Capítulo 18 - Erik Morgan
Ainda com o corpo trêmulo, Erik continuou a caminhar para se afastar o máximo possível daquelas ramificações que insistiam povoar a galeria em que estavam. A todo momento, um oficial vinha lhe perguntar se precisava de ajuda para andar, mas ele foi relutante, não queria demonstrar fraqueza aos seus subordinados. Percorreram por algum tempo a selva de pedras pouco iluminada por um tipo de inseto que havia pendurado no teto.
Quanto mais avançavam, maior a quantidade de insetos povoava o ambiente, fazendo com que parecessem que haviam acendido pares de lâmpadas. Foi então que perceberam que seus equipamentos haviam desligado. Nada eletrônico funcionava mais, lanternas, relógios, tampouco celulares, como se algo ali houvesse drenado a energia dos dispositivos. Estavam na forma em que a caverna se apresentava, natural e selvagem.
Caminharam mais alguns metros quando se depararam com uma ponte estreita acima de um desfiladeiro escuro. Exaustos, resolveram parar um pouco para averiguar se atravessariam ou não essa ponte de pedras. Procuraram ao redor outras formas de passarem para o outro lado, mas não existia nada, apenas rochas, cascalhos, pedregulhos e outras artes cavernosas criadas pelo tempo e calcário. Do outro lado da ponte, havia pouca iluminação, indicando um caminho à frente. A fenda deveria ter uns oito metros de extensão cobrindo toda a largura da galeria, portanto, não tinham como fugir, era atravessar ou voltar o caminho inteiro até onde se separaram, porém o destino se encarregou de fazer a escolha para os militares.
Um dos soldados que estava fazendo a verificação do lugar se ancorou apoiando suas costas em uma estalagmite de uns três metros de altura que crescia forte do solo para cima, quando foi surpreendido por chicotes saindo de dentro da precipitação de calcário. O soldado foi agarrado por quatro das seis tiras de tentáculos da rocha disfarçada, revelando uma enorme boca cheia de dentes pontiagudos.
A criatura asquerosa começou a puxar o soldado para próximo de sua boca a fim de rasgar sua carne a dentadas com sua poderosa mandíbula. Porém, ao abrir a enorme e assombrosa boca, sentiu uma forte dor e percebeu que dois chicotes que prendiam o militar foram cortados por uma faca empunhada pelo capitão que chegara correndo ao ouvir os gritos dos soldados. Os outros dois chicotes que estavam livres tentaram agarrar o oficial que o atacara, mas este conseguiu se esquivar se atirando novamente contra os outros tentáculos que ainda agarravam com força o soldado prestes a receber uma forte mordida, que com certeza arrancaria parte de sua cabeça. Sentindo o calor do mal hálito vindo daquele ser bizarro, o soldado tentava de todas as maneiras se desvencilhar daquele abraço mortal quando sentiu, de raspão, uma lâmina cortar seu braço e arrancar o chicote maligno que o prendia, caindo ao chão com tudo.
O capitão Madison abaixou com destreza e apoiou o soldado entre seus braços, levantando-o. Gritou para os demais correrem em direção à ponte para atravessarem a fim de se salvarem daquela criatura asquerosa. Os seis obedeceram, acelerando o máximo possível para alcançarem o outro lado do precipício, e se livrarem daquele monstro rochoso. Faltavam poucos metros para estarem a salvos, quando o oficial que carregara seu subordinado sentiu um tranco vindo por trás deles, agarrando-o com força. Não se deu conta de que aqueles tentáculos poderiam se regenerar rapidamente e o quanto eram compridos, medindo próximo de dez metros de comprimento ou até mesmo mais.
O monstro estrangulador agarrou o capitão pelo pescoço puxando-o com uma força extraordinária, atirando o soldado ao seu lado para o profundo precipício, sem chances de se salvar. Os outros oficiais iniciaram uma saraivada de tiros vindo de suas potentes armas na expectativa de conseguir parar o monstro, mas isso não o impediu de continuar com seu diabólico plano de devorar carne humana que há muitos anos não comia.
