Mirror
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"Entretanto, o mundo está cheio de mistério assim, e às vezes é melhor não resolver. Às vezes as soluções não são muito eventuais, sabe."
Stephen King
Quinze de novembro de 1888, quinta, (...?) Inglaterra.
Cain se deita e se desliga do mundo, isso está piorando, uma guerra silenciosa está se formando, e não é só com a Nonsense e a Wonderland... Cain e Abel também estão lutando, e eu estou no meio de tudo isso. Desço as escadas e abaixo a cabeça, chegando ao hall, Caleb me encara irritado, ao seu lado Meddi se balança e cantarola.
- Venha, eu estou com sua arma. – Digo firme.
Ele se levanta silenciosamente e me segue escada acima, dessa vez não tento iniciar uma conversa, caminho até a porta do meu quarto e o abro, Caleb passa atrás de mim e fecho a porta me assustando com Cain que está sentado, o jornal ainda entre as mãos. Droga.
- Tenho outra proposta a você. – Ele diz encarando Caleb.
- Não. – Caleb sussurra e caminha até onde está a besta
- Fique conosco. – Cain diz devagar. – Eu quero que você fique na casa Nonsense e seja o segurança da Lilith.
- Meu o que?! – Guincho.
Caleb se vira e me encara, depois a Cain, desconfiado.
- Eu tenho ao Stitch Cain! – Abro os braços e gesticulo sozinha. – Eu não preciso de outra pessoa comigo, e eu nem saio dessa casa, pra que eu preciso de guarda? Escute, eu estou bem e...
- Eu quero que você seja o guarda dela. – Cain encara Caleb firmemente.
- Por que não diz que quer que eu seja seu guarda? – Caleb indaga. – Se é isso que deseja.
- Não o quero pra mim... – Cain sorri, suas pupilas ficando finas. – Eu o quero com a Lilith, logo sempre que ela estiver comigo também me protegerás, mas se algo nos separar eu não quero correr o risco de acontecer como da última vez.
Engulo em seco. Caleb inclina sua cabeça e cruza os braços.
- O que aconteceu da última vez...? – Ele sussurra.
- Da última vez em que me separei de Lilith muitas pessoas foram mortas, fomos parar na Dimensão do Espelho e por um simples descuido meu... – Aperto as mãos em frente ao peito. – Meu precioso Ás de Copas foi empalado bem na minha frente. – Cain ri dengosamente, sinto minha garganta se apertar. – Se eu me descuidar novamente arcarei com meu descuido, mas quero alguém protegendo a Lilith, me entendeu?
- NÃO! – Fecho a cara. – Jared morreu porque eu o desobedeci!!! Não foi você Cain... – Sinto minhas lágrimas quentes pelo rosto. – Se eu tivesse ficado longe...
- CALA A BOCA!!! – Estanco, Cain se vira para Caleb tranquilamente. – O que me diz? – Ele acrescenta como se nada tivesse acontecido.
- Eu... – Caleb para e respira fundo.
- Sabe? Eu ainda sou o Jaguadarte... – Cain sussurra. – Ainda sou seu mestre, não sou?
Caleb estanca, seu rosto empalidece e ele fica em uma pose estranha, o corpo ereto, como Alice em frente a Rainha de Copas, como se estivesse em frente a alguém superior... Esfrego as mangas do meu vestido nas bochechas, secando as lágrimas.
- Mas e a velha Helena? – Ele murmura depois de pensar.
- O que tem ela? – Cain diz assustado.
- Eu estou com ela no momento, morando com a velha Helena, a protegendo...
Cain fecha a cara, as mãos batendo contra os joelhos.
- Er... – Os dois se viram para mim. – Se... Se você quer tanto que eu tenha uma segurança, mas você não pode deixar Helena sozinha... – Inclino minha cabeça. – Que tal se Caleb apenas ficar conosco quando estivermos na rua? E enquanto estamos aqui ele fica com a velha Helena, deve ter um meio de te chamar quando precisarmos.
- Não... – Cain começa.
- Mas não é necessário que Caleb fique conosco na Casa Nonsense! – Guincho, Caleb abaixa a cabeça.
- Eu... – Ele começa. – Eu aceito o que a Lilith disse. – Caleb encara Cain. – Esse é meu acordo Cain. – Escuto-o rosnar, engulo em seco.
