Capítulo 12 - A Fossa das Marianas
Mark, que havia acabado de derrubar uma lixeira aos chutes, espalhando restos de comidas pelas ruas da Chamorro Village e arrancando gargalhadas de seus amigos e capangas Montanha e Hugodzilla, parou de supetão, se abaixando para não ser visto pelo casal estrangeiro. Sim, eram os mesmos perdedores que o derrubaram no chão espalhando sorvete em toda a sua cara.
"O que fazem aqui, dentro de uma barraca vendendo os artesanatos dos fracassados da tribo de Inarajan? Certeza que aquela insolente da Emily Cruz está ajudando a conhecerem o local. Mas quem são eles? Ou melhor, quem pensam ser se metendo assim em minha ilha?", pensou o garoto.
Pediu para que a dupla de amigos o esperasse ali sem respirar, aliás, que aguardassem por ele ali sem se mexerem, pois era bem provável que os dois patetas parassem de respirar porque havia pedido. Continuou agachado sem se importar pelo o que os outros podiam falar dele e se escondeu próximo da barraca onde pôde ouvir a conversa entre os dois forasteiros.
— Mas, Frank, você tem certeza que aquele caderno que encontrou no submarino era de seu pai? — perguntou Barbara.
— Claro que sim, cada vez eu tenho mais certeza.
— Então era ele mesmo quem esteve aqui na ilha há cinco anos e se envolveu em encrenca com a marinha! Quem diria, seu amado pai julgado como ladrão pelo contra-almirante. Mas, também, com a criação que deu para seu filho, o almirante não deve ser boa pessoa.
— Pois é, mas amanhã vamos tirar nossas conclusões assim que chegarmos naquela fenda. Tenho certeza que meu pai não morreu e lá saberemos a verdade — ponderou Frank. — Sinto que ele ainda está vivo!
— Ainda bem que encontramos esse submarino. Estou tão ansiosa para chegar logo a madrugada e viajarmos até a Fossa das Marianas. Não vejo a hora de conhecer como é o fundo de nosso oceano, principalmente o ponto mais profundo, na depressão Challenger Deep — disse a garota com um brilho nos olhos e um sorriso que deixou o coração de Frank vibrando.
"Hum", — pensou Mark, "Agora tudo faz sentido". Tentou ligar para seu pai para explicar que o filho do ladrão estava em Guam, mas ele já havia partido para sua missão e não devia estar com sinal em seu celular. Resolveu voltar para casa, colocar algumas roupas na mochila, uma lanterna e um cantil, pois iria investigar esse tal submarino que estava em Inarajan e que utilizariam para viajar.
Sabia que a dança dos "pés-ralados", como assim os chamava, deveria terminar por volta das 22h30min e até pegarem todas as suas coisas e chegarem em Inarajan demoraria mais ou menos uma hora, sendo assim teria tempo suficiente para chegar na vila, explorar o submarino e ver se encontrava algumas evidências para incriminar o ladrão e sua gangue, inclusive o povo do sul da ilha, que também deveria estar envolvido com o crime do passado. Imaginou receber as honrarias com a resolução desse caso, quem sabe, enfim, conseguiria provar ao contra-almirante todo seu valor como um futuro oficial da marinha.
Chegou na vila por volta das 23h00, meia-hora antes da previsão da chegada do grupo. Imaginou que um submarino deveria estar escondido próximo à costa onde havia pouca visibilidade para quem estava nas areias da baía e partiu para lá, sem pensar duas vezes. Certamente que estaria lá, entre duas rochas em um píer improvisado.
Viu quando alguns Chamorros trancaram a embarcação e voltaram para a vila. Agora era sua chance, correu até o píer e se inclinou para ver através do vidro da cabine, descobrindo ser um submersível diferente dos que estavam atracados na base naval de Guam. Aliás, se lembrara de um projeto que seu pai havia lhe mostrado muito parecido com o que estava vendo.
Thomas Wolf havia pedido para construir de acordo com o projeto desenvolvido por ele e os engenheiros da marinha americana. Agora tinha certeza, eles roubaram o submarino da marinha e estavam a ponto de fugir, era tudo que precisava para incriminá-los por toda a vida. Sacou seu celular de última geração para tirar fotos da embarcação quando ouviu vozes muito próximas.
Desceu pelo píer, ficando pendurado nas toras de madeira que se fincavam nas areias do mar e aguardou aparecer quem for que fosse. Então, surgiram Frank e Jason carregando algumas caixas e abrindo uma porta de uma espécie de depósito na parte traseira do submarino. Voltaram para o vilarejo, deixando a porta do depósito semiaberta, imaginando que a haviam fechado, não fosse por um pequeno tronco de uma das raízes sagradas de Jason, que tinha caído de uma das caixas carregadas por Frank e ficado entre o batente e a porta da escotilha, impedindo-a de travar.
