Capítulo 57 - Na Luz Da Verdade ( Reta Final)


A tensão continuava ali na ponte com Charles via chamada de vídeo, pressionando Dione a confessar diante de Marina, que matou a própria esposa. 

Marina, de mãos amarradas em frente ao seu corpo, em cima de um tamborete de madeira e com uma corda no pescoço, engolia a dor de poder descobrir um dos mais assombrosos segredos da sua vida. As tubulações bem acima de sua cabeça gotejando, o ambiente úmido com paredes mofadas e tijolos em alguns pontos a mostra, as colunas quadradas por toda extensão dava a ideia de estarem numa estação de tratamento de esgoto. O cenário em si era muito assustador.

Havia uma pequena mesa quadrada no centro, um armário, uma cama, uma geladeira antiga mais no centro da parede dos fundos, indicando que em um único cômodo era a moradia de alguém. Quem sabe, de Charles talvez. Max estava sentado no chão com as costas apoiadas em uma das colunas quadradas existentes ali. De boca atada com um trapo de pano, os pés amarrados a sua frente e as mãos atrás das suas costas. Apreensivo, assistia de camarote o show gratuito de ignorância que Charles estava dando. 

__ Quero que fale a verdade pra ela, nada além da verdade. Não adianta vir com historinha. Eu sei o que aconteceu naquela noite, eu estava lá com você! Eu vi você decapitando a cabeça da Helena com aquela espada de samurai.

__ Você não viu nada! No mínimo estava drogado como sempre, e estava vendo coisas! As drogas só deterioraram seus neurônios. 

 __ Quem estava drogado era você, pra fazer uma barbaridade daquela com a própria esposa… 

__ Cale a boca! Eu não matei Helena! Eu não matei! Filha, não dê crédito ao que ele fala, ele está louco!

__ Você matou! Você matou, sim! Eu fecho os olhos, e vejo a cena na minha frente, como se fosse hoje. Foi bem assim… Vhuss! - Charles pegou uma vassoura que estava por ali, e a usou como se fosse uma espada fingindo decapitar a cabeça de Marina que quando o cabo encostou-se ao seu fino pescoço, ela fechou os olhos com medo antevendo o impacto e engoliu em seco.

__ Pare com esse circo, Charles! Está traumatizando ela! Se ao menos cogitar fazer uma coisa dessas com a minha filha, eu te parto ao meio com a mesma espada, ouviu bem?! - Charles riu debochado com a cena de surto de Dione, diante do que ele fez. 

Judite que ouvia atenta a toda a conversa, percebeu que acontecia um engarrafamento ao longe da estrada. A fileira de carros já estava quase chegando à ponte. Os carros que passavam por ali já iam parando um atrás do outro. 

__ Vamos lá, confesse logo o seu crime! Se você contar uma versão errada do que realmente aconteceu, eu empurro esse banco e sua filha morre asfixiada por uma corda, ao vivo diante dos seus olhos! 

__ Charles, vamos parar com a paranoia, hoje é o aniversário de Marina, era pra ser um dia festivo e feliz, e você está o tornando em um verdadeiro pesadelo. 

__ Verdade, hoje é o aniversário dela! - Charles levantou as sobrancelhas. __ Bem lembrado!  O Max, Maximiliano. Eu gosto desse nome! Também está aqui. - Virou o celular para o rapaz e Dione pode vê-lo amarrado. __ Ele tem uma verdadeira máquina! Um Mustang maravilhoso. Viemos nele para cá. 

__ Charles, solte o rapaz, deixa ele fora dessa história! - Dione interviu pelo rapaz. 

__ Soltá-lo?! Acha que eu sou idiota?!  - Charles disse mais sério. __ Como eu ia dizendo, o Maximiliano, comprou alguns presentes pra sua filha, vamos ver? - Falou colocando o celular apoiado em alguma coisa sobre a mesa. __ Olha… Um buquê de rosas… __Charles mostrou para Dione o arranjo de flores naturais, que já estavam um tanto murchas. Ele o levou até Marina. 

 __ Ele é seu. Segure… - Ela fez o que ele pediu.__ Bombons… - Falou pegando a caixa que estava sobre a mesa e a abrindo. __ Está servido? - Apresentou para Dione. Logo levou um à boca e comeu. Fechou os olhos, sentindo o sabor doce em seu paladar.__ Hum… Delícia! - Exclamou. Levou um para Marina. __ Abra a boca, menina! Coma! - Disse com o chocolate em mãos, esperando ela abrir. 

__ Eu não quero! - Marina falou trancando a boca. 

__ Coma essa droga de bombom agora mesmo! Ele trouxe pra você, não faça desfeita! - Disse a fazendo comer à força. 

__ Está machucando ela seu desgraçado! - Dione falou ao vê-lo pressionar o chocolate com força em sua boca.

Enquanto Marina mastigava, Charles foi pegar o embrulho sobre a mesa. 

__ E agora, o presente surpresa. Vamos ver o que é? - Falou começando a rasgar o embrulho. 

A surpresa foi grande para todos. Max esperava que o que estivesse ali, fosse o vestidinho preto que havia comprado. Mas quando Charles o apresentou, era uma camisola e uma lingerie vermelha. Max olhava confuso e ao mesmo tempo envergonhado. Só tinha uma explicação para isso; a atendente, desatenta, trocou os embrulhos. 

__ Olha isso Dione! Que presente o rapaz trouxe pra sua filha! - Falou o estendendo para o alto e gostando do que via. __ Olha essa lingerie! - A expôs. Marina, constrangida, trocou olhares com Max, que balançou a cabeça em negativo, em resmungos querendo lhe explicar o acontecido. 

