Capítulo 25 - O enigma de Artmeck
— O que é você? — perguntou Frank, apontando a faca em sua direção.
— Cadê seus modos, garoto? — questionou aquele ser bizarro, mexendo a abertura do baú como uma boca, enquanto que sua língua se mexia a todo instante, muitas vezes soltando gotas de saliva para todos os lados. — Meu nome é Artmeck, um ser da raça mímico, muito antigo, criado por um mago que dominava a arte dos enigmas e mistérios de todo o universo. Estou esquecido nessa caverna há muitos anos, aguardando o retorno de meu amo e, enquanto o espero, conheço guerreiros corajosos que se aventuram por essas cavernas malditas, além, é claro, das criaturas das trevas que vocês nem ousariam enfrentar.
Frank não parava de olhar para sua boca cheia de grandes dentes. Já viram de tudo naquele lugar, mas nada comparado a isso. Barbara, que estava agora ao seu lado, também não conseguia tirar os olhos daquela criatura.
— Me conte o que está acontecendo aqui, por favor. Como eu posso quebrar o encanto de meus amigos? — perguntou Frank, saindo do transe em que estiveram, enquanto olhavam para a criatura sem ao menos conseguirem desviar seus olhos.
— Isso é um feitiço de encantamento, uma das magias derivadas do elemento água. Nada mais do que um ilusionismo criado para deixar-lhes relaxados e retirar suas preocupações com o mundo exterior. Geralmente, quem domina esse elemento consegue criar um ambiente relaxante para uma recuperação mais rápida de alguma enfermidade, tanto física quanto espiritual.
— Mas quem está por trás disso? — perguntou o garoto curioso e ao mesmo tempo receoso.
— Como eu disse, isso é uma magia elementar e só pode ser realizada por uma pessoa que a domina e, pelo que vi até agora, não é o caso de vocês, meros humanos.
— Então só pode ser coisa daquele general elemental da água que ouvimos — pensou Barbara em voz alta. — Não sabemos de mais nenhum ser capaz de dominar qualquer tipo de elemento da natureza.
— Verdade, Bah. Se for ele, então, precisaremos acordar o pessoal e juntar a equipe para estarmos com força máxima. Pelo jeito, ele deve estar bem próximo.
— Posso te fazer uma pergunta? — questionou Barbara para o velho baú errante.
— Sim, claro. Qualquer coisa para uma menina tão linda quanto você — disse aquele velho baú, passando sua língua babenta por todos os lados de sua monstruosa boca.
— Como fazemos para derrotar um ser tão poderoso quanto esse general? — perguntou Barbara sem prestar atenção àquela repulsiva cena.
— Esse general que vocês se referem é um ser mágico evocado das profundezas das águas geladas do pacífico. Ele é um guerreiro elemental da água, especialista em combate e ao menos que vocês tenham poderes mágicos e sejam peritos na arte de guerrear, que eu duvido muito, caiam fora antes de serem mortos — disse aquele ser com toda arrogância que lhe cabia.
— Mas na hipótese de termos que enfrentarmos esse monstro, como poderíamos vencer?
— A pergunta correta é: como vencer a água? — retrucou o baú humanoide.
— Como? — questionou Frank.
— Vocês já sabem a resposta — ponderou Artmeck.
Os garotos ficaram pensativos e não conseguiam chegar em nenhuma conclusão. Enfim, cansados de pensar, mudaram de assunto.
— O que tem dentro de você? — questionou Frank curioso.
— Há alguns anos, uma pessoa guardou dentro de mim a lendária pedra transmorfa.
— Pedra transmorfa?
— Sim, é um artigo mágico, muito raro, que tem a capacidade de se transformar no desejo mais profundo daquele que a tocar. Há pouquíssimas pedras dessas na terra e, por coincidência, aqui nessa caverna existem duas, uma presa entre grandes rochas em algum lugar por aí e a outra dentro de mim, bem guardada e segura como só eu posso mantê-la.
— Podemos dar uma olhada? — perguntaram Frank e Barbara.
— Claro que não. Esqueceram que eu sou um discípulo de um grande mestre das charadas? A pessoa que me incumbiu de protegê-la por esses anos, disse que alguém só poderia abrir meu baú se conseguisse descobrir a resposta do grande enigma e somente alguém sábio conseguirá desvendar. Claro que não é o caso de você — disse Artmeck medindo Frank dos pés à cabeça.
