Capítulo 27 - Surge um novo guerreiro
— Eu estava certo o tempo todo. Mark estava por trás do desaparecimento dos garotos da ilha — bravejou Frank, fuzilando com os olhos o outro garoto.
Por trás dos dois podiam ver algumas das criaturas que correram com os garotos na outra galeria, assim como o restante dos rapazes algemados e presos por grossas correntes. Pedro e Luiz confirmaram que estavam todos lá, ainda que estivessem machucados e exaustos demais para sequer ajudá-los na batalha que estava para acontecer.
— Ei, seu... — Sua frase foi cortada por Barbara, que o segurou para que Frank não saísse correndo, colocando qualquer chance de vitória por água abaixo, mesmo sabendo que seria bem difícil disso acontecer.
— Espere, Frank. Precisamos pensar em como atacaremos esse pequeno exército — disse Barbara, apontando para os monstros à frente.
Mal disse a frase e mais criaturas surgiram ao redor do elemental em formação de ataque.
— Parece que esse pequeno exército que você citou não para de crescer! — riu o menino, mas com uma risada nervosa.
— Muito bem, qual deles está com a outra metade da pedra azul? — perguntou uma voz meio metálica quase robótica ao garoto loiro que se postara ao seu lado.
Mark, com a expressão séria, apontou seu dedo indicador para o filho de Douglas. Frank jurava que podia ver um sorriso sarcástico no rosto de Mark, mas isso nunca foi comprovado por ninguém. Seus corpos começaram a tremer quando algo que lhes parecia um ataque se desenvolveu. Um fio de água que escorria daquela que um dia deve ter sido uma cachoeira grandiosa foi congelado e então arremessado com a velocidade de um tiro em direção a Frank e Barbara, parando em frente aos olhos do rapaz, sem ao menos tocá-lo, apenas com a intenção de assustá-lo e demonstrar seu poder.
Era como se alguém pudesse controlar a água e manuseá-la de acordo como bem entendesse. Frank, na hora, compreendeu que aquele ser era forte demais para enfrentá-lo e se, de alguma maneira, ele conseguisse juntar os dois pedaços da relíquia da água, se tornaria invencível. Teve então uma ideia que julgou ser brilhante, mas depois se arrependeu. Desvencilhou-se do projétil congelado que estava parado à sua frente e correu em direção a Artmeck, implorando para que o velho baú guardasse a pedra dentro de si, e que somente Frank ou quem dissesse a palavra secreta seria capaz de pegá-la de volta.
Artmeck abriu a boca lhe dando sua língua e Frank alocou a metade da pedra, que foi rapidamente engolida pelo monstro. Fechou sua boca e agradeceu por confiar nele. Frank chegou próximo e cochichou em algo que pensou ser seu ouvido, selando assim o destino de outra pedra dentro daquele velho e sábio baú.
O elemental só observou dando risadas daquela bizarra cena.
— Você acha que essa criatura pode aguentar por quanto tempo meus ataques até me entregar essa relíquia? — bradou o homem de armadura azul brilhante.
Mark riu com um sorriso amarelo, não acreditando na imbecilidade que Frank cometera. Ele havia acabado de sentenciar seu amigo a morte, mesmo sem a intenção.
Frank se juntou a Jason, Luiz e Pedro se postando em posição de ataque com suas espadas e facas, enquanto Barbara e Emmy giravam seus chicotes no ar. A turma tentava proteger Artmeck dos ataques do elemental, enquanto guerreavam bravamente contra Grimlocks e Skums que disparavam de todas as direções. Barbara e Emily acertaram alguns daqueles malditos peixes que pularam por sobre duas rochas já prestes a atacar o chefe Jason. O grandalhão deu fim nos monstros que caíram próximos a ele. Pedro recolheu as facas da dupla asquerosa e entregou uma a seu comparsa Luiz, que atirou de uma vez no peito da criatura que se aproximava, fazendo com que ela tombasse imediatamente.
Barbara se arrepiou quando reparou que o general mágico se aproximava cada vez mais a cada investida dos monstros. Era como se eles, em um gesto suicida, abrissem caminho para seu superior alcançar seu objetivo com o mínimo esforço e gasto de energia. A garota gritou, chamando a atenção dos outros, mas estes foram atacados novamente pelas bestas selvagens sem conseguirem espaço para tentar deter o elemental. Então, viu o chicote de Emily atravessar o bloqueio de monstros e atingir o ser azulado acertando sua cabeça e arrancando um tipo de capacete ou elmo mágico, revelando um cabelo prateado com tons azuis. O ser virou-se, encarando o responsável por tamanha afronta e deparou-se com uma menina de baixa estatura, mas enorme coragem.
— Garota insolente! Quem você pensa que é para atacar o grande Aquanator, o lendário e invencível imperador do elemento água? Ninguém é páreo contra meus poderes.
