio sorrateiramente e caminho pelo corredor vazio, a casa fica extremamente silenciosa à noite, respiro fundo, eu preciso voltar a ler aquele livro. Desço as escadas pé ante pé e estanco.

Tem alguém no hall.

Prendo a respiração e me encosto à parede, há mais de uma voz, presto atenção na conversa, até identificar quem fala, subo alguns degraus e respiro fundo, volto a descê-los batendo o pé, as vozes se calam, empino o nariz e finjo surpresa ao encarar Bankotsu e Jaken.

Ambos estão sentados em uma poltrona pequena, Bankotsu mais pálido que o normal, Jaken passa os braços ao redor da cintura do menor e o deixa sentado sobre ele.

- Ora, ora... – Jaken murmura sem se abalar. – Eu disse que a sala poderia render problemas.

- Jaken! – Bankotsu abaixa o olhar e sutilmente se afasta de Jaken, ficando em pé.

Ergo as sobrancelhas.

- Não me interessa o que estavam fazendo. – Começo.

- Então volte a dormir. – Jaken rebate se levantando também.

- Não. – Sustento seu olhar. – Mas já que nos encontramos poderiam me ajudar.

- Quer ser amarrado e amordaçado para dormir e esquecer que nos viu juntos? – Jaken me encara, sempre tendo um modo diferente de tratamento entre mim e Lilith, sorrio. – Ora seu moleque...

- Dois homens juntos? – Murmuro fingindo espanto. – Não me faça de idiota. – Abaixo o olhar. – Como se eu não tivesse me envolvido com Jared também.

- Sinto muito. – Bankotsu sussurra, parece envergonhado.

- Ele morreu e os mortos não sentem mais. – Sorrio, Jaken ergue as sobrancelhas e ri, fazendo Bankotsu o encarar.

- Vamos lá, o que você quer? – Ele murmura irritado.

- Você esteve um bom tempo em Wonderland, sabe se localizar por lá? – Pergunto sustentando o olhar de Jaken.

- Não me lembro de muitas coisas. – Ele pensa por um minuto. – Não saberia me localizar.

- E se tivesse um mapa? – Recomeço, sem me abalar.

- Nem com isso. – Ele ri. – Se já terminou poderia...

- Não. – Ele ergue uma sobrancelha. – Mais uma coisa, sabe se existe outra rainha além de Copas?

- Branca e Vermelha. – Bankotsu diz devagar. – Yue e Emmeline.

- Existe alguma outra? Ouros, Paus ou quem sabe Espadas?

- Não. – Jaken diz irritado. – O Baralho escolheu Copas como sua única rainha, não existem outras. – Ele dá um passo e estanca me encarando, meus olhos... Abaixo o olhar. – Você...

- Eu vou para meu quarto. – Sussurro. – Desculpe incomodar.

- Eu acho adorável! – Estanco e olho para trás, Bankotsu sorri. – Eu acho seus olhos adoráveis, Cain.

Viro-me para frente e apresso o passo pelas escadas, "adorável", o que ele pensa que eu sou? Um animalzinho? Aperto os olhos com força e seguro o corrimão, o mundo gira ao meu redor, aperto a garganta entre os dedos e tusso o gosto amargo da bile enchendo minha boca, desabo de joelhos e vomito. Recuo um passo, não é vômito que escorre da minha boca e sim piche...

A gosma preta escorre pela escada, o que eu estou me tornando? Respiro fundo e me levanto, chego ao corredor e caminho lentamente até o quarto de Scorpio, bato na porta, mas não espero resposta e entro. Ele se senta atordoado, caminho até a cama e paro ao seu lado.

- O que foi...? – Ele murmura apertando os olhos com os dedos.

- Eu não estou bem... – Respiro fundo e estendo as mãos, a gosma preta nas bandagens. – O que é isso?

Scorpio segura minhas mãos entre as suas e as revira, tirando as bandagens, ele estica uma em frente à luz do abajur e suspira.

- Isso saiu de você? – Ele pergunta me encarando assustado.

- Como vômito. – Murmuro.

- Você comeu algo hoje? – Scorpio se levanta e coloca um casaco.

- Torta da Chevonne. – Respondo, ele me puxa pelo braço, me arrastando para fora. – Ei!

