Capítulo 24 - Thomas S. Wolf
O deslizamento causado pela curiosidade de Thomas separou novamente o grupo, deixando para trás o já debilitado Erik. Os oficiais tentaram de todas as maneiras retirarem as pedras de cima de Smith, mas eram pesadas demais para o enfraquecido batalhão. Dos doze militares que adentraram a caverna, a metade já não voltaria para suas famílias. O general já imaginava a repercussão negativa que essa história daria para suas carreiras, incluindo os aborrecimentos que teriam que lidar ao reportar os contratempos que tiveram para os outros países que compunham o Conselho de Segurança da ONU.
"Agora não era hora para isso" — pensou o general, que precisava resgatar seu amigo por detrás dos escombros que o separavam do restante dos seus homens. Subiu nas rochas empilhadas, procurando alguma que estivesse solta o bastante para rolar e abrir qualquer passagem, mesmo que pequena, para então tentar forçar as outras pedras.
Procuraram por um bom tempo, se perdendo entre esforços e pensamentos, a fim de resgatar o oficial de três estrelas. O general gritava por Erik, mas este não respondia. Então o chão voltou a tremer novamente com tamanha força que algumas rochas e pedaços de estalactites que haviam caído durante o terremoto se desprenderam e, não fosse pela agilidade dos oficiais, os teriam esmagados.
Com o deslizamento, um buraco se abriu no alto, de tamanho suficiente para a passagem de um homem. O capitão Williams ordenou que dois de seus homens que tinham sobrevivido a derrocada atravessassem aquela fissura e resgatassem o tenente-general Erik Morgan. O soldado Scott e o sargento Lopez, ainda abalados com a recente morte do soldado Smith, assentiram com uma continência e se dispuseram a avançar até o buraco criado pela estranha força que ocorrera após Thomas Wolf enfiar sua mão naquele vão brilhante em busca de aplacar sua cobiça.
Os militares subiram rocha a rocha, com o receio de ocorrer mais desmoronamentos até chegarem à fenda, onde atravessaram para o outro lado. Longos minutos passaram e nenhum sinal dos três homens. O general já esperava pela notícia de que seu melhor amigo havia ido dessa para melhor. Culpou-se por exigir que Erik lhe acompanhasse nessa missão suicida, pensando apenas nas glórias e ainda mais reconhecimento que ganhariam se colocassem um fim naquelas ondas eletromagnéticas que assolavam o planeta ultimamente, sequer imaginando que colocaria o compadre de seu filho mais velho em perigo iminente.
Thomas não aguentava mais esperar, socando uma das pedras à sua frente. Por ele, deviam continuar a jornada, abandonando o moribundo em sua própria cova, não querendo assumir sua responsabilidade pelo acontecido.
— Parece que não estão encontrando o corpo do tenente-general, senhor.
— Isso tudo é culpa sua, contra-almirante Wolf! — gritou George Nelson com lágrimas em seus olhos. — Se não fosse essa sua eterna sede por vingança, não teríamos descido por aqueles penhascos infindáveis, tampouco ninguém haveria morrido. Em suas mãos tem o sangue de sete oficiais, entre eles, meu querido amigo, Erik Morgan.
— Isso não é apenas uma mera vingança, general. Tem algo muito estranho acontecendo aqui nessa catacumba e vamos descobrir juntos.
— Não me venha com essa, Thomas. Eu sei muito bem dos podres que acontecem com você nessa ilha e em toda sua carreira militar. Se você acredita que sua ascensão tem a ver com um bom trabalho que está exercendo, pode ter certeza que não é bem assim. O senhor só está onde está por ser filho de Todd Wolf, um nobre homem que morreu salvando minha vida na grande guerra.
"Lembro-me como se fosse hoje. Um dos inimigos havia se infiltrado em nossa base acertando em meu ombro esquerdo um disparo de raspão. Caí de dor enquanto o sangue escorria lentamente para fora de meu corpo.