O ser levantou sua espada para o alto e dela saíram filamentos azuis que se entrelaçavam entre eles, formando uma esfera do tamanho de uma bola de basquete. Com um comando, a esfera disparou contra a menina, derrubando umas três criaturas, que, por sorte, se jogaram em frente a Emmy para atacá-la, saindo ilesa, tanto da magia quanto dos monstrengos escorregadios. Sem se importar, Aquanator continuou seu caminho, chegando próximo ao velho baú. Frank gritou, mas dois Peixomens se colocaram em frente ao garoto, tentando atingi-lo com suas facas, forçando-o a se defender e desviar os olhos do cavaleiro azulado.
Artmeck sentiu quando recebeu o primeiro golpe contra sua carapaça sólida. Frank não imaginava, mas esses seres místicos eram grandes guerreiros quando se sentiam ameaçados. A batalha não foi tão fácil quanto Aquanator esperava, recebendo algumas vezes tentativas de mordidas e cabeçadas. Cansado da brincadeira, o guerreiro da água levantou sua sagrada espada acertando com toda força o topo do baú, mas estranhamente alguma coisa bloqueou seu ataque. Na verdade, a espada parecia ter ficado presa em um líquido viscoso expelido pela criatura, algo que se parecia com um forte adesivo. O guerreiro puxou, repuxou, mas por mais que tentasse, não conseguia remover sua poderosa arma.
— Criatura antiga, você pode prender minha espada até onde sua força possa aguentar, não me importo. Ainda tenho dois grandes punhos que sabem bater tão forte quanto as águas que colidem contra as rochas em tormentas do oceano. Imagine a força que a água de uma enorme cachoeira pode chegar quando atinge o solo. Pois bem, não chega nem perto do que tenho a lhe oferecer, pobre criatura.
Aquanator não estava blefando, seus socos eram tão fortes e ágeis que nem mesmo a grande resistência de Artmeck seria capaz de suportar. Em poucos segundos, o elemental desferiu uma enorme quantidade de golpes tão fortes, que quem olhasse para Artmeck, veria um velho baú como que encontrado em meio de destroços de algum navio pirata, que fora saqueado diversas vezes por trogloditas sem nenhum cuidado, ou que outrora devia ter ficado exposto sob intempéries por muitos e muitos anos, cuja madeira, gasta com o tempo, estava podre e comprometida a qualquer toque mais pesado. Mas não, ele ficou tão destruído com apenas simples socos desferidos pelo ser que se intitulava o imperador elemental da água.
— Onde está toda aquela braveza que por algum tempo tentou me intimidar? — zombou o cavaleiro, arrancando com um forte puxão sua espada que se soltava da desfeita gosma que teimava prendê-la. — Como eu disse, você nem ninguém é páreo para meu poder, ainda mais agora com essa belezura aqui — mostrou o outro pedaço da pedra elementar que Frank havia escondido dentro de Artmeck, que já não tinha forças para atrasar mais os planos malignos.
O baú, esgotado, caiu ao chão, apagando todos os seus seis horripilantes olhos, vencido pela batalha que nem chegara a iniciar.
Aquanator retirou o outro pedaço do artefato de seu bolso e as duas partes começaram a brilhar intensamente, piscando sem parar. Subiram por sobre sua cabeça, suspensas no ar e começaram a girar rapidamente, de modo que os dois fragmentos iriam se aproximando como que por encanto, até que um barulho foi ouvido, chamando a atenção de todos que estavam na caverna, seguidos de um clarão que só não desagradou os Grimlocks por esses serem cegos. Então, por entre a claridade, apareceu aquele ser azulado, segurando em sua mão direita sua lendária espada e em sua mão esquerda a mitológica pedra do elemento água, dessa vez inteira.
Um grito ouviu-se ao redor daquele amontoado de criaturas no meio do salão. Frank não conseguia suportar seu fracasso, resmungando, enquanto acertava alguns monstros com facilidade.
— Como pude ser tão idiota em pensar que Artmeck teria forças para defender a pedra contra um ser tão terrível? Coitado do velho baú. A culpa é toda minha!
— Não se culpe. Não tínhamos como protegê-la. Ele é muito forte! — disse Barbara, que chegava ao seu lado. — Precisamos nos juntar para pensarmos em uma estratégia para derrotá-lo ou então fugirmos desse pesadelo.
— Fugir? — questionou Frank. — Não tem como, Bah. Agora que esse ser está em posse da pedra azul não demorará para Bhaltair Arasgain conseguir o que almeja e a Terra estará em extremo perigo. Acabou tudo!
— Ainda quero me divertir antes de entregar essa pedra para meu mestre! — gritou Aquanator de longe, prestando atenção ao que o garoto conversava com sua amiga.
— Como ele nos ouviu, no meio dessa batalha comendo solta? — perguntou assustada Barbara, enquanto via Luiz e Pedro saltarem por cima de uma criatura e Jason acertar dois com seus enormes braços.
— Pra você ver o quanto esse ser é forte. Estamos fritos! — ponderou Frank sem o menor ressentimento por ter perdido as esperanças.