- Vamos falar com Marcel e Cheshire, isso não pode ficar assim.

- Não quero ajuda deles! – Puxo meu braço e recuo, Scorpio me encara irritado.

Não quero que mais pessoas saibam que eu não me fundi ao Jaguadarte, que eu e ele estamos aqui, não somos um só... Para mim basta que Marcel, Matthew, Cheshire e Fox saibam.

- Então por que quer minha ajuda? – Scorpio diz irritado.

Arregalo os olhos, não quero ajuda dele quero os remédios que ele pode aplicar em mim, dou os ombros. Respiro pesadamente e o encaro, pelo seu olhar sei que minhas pupilas mudaram.

- Eu não quero sua ajuda. – Declaro. – Eu só vim até aqui porque acredito que você é o único que pode entender o que está acontecendo. Não estou pedindo para solucionar nada nem para se preocupar comigo, quero remédios, nada mais.

- Quer ajuda. – Scorpio se senta e suspira. – Eu entendo de crianças, mocinho, tenho outros cinco irmãos menores, se tem algo nessa vida que eu faço melhor que dar injeções e entender a mente de vocês.

- Não me compare a crianças burras. – Sorrio, Scorpio ri também, acho que não se ofendeu. – Tudo bem, posso estar pedindo ajuda.

- O que você precisa Cain?

Scorpio sorri, bato os dedos contra o joelho e suspiro.

- Você não é oficialmente da Nonsense... – Ele nega. – Mas tem algumas informações, não tem?

- Algumas. – Scorpio aperta seus olhos cinzentos. – Não sei por onde Abel anda, antes que você pergunte.

- Idiota. – Reviro os olhos. – Não quero saber dele. Quero te perguntar sobre Wonderland.

- Uhn... – Scorpio se abaixa, seus olhos se cravam nos meus. – Sobre o que você quer saber?

- O que é "Heartsplains"? – Sussurro.

- Ah... – Scorpio ergue as sobrancelhas. – É a Capital de toda Wonderland, como você deve saber Wonderland é bem grande.

- Maior que a Inglaterra? – Indago. – Ou maior que a América?

- Talvez do tamanho das duas juntas. – Arregalo os olhos. – Pois sim meu caro, e é bem dividida, assim como a Inglaterra, mas tem mais rainhas, afinal são um povo que se divide fácil.

- E como essa divisão é feita? – Murmuro. – Como se elege cada rainha e porque Copas reinava em tudo?

- Ah querido Jaguadarte, isso não é da minha conta, logo não entendo nem posso lhe dizer com certeza. Mas eu tenho amigos... – Scorpio sorri largamente. – Sabe quem eu sou?

Recuo um pouco, ele sabe quem é do outro lado? Ergo as sobrancelhas e nego, um sorriso fino rasga seus lábios brancos, Scorpio se inclina para frente seus lábios roçam minha orelha, engulo em seco.

- O Grifo... – Ele sussurra. – Posso lhe levar a Falsa Tartaruga... Ela pode lhe contar uma história interessante.

Grifo... Arregalo meus olhos e recuo, Scorpio sorri bondosamente e se levanta. Ele caminha pelo quarto. Encaro meus pés descalços e penso. Scorpio volta com faixas limpas e puxa minhas mãos, as enfaixando em silêncio. Espero ele terminar seu trabalho e flexiono os dedos.

- Leve-me a ela. – Ele sorri a meia luz, os olhos reluzindo.

- Peça com educação. – Scorpio se levanta e se vira acendendo uma vela. – Meninos educados não pedem coisas assim.

- Leve-me até sua amiga, por favor. – Encaro-o irritado. – Eu quero encontrá-la.

- Amanhã vamos a cidade comprar remédios. – Scorpio me puxa pela mão, puxo meu braço de volta, mas ele o segura firme. – Vá dormir e amanhã sairemos juntos.

- Por que está me ajudando? – Encaro-o nos olhos, e espero estar dando medo.

- Porque eu quero. – Scorpio sorri e puxa meu braço novamente. – Vamos, vou levá-lo até seu quarto.

- Vamos...

Levanto-me e sou guiado por ele pelo corredor escuro, independente de me ajudar ou não, eu não confio no que ele me diz, não confio em ninguém nessa casa, além de minha própria sombra.

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