Madison estava sendo arrastado com velocidade batendo a cabeça nas diversas pedras e rochedos no caminho chegando quase sem vida à enorme boca da criatura asquerosa, que o devorou por inteiro. Oliver e o que sobrou da equipe agarraram o tenente-general pelos braços e correram sem olhar para trás, atravessando a ponte em direção ao caminho que haviam visto anteriormente, só parando quando estes já estavam cansados da maratona obrigatória, entrando naquele buraco escuro dentro da rocha no final da ponte mortal.
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— O que foi isso? Os senhores ouviram também tiros vindo ao longe? — perguntou general Nelson, surpreendido.
— Sim, e foram muitos. Parece que os outros oficiais estão com algumas dificuldades — salientou o Thomas.
— Voltaremos para ajudá-los — ordenou George Nelson.
— Não, general Nelson. Continuaremos nosso caminho. Eles são fuzileiros navais, tenho certeza que nos encontraremos mais para frente, não importam quais dificuldades tenham passado — indagou Thomas.
O general a contragosto concordou com o contra-almirante, pois não tinha com o que se preocupar. Eram os oficiais mais temidos e habilidosos do mundo, tinham a reputação de serem uma força eficiente e agressiva de combate, principalmente em terrenos hostis e guerras ao redor do planeta. "Uma simples caverna inofensiva como essa não seria suficiente para atrapalhar os militares em sua caminhada", pensou George Nelson. Ele acreditava que deveria ser algum animal como o que tinham visto no início da caverna, porém, pela quantidade de tiros, imaginou que deveria ser dos grandes.
Continuaram a jornada através de uma galeria toda iluminada pelos pequenos seres luminescentes já vistos anteriormente. O salão de pedras, ao brilho dos insetos, parecia uma obra-prima pintada durante o período renascentista. O som da chuva leve e suave cobria o ar daquele espaço lindo, mas pouco convidativo. A água que escorria de um horizonte de estalactites presas ao teto da caverna lembrava como o fim de uma forte garoa, em que pingos grossos e pesados caíam com tudo em um chão de pedregulhos.
As fileiras de baixas estalagmites alinhadas perfeitamente umas às outras, o reflexo das luzes naquele piso alagado que lembravam um céu estrelado e os arcos de rochas que se apresentavam contornando o caminho principal, eram um espetáculo à parte daquele local, mas não para Thomas, que sequer parou um segundo para apreciar o que a natureza vinha lhes presentear. Seu objetivo era apenas um, chegar o mais rápido possível para encontrar aquele que fora o responsável por lhe fazer perder sua promoção. Nem seu filho, sangue de seu sangue, era tão importante para o contra-almirante quanto a oportunidade de concretizar a sua vingança.
— Parem de bobeira e vamos acelerar o passo. Ainda falta muito para alcançarmos aqueles marginais — disse Thomas, andando a passos largos.
O restante do grupo estava reabastecendo seus cantis com água que descia naqueles filtros naturais ricos em cálcio e zarparam para junto do líder subterrâneo para dar-lhes cobertura em um eventual embate. Andaram mais um par de horas, passando por diversas galerias, espremendo-se entre grandes rochas que ocultavam o caminho, em alguns lugares tinham que se abaixar para poderem continuar, pois estalactites gigantescas teimavam em crescer cada vez mais, mesmo em locais que já não havia espaço suficiente.
Ao final de mais algumas horas, chegaram a um abismo infindável, onde não era possível enxergar nada através da imensidão do precipício. Thomas soltou uma pequena pedra para tentar descobrir a profundidade do buraco, mas não ouviram de volta o bater da rocha no fundo. Lançou então uma pedra bem maior, mais pesada e ao que parecia mais sólida, mas ainda assim não foi possível escutar qualquer som de o objeto se chocar, então se sentaram para traçar alguma estratégia.