Aquanator colocou o amuleto sagrado ao redor de seu pescoço, levantando uma de suas mãos para o alto e rapidamente uma esfera maciça azul surgiu sobre sua palma aberta. Parecia que seus poderes tinham aumentado agressivamente, sendo ainda mais apavorante presenciar essa força de perto.
Frank e Barbara, se antes não tinham certeza, naquele momento tinham convicção que chegara a hora de partirem para outro mundo. Ambos deram suas mãos, apertando forte uma contra a outra, como que jurando se encontrarem em alguma outra vida, se é que isso existia. O guerreiro azulado, vendo aquela cena, começou a gargalhar com uma risada sinistra e ao mesmo tempo diabólica. Maldade exalava de sua aura, se é que tinha alguma. Sem mais aguardar, arremessou a esfera maciça com pouca força, mas ainda assim com uma velocidade quase que imperceptível aos olhos humanos.
— Ainda estou vivo! — Frank sentiu algo atingi-lo com muita força, mas o impacto não fora exatamente o que esperava. — Não é possível, tinha certeza que não sairíamos dessa. Barbara, está tudo bem? — perguntou o garoto, ainda com os olhos fechados por conta da claridade do ataque aquático.
— Si... si... sim... — disse uma menina incrédula com o que acontecera. — Fran... Frank, abra seus olhos!
O garoto atendeu à sugestão de sua amiga com um pouco de dificuldade, abrindo seus olhos aos poucos, até conseguir enxergar o semblante de uma pessoa postada à sua frente. Parecia que ela era a responsável por bloquear o ataque do elemental, permitindo-os respirar um pouco mais do oxigênio daquele maldito lugar. O menino prestou mais atenção e reparou que a tal pessoa impediu o ataque com suas duas mãos, que estavam esticadas em um ângulo de noventa graus em relação ao seu corpo. A sorte deles parecia ter mudado, aparecendo esse misterioso salvador, que ao que parecia era tão forte quanto o imperador.
— Está tudo bem com vocês? — perguntou o desconhecido, olhando para trás para encarar os meninos e sorrindo para ambos com grande ternura em seus olhos.
— Não pode ser! — gritou Frank Payne com todo o ar preso em seu pulmão e lágrimas escorrendo de seus olhos. — Vovô, você está vivo!
O velho homem sorriu para o garoto, que pulou sobre seu colo, abraçando-o. Barbara, que ainda estava incrédula, abriu um enorme sorriso, esticando seus braços em direção ao velho amigo.
— Como assim? Ouvimos seus gritos do outro lado da galeria e então não ouvimos mais nada — disse Frank.
— E como o senhor está forte desse jeito? — perguntou a menina.
— Depois eu explico melhor, primeiro precisamos nos juntar para acabar com esse exército e pôr um fim nesse ser elemental — disse o velho e bravo guerreiro.
Levantou sua mão direita e fios de água que escorriam da cachoeira voaram em sua direção, se acumulando ao redor de seu braço, formando uma espada feita de água, muito parecida com o que o general usava, só que um pouco menor e mais leve.
— Sim, eu também pelo jeito domino o elemento água. Sou considerado pela cultura antiga o guardião da lendária pedra elementar da água e aqui, nessa caverna, está o templo onde essa relíquia surgiu.
— Que demais! — gritaram os garotos, com a esperança renovada.
Walter foi abrindo caminho, acertando com extrema facilidade os monstros que cercavam Luiz, Pedro, Emmy e Jason, chegando até eles e sendo recebido de braços abertos.
— Então o senhor ressurgiu dos mortos? — brincou Jason, abraçando-o com satisfação em revê-lo.
— Pois é, tem coisas que são impossíveis de compreendermos! — disse Walter virando-se para acertar o Peixomem que surgira à sua frente.
— Estou vendo, assim como essa espada em sua mão.
— Exatamente — brincou Walter rindo da cara de Jason. — Isso foi o bônus por ter encarado minha morte de frente naquela galeria.
— Seja bem vindo de volta, Betbo, guardião da pedra elementar da água — saudou-o Jason.
— Então, você já sabia?
— Antes de sairmos de Guam, o velho Cadassi me disse o que havia acontecido naquela fatídica tarde e alertou-me que você tinha uma enorme força oculta que ainda não havia despertado. Pediu que ficasse de olho em você, pois seria eu a pessoa que te guiaria a seu destino. Mas nada pude fazer para ajudá-lo naquela ocasião. Me desculpe!
— Imagina, meu amigo. Desde que partimos de Guam, você nos guiou em várias situações e isso ajudou a me encontrar e aceitar realmente quem eu sou.
Jason assentiu com um aceno de cabeça e um leve sorriso.
— Bom, não temos tempo a perder, chefe. Precisamos bolar um plano para acabarmos com isso, livrar os garotos sequestrados e pôr um fim nessa ameaça do mago maluco que quer destruir o mundo.
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