Capítulo 34 - Ataque sem piedade

Frank sentia-se revigorado novamente. A espada, mais fina que uma folha de papel, e toda trabalhada em prata e cobre não pesava mais do que um punhado de isopor e se equilibrava perfeitamente em suas mãos, como se fosse forjada especialmente para ele. O menino levantou-a à frente de seu rosto e então contemplou o monstro aquático que havia atacado ferozmente a ele e seus amigos, a alguns metros de distância.

Aquanator, olhando para Frank que se aproximava lentamente, não reparou na arma que o garoto estava empunhando, apenas se dando conta assim que estavam bem próximos, voltando alguns passos para trás imediatamente após o susto que levou.

— Essa espada, como a conseguiu, seu miserável insignificante?

— Por quê? Está me parecendo que isso o assustou, estou certo?

— Quem você pensa que é para querer manejar um dos artefatos mais raros da humanidade com essas mãos imundas? Seu garoto insolente! Você não tem o direito de empunhar Gram!

— Então parece que você conhece muito bem o poder que essa arma pode ter.

— Claro que sim, mas os guerreiros que um dia a usaram precisaram de muito treino para conseguir controlar pelo menos a metade de seu grande poder. Você acha que um moleque, sem um pingo de dignidade e conhecimento, é capaz de fazê-la te obedecer? — perguntou Aquanator, gargalhando ferozmente com o único objetivo de desestabilizar Frank, que de fato começou a acreditar menos em sua capacidade, assim, quando com sua mente ordenou que Gram atacasse o guerreiro elemental com todas as forças que poderia ter nada aconteceu, tornando-se pesada como rocha e atirando suas mãos imediatamente para o chão.

— Parece que eu estava certo, hein? Não sei como conseguiu achá-la, pois as histórias contadas dizem que se perdeu há muitos e muitos anos, não sendo jamais encontrada por ninguém. E olhe que tivemos ao longo do tempo muitas cruzadas para encontra-la, assim como o Santo Graal que os católicos tanto almejavam. Bom, não importa, eu agradeço por tê-la encontrado e a tomarei de você assim como o amuleto do guardião da água que aquele velho carrega em seu pescoço, nem que para isso eu tenha que o degolar.

O sangue de Frank subiu imediatamente ao ouvir a ameaça daquele sujeito, mas a espada parecia não querer obedecê-lo. Não sentia mais o equilíbrio necessário para fazê-la cortar o ar com um mero movimento, tendo que empreender um esforço sobre-humano para sequer mexê-la alguns centímetros.

— Tive uma excelente ideia — completou o guerreiro. — Irei eliminar seus amigos lentamente enquanto você assiste o massacre apenas por minha diversão e, então, quando todos estiverem mortos, será a sua vez. Vamos ver se até lá você aprenderá a controlar essa poderosa arma para termos um pouco mais de emoção por aqui.

— Ora, seu maldito! Não se atreva a encostar um dedo em meus amigos! — gritou Frank, tentando de todas as maneiras levantar a lendária espada, mas esta parecia pesar toneladas.

Aquanator foi se aproximando de Pedro, que estava a poucos metros de onde Frank tentava levantar aquele pedaço de metal que deveria servir para ajudá-lo a vencer a batalha. O garoto tentou se levantar para fugir do guerreiro da água, mas este era rápido demais, atingindo um soco contra seu estômago, levando-o novamente ao chão, dessa vez, sem consciência.

— Pedro! — gritou Luiz se aproximando de seu amigo para ajudá-lo, sem perceber que Aquanator, em uma manobra rápida, aparecera por trás do rapaz, acertando um golpe certeiro, derrubando-o junto do garoto desacordado.

— Esses foram muito fáceis, vamos ver se os outros vão criar mais resistência para eu poder me divertir um pouco.

— Pare, seu canalha! Deixem-nos em paz! — gritou Frank com raiva em sua voz.

O garoto respingava suor de tanta força que fazia para levantar a espada, sem conseguir tirá-la do lugar. Não entendia como há poucos minutos ele se sentia confiante com Gram em sua mão direita, girando-a com tamanha facilidade e naquele momento, não encontrava energia para salvar seus amigos, que aos poucos eram derrotados por aquele vilão, de força e velocidade descomunal.

— Era só o que me faltava mesmo. Depois de passar por todos esses problemas, a divina espada que me ajudaria a derrotar qualquer maldade desse planeta me deixa na mão. Como vou conseguir derrotá-lo desse jeito? — se perguntou Frank incrédulo com o peso que a espada passou a ter.

