prólogo 1.1
FOREVER WINTER...
Delilah estava acostumada com as noites gélidas e escuras do Brooklyn. Havia muito tempo desde que deixara de temer andar sozinha por aquelas ruas. Pelo menos era o que pensava... até aquela noite. Algo estava diferente no ar. Uma atmosfera pesada, quase palpável, como um presságio. Delilah era guiada por seus instintos, e, naquela noite, eles gritavam perigo.
Ela tentou ignorar o aperto no peito, atribuindo aquilo à sua imaginação, mas o medo rastejava, implacável. Não era apenas o frio da noite. Era o tipo de medo que fazia seus músculos travarem, que a lembrava de lendas sombrias sobre demônios à espreita, prontos para levar almas desavisadas.
Mas, naquela cidade, demônios eram o menor dos problemas. Delilah sabia que havia algo ainda pior: pessoas. Pessoas com intenções tão vis que fariam o inferno parecer um refúgio.
Delilah era jovem, com olhos grandes e castanhos que transpareciam uma ingenuidade teimosa, mesmo depois de tudo que já enfrentara. Seus cabelos castanho-claros estavam soltos, um pouco bagunçados pelo vento, e ela mantinha o casaco surrado fechado até o pescoço, abraçando-se para conter o frio. Mas o que ela não sabia era que aquela noite viraria de cabeça para baixo tudo o que conhecia.
Tão rápido quanto um suspiro escapava de seus lábios, Delilah sentiu um puxão forte em seu cabelo. Antes que pudesse reagir, foi ao chão. Um impacto surdo ressoou, e uma dor latejante invadiu sua cabeça. Ela tentou erguer-se, mas outra pancada — desta vez na costela — tirou-lhe o ar e a deixou incapaz de gritar.
— Pelo menos aquele idiota não estava mentindo... — murmurou uma voz masculina.
Quatro pessoas a cercavam: três homens e uma mulher. A mulher tinha um sorriso perverso nos lábios, o mesmo sorriso que exibira antes de desferir o primeiro golpe. Não eram rostos familiares. Não eram os típicos criminosos conhecidos pelos moradores locais.
Enquanto Delilah tentava processar o que acontecia, seus dedos tocaram a cabeça e encontraram algo quente e viscoso. Sangue. O pânico a tomou por completo.
— Só peguem a bolsa dela e vamos embora! — gritou um dos homens, abaixando-se para pegar o objeto.
Dentro da bolsa estava o salário inteiro de Delilah, o fruto de semanas de trabalho exaustivo. Entregar aquilo seria como perder todas as noites em claro, todos os dias de luta para sobreviver.
Ela tentou resistir, lágrimas quentes escorrendo pelo rosto. Mas, no instante seguinte, ouviu algo que fez seu estômago revirar.
— Vamos terminar o serviço.
Os golpes voltaram com mais intensidade. Delilah gritou, debatendo-se em desespero, mas era inútil. Seus joelhos ralaram no asfalto enquanto tentava fugir, mas um puxão firme no cabelo e um pano cobrindo sua boca roubaram qualquer esperança.
Então, como se a realidade tivesse sido interrompida, outra voz se fez ouvir.
— Mas que merda é essa?
O som era jovem, decidido. Delilah, ainda atordoada, abriu os olhos para ver um garoto da sua idade, talvez um pouco mais velho, com um uniforme escolar. Ele tinha cabelos escuros, desgrenhados, e olhos cinzentos, que faiscavam de raiva. Era Ren Vidal, conhecido pelas ruas por seu temperamento explosivo e sua reputação de resolver problemas, mas sem nunca buscar confusão desnecessária.
— Cobrando uma dívida, Vidal. Isso não te diz respeito — respondeu um dos homens, com uma mistura de desprezo e receio.
Ren bufou, a mandíbula travada.
— E por que eu acho que ela — disse ele, apontando para Delilah — não tem absolutamente nada a ver com suas merdas?
A mulher deu um passo à frente, o sorriso ainda no rosto.
— Não é problema seu, garoto. Se eu fosse você, voltava pra casa e fingia que nada aconteceu.
Mas Ren não se mexeu. Em vez disso, avançou. Com um movimento rápido, puxou Delilah para trás de si, protegendo-a como um escudo humano.
— Se querem alguém para brigar, briguem comigo.
Delilah não tinha forças para protestar. Tudo o que podia fazer era observar enquanto Ren, sem hesitar, encarava o grupo inteiro.
Os gritos de Delilah tinham atraído a atenção dos vizinhos, e luzes começaram a acender ao redor. Sirenes podiam ser ouvidas ao longe. O grupo hesitou, mas a tensão explodiu em uma discussão acalorada. Antes que ela pudesse processar, um golpe atingiu Ren diretamente no peito, fazendo-o cair ao chão ao lado dela.
Mesmo ferido, Ren rastejou para cobrir Delilah com o próprio corpo, protegendo-a até a chegada da polícia. Ela não percebeu quando fechou os olhos, apenas sentiu o calor de Ren segurando-a, sua presença a última coisa que a mente dela registrou antes de se render à inconsciência.
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