Investigation
"Sou uma exploradora, pensou Coraline. E preciso de todos os caminhos para fora daqui que puder encontrar. Portanto continuarei a andar."
Neil Gaiman
Doze de novembro de 1888, segunda, Whitehall Place Inglaterra*
- Ás de Copas...? – Caleb olha para Scorpio, confuso. – Mas ele foi morto, junto com os outros membros de Copas.
- Não, ele não foi. – Scorpio suspira, Cain sai da sala, posso vê-lo caminhando até a escada e se sentando. – E ele estava conosco até pouco tempo atrás.
Suspiro encarando Caleb e Helena. Um dia Daqueles... Já está sendo desde quando papai morreu. Passo minha mão trêmula sobre os cabelos e engulo em seco, reunindo o pouco de coragem que me resta:
- Como vamos fazer?
- Fazer com o que? – Scorpio indaga, ele parece mais em pânico do que eu.
- Com esse dia "Daqueles" e a Yard.
- Posso acompanhá-los à distância, os humanos não vão me notar. – Caleb responde prontamente.
- Com essas roupas? – Scorpio ri. – Você chama mais atenção do que Cain com as asas abertas.
Caleb cruza os braços, ele não parece tão novo agora, não nessas roupas, se Jared tinha por volta de 15 ou 16 anos Caleb deve ter 17, ou 18, não sei ao certo, mas a divisão das cartas começa a fazer um pouco de sentido.
Helena respira fundo e desata em uma gargalhada estranha, encaro-a, e ela me lembra a Meddi, muito mais velha e um pouco mais lúcida. Afasto minha franja com a mão e engulo em seco.
- Caleb pode escapar dos humanos normais, Grifo, assim como o seu menino age como gente, o pobre diabo tem até o coração partido por um amor. – Helena inclina sua cabeça. – Quem diria que Jaguadarte teria tanto coração assim.
- Ele não é o Jaguadarte, é o Cain. – Respondo irritada.
- Bem... – Scorpio segura um relógio de bolso em frente aos olhos. – Vamos.
- Vamos... – Respiro fundo e caminho para fora.
XXX
Caminho olhando para os lados, Caleb desapareceu da nossa vista, Chess não retornou, Cain caminha tranquilamente ao meu lado e Scorpio olha para os lados a toda hora.
- O que foi...? – Sussurro quando ele sorri.
- Jaken... Caleb, Chess, Bankotsu e Chevonne. – Ele dá uma batidinha em minha cabeça. – Temos uma guarda razoável.
- Chevonne? – Cain ri. – O que ela pode fazer? Cozinhar?
- Não diga isso! – Resmungo. – Se ela é da Nonsense ela é forte.
Cain dá de ombros, e paramos, encaro o prédio 4**, Scotland Yard, o nome está ali em frente aos nossos olhos no prédio cinzento e apático como os ao seu redor. Seco as mãos suadas em minha saia e treino meu melhor sorriso, não levantar suspeitas, não deixar nada importante escapar, Cain é inocente e inofensivo, e eu sou sua irmãzinha...
Um policial nos recepciona e nos encaminha para a sala de Abberline, engulo em seco, o investigador chefe do caso, entramos em uma saleta apertada e abarrotada de livros, uma mesa pequena está no centro e duas cadeiras a sua frente, atrás da mesa o senhor nos encara irritado, Abberline tem uma vasta barba e grandes olhos castanhos, a farda lhe dá um ar mais nobre do que realmente parece, faço uma mesura e sorrio, Cain caminha e se senta a sua frente, encaro Scorpio, ele indica a cadeira com a cabeça e sorri.
Vou até ela e me sento, esfregando as mãos na saia, ao menos me deixaram usar uma roupa minha, e não da Barbie, Abberline mexe em uns papeis a sua frente e não nos dirige nenhuma palavra, sorrio de nervoso e encaro Cain, ele está sentado com as costas retas, as mãos em frente a boca e os olhos fixos nos papeis a sua frente.
Viro-me e tento olhar o amontoado de folhas na mesa e então meu olhar para em uma foto, uma mulher com as tripas de fora e o rosto costurado toscamente, recuo apoiando minhas costas na cadeira e sinto minhas pernas tremerem.
- Sinto por isso. – Abberline puxa a foto e a anexa em outra folha. – Estava ocupado com o caso e não pude arrumar nada antes da chegada dos senhores. – Ele abandona as folhas e nos encara. – Sobre sexta, Cain, certo? – Cain consente. – Você afirmou que Jack agiria novamente, certo? – Cain consente novamente, Abberline parece confuso, talvez ele esperasse que Cain negasse o fato, ele respira e consente também. – Por que fez isso?
- Intuição... Não me julgue louco, senhor. – Ele sorri minimamente. – Ontem, de fato, como foi lhe dito fugi dos meus tutores e corri sem olhar para trás, mas veja... – Cain olha por sobre o ombro. – Esse é Scorpio, o médico da família, e ele pode afirmar que estou doente, assim que me distanciei acabei desmaiando. Quando acordei estava ao lado de um garoto que vendia fósforos e ele me disse que podia ver o futuro, e disse-me que ele agiria novamente, eu quis alertá-lo senhor... – Cain une as mãos em frente à boca. – Eu tentei, senhor, acredite em mim.
- Está dizendo que foi tudo obra de um vidente? – Abberline ergue as sobrancelhas. – Um pedinte de rua, com truques baratos, uma aberração idiota? – Cain arregala os olhos. – Diga a verdade menino.
- Como...? – Cain sorri novamente, ele aperta seus olhos, engulo em seco. – Eu lhe disse a verdade.