Enquanto o garoto se lamentava, aquele ser maligno se aproximava de seus amigos, golpeando um a um até que não sobrasse mais ninguém consciente. Era a vez de Emily, que estivera próxima a Luiz quando este correu para socorrer seu amigo. Destemida, se levantou, aguardando receber o ataque fatal de Aquanator, que, com um sorriso malévolo, se aproximava a passos lentos.

— Seu amigo ali não está querendo salvá-la. Se suas esperanças para continuar viva estavam depositadas naquele infeliz, tenho pena de você, pobre garota, mas, como falei, ninguém sairá vivo daqui — disse o general, levantando seu braço lentamente para curtir cada segundo daquele lamentável choro vindo da menina indefesa.

Sem mais delongas, disparou um soco em direção ao peito da garota, que não sentiu nenhum golpe daquela criatura, apenas um forte encontrão de alguém que parecia tê-la defendido daquele murro fatal, sendo atirada a alguns metros de distância em segurança. Porém, devido à fraqueza em que se encontrara e à força com que caiu no chão cheio de pedregulhos, Emily perdeu a consciência imediatamente.

— Nunca imaginei que você fosse tão estúpido em se colocar na frente do meu golpe de misericórdia, mas vejo que estive errado, pequeno indígena — caçoou Aquanator vendo Jason tentando se levantar após receber o soco no lugar de sua filha, evitando que ela recebesse uma carga tão forte e perigosa quanto o golpe desferido pelo monstro.

O grande Jason que há pouco tempo emanava confiança e uma força colossal, naquele momento não passava de um homem comum ou, para Aquanator, um mísero verme. Na verdade, aquele miserável maligno tivera tempo suficiente para acertar Emmy quando bem entendesse, mas resolveu aguardar Jason, que correu imaginando surpreender o guerreiro quando este estivesse com sua guarda aberta enquanto se preparava para o soco. Mas, como Artmeck uma vez os alertou, era para terem cuidado com aquela criatura, pois era um especialista na arte da guerra e em combates corpo a corpo.

Pois bem, Aquanator esperou o exato momento em que Jason lhe desferia um soco para se esquivar em fração de segundo e acertar um golpe contra o chefe de Guam assim que este se colocasse à frente de Emily, acertando os dois com apenas um simples soco. Além de extremamente forte, esse ser elemental era uma criatura terrível e inescrupulosa. Brincava com os humanos apenas por própria diversão.

— Levante, homem. Ainda não acabei com você e sei que ainda lhe resta alguma energia aí. Vamos, levante. Quero brincar um pouco mais.

Jason se arrastava para longe de Aquanator, tentando recuperar um pouco do fôlego, se encostando em uma grande rocha. Estava encurralado e já não tinha mais esperanças de continuar vivo.

— Já que não quer mais brincar, preciso então te eliminar logo, ou nosso amigo ali não vai ter motivos suficientes para conseguir levantar aquela espadinha de brinquedo.

Com um soco então Jason caiu ao chão desmaiado, seu enorme e pesado corpo bateu com muita força no solo daquele lugar, podendo Frank ouvir o barulho a bons metros de distância.

— Mais um que acreditou conseguir me vencer com esse poder infame. Se esse era o homem mais forte da ilha em que é líder, então eu poderia me tornar rei, ou melhor, imperador. O que você acha, garoto? — zombou mais uma vez com a cara de Frank. — Agora só restaram seus amiguinhos mais próximos. O velhote que deve ser seu avô, certo? E a garotinha que povoa seus mais íntimos sonhos. Você acha que eu não sei?

"Aquele ser que te aterrorizou e ainda aterroriza era um devorador de mentes. Fui eu quem o criou somente para me divertir um pouco mais. Você é patético, igual a esses aqui — disse Aquanator, levantando Walter e Barbara pelo colarinho sem forças para reagirem.

"Acho que os matarei ao mesmo tempo, com apenas um golpe, assim não terão nenhuma dor. Olha como estou bonzinho hoje, que tal?"

Mas antes que Aquanator pudesse se virar para encarar Frank, este o golpeou com um chute no ar, derrubando o ser elemental assim como seus amigos ao chão. Aquanator não acreditou no que viu, ou melhor, não viu, pois o ataque foi desferido com uma velocidade que nem mesmo ele teve tempo de enxergar.

— Não mexa com meus amigos! — gritou Frank com a espada empunhada em sua mão direita.