— Você não está entendendo. Se essa pedra tem o poder de se transformar naquilo que mais estamos desejando é a grande chance de vencermos a criatura, pois o que eu mais quero agora é pôr um fim nisso tudo, portanto, me entregue a pedra, por favor — insistiu Frank.
— Não estou aqui pra fazer caridade, garoto. Descubra o enigma e eu lhe abrirei meu baú.
— E no caso de eu errar, o que acontece?
— Lhes darei três chances para descobrir. Se não acertarem, eu trancarei meu baú por mais alguns bons anos, aguardando o prometido guerreiro que retirará isso de dentro de mim.
Frank olhou para Barbara que assentiu com a cabeça, afirmando que conseguiriam desvendar o enigma proposto por Artmeck.
— Pode mandar, velho baú!
— Você me parece muito confiante, jovem rapaz, mas você não me passa de um serzinho arrogante. Quero ver se irá continuar assim após ouvir o que tenho a dizer. Saiba que há pouco tempo um outro viajante, mais experiente que vocês, se aventurou por essas bandas e nem sequer colocou os olhos em meu tesouro. E você acredita que será capaz? — disse Artmeck, rindo sarcasticamente. — Ouçam atentamente e não se esqueçam, vocês têm apenas três chances e depois já era.
— Ok, estamos aguardando.
— Em lagos infindáveis zarparam altivos, bravos e triunfantes homens! — proferiu a antiga criatura pausadamente e com uma voz dura.
— Quê? — reagiu Frank sem saber o que dizer.
Barbara repetia a frase para si mesma diversas vezes, mas não conseguia chegar a uma solução. Tentava colocar pra funcionar seu incrível raciocínio lógico, mas não era a mesma sem Walter por perto. Os três juntos formavam o Esquadrão Fantástico e não havia enigma páreo para esse trio. Agora se encontrava ali, à beira da morte, precisando desvendar aquela charada para continuar viva, mesmo Walter tendo partido desse mundo.
Ela começava a separar palavra por palavra, tentando algum tipo de anagrama ou algum padrão, mas nada encontrou. Buscou em seu livro de simbologia algo que pudesse ajudar, entretanto não concluía seus pensamentos. Frank, sem paciência, foi acordar seus amigos para tentarem ajudar nessa novidade que surgira. Chegou próximo de Jason e o chamou, puxou pelo braço, jogou até um pouco de água em seu rosto, porém nada aconteceu.
Lembrou-se então das palavras de Artmeck, que diziam que isso era uma mágica do elemento água e sacou a metade da pedra em seu bolso. Colocou-a em frente aos olhos de Jason, que se protegeu como se algo o cegasse, mas para Frank nada tinha acontecido. Então, Jason foi abrindo seus olhos devagar e recuperando sua visão. Viu seu amigo em sua frente em volta de pedras e uma luz fraca, bem diferente de onde estava minutos antes.
— Bem vindo, chefe! — caçoou Frank, trazendo Jason à realidade.
— Já sei, estive sob efeito de magia, certo?
— Sim, parece que alguém estava zombando com nossa cara — disse o garoto.
— Não acredito que tenha sido isso, Frank. Me sinto ótimo e com as energias recuperadas. Se alguém estiver por trás disso, não acredito que seja maligno.
— Agora que você diz, eu percebi que também não tenho mais fome e nem sono. Parece que estive em um banquete — reagiu o rapaz sorrindo para seu amigo. — Conhecemos alguém que você também precisa conhecer. Talvez conseguiremos ajuda para acabar com a maldade aqui.
— Então, vamos a ele.
— Antes, precisamos acordar os outros que ainda acreditam estarem no paraíso — disse Frank se dirigindo até Pedro que estava comendo tudo o que via pela frente, ou imaginava estar, já que era só vento que ele comia e também foram ao encontro de Luiz e Emily, que brincavam no riacho fantasioso.
Depois de tudo explicado e já acordados daquele sonho maravilhoso, foram ao encontro do grande Artmeck.
— Vejo que vocês são pessoas boas e fome eu tenho por muitos anos sem comer — dizia o baú enigmático, enquanto chegavam Emily e Luiz.
— Ainda temos um pouco de comida em minha mochila, senhor. Acho que podemos lhe dar um pouco — disse Emmy, abrindo-a, seguindo de uma cara de espanto. — Não tem mais nada aqui!
