Confidence

Você admira os arranjos de flores,

Você é como um psicopata.

Aos seus olhos elas são lindas,

Aos meus, elas estão somente enfeitando o local com sua morte precoce.

Juliana Santos

Quinze de novembro de 1888, quinta, (...?) Inglaterra.

Encaro a arma grande e pesada no canto do quarto, aposto que Marcel nos teria cedido uma se tivéssemos pedido, mas permiti Lilith e Yue irem buscá-la porque acreditei que Yue diria algo, talvez ela tenha dito, mas Lilith não quer me dizer.

Bem... Respiro fundo, talvez seja bom dormir "tranquilamente" acertar as contas ou ao menos tentar.

XXX

- Ora... Ora... Ora... – Abro os olhos e encaro a sala ampla e decorada de vermelho e preto ao meu redor. – O que você quer?

- Pensei em visitá-lo... – Sorrio e me aproximo de Jaguadarte, ele está sentado em uma poltrona vermelha grande, paro em frente à poltrona negra e o encaro. – Posso me sentar?

- Não. – Ele sorri. – Prefiro que ajoelhe.

Reviro os olhos e me jogo na poltrona negra. Meus olhos passeiam pela decoração da sala, preto... Vermelho... Corações. Viro meu rosto em direção a sacada, um vale se abre abaixo, mas não consigo vê-lo bem... Viro-me para Jaguadarte, ele sorri, seus olhos vermelhos brilhando.

- Você fica nesse castelo imaginário sempre...? – Sussurro.

- Só quando quero encontrá-lo. Aqui é meio... Deplorável. – Ele olha ao redor. – Mas é melhor que sua mente.

- Você é adorável. – Ele ri. – Bem. Quero lhe perguntar algo...

- Eu sei que quer. – Jaguadarte estica seus dedos ao nada e uma taça surge entre seus dedos com um líquido muito denso para ser vinho. – Quer saber se sua nova carta é confiável. Dois de Espadas. Digamos que é mais confiável que o Ás de Copas.

- Como... São os baralhos? – Ele ergue as sobrancelhas e bebe de sua taça. – Eu sei que Copas é a rainha, mas e os outros baralhos?

- Quatro. – Ele ergue quatro dedos. – Quatro naipes têm um baralho, Copas, Espadas, Ouros e Paus. – Reviro os olhos. – Isso é importante, idiota. Copas é o Coração que reina, Ouros é a influência, dinheiro sempre ajuda, Espadas são os guerreiros, tem que fazer jus ao nome e Paus é o que sobra se é que você me entende.

- Bem, eu já sabia disso. – Ele nega teatralmente. – O que foi?

- Não você não sabia. – Jaguadarte ri. – *Beware the Jab-Jab-Jabberwock... – Ele mexe os dedos. – Ele dizia muito isso, não? "Um dois e dois um" ele gosta de ser repetitivo. Ah sim, vamos ao foco. Você vive me desviando do assunto, seu louco. – Consinto e suspiro. – O coração é muito manipulável, não é mesmo? Logo Copas é bem instável. Ouros gostam de ficar do lado que mais vai lhe privilegiar. Espadas são fiéis ao mestre que escolhem, por isso: conquiste seu amiguinho. – Ele ri histericamente. – E paus são como as pessoas mais comuns.

- Você não respondeu minha pergunta... – Digo cansado. – Existem mais rainhas ou reis?

- A resposta estava diante dos seus olhos. – Jaguadarte resmunga ofendido. – Ouros tem um rei e uma rainha tão grandiosos quanto Copas, vivem colados, Espadas tem seu general... No caso... Eu. – Jaguadarte gargalha, ergo as sobrancelhas. – Ah... Você me cansa. Eles são justos demais para escolher alguém do naipe deles, logo escolheram alguém de fora. E Paus devem ter algum líder caipira.

- Obrigado. – Sussurro me levantando.

- Não, não... – Jaguadarte se endireita na poltrona. – Não vá agora, acabou de chegar... Nem tomou uma xícara de chá!

- Ahn... Não. Pode me deixar sair agora. Vamos... Vire um dragão, cuspa fogo, tente me matar, faça alguma coisa que me acorde.

- Olha Cain... – Ele se levanta e ri. – Eu posso te falar algo bem interessante, sabe, sobre seu queridinho. Você sabe, Abel perdeu suas cartas, não existe mais nenhum ás, eu disse: Ouros tem seu rei e sua rainha, Espadas não tem ninguém, mas Paus... Bem. Eles podem ter mudado nesse tempo em que eu estive morto.

- Aonde você quer chegar? – Me jogo de volta a poltrona.

- Ah... – Jaguadarte some da minha frente, um calafrio desce por minha espinha. – Ele pode estar tramando algo... Ele é ardiloso e nunca ataca sozinho, e ele vai usar tudo pra te atacar... Já usou seu precioso amiguinho. – Abaixo o olhar. – Por isso eu disse para você conquistar o outro antes que ele se vire contra você. – Uma bota negra bate em meu braço, ergo o olha e encontro Jaguadarte sentado sobre minha poltrona. – E ele vai tentar tirar a Lilith de você, como vai. Por isso, seu pedaço de lixo, faça alguma coisa.