Essa foi a oportunidade que Mark precisava para adentrar a embarcação e descobrir mais coisas para mandar ao seu pai. Acendeu a lanterna de seu celular, fechou a porta da escotilha, travando-a por dentro, e começou a abrir as caixas que haviam sido perfeitamente encaixadas em um espaço para não se mexerem durante a viagem. O garoto começou a investigar caixa por caixa por mais ou menos uma hora, tirando fotos de tudo o que havia lá, não deixando passar nada. Quanto mais pudesse incriminar esses ladrões melhor seria, já imaginando o perfume e o sabor da fama que conquistaria.
Foi quando viu uma caixa escrita com letras grandes a seguinte palavra de alerta: "Cuidado"! Mark foi tomado de uma curiosidade assombrosa com a certeza que o conteúdo dessa caixa seria seu trunfo, mas ao abrir se deparou com uma linda planta, que tinha em seu caule algumas pequenas flores de coloração branca e traços avermelhados, envolvida em uma redoma de vidro que a protegia.
Deu-se conta de que havia sido colhida recentemente, pois percebeu que suas folhas estavam ainda com uma cor verde bem vibrante. O garoto, pensando que só podia ser coisas desses índios e suas crenças idiotas, jogou tudo no chão, quebrando a cúpula que a preservava e espalhando suas folhas por todos os lados do depósito, não reparando que uma delas havia caído e ficado presa entre seus cabelos.
Passados alguns minutos, Mark sentiu seu corpo estar esgotado, como se algo tivesse sugado sua energia de uma hora para outra, suas pernas começaram a fraquejar, tentou de toda maneira chegar à porta do deposito para sair daquele maldito lugar, mas não tinha forças para abrir a maçaneta. Seus dedos foram escorregando, o seu corpo começou a pesar uma tonelada e suas pálpebras não aguentaram a empreitada, se fechando completamente. Mark caiu ao chão como uma pedra e adormeceu por algumas horas tomado pela toxina utilizada por Jason para ajudá-lo a dormir em dias fortes de insônia.
Então Mark ouviu um barulho muito forte, vindo de alguma coisa próximo a ele. Continuou dormindo imaginando estar em uma guerra ao lado de tropas americanas, comandando um exército inteiro. Ouviu mais um ruído muito forte, dessa vez ao seu lado esquerdo, e seu corpo foi jogado com muita força para o canto, abrindo seus olhos aos pulos. Era o barulho das turbinas do Submarino que o faziam descer para um mergulho por entre as águas do Oceano em uma velocidade monstruosa. Não acreditava que havia dormido e embarcado junto com aquele bando de criminosos para dentro do oceano.
Precisava falar com seu pai, mas estava sem sinal algum, foi quando ouviu da parte da frente do submarino algo que o deixou ainda mais preocupado:
— Conseguimos nos esquivar desse ataque a míssil — gritou Jason feliz, mas ao mesmo tempo preocupado, pois este seria apenas o primeiro.
— Por que estão fazendo isso? — questionou Frank?
— Lembram o que aquele capitão nos falou quando estávamos indo para Rota? Que achavam ter submarinos inimigos na região? Talvez achem isso da gente — argumentou Walter.
Barbara continuou a olhar o radar do submarino para ver o quanto ainda estavam longe do destino do grupo, e concluiu que faltavam duas horas para chegarem à região da Fossa das Marianas.
— Ainda temos muito tempo para navegar, e a essa altura todos já devem estar nos esperando com uma recepção de boas-vindas nada agradável. Precisamos descer ainda mais, abaixo dos seis mil metros, se quisermos passar despercebidos do radar da marinha americana. Nessa profundidade há pouca comunicação e dificilmente nos detectarão.
Em sua cabeça, Mark achava que havia sido sequestrado pela gangue para vingar o que seu pai fizera com o ladrão e por terem descoberto suas intenções e iria morrer daquele jeito, sozinho, no fundo do mar. Foi então que se deu conta de que, se tivesse sido sequestrado estaria amarrado e não solto, e compreendeu que havia entrado nessa sem querer, e que não suspeitavam de sua presença na embarcação, portanto achou melhor não fazer nenhum ruído e pensar em alguma estratégia para sair daquela situação. Se atacasse o grupo, estaria em uma condição desfavorável, pois ainda estava fraco e em menor número. Olhou para algumas folhas no chão, mas não teve coragem de pegar com medo de cair novamente e não acordar mais.