— Parece que Pedro devorou o restante de comida que tinha aí — disse Frank, se colocando a rir um pouco da situação embaraçosa em que o garoto se metia. — Mas ele estava sob efeito de magia, coitado.
— Desculpe-me, pessoal. Não sabia o que estava fazendo. Jamais comeria tudo sem ao menos dividir com vocês.
— Ainda tenho fome, muita fome. Não tem mais ninguém que queira me oferecer algo? Sinto cheiro de bolo.
— Bolo? — disse Emmy espantada. — Não tínhamos bolo em nossa mochila de mantimentos.
— Sim, estou sentindo um aroma de algo doce, feito com farinha e assado. Posso afirmar que o cheiro ainda está delicioso. Se não me derem esse pedaço de bolo, vou me trancar e não lhes darei mais a oportunidade de descobrir o enigma e pegar a pedra transmorfa.
Foi então que Barbara se lembrou de algo que até aquele momento não tinha sequer percebido. Na correria em encontrar Frank no aeroporto para ir com ele na maluca viagem, embrulhou correndo um pedaço do delicioso bolo de frutas, feito por sua mãe Rose Bell, em um filme plástico e o colocou no bolso lateral de sua mochila, sem se lembrar de comê-lo durante sua jornada. Retirou correndo sua mochila das costas, abriu o bolso lateral e, para sua surpresa, o bolo ainda estava intacto, um pouco amassado, mas ainda prevalecia o aroma doce e aveludado com toques cítricos.
— Era isso ao que você se referia? — disse Barbara, retirando o papel filme e oferecendo ao baú semi-humano. — Pode ficar com ele!
Artmeck abriu a boca de modo que Barbara conseguiu ver um pedaço da lendária pedra em seu interior. A garota depositou o pedaço de bolo em sua enorme língua que, com um solavanco, jogou-o para dentro de sua boca. O ser mastigou, degustou e agradeceu pela simpatia da menina, que acabou acariciando-o com uma de suas mãos.
— Eu sou o grande Artmeck, e para sempre serei seu aliado, menina Barbara. Foi o melhor bolo que já comi na vida, e olha que não foram poucos, mesmo estando aqui nessa caverna distante. Muitas pessoas já passaram por mim, inclusive seu pai, Frank, mas nunca me deram algo tão saboroso.
— Papai esteve aqui?
— Sim, mas não pude conversar com ele. Ele meio que estava ocupado demais para me dar atenção.
— Como assim? — perguntou o garoto.
— Parece que travou uma briga feia com um dos escravos do grande mago Arasgain e depois disso nunca mais o vi.
— O que aconteceu com ele?
— Não sei, garoto. Ele simplesmente desapareceu.
— Você sabe o que procurava?
— Nunca me disse, mas era bastante claro que estava convicto que encontraria o que buscava.
Frank sentou-se pensativo ao lado de Barbara, encostando sua cabeça no ombro da garota.
— Meu pai esteve aqui e desapareceu. Será que procurava a outra metade da pedra azul? Mas essa metade está comigo, será que nunca encontrou a outra?
— Por ora, acho melhor focarmos no enigma, Frank, pois é somente descobrindo ele que conseguiremos vencer a criatura à frente e então encontrar seu pai.
— Verdade. Bom, "Em lagos infindáveis zarparam altivos, bravos e triunfantes homens", um dos lagos infindáveis que eu conheço é o Lago Ness que fica nos highlands da Escócia, e de lá zarparam homens orgulhosos, bravos e triunfantes, então só podem estar falando dos Vikings.
— Eu já imaginava que você não seria capaz de descobrir, garoto. A resposta está incorreta! Você ainda possui mais duas chances e depois irei voltar aos meus aposentos.
— Os vikings eram escandinavos e viviam nas terras nórdicas, Dinamarca, Suécia, e Noruega, passando pela Alemanha, Finlândia e Islândia. Não eram da Escócia — disse Barbara.
— Não pode ser... Precisamos pensar mais então. Se meu avô estivesse aqui com a gente, seria muito mais fácil — disse Frank antes de soltar um grito de desespero ao ouvir um zumbido passar próximo de sua cabeça, se apressando a colocar-se em posição de ataque. Viu uma faca caída próxima a ele, tomando-a para si e se pondo a gritar:
— Vamos logo, pessoal. Parece que não estamos sozinhos.