Jaguadarte revira os olhos até suas órbitas ficarem brancas, engulo meu grito de pavor ergo a cabeça e espero suas garras me acertarem.

Abro os olhos, o coração acelerado e o suor escorrendo pelo corpo, certo, isso foi bem mais tranquilo do que as outras vezes.

Suspiro e me sento, o sol já começa a raiar e tocar o quarto... Trazer Caleb para meu lado e proteger Lilith vai ser como matar dois coelhos com uma cajadada só.

XXX

Sento-me na poltrona do hall, eu espero que Caleb chegue no horário marcado, mesmo sem ter informações sobre Clarence é útil ter alguém que pode entrar e sair da casa Nonsense sem ser seguido. Encaro o relógio, espero que Lilith esteja se divertindo com Stitch e não venha nos interromper, preciso usar do passado para convencer Caleb a vir para meu lado, ser o Jaguadarte, seu comandante, e lhe dar ordens.

Escuto alguém descer as escadas correndo e Meredianna passa pelo hall apressada sorrio, meu convidado chegou. Escuto a porta se abrir e passos pesados vindo em minha direção, Caleb entra na sala, sem sorriso, apenas sua expressão carrancuda no rosto, olho para trás dele, nenhum sinal de acompanhante. Ele se aproxima e me estende um jornal, encaro-o irritado.

- O que... – Começo.

- Morto. – Engulo em seco. – Ele está morto.

- Morto...? – Pego o jornal, uma página com um circulo preto indica uma nota: - "segundo o investigar Abberline o garoto supostamente morreu de um acesso de tuberculose ao amanhecer, porém, por ter sido envolvido no caso de Jack o Estripador sua morte também será investigada... O orfanato Yadynnus de Whitechapel lamenta a morte de seu pequeno Clarence e afirma que ele estava saudável..."

- Fiz minha parte, agora cumpra a sua. – Caleb resmunga cruzando os braços.

- Não foi a Wonderland... – Aperto o jornal entre as mãos.

O Valete estripa, a Wonderland destrói, eles queimam e pisam em tudo, mas uma morte limpa, quase natural, isso não foram eles, isso é o Sol da Meia-Noite e isso só pode estar com uma maldita criatura: Abel.

Levanto-me e corro escada acima, Caleb me insulta lá em baixo, pro inferno, todos pro inferno. Escancaro a porta de nosso quarto, Lilith se vira assustada, amasso o jornal e me encosto à porta deslizando até tocar o chão.

- Cain...? – Escuto-a descer da cama. – O que houve?

- Ele está voltando! – Ergo o rosto, Lilith recua, meus olhos.... – Abel está me provocando, eu sei que foi ele, eu sei!!! – Aperto as mãos em volta da cabeça. – Marcel disse que foi nosso pai que foi atrás dele, que foi ele que atraiu a Wonderland para cá, e sabe...? Falta uma peça nesse quebra-cabeça...

- Que peça...? – Lilith se senta e estica suas mãos para mim devagar.

- No circo, sempre parecia que faltava uma peça... – Estico minhas mãos. – E ela era o Jared, o fato dele ser Áster era minha incógnita. Agora nessa história do Marcel falta algo... – Entrelaço meus dedos aos dela. – Nosso pai era o chefe da Nonsense, quando ele morreu Fox assumiu, mas não faz sentido ele ter trago a Wonderland pra cá, pra que ele traria seus próprios inimigos?

- Talvez a Nonsense tenha sido fundada depois disso... – Lilith sussurra.

- Não. – Abaixo o olhar. – Abel morreu antes de nascer, ele sabia disso há exatos 14 anos, ele sabia muito bem disso. – Suspiro. – A Espada Vorpal desapareceu, se Abel que é sua própria personificação não está com ela é porque tem algo muito errado.

- Talvez não seja isso... – Ela murmura e afaga meus cabelos. – E por que você entrou exaltado?

- Clarence... – Encaro o jornal caído. – Ele foi morto, mas não uma morte do Valete, uma morte limpa, quase passada por tuberculose... – Encaro Lilith. – É o Sol da Meia-Noite e isso só pode significar uma coisa: Abel está voltando.

Seu rosto empalidece, deslizo minha mão até o jornal e sorrio, se ele está me provocando ele vai se arrepender. Eu vou ir atrás dele e dar fim a essa sina.

Afinal não foi Cain que matou Abel?

XXX

Frase e desenho da fofa @JulyCaS ;3;

*Beware the Jab-Jab-Jabberwock - é o poema do Jaguadarte :v mas quando ele diz dessa forma é uma referência a canção da cena excluída do filme da Disney, que é a que tá no começo do capítulo :3  



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