- Um momento. – Sorrio, Abberline me encara. – Senhor, eu posso afirmar que meu irmão não faria uma coisa dessas, ele estava comigo ontem à noite, dormimos no mesmo quarto. Eu passei a noite em claro com os acontecimentos de ontem a noite, Cain dormiu tranquilamente a noite toda, não poderia ter saído para nada.
- As portas e janelas da casa são fortemente trancadas, tanto de dia quanto de noite, senhor Abberline. – Scorpio diz com sua voz calma e melosa, como um gato querendo distrair seus donos para poder aprontar. – Cain está tendo um quadro de histeria, temos medo de deixar qualquer saída ou meio de ir para rua perto dele, seria um perigo se ele se perdesse e sabe se Deus o que poderia acontecer com ele. – Scorpio se benze e olha para cima, unindo as duas mãos abaixo do queixo.
- Um quadro de histeria...? – Abberline ergue uma de suas sobrancelhas.
- Não tenho histeria alguma! – Cain resmunga. – Isso é coisa da cabeça deles. – Ele se apruma, ainda tem muito orgulho dentro dele. – Eu não estou louco, doente, talvez, mas louco não.
Abberline coça sua barba e se levanta sem uma palavra, ele vai até uma pilha enorme de folhas abandonadas e a remexe, por fim retirando um maço que parece novo, ele bate com os documentos da mesa e os revira, sem nos dirigir a palavra.
- Oscar. – Ele diz por fim. – Oscar Maurêveilles. – Engulo em seco. – Teve um assassinato muito próximo as vítimas do estripador, e veja, era seu pai, não era? – Consinto, Abberline sorri e se apoia na mesa. – O que impede Cain de ter matado o próprio pai? Seu nome já nos diz muita coisa, meu caro.
Viro meu rosto para Cain, ele está mais pálido, acho que o choque de ser acusado da morte do papai o fez perder as palavras, Cain estala a língua e sorri, perigosamente, como o Cain de antigamente.
- Quando meu pai foi assassinado estava em Wallasea, uma ilha em Essex, com aproximadamente cem habitantes e um infernal internato. – Abberline parece confuso por um momento. – Passei meus últimos três anos trancafiado em St. Francis, sem ter contato com familiares, muito menos, meu querido pai. – Cain solta um suspiro fingido. – Pode perguntar aos irmãos que ministraram minha educação, ou ir ao próprio St. Francis, quando meu pai foi assassinado eu estava a quilômetros de distância, separado por duas carruagens, uma barca e uma grande caminhada, senhor Abberline.
- Bem... – Abberline recua e apoia as costas na cadeira. – Estarei averiguando seu caso. – Ele encara a mesa, parece atordoado ao descobrir que suas suposições estavam todas erradas. – Não posso prendê-lo por falta de provas, mas você não vai sair impune... Quero você onde meus olhos possam ver, caro conde, e nenhuma ação suspeita vindo de sua parte.
- Estarei aonde o senhor preferir. – Cain dá de ombros.
- Cínico. – Abberline se levanta. – Gostaria de um diagnóstico dele, senhor...?
- Scorpio. – Consigo até sentir o sorriso nos lábios de Scorpio, Cain me encara e dá de ombros, seu modo de comemorar sua vitória.
- Quero um diagnóstico do Cain, e sua palavra Scorpio, a propósito e o tutor legal das crianças?
- Adoentado... – Scorpio ri. – Ele é como uma frágil flor, apesar de tudo senhor, aquela fraca garoa do dia anterior o deixou acamado essa manhã.
- Melhoras. – Escuto a porta se abrir e olho por sobre o ombro. – Vão.
Encaro Cain, ele suspira e se levanta, faço o mesmo. Cain sai, e Abberline encara suas costas com raiva, passo por ele, Abberline meneia a cabeça e encara Scorpio, apesar de nos acusar, no fundo ele é um homem bondoso, ou teria prendido Cain por ter a língua afiada. Scorpio se despede e passa por ele.
- Mais fácil do que eu pensei... – Cain ri. – Essa justiça é realmente falha.
- Cain, por favor... – Seguro seu braço e olho em volta. – Se alguém te escuta você vai pra uma cela.
- Eu já vivo em uma. – Cain olha para frente.
Sigo seu olhar, um rapaz nos encara, ele tem olhos negros penetrantes e estão fixos em Cain, o policial sorri e balança a cabeça seguindo seu caminho. Solto a respiração pela boca.
- Conhece? – Scorpio indaga.
- Não. – Cain balança a cabeça, seu rosto está mais pálido. – Mas os olhos... Eram de alguém que eu conhecia.
Encaro Scorpio, ele dá de ombros e empurra Cain, seguimos nosso caminho, e agradeço por, até agora, tudo ter dado certo.
XXX
*Doze de novembro de 1888, segunda-feira - essa foi uma errata do capítulo anterior, que estava com a data de "Onze de novembro, domingo" eu acabei me confundindo com elas, afinal é meio complicado mexer com datas de uns séculos atrás :v então ficou assim: Cain recebeu a intimação no domingo (11) mas só foi a Yard na segunda (12).
**Scotland Yard (também conhecida por New Scotland Yard ou Yard) é a sede central ou quartel general da Polícia Metropolitana de Londres. Em 1829 a polícia instalou-se no prédio de número 4 da Whitehall Place, na área conhecida como Great Scotland Yard, onde ficou ate 1890.
Só para confirmar que os locais realmente existem, outra coisa que não é bem uma errata é que Lilith e Cain veem a foto da vítima, mas, devido a tecnologia da época, uma foto só poderia estar impressa depois de pelo menos umas duas semanas, logo esse fato foi bem fictício e só para dar um drama mesmo +w+
Mas enfim, é isso, fui =3=
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