- Faça como quiser. – Cain inclina o rosto e o enterra nas mãos.
- Eu... – Começo.
- Com licença e obrigado. – Caleb arrasta a besta ao seu lado e desaparece pela porta.
Mexo os dedos em um tique estranho, Cain continua abaixado, respiro fundo e caminho até minha cama, me sentando de frente para Cain, ele ergue o rosto e seus olhos fazem um calafrio descer por minha espinha.
- Você... – Ele se endireita. – Tem ideia do que fez?
Balanço a cabeça timidamente, Cain ri, ele balança a cabeça e fita o nada ao seu lado, como se tivesse alguém ali, engulo em seco. Talvez seja o Christopher...
- Ela arruinou tudo Jaguadarte idiota... – Ele sussurra para o nada e se vira para mim. – Ele tinha dito para eu conquistar a confiança de Caleb, disse que se eu impusesse a ele minha posição e fizesse Caleb vir para nosso lado teria uma forma de te proteger.
- Caleb está do nosso lado... – Sussurro. – Ele disse que estará conosco quando precisarmos dele.
- Tê-lo na Casa Nonsense é tê-lo sob nossos olhos, saber o que ele faz evita traições. – Abaixo o olhar. – Mas vendo-o somente quando sair o que garante que ele também não está nos traindo?
- Confiança... – Sussurro.
- De que vale? – Cain diz baixinho. – Bem, por mim esse dia já foi péssimo demais, com licença. – Ele se deita e vira de costas.
Encaro meus pés e suspiro, ele não está dormindo, nem eu vou conseguir fazer isso, me levanto e saio do quarto, deixando-o sozinho, porque eu não quero me afundar mais nesse clima horrível que se formou entre nós.
XXX
Desço as escadas e caminho em direção a um lugar onde eu só fui poucas vezes, passo pela cozinha e viro à direita, a porta está destrancada e consigo passar por ela, devia ter trago Stitch comigo. Respiro fundo e me abaixo procurando por algo que possa iluminar o local, encontro uma caixinha no chão e risco um fósforo.
Estou na sala das bonecas, Doll está sentada em sua poltrona de veludo vermelho, os olhos cerrados, respiro fundo e vou até ela, o fósforo se apaga, risco outro e o seguro longe do rosto, caminho até ela e afasto os cabelos de seu pescoço, a chave dourada está lá, dou corda e me afasto.
Doll abre seus olhos vermelhos e me encara, engulo em seco, eu cheguei até aqui com uma ideia louca, agora preciso testá-la, ou voltar para o quarto e brigar com o Cain, vamos Lilith, é só a Doll.
- Olá... – Murmuro. – Eu... Eu estive pensando, lembra-se de quando nos conhecemos? – Ela pisca devagar. – É... Do Outro Lado você é a Chapeleira, tem alguma noção disso?
Doll inclina sua cabeça, um estalido na porcelana, ela não vai falar nada, eu fui idiota, nunca ia dar certo...
- Pisca, pisca... – Ela sussurra.
- O que? – Recuo um passo.
- Morceguinho, o que faz aí sozinho...? – Arregalo os olhos. – Lá no alto voa ao léu. Bandeja de chá no céu...
Doll fecha seus olhos e para, i-isso foi ela, ou a Chapeleira? Engulo em seco.
- O que você está fazendo aqui?
Solto um gritinho e o fósforo se apaga. Minhas mãos tremem até eu acender outro, ergo o fósforo e encontro Bankotsu me encarando.
- É... – Recuo. – Eu estava entediada e resolvi ver a Doll... – Murmuro.
- Ela não é um brinquedo. – Bankotsu resmunga e cruza os braços. – E nem você gosta deles, diga a verdade.
Abaixo a cabeça e suspiro, a chama tremeluz um pouco.
- Vim testar algo. – Bankotsu ergue as sobrancelhas. – A Doll pode ser um canal com o Outro Lado...? Queria saber se conseguiria falar com alguém de lá usando ela aqui.
- Doll não faz nada disso. – Bankotsu me puxa pelo braço para fora, olho para trás, Doll continua "adormecida". – Ela é uma pessoa, não um espelho. – Bankotsu estanca. – Eu não disse nada.
- Disse sim... – Ergo as sobrancelhas. – Eu consigo falar com alguém do Outro Lado através de um espelho?
