prologue


  "Siga seus sonhos" era isso que todos te dizem. Mas quando se tem uma mãe que não te apoia noque você sonha e um pai que não gosta de contrariar a esposa, fica difícil acreditar nessa frase.

  Cantar, é oque eu faço desde pequena e oque eu quero fazer para o resto da minha vida, mas segundo minha mãe "não quero minha filha na rua cantando com um chapéuzinho no lado pedindo dinheiro". Sempre foi assim. Mas não iria ser mais.

  Ouço o grito da minha mãe mandando eu descer para jantar. Boto meu celular para carregar e desço as escadas. Sento ao lado de Annie, minha irmã que apenas sorri para mim, eu já tinha contado oque iria fazer para ela. De primeira ela bateu o pé e não concordou, mas depois de algumas tentativas eu consegui a convencer.

— Mãe, eu vou para New York. – falei, sem rodeios, sem enrolação. Ela parou com o garfo no ar, com a boca aberta e olhos atentos a mim.

  — Como? – ela perguntou, abaixou o garfo e arregalou os olhos.

  — Eu vou para New York, eu vou seguir o meu sonho, mamãe. Eu fiz a prova para a bolsa na Juilliard. Escondida da senhora, eu não queria ter escondido de você, mas eu sabia qual iria ser sua opinião sobre isso. Mas você não imagina a minha alegria quando eu recebi a notícia. Eu consegui, sua filha conseguiu uma bolsa na Juilliard. – a minha felicidade era tão grande, que nem em um momento tão sério eu consegui segurar o sorriso.

  — Quem te deu permissão para isso? – ela perguntou com as sombrancelhas arqueadas.

  — Mamãe, mantenha a calma... – Annie se pronunciou pela primeira vez. Mas minha mãe a interrompeu.

  — Não, Bethannie. Fique fora disso. E se você acha que pode simplesmente dizer que vai para outra cidade e achar que está certa e eu vou dizer "vá, siga os seus sonhos" – ela disse com uma voz debochada. — Você está totalmente enganada.

  — Eu quero ir e já está decidido, mãe! Eu batalhei por isso. Pelo menos uma vez na vida eu vou decidir algo. Eu não sou mais o seu bebê e sou responsável pelos meus atos. – falo tentando manter a calma, mas acho que falhei miseravelmente.

  — Oque está decidido é que você vai ficar, Jessie! Não me importo que você conseguiu uma bolsa em uma universidade de gente metida. Vá para o seu quarto agora! – Ela bate com as mãos na mesa, eu bufo e saio da mesa.

  Fecho a porta com forca, peguei o meu celular e entrei no site da rodoviária da minha cidade, o próximo ônibus para New York sairia as 3 da manhã. Perfeito.

  Ligo para Audrey, no quarto toque ela atende.

— Audrey?

— Oi, Jess. Estou ótima, obrigada por perguntar. – ela diz em tom de ironia.

— Okay. Escuta,eu tentei convencer minha mãe a me deixar ir para New York. Mais uma vez ela não concordou. Meu ônibus é as três, você pode me levar? Por favorzinho. – falo tudo rápido.

— Deixa eu ver se entendi, você vai fugir? – ela quase grita, mas diminui o tom de voz ao provavelmente lembrar que seus pais estão em casa.

— Esse é o único jeito, Audrey. Eu consegui uma bolsa em uma das melhores universidades de músicas. Eu não vou deixar meu esforço ir água a baixo por causa da minha mãe. Eu tenho mil dólares da minha mesada e doque sobrou dos dias que eu fiquei de babá para a filha da senhora Cooper.

— Meu Deus. Você sabe oque está fazendo? – ela fala, ouço o barulho de uma porta sendo aberta do outro lado da linha e escuto a mãe da minha amiga falar "o jantar está pronto". — Estou falando com a Jessie, já vou ir mãe.

— Olha, eu sei que parece loucura, mas pra mim não é. Eu quero fazer isso, mesmo que por um lado me doa um pouco, porque ainda tem a Annie. – falo e suspiro depois de ouvir a porta sendo fechada.

— Você promete me ligar e manter contato sempre? Promete não me trocar por uma nova iorquina chata? – ela se rende e eu gargalho.

— Prometo, você promete não me trocar também? – pergunto, não queria que ela me trocasse pela Jane, a menina que mora do lado da sua casa que tem um humor péssimo.

— Prometo também. Vou estacionar a 5 casas da sua. – fala e eu sorrio.

— Okay, obrigada meu anjinho. – falo e ela ri.

— Deixe seu carinho para se despedir da Annie. Ela precisa de você. – meu sorriso se desfaz assim que lembro de Annie.