"O inimigo então levantou novamente sua arma para dar o tiro de misericórdia quando seu pai se jogou à frente, recebendo a bala em meu lugar. O projétil acertou uma artéria que o fez jorrar sangue sem parar. Um dos soldados que lá estava acertou o inimigo que tombou ao lado.
"Eu apertava contra o peito de Todd para reduzir a hemorragia, mas a pressão era enorme e o fluxo contínuo. Então seu pai agarrou um dos meus braços e puxou meu rosto em direção aos olhos dele. Já sem forças, com a boca trêmula, pronunciou as seguintes palavras: essa dívida você pagará ao meu filho".
Thomas se remexia enfurecido enquanto ouvia aquelas palavras duras ao seu respeito.
— Assim que voltamos a salvo, não custou encontrar o filho do herói Todd Wolf, que já cursava o ensino militar na Califórnia. Você era um jovem rapaz que almejava grandes façanhas, além de querer conquistar seu espaço entre o alto escalão militar.
"Foi então que, ao concluir seus estudos e tornar-se tenente, eu consegui com que servisse no meu grupamento, acompanhando de perto seus passos, estes que muitas vezes não eram corretos, fazendo com que me questionasse se realmente aquela dívida já não teria sido paga, mas sempre concluía que Todd merecia mais e que você ainda tomaria um rumo na vida.
"Com o passar do tempo, lhe promovi a major e vi a cada dia suas atitudes irem ao contrário às minhas. A pressão estava ficando forte, pois me questionavam o porquê de você estar crescendo na hierarquia, enquanto muitos oficiais de caráter incontestável eram subordinados seus, ou então dispensados de seus serviços.
"Foi então que resolvi lhe mandar para longe de nossa base, lhe oferecendo uma rápida ascensão em sua carreira, dando-lhe a oportunidade de chegar ao cargo mais alto da marinha americana, tornando-se almirante de quatro estrelas. Mas claro que isso nunca ocorreu, pois você foi ficando cada vez mais perverso, pensando apenas em sua promoção pra ter ainda mais poder sobre as pessoas, sempre pisando em quem estava abaixo de você.
"Depois, veio aquele episódio do assalto às cavernas da região aqui das Ilhas Marianas onde o senhor colocou em risco toda uma operação, deixando escapar o principal suspeito. Por conta disso e outras coisas, nunca permiti que chegasse ao poder que sempre almejou."
Thomas Wolf, ao ouvir o intimidador relato do general, sentiu seu sangue ferver. Não era justo, depois de tudo o que fez pela marinha, saber que sua carreira havia estagnado por conta de um capricho de um velho idiota que se gabava e se achava superior por ter se tornado general dos Estados Unidos. Disse para si mesmo que isso não ficaria assim e sua vingança agora tinha mais uma vítima e não estaria completa se, além de pegar o cretino do Douglas Payne, não desmoralizasse e acabasse com a raça de seu antigo mentor, o general George Nelson.
Ouviram-se então pequenos pedregulhos deslizando da montanha de rochas, revelando três pessoas atravessando a fissura que os separava do outro lado. O general abriu um sorriso ao ver que seu amigo Erik continuava vivo, mas logo desfez o gesto ao tentar abraçá-lo e perceber que sua saúde estava cada vez mais frágil.
— Vamos embora finalizar essa missão e colocar na prisão o verdadeiro responsável por tudo isso — disse o contra-almirante. — A qualquer momento, pode haver outro desmoronamento e não quero ter que velar seu corpo, general Nelson — aconselhou Thomas ao som de uma ameaça.
Erik Morgan estava com o rosto esfolado, o corpo ensanguentado, suas pernas já não respondiam aos seus pensamentos, mas ainda tinha vida naquela carcaça cadavérica. George Nelson temia alguma nova investida contra seu amigo, pois este não aguentaria mais qualquer tipo de contra-ataque, se colocando à frente do tenente-general para protegê-lo de qualquer agressão.