- Não... – Bankotsu responde um pouco nervoso.
- Como eu faço isso? – Ele engole em seco.
- Você não faz. – Bankotsu se vira e volta a caminhar.
- Não, pode voltar aqui. – Sorrio e o sigo. – Por favor...?
Chego à cozinha, Bankotsu não está mais a vista, droga... Sorrio e dou um passo para trás, para a sala de bonecas.
- Saia daí... – Bankotsu se arrasta debaixo da mesa, dou risada.
- Vamos, Bankotsu... – Me agacho, ele apoia o rosto nas mãos. – Eu não vou usar isso, só quero saber para evitar...
- Essa é a desculpa mais esfarrapada que existe. – Bankotsu suspira e se senta. – Não posso lhe dizer por que nem mesmo eu sei... Bem... – Ele se inclina. – Na verdade só vi isso acontecer uma vez e foi na sala do Marcel... – Bankotsu recua. – Acho que só o espelho dele funciona.
- Só o dele...? – Suspiro. – Vai ser muito difícil entrar na sala dele.
- Com quem você quer falar? – Dou de ombros. – Se fosse o Cain aposto que constataria o Abel.
- Talvez seja ele. – Sussurro.
- Não fale com eles. – Bankotsu se levanta. – Não são confiáveis. E... – Ele apoia as mãos no quadril. – Vou mandar Marcel reforçar a segurança da sua sala, por precaução.
- Traidor... – Murmuro.
Bankotsu desaparece, suspiro e encaro meus pés. Abel coisa alguma, eu queria mesmo e falar com alguém de lá, se Cain consegue impor algum respeito sobre Caleb só por dizer que é o Jaguadarte talvez eu consiga falar com alguém e trazer para meu lado, conseguir algumas informações. É difícil ficar dependente da casa Nonsense e de seus membros, eles vão sempre esconder tudo de nós. Cruzo os braços.
Eu podia... Aproveitar enquanto Marcel não reforçou sua segurança e tentar entrar em sua sala, ou... Voltar para o quarto e contar isso ao Cain, mas de que adianta contar pra ele, ele nunca me conta nada, guarda tudo pra si, em todos os sentidos. Levanto-me e sigo devagar para meu novo alvo.
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Forço a maçaneta da sala de Marcel e para minha surpresa ela abre... Olho para trás, ninguém... Mas essa porta não estaria aberta dessa forma, entro na sala e respiro fundo.
- Apareça Chess! – Sussurro.
Cheshire aparece lentamente, ele está sentado na poltrona de Marcel e tamborila os dedos na mesa sorrindo.
- Desde quando você está me seguindo...? – Murmuro.
- Desde quando Caleb chegou. – Chess ronrona.
- Você sabia dessa do espelho?
- Sempre soube. – Ele ri e aponta para o espelho atrás de si. – Parasitas gostam de espelhos e foi assim que eu cheguei até a casa Nonsense.
- Como assim...? – Indago me sentando na poltrona a sua frente.
- Foi difícil, mas eu consegui conectar o Outro Lado a Casa Nonsense através desse espelho aqui... – Chess aponta para o espelho. – E foi assim que eu entrei aqui, porém... – Chess suspira. – Eu acho que não é bom usar esse espelho.
- Por quê? – Ele cruza os braços. – Os outros reflexos podem vir pra cá por ele?
- Os reflexos não, mas os outros Parasitas sim...
- Os "Tweedles"...? – Murmuro, ele consente. – Scorpio disse que eles são os piores e eu... Eu me encontrei com a "menina"...
- Se eles conseguirem invadir a casa pelo mesmo canal que eu usei com certeza vai ser a destruição disso que chamamos de "lar" e jogados em um esconderijo normal vamos ser um alvo fácil.
- Isso tudo é pra eu não usar o espelho? – Dou risada. – Era só ter dito que não.
- Como se você fosse ouvir, certo, mocinha? – Chess ri e se levanta. – Ninguém de lá é bom... Lembre-se disso.
Chess caminha até a porta, não me viro para olhá-lo.
- Você é... – Sussurro.
Espero um pouco e me viro para trás. Nada... Estou completamente sozinha. Suspiro e me levanto, voltando para meu quarto.
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Aesthetic e fanart do começo por JulyCaS ❤️Aesthetics do final por WhatEverForMe ❤️
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