Olharam ao redor e viram muitos monstros, daqueles que enfrentaram anteriormente, à frente, próximo de onde deveria ser uma cachoeira imponente. Dava para contar um grupo de dez monstros.
— Meninos, vocês tentam desvendar essa charada enquanto nós damos cabo desses seres — ordenou Jason.
Barbara e Frank estavam com a cabeça funcionando a mil, desviando apenas a atenção para se esquivarem de um dos ataques das criaturas. Depois de algum tempo, com a mente voltada ainda para a charada que o baú ambulante havia proposto, trocaram mais algumas palavras até chegarem a uma conclusão. Voltaram até onde Artmeck estava e estabeleceram mais uma conversa com o ancião:
— Lago infindável significa que não tem fim. Então, a única coisa infindável com água em nosso planeta são os oceanos, logo altivos, bravos e triunfantes homens que zarparam dos oceanos só pode se referir a Era dos Descobrimentos, onde o mais famoso e um dos mais importantes exploradores foi o italiano Cristóvão Colombo, pela descoberta das américas.
— Essa é sua resposta? — perguntou Artmeck.
— Sim, Cristóvão Colombo — disse o garoto olhando para o chão já imaginando pelo pior.
— Ha ha ha... — riu Artmeck da cara de Frank. — Infelizmente essa não é a palavra correta. Vocês têm apenas mais uma chance. Ouviram bem? Só mais uma mísera chance.
Frank foi tomado por um desespero e, com todas as suas forças, atacou um ser asqueroso que apareceu próximos a eles com a intenção de acertar Barbara com uma faca. Precisava focar na resposta correta, mas antes tinha que ajudar seus amigos, que estavam passando por sufoco com aquela quantidade de monstros. O garoto saiu correndo em direção ao grupo, se colocando ao lado de Jason para combatê-los.
Estavam prestes a vencer essa batalha, quando um dos seres passou por entre o grupo e foi em direção de Barbara, empunhando sua faca com o braço direito esticado.
— Crick crick, será seu fim, garota! Crick, crick.
O monstro correu prestes a dar um forte golpe com seu punhal contra Barbara, quando teve seu braço arrancado, caindo ao chão próximo de seu corpo, que estremecia por inteiro. Barbara abriu seus olhos e viu Artmeck cuspindo um pouco de sangue daquela lagartixa humana e abrindo um sorriso para ela.
— Você me salvou!
— Claro que sim. Tenho uma dívida eterna com você, minha doce menina, que me proporcionou o melhor bolo da minha vida.
— Deixa minha mãe ficar sabendo que você elogiou o bolo dela — riu a garota.
— Elogiei nada, não há adjetivos que descrevam o quanto incrível foi essa experiência. Além disso, seria um enorme prazer conhecer a pessoa com mãos de fada.
Artmeck conseguiu arrancar um leve sorriso do rosto de Barbara.
— Já que você gostou tanto de meu bolo, e diz ter uma dívida eterna comigo, não poderia apenas nos dar essa lendária pedra? Me ajudaria muito.
— Infelizmente não posso, querida ama. Minha fidelidade com quem guardou esse objeto dentro de mim é maior que minha própria existência. Não há meios de retirar daqui de dentro sem responder ao enigma. Nem que eu morra é possível arrancá-lo.
— Entendo. Então, vou pensar um pouco mais — disse a garota vendo o último ser cair ao chão perante a espada que Jason empunhara, proveniente de outra criatura que deveria ter derrubado ao ser atingida.
— Tenho certeza que achará a resposta correta, pequena Barbara.
O silêncio voltou a reinar, mas por pouco tempo. Logo ouviu-se um alto estalo e passos de alguém que estava atravessando a cachoeira. Todos se viraram para encontrar dois seres pouco convidativos.
Um bem alto, todo coberto por uma pele azulada com detalhes brancos, como se estivesse trajando roupas militares feitas de água do mar. Seus olhos, também azuis, lembravam as águas do pacífico, mas seu semblante de pacífico não tinha nada. Com um ar imponente, andava a passos curtos, carregando uma espada que lhes parecia ser de água congelada. A outra pessoa que caminhava ao seu lado, o grupo já conhecia bem. Um rapaz de meia altura, de cabelos loiros e olhos verdes e que emanava uma maldade e insolência que transbordava de seu pequeno e magro corpo.
— Olha só quem chegou! — disse Mark com ar arrogante de superioridade.
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