Mandou diversas mensagens no celular de seu pai, com a esperança de que conseguisse se comunicar, mas seu telefone continuava sem sinal e pelo jeito assim ficaria até voltarem à ilha. Não sabia o que fazer. Se ao menos estivesse com seus amigos para lhe proteger desses criminosos, isso não ficaria assim. A cada minuto que passava, mais raiva consumia seu corpo e sua alma. Odiava aquele menino gringo e tudo o que ele representava. Assim que pudesse, iria saldar essa dívida, o apetite de vingança só alimentava a fúria do jovem.
— Estamos a apenas uma hora. Quase lá! — disse Barbara para os interessados.
Então enxergaram em seus radares algo muito grande vindo em sua direção naquelas águas profundas. Não podia ser, estavam sendo seguidos por um submarino americano, o USS Obstinatus, que trazia entre seus tripulantes um batalhão dos fuzileiros navais americanos. A embarcação foi ficando cada vez mais próxima, vindo em uma velocidade fora do comum para um submarino de guerra. Jason acionou o submarino para que este descesse ainda mais, pois sabia que não era qualquer embarcação que conseguia atingir profundidades extremas sem que lhe acontecessem implicações. A velocidade foi tão forte que arremessou o celular da mão do jovem escondido, que não conseguiu encontrá-lo no meio daquela bagunça toda. O submarino Obstinatus não desistiu, seguiu seu alvo disparando um míssil ainda maior, que se acertasse o submersível, destruiria tudo, porém não contavam com as habilidades do capitão Chamorro.
Jason, utilizando de estratégias navais, acelerou a embarcação e bravamente apontou o submarino a um ângulo de noventa graus para baixo, atravessando cada vez mais as entranhas do oceano em um mergulho mortal, não fosse pela pressurização altamente eficaz do equipamento interno. Por sorte, Mark havia colocado um dos cintos de segurança, que serviam para segurar os pertences dos tripulantes, ao redor de seu corpo ou então teria sido atirado bruscamente contra todas as caixas do cômodo.
— Conseguimos — disse Jason com suas mãos trêmulas, ainda não acreditando na façanha que ocorrera segundos antes.
Todos se entreolharam e algumas lágrimas escorreram dos olhos de alguns.
— O que era aquilo? — perguntou Frank sem entender o que havia acabado de presenciar.
— Era um dos submarinos da marinha. Não sabia que tinha algum que chegasse a essa profundidade. Mas agora creio que não haverá mais problemas, pois estamos chegando a quase dez mil metros e nenhum submarino de guerra pode chegar a não ser...
Mas antes mesmo de Jason terminar a frase, eles se viram de frente a uma luz que não era de seu submarino.
Assim que clareou a ponto de enxergarem quem estava à frente, viram uma cópia do submarino deles, não conseguindo identificar quem estava no comando, achando mais prudente fugirem acelerando cada vez mais a embarcação, iniciando assim mais uma perseguição, só que dessa vez com um equipamento com as mesmas habilidades que o deles.
O contra-almirante Thomas Wolf, pilotando o outro submarino, mandava-o parar via rádio, imaginando que estivesse perseguindo seu antigo inimigo Douglas, pois se tratava do mesmo submersível de cinco anos antes. O oficial, que mandou construir uma cópia parecida com a embarcação após diversos testes para deixá-lo com a mesma performance do submarino de seu rival, nunca entendera como ele havia sumido sem aparecer em seus radares e sem deixar rastros no oceano e imaginou que dessa maneira teria chances de desvendar esse mistério, e naquele momento, ao ver Douglas à sua frente, tinha certeza que não escaparia novamente de suas mãos. Já estavam próximo do solo, profundidade até então mais baixa encontrada pelo homem, a quase onze mil metros e o submarino à sua frente simplesmente não parava.
Com o torpedo acoplado ao novo submarino, Thomas mirou na embarcação do inimigo dizendo que, se ele não parasse de acelerar e se entregasse, iria destruí-lo de uma vez por todas, não se importando com o que poderia acontecer ao oceano. Sua raiva já a flor da pele, querendo de qualquer maneira parar o bandido que quase acabou com sua carreira e roubou o artefato que deveria ser seu, era muito maior do que qualquer outra coisa.
Do outro lado, todos seguiam aflitos com as palavras do militar, até mesmo Mark, que implorava a si mesmo para que não acabasse dessa maneira, nas mãos de seu próprio pai.