Barbara, caída ao chão, abriu seus olhos lentamente com grande dificuldade e presenciou uma cena extraordinária e um tanto quanto fabulosa, todo o corpo de Frank estava envolto por uma energia brilhante e amarelada. Pequenas faíscas além de raios e estalos fluíam da espada que o rapaz sustentava no ar. Conseguiu, com seu rosto todo machucado, lançar um pequeno sorriso para Frank, deixando que suas esperanças em saírem dali com vida falassem mais alto e, então, não suportando mais a dor em seu corpo, desmaiou.

— Olha, olha, parece que alguém resolveu animar as coisas por aqui. Vejo que conseguiu levantar a Gram, mas quero só ver por quanto tempo você vai suportar todo seu peso. O fardo é muito grande para um moleque fracote e medroso como você. Largue essa espada logo e se entregue a mim, assim posso acabar logo com todos vocês. Já me cansei dessa chatice.

Mas, dessa vez, Frank não se deixou abalar com a lábia venenosa de Aquanator, girando a espada no ar, mostrando para seu inimigo o quanto que ela estava equilibrada em suas mãos e o quanto se tornara leve novamente.

— Não caio mais em seus truques. Sou o único capaz de acabar com você e é justamente o que vou fazer. Meus amigos eram pessoas boas, fiéis a nosso propósito e acima de tudo, eram extremamente corajosos. Não perdoarei por tudo o que fez e acabarei com seus planos malignos, pode ter certeza, ou não me chamo Frank Payne. — gritou o garoto, correndo em disparada contra Aquanator para golpeá-lo com Gram.

O guerreiro, com um rápido movimento, bloqueou o golpe e tentou revidar, mas Frank já não se encontrara à sua frente.

— Estou aqui — disse o garoto, dessa vez às costas do elemental.

Aquanator, incrédulo, virou-se lentamente tentando decifrar como Frank o atacaria, mas este não fez nada, apenas esperou que o cavaleiro virasse seu corpo para enfrentá-lo de igual para igual.

— Não sou como você, que ataca os outros pelas costas.

— Você irá se arrepender por essa baboseira de honra e nobreza — praguejou Aquanator, levantando seu braço direito, criando uma espada com uma lâmina de água super afiada. — Sem mais brincadeiras, venha receber sua punição, seu parasita.

A batalha que se seguiu foi extraordinária para quem tivesse a honra de assistir aqueles dois seres incríveis duelando com suas espadas mágicas, mas ninguém naquele lugar tinha condições físicas para testemunhar a inesquecível façanha, a não ser Mark, que observava todos os movimentos daquele conflito escondido por detrás de uma rocha com medo de ser atingido.

O brandir das espadas causava pequenos desmoronamentos na caverna, por conta das energias que emanavam daquelas grandiosas armas. A luta estava muito nivelada, ambos tinham grandes poderes e pareciam não se cansar. Mas Aquanator não estava lá para jogar limpo, mesmo se tratando do elemental da água.

O supremo guerreiro desferiu um golpe com sua espada, sendo bloqueado imediatamente pelo garoto, porém, ao mesmo tempo em que viu a guarda de Frank abaixada, Aquanator jogou um jato do líquido diretamente nos olhos do rapaz, deixando-o atordoado por alguns instantes, mas tempo suficiente para que pudesse golpeá-lo com sua espada, ferindo a perna de Frank, derrubando-o ao chão. O tombo foi tão forte, que Gram havia se soltado de sua mão, caindo a pouca distância do rapaz, que urrava de dor.

— Sabe garoto, eu, de verdade, esperava uma luta mais fácil. Nunca imaginei que um menino mirrado, magricela como você tivesse uma força tão grande e pudesse manejar a Gram com tamanha destreza — disse Aquanator chegando bem próximo do menino caído. — Parece que me enganei em deixá-lo com raiva e esperar que você conseguisse levantar a espada. Você soube conduzi-la como ninguém jamais conseguiu. Agora é tarde para aprender, mas, apenas uma sugestão, nunca baixe sua guarda em nenhuma batalha, nem por alguns milésimos de segundo. Bom, agora que já sabe poderá levar esse conselho para seu túmulo, debaixo dessa catacumba de pedras.

Aquanator levantou sua espada com as duas mãos para o alto para desferir o golpe de misericórdia, mas, com um movimento ágil, Frank pegou Gram no chão e deslizou seu corpo por debaixo das pernas do inimigo.