Caminharam em direção contrária ao deslizamento, atravessando diversos escombros no meio daquele salão escuro, colidindo por várias vezes nas pedras que estavam no caminho do batalhão. Erik já não tinha forças para continuar e o soldado Scott e o general o pegaram pelos braços, o levando o mais longe possível daquele lugar. Caminharam desse jeito por mais de duas horas até chegarem a uma câmara pouco iluminada pelos benditos insetos.
Queriam acender alguma tocha, mas não tinham algo para segurá-la. O tenente Lopez enrolou um pedaço da camiseta que rasgou em sua faca e acendeu uma chama, fazendo uma tocha improvisada, mas sabia que o fogo consumiria logo o tecido, voltando em alguns minutos àquela escuridão.
Percorreram um trajeto mais limpo e aceleraram o passo, na medida do possível, até chegar próximo de uma poça de água proveniente de algumas estalactites ao redor. Encostaram Erik em uma rocha, de modo que pudesse descansar algum tempo, e enquanto o soldado Scott foi encher alguns cantis com a água cristalina, o capitão Williams retirou de sua mochila algumas provisões, como barras de proteínas, castanhas, embutidos e frutas secas.
O general George Nelson ficou responsável de cuidar de seu amigo Erik e lhe forneceu o alimento, levando pequenos pedaços do que parecia ser uma mortadela à sua boca e lhe ofertando água. Sacou um sachê repositor energético da mochila e colocou na boca de seu amigo, que sorveu o líquido até o final, aliviando um pouco a fadiga.
Erik sentia muita dor e precisava urgentemente de um analgésico, mas para azar do tenente-general, o kit de primeiros socorros estava sendo carregado pelo soldado Hoover, que caiu no precipício junto com sua mochila, ao enfrentarem aquela maldita criatura estranguladora e seus chicotes.
Agora precisava mais do que nunca das técnicas e treinamentos militares, que teve durante todos esses anos, sobre o controle da mente para aliviar as dores físicas. Foi em um desses atos de dores alucinantes, que um grito ecoou por toda a caverna, refletindo um barulho próximo a eles que ninguém ainda havia escutado, com exceção de Erik, que já imaginava o pesadelo que estava prestes a presenciar novamente.
A estalactite acima de suas cabeças parecia desmoronar, assustando quem estava atento ao movimento de uma terrível criatura, que se disfarçava muito bem, à espreita de seu distraído alimento. O monstro que lembrava um manto negro, de olhos vermelhos e tentáculos compridos, desceu a uma velocidade tão alta ao solo que não deu tempo de o tenente Lopez reagir ao ataque, sendo agarrado pelo bicho que lhes parecia uma mistura de uma lula gigante e um morcego.
Do mesmo modo que ele desceu, voltou para o alto da gruta se esgueirando por algumas estalactites ali presentes. Tiros atravessaram o teto da caverna, não acertando o animal, sendo ele muito ágil, se desviando das balas que passavam próximas e se camuflando sem ser identificado. O tenente bem que tentou o máximo que pôde para se desvencilhar daquele abraço mortal, mas nada pôde fazer, suas costelas se quebraram no primeiro aperto do bicho e foi levado para longe dos outros militares.
Olharam para todos os lados e não encontraram mais rastros do enorme animal de oito tentáculos, tampouco seu ruído. "Ele escapou levando um de meus homens!", foi o que pensou o general junto de um palavrão. Por fim entenderam o que Erik havia lhes dito todo esse tempo, essa caverna era bizarra, muito bizarra, e George Nelson não queria mais continuar ali, no entanto, não tinham para onde ir. Já haviam entrado a fundo naquele covil e agora era tarde pra desistir e voltar.
Guardaram correndo os mantimentos na mochila do capitão, recarregaram seus fuzis de assalto, semiautomáticas e metralhadoras, caso tivessem que enfrentar novamente outro ser daqueles. Evitaram até o momento o uso de granadas, uma vez que qualquer explosão poderia ocasionar um desmoronamento, soterrando os integrantes da campanha. Novamente, o soldado Scott junto do general Nelson carregaram Erik pelos braços e cintura, de modo que pudessem caminhar com certa pressa e sair daquela fúnebre galeria, mas nem tinham percorrido ainda dez metros quando ouviram vozes e passos vindo em suas direções.