— Eu vou falar com ela antes de sair. Até mais tarde, Barbara. – desligo antes que ela fale brava que não gosta que eu a chame pelo segundo nome.

  Me jogo na minha cama e fecho os olhos. Acabo por lembrar do meu pai. Agora ele estava em uma viagem de trabalho, eu o amo, assim como amo minha mãe, mas quando eu tocava no assunto sobre meus sonhos ele falava "você sabe oque eu acho sobre isso". Na verdade não era oque ele achava, e sim oque minha mãe achava, meu pai não queria arrumar briga com minha mãe, mesmo que isso custasse não apoiar a própria filha.

  Levanto da cama, arrumo minha mochila e uma bolsa de mão. Não prestei atenção nem nas roupas que botava, minha mente estava em como minha vida iria mudar. Meu violão era algo que eu gostava muito, mas não era como uma coisa que me desse sorte ou algo do tipo. Mesmo assim passei os meus dedos pelas suas cordas e lembrei das vezes que tinha que ir para casa de Audrey, só para poder tocar, já que se fizesse isso em casa e minha mãe escutasse, poderia tirar ele de mim.

  Tomo banho e boto meu pijama, saio do meu quarto e vou até o da minha irmã, que estava lendo um livro com o abajur ligado. Fecho a porta com cuidado e sento ao seu lado.

— Eu já liguei para a Audrey. Meu ônibus sai às 3. – digo e ela me abraça.

— Eu vou sentir tantas saudades. – ela sussurra, senti meu ombro molhado e segurar as lágrimas também foi inevitável.

— Eu também vou sentir tantas saudades suas. Eu sinto tanto por ter que te deixar aqui sozinha. – falo com a voz embargada e ela desfaz o abraço.

— Você vai seguir os seus sonhos, Jess. Não se preocupe comigo, eu vou conseguir lidar com a fera. – ela fala e eu solto uma risadinha fraca pelo jeito que ela se referiu a minha mãe.

— Eu te amo muito, nunca esqueça disso. Eu volto para te ver, eu prometo. – digo enxugando suas lágrimas.

— Eu também te amo muito. Me ligue sempre, okay? – afirmo com a cabeça e a abraço novamente. Dou um beijo na sua testa antes de sair do quarto, enxugando as lágrimas tentando não fazer barulho para não acordar minha mãe.

  Entro no meu quarto e deito na minha cama. Puxo o cobertor até a altura do meu peito e limpo o meu rosto com ele.

  Tentei dormir, mas foi impossível. Passei  o tempo antes de levantar somente me revirando na cama e olhando a cada 5 minutos a hora no meu celular.

  Sai com o maior cuidado pela janela. Antes de começar a andar em direção ao carro de Audrey que já estava estacionado a alguns metros de mim eu olhei para minha casa. Todas as fugas para festas, casa da Audrey, não se comparavam a essa.

Andei até o carro e abri a porta, botei minhas coisas no banco de trás e olhei para Audrey que tinha uma feição sonolenta.

— Espero que me dê alguma coisa muito boa em troca de me fazer acordar às 3 da manhã. – ela disse ligando o carro e botando o sinto, fiz o mesmo e gargalho.

— Fica tranquila, Barbara. Um dia eu vou te ligar e falar "Hey, sabe aquela recompensa por ter feito você acordar na madrugada? Então, meu amigo Ed Sheeran me deu dois ingressos pro show dele, você topa?". – Ela ri enquanto olhava para a estrada.

— Como foi com a Annie?

— Ela é uma das pessoas mais importantes para mim, doeu deixar ela sozinha com a minha mãe. Mesmo sabendo que ela já é grande o suficiente para lidar com a fera. – uso o mesmo apelido que minha irmã deu a minha doce mãe.

  O caminho até a rodoviária durou 20 minutos, fomos conversando sobre New York, sobre os pontos turísticos e como o cabelo da minha vizinha ficou estranho. Com Audrey tudo ficava divertido.

  Quando chegamos o meu ônibus já estava havia chegado. Audrey sempre foi muito forte, então não vi ela chorar muitas vezes, mas ela caiu no choro assim que me viu chorando também. Nos abraçamos e fizemos as mesmas promessas de antes, sobre nunca esquecer uma a outra. Com muito custo entrei no ônibus e sentei no meu lugar, Audrey acenou com a mão e eu acenei de volta. Então o ônibus foi ligado, encostei minha cabeça no acento e respirei fundo.

Era isso, eu estava seguindo os meus sonhos.

 

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cheguei
amei tanto escrever esse prólogo bicho
espero que gostem de ftl sz

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