Não tendo mais para onde fugirem, e sendo encurralados pelo contra-almirante, eles começaram a planejar como iriam fazer para se entregarem. A decepção tomou conta do grupo por terem ido tão longe e não concluírem a missão. Talvez nunca encontrassem as respostas do sumiço do pai de Frank. Foi então que algo sinistro aconteceu, a pedra, que até então estava esquecida no bolso do garoto, começou a flutuar ao redor dos tripulantes e, misteriosamente, uma luz branca que emanou de dentro da pedra cegou a todos, incluindo Mark que mesmo na parte traseira do submarino viu um estranho clarão propagar por todas as paredes da embarcação e, no mesmo instante, o submarino entrou em um silêncio total, pois as pessoas que ali se encontraram se puseram a dormir em um sono profundo, apagando completamente.
Essa era a visão de quem estava dentro do submarino da frente, já a visão de Thomas foi completamente diferente. Ele viu quando saiu de dentro da embarcação fugitiva uma luz estridente, como se fosse uma explosão de uma estrela, rasgando o oceano em uma fissura estreita de uns cinco metros de altura por três metros de largura, engolindo o submarino à frente por inteiro, e se fechando instantaneamente, como se fosse um portal mágico, deixando o almirante e seu submarino novamente sozinhos na imensidão do oceano pacífico.
O grupo abriu os olhos após algumas boas horas de sono e já não se encontrava naquela vasta escuridão, ao contrário, o fundo do oceano parecia ter ganhado vida, com peixes, corais entre outras vidas marinhas, em um colorido extraordinário.
Frank observou que a pedra voltava a se acomodar em seu bolso e não brilhava mais. Olhou para todos e constatou que os outros quatro estavam bem e, assim como ele, estavam incrédulos ao perceberem que a iluminação se dava por peixes que emanavam uma luz branca amarelada, parecendo com uma lâmpada. Havia seres nunca vistos pelo grupo e essa poderia ser uma grande descoberta para a humanidade.
Barbara, que estava com o caderno de Douglas em suas mãos, começou a tomar nota de tudo o que vira até aquele momento, para não esquecer quando voltassem para suas casas, desde a perseguição da marinha, o brilho que os apagou misteriosamente até as estranheza e bizarrices do fundo do mar. Então ouviram um barulho forte seguido de uma queda de energia de dentro do submarino, que começou a emergir cada vez mais para a superfície em alta velocidade. Jason tentou religá-lo, mas sem sucesso, foi quando, ao olhar para o medidor de oxigênio da cabine, percebeu que estava se esvaziando muito rápido, aterrorizando todo o grupo com medo de lhe faltarem o bendito gás.
Chegaram à superfície em poucos minutos e se encontraram dentro de algo que lhes parecia uma caverna gigantesca, como uma grande galeria, onde não conseguiam enxergar o final ou alguma parede que a limitava, sem um céu acima de suas cabeças, mas ainda assim extremamente iluminada, como se fios de led descessem dos tetos, iluminando o ambiente, conectados a uma rede elétrica imaginária, ou então com um teto de vidro onde se pudesse ver um céu completamente estrelado.
Abriram a escotilha que separava a turma da misteriosa caverna sem pensar nas consequências, talvez pela falta de oxigênio que já deixara o time sentindo os primeiros sintomas. Estranhamente, na caverna não faltava oxigênio, portanto, puderam retirar seus trajes de mergulho, deixando-os no submarino e agradecendo por este achado. Começaram a olhar ao redor, mas não encontraram a fonte da iluminação da caverna achando tudo muito enigmático o que viram desde que acordaram, até que escutaram um barulho vindo de dentro do submarino como se algo, ou melhor, alguém quisesse sair do depósito às pressas.
Ao abrir a porta traseira do submarino, não puderam acreditar no que viram. Saía ninguém menos que o filho do contra-almirante que os perseguia, com uma mochila às costas. Mark encarou os cinco que não entenderam como o rapaz estava ali à frente deles, mas não tiveram chance de questionarem, pois esse saiu correndo para o lado extremo de onde a embarcação havia parado, se perdendo do grupo, enquanto gritava com os peitos cheios de ódio, ameaçando-os e dizendo que iriam se arrepender por terem mexido com ele e sua família.
Jason entrou pela porta do depósito que estivera semiaberta e encontrou as caixas todas reviradas, além de pedaços de vidro espatifados no chão com algumas pétalas da planta da qual ele próprio utilizava as toxinas para vencer a insônia que assolava suas noites há mais de dez anos, desde a morte de sua esposa. Precisariam arrumar toda a bagunça criada pelo garoto antes de descobrirem em qual caverna estavam e, então, adentrarem a galeria para procurar o garoto fujão para que este não se metesse em mais encrencas.
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