Tentaram de todas as maneiras esconderem-se quando perceberam estar cercados por quatro malditos seres repugnantes. Três deles pareciam com um peixe ou algum tipo de criatura aquática, pois tinham rabos compridos e pele gosmenta e escorregadia, mas estavam eretos como se caminhassem sobre duas patas. O outro parecia um ogro hediondo segurando em sua mão um machado de pedra que parecia estar bem pesado.
Notaram que este era cego dos dois olhos, todavia tinha seu ouvido bem apurado, foi o que constataram com a aproximação deste ao grupo. O ser repulsivo veio correndo, agitando seu machado, passando muito perto da cabeça de Thomas, que conseguiu esquivar-se devido ao empurrão que o capitão Williams lhe deu, salvando sua pele. Novamente rajadas de tiros rompiam o silêncio daquela tumba de pedras, derrubando um dos três homens-peixes que estava iniciando uma investida contra eles. Dessa vez, não haviam sido surpreendidos, conseguindo defender-se, contra-atacando os novos monstros que apareceram. O capitão Williams e o almirante Thomas seguravam o dedo no gatilho de suas pistolas sem dó, na tentativa frustrante de derrubar o restante da anomalia.
Mais um deles havia caído sob a arma de fogo do homem, enquanto um outro se jogou como pôde para o lado, de modo que conseguiu desviar dos projéteis proferidos. Enquanto atiravam contra aqueles seres nada simpáticos, não haviam se dado conta de que o ogro cego apareceu por detrás do capitão Williams, atravessando seu machado contra as costas do oficial, desferindo diversos golpes não dando chances de se defender. Thomas, que estava próximo, travou uma batalha solo atirando à queima roupa com sua submetralhadora AR-57 no peito do monstro, que, com o choque das balas, não resistiu, caindo à sua direita, na sequência da morte do companheiro.
Agora tinha sobrado apenas mais um dos homens-peixes, este se escondeu para não ser morto como as outras aberrações. Procuraram por toda parte, mas o ambiente pouco iluminado prejudicava as buscas do ser maligno, que acreditaram ter fugido durante a saraivada de balas da arma de fogo do contra-almirante. Resolveram carregar Erik para fugirem dali o mais rápido possível.
— Vamos, Erik, temos que dar o fora daqui — disse George.
— Agora você entende o que te falei, meu amigo. Estamos no meio do inferno! — proferiu o tenente-general. — Creio que morremos naquele abismo ao entrarmos na caverna e esse está sendo nossa tortura astral, com todos esses seres estranhos.
— Não digam bobagens e vamos logo, pois não quero acabar na barriga de um desses animais — bradou Thomas com uma ponta de medo.
Os homens a contragosto marcharam alguns poucos metros quando foram submetidos a um novo ataque. Dessa vez, uma faca bateu com força em uma grande rocha à frente do almirante, quase que acertando seu rosto, que imediatamente virou-se na direção do ataque sem conseguir ver quem arremessou o objeto.
Thomas apertou seus olhos para enxergar melhor na escuridão, enquanto que George e Scott cuidavam de Erik, cobrindo qualquer ataque que viesse pela frente. Esse foi o grande erro cometido pelos oficiais de elite do exército americano, não percebendo que seu inimigo já não estava na posição da origem do disparo da adaga e sim por trás dos oficiais, conseguindo esse feito, se aproveitando da habilidade de enxergar muito melhor em ambientes mais escuros do que os seres humanos, e da destreza em se movimentar sem fazer barulhos.
Erik, que havia ficado por trás de seus escudeiros, foi o primeiro a ver o vulto de um monstro se apresentando sedento por carne humana. Aproximou-se lentamente, enquanto o tenente-general tentava de todas as maneiras gritar por ajuda, mas parecia que algum sentimento estranho dominou sua mente, desejando sua morte ali mesmo e o calando à medida que o animal chegava cada vez mais perto, pronto para dar o bote certeiro.
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