De acordo com o general, era possível enxergar do outro lado do abismo uma passagem de pedras e o caminho em que seguiam, porém, após um rápido mapeamento do local não encontraram meios de atravessarem a não ser por cordas. A distância deveria ser de aproximadamente uns dez metros, portanto conseguiriam atravessar tranquilamente. Foram treinados para atividades mais difíceis que essa e transpassar um precipício com profundidade infinita era a coisa mais simples que aqueles militares iriam enfrentar naquele dia, com toda a certeza, mas ainda não sabiam disso.
Prepararam os equipamentos para escalada, fincaram no início do precipício muitos ganchos para poderem sustentar a corda com o máximo de segurança possível, atirando em seguida, com uma arma especializada, um arpão que acertaram com sucesso na parede do outro lado da travessia, fincando-o profundamente na sólida rocha, de modo que não soltasse por nada. Apertaram e ajustaram a corda para que não ficasse frouxa e o primeiro soldado foi o escolhido para testar o equipamento, mais leve e mais ágil entre eles, atravessando o desfiladeiro rapidamente, atingindo o outro lado para conferir se tudo estava ok para que os demais atravessassem.
Então seguiu o outro soldado, tenente, capitão, sendo então finalizado pelo general. O almirante dessa vez foi o último a sair, não por temer algo, mas por uma questão de exaustão. Desde que chegaram à caverna, não conseguiu pregar seus olhos nenhum segundo, nem quando pararam horas antes, ou será que já se passaram dias? Não tinha como saber, pois seu relógio e celular haviam parados há muito tempo.
Os oficiais seguiram seus caminhos saindo de vez do abismo sem problema algum, como já era esperado. Continuaram pelo acesso que se observava à frente da equipe e marcharam por mais algum tempo até encontrarem um lugar para descansarem alguns minutos. Sacaram alguns sachês de um líquido escuro viscoso e sugaram todo o conteúdo que havia dentro, sentindo-se melhores após sorver até a última gota daquele energético.
Encostaram-se em algumas rochas que deixavam o ambiente mais escuro, quase invisível para qualquer animal ou ameaça que poderia vir a aparecer e descansaram por aproximadamente uma hora, ou um pouco mais, "talvez tendo dormido mais do que deviam", julgou Thomas no momento em que ouviram passos vindo ao longe. Levantaram-se já com suas armas em mãos, prontos para qualquer necessidade de embate. O barulho constante de pés arrastando os pedregulhos do caminho começava a ficar cada vez mais perto.
O terror invadia a sanidade de alguns que apontavam a arma, prontos para dar o tiro assim que vissem o despontar da cabeça do indivíduo que se aproximava. Então o barulho cessou, e o silêncio se instaurou por algum curto tempo. Ninguém se mexia, imaginando se tratar de alguma emboscada ou coisa parecida, portanto teriam que aguardar o comando de seus superiores para iniciar o ataque.
O general escorregou seu corpo por entre uma rocha à sua frente e enxergou um vulto muito próximo a eles parado a uns dez metros, então ordenou que dois oficiais fossem pela direita, outros dois pela esquerda, enquanto o restante abordaria o intruso pela frente, de modo que encurralassem quem quer que estivesse ali.
Alguns segundos depois todos já estavam em seus postos, apenas aguardando a ordem do general George Nelson, quando este gritou:
— Agora!
Ouviu-se então um grito sob lágrimas pedindo para abortarem a missão.
— Tenente-general Erik, o que faz aqui sozinho? Quase matamos o senhor! Onde estão os demais que deveriam assegurar sua vida? — questionou seu amigo Nelson.
— Estão mortos! — disse uma voz triste e dolorosa de um homem que esteve à frente de muitas guerras e batalhas para proteger seu país, mas que nunca havia vivenciado tamanho horror como o que experimentou naquela caverna amaldiçoada.
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