— Obrigado pelo conselho! — zombou o menino, que fingiu estar machucado com o golpe do monstro, quando este o pegou somente de raspão. Levantando-se em um pulo, cravou sua espada com toda sua força às costas de Aquanator.

— Maldito seja você, Frank Payne! Achei que tivesse ouvido que não atacava ninguém pelas costas!

— Foi antes de você trapacear — disse Frank, apertando com mais força a espada contra seu inimigo.

O general elemental gritava de dor, enquanto nuvens negras se esvaíam de seu corpo como se almas obscuras o abandonassem. Tentava de todas as maneiras arrancar a espada de suas costas, mas Gram parecia ter vida própria e liberava espécies de descargas eletromagnéticas em Aquanator. A coloração do ser elemental foi ficando mais clara, parecendo com as águas do oceano das Ilhas Marianas. Toda aquela nuvem negra estava se dissipando de seu corpo e sua feição, por incrível que pareça, foi ficando mais amigável.

Frank, que já se recuperara do ataque, retirou a espada das costas de Aquanator, onde, no lugar de sangue, havia uma espécie de vazamento de água, como se uma torneira estivesse semiaberta, porém um líquido espesso e azul.

— Obrigado, Frank Payne! — agradeceu o místico guerreiro.

— Como assim, obrigado? O que eram aquelas coisas pretas que saíram de você? — perguntou o garoto.


Frank, ainda ofegante virou-se e reparou que seus amigos estavam todos ao chão, sem se moverem e algumas lágrimas começaram a escorrer de seu rosto.

— Seus amigos não estão mortos — disse Aquanator, notando que o menino havia ficado triste com os corpos atirados ao chão. — Apenas deixei-os inconscientes para que você conseguisse despertar sua força oculta e se livrasse de seus medos. Logo irão acordar, com uma leve dor de cabeça, mas ainda vivos.

— Deve ter sido muito difícil para você estar sendo controlado por magia negra e ainda assim ter coragem e força suficiente para enfrentá-los, tentando causar o mínimo dano a meus amigos.

— Como eu te disse, não somos seres ruins, ao contrário, sempre trabalhamos juntamente com os guardiões elementares para defender a paz sobre todos os reinos, então, tentei ao máximo me autocontrolar, mesmo com toda a dificuldade.

— Só tenho a agradecer. Quanto aos outros seres elementais, estão sendo controlados da mesma maneira que você?

— Meus irmãos não são tão compreensivos e gentis como eu, Frank Payne. Suas forças e seus poderes transcendem o imaginário, portanto, a única sugestão que lhe dou é que lute com sua alma e com seu corajoso coração. Você me libertou das garras do tenebroso grande mago e serei eternamente grato. Mais uma vez me desculpe por todo o mal que causei enquanto estive sob o feitiço de Bhaltair Arasgain. Muitas vezes a energia maligna se fazia mais forte, e anulava meu autocontrole. Mas no fim, o bem sempre vence. Acredite em você, meu amigo! O poder que tens é gigantesco.

— Poder? Como assim? Espere, ainda tenho muitas perguntas a serem feitas. Onde está meu pai? Como fazemos para sair daqui?

Mas as perguntas foram em vão, pois o corpo de Aquanator se desfez em água encharcando os pés deles, enquanto cresciam pequenas folhagens no chão daquela caverna, surgindo novamente o mesmo cenário que vira quando estava sob o efeito de magia, com uma cachoeira imponente ao fundo e árvores com frutos ao redor. Gram também se dissipou em energia assim que seu propósito foi concluído, retornando novamente de onde viera, em algum lugar além do horizonte celestial, conforme tinha alertado Artmeck.

Naquele lindo gramado, a lendária pedra da água que o general tinha pendurada sobre seu pescoço pairava tranquilamente por cima de uma rocha.

Frank acordou um a um dos seus amigos de seus sonos forçados, explicando a todos o que acontecera e como havia derrotado o até então temível Aquanator. Resolveram seguir o rastro daquele manto verde até encontrarem os garotos sequestrados, que estavam presos por correntes fixadas nas paredes das rochas. Walter e Jason conseguiram quebrar as grossas correntes com algumas picaretas que encontraram próximas, libertando os meninos, como haviam prometido para Luiz quando se conheceram.

As folhas continuavam a correr o chão, levando-os alguns metros mais para frente, atravessando um arco de pedras, onde agora era possível enxergar uma paisagem que Luiz e seus amigos conheciam muito bem, a caverna Marbo.

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