__ Sabe o que eu fiquei sabendo, my brother? O Max estava com a intenção de pedir a mão de sua filha em namoro hoje. - Falou debochado. 

__ É mentira! Deixa de ser Mentiroso cara! - Marina rebateu Enraivecida. 

__ Claro! Pensou bem, hoje ela completa dezoito anos. Trás uns bombons, umas flores, faz um agrado e pede ela em namoro. Dá uma camisola sexy de presente e aproveita que estão sozinhos, pra estrearem ela lá no quarto no melhor estilo.

  

__ Canalha! Cale essa sua boca! Não é nada disso que está dizendo! – Marina tenta intervir. 

__ Será que você ainda é virgem? - Olhou para ela e estreitou os olhos. Você deve ficar muito sexy nessa camisola, hein? Talvez, eu até peça pra você vestir ela pra mim! 

__ Se você encostar um dedo nela, eu arranco essas suas bolas fora, seu cretino! 

__ Dione, Dione… você está muito violento. Quais filmes você anda assistindo ultimamente? - Sorriu. 

Judite aflita diante o embate resolve perguntar a um dos motoristas o porquê do engarrafamento. 

__ Estão fazendo uma blitz. Estão averiguando os carros. Parece que estão procurando um criminoso. - Jude, troca olhares com Dione que acabou escutando a conversa. 

“Caramba, agora nem de carona conseguiremos chegar até o hospital!" - Ela disse para si, bufando. 

Agora chega de enrolar e confesse logo o seu crime. "Dionísio." - Charles enfatizou e Dione revirou os olhos. 

__ O que foi, por que essa cara? Não gosta de ser chamado pelo seu verdadeiro nome? - Jude descobre um pequeno segredo de Dione.

__ Eu estou pouco me lixando para o meu nome, eu só quero é que você solte a minha filha! 

__ Vou soltá-la morta no chão, se você não começar a falar agora mesmo! - Charles coloca o pé no tamborete e ameaça empurrá-lo. Marina arregala os olhos e Max fica apreensivo. 

Max aproveita que Charles está entretido e começa a esfregar a corda das mãos amarradas na quina da coluna na intenção de cortá-la com movimentos repetitivos. 

__ Tá bom, tá bom, eu confesso… - Dione se prontificou em fazer o que Charles queria. Ele já tencionava empurrar o banquinho e não queria em hipótese alguma, ver a filha morrer enforcada. __ Eu… Sinto muito filha, eu matei a sua mãe... - Falou engolindo em seco.

Jude não acreditava no que acabava de ouvir. 

“Será que a Lisa sabe disso? Impossível! Agora é uma questão de honra, afastá-la desse cara.” - Disse para si. 

__ Pai! Por quê?! - Marina queria um bom motivo, como se existissem bons motivos para uma barbárie dessas.

__ Filha, sua mãe já havia sumido a uma semana de casa. Antes de partir, deixou um bilhete para mim, dizendo que estava cansada da vida que levava ao meu lado e que havia aceitado uma proposta de trabalho no exterior, feita por sua irmã, da qual eu desconhecia a existência. 

Eu achei muito estranho. Ela nunca havia falado naquela irmã. Havia rumores naquela época de um suposto esquema de tráfico humano no país. Eles atraiam pessoas com falsas promessas de trabalho, e quando chegavam ao exterior, à realidade era outra. Recebi algumas pistas de Helena, quando comecei a anunciar seu desaparecimento na Internet. Estavam confinando pessoas em um determinado lugar, para depois levá-las para o exterior. Charles e eu fomos até ao norte do país para averiguar. Era uma fábrica de tecidos que mantinha o trabalho escravo das mulheres, além de explorá-las sexualmente.

Descobri que um dos envolvidos, era um dos três mestres que anos atrás haviam ceifado a vida de seu avô tão cruelmente. Jurei para mim mesmo que os mataria com aquela mesma espada na qual o mataram. A essa altura eu já havia matado dois deles, faltava o último. Fomos até a sua mansão que ficava na encosta de um rio. Charles deu um jeito de cortar a energia do lugar e tudo virou um breu. 

Marina, Jude e Max ouviam atentos ao relato de Dione. Ele continuava de forma pausada como se estivesse relembrando os detalhes da cena. No momento, por mais que forçasse sua memoria, só lembrava de estar com a espada posta na garganta do velho, depois de ter invadido sorrateiramente o seu quarto. 

__ Eu cheguei no quarto, bem na hora que você pegou Helena com o sujeito na cama. E não era o velho mestre assassino de seu pai, e sim o filho sarado e bonitão dele! - Charles interrompeu. __ O rapaz, riu na sua cara de deboche com a lâmina em seu pescoço e te chamou de otário. Disse que Helena não era uma escrava. Estava ali por conta própria. Era a sua amante. Havia deixado você com sua vidinha pobre e medíocre, para viver ao lado de um homem rico e poderoso. 

__ Mentira! Filha, ele está mentindo! Eu não me lembro de nada disso… 

__ Claro que não, você levou uma pancada forte na cabeça e desmaiou, aliás, depois desse dia, sua cabeça nunca mais funcionou direito. - Charles riu debochado. __ Aliás, Mari, se ele está vivo hoje aqui, agradeça a mim que o tirei desacordado daquele lugar, e o levei para o barco. - O loiro deu uma pausa e continuou: __ De você decepando a cabeça dela, você se lembra, né? - Charles deixa uma questão no ar. 

__ Sim. Eu me lembro, perfeitamente. Só não me lembro de como foi... - Dione meio embasbacado e perdido tentava lembrar-se dos fatos com mais detalhes. Teria que existir uma boa explicação para dar à filha. Não era de sua índole matar alguém daquela forma. Amava a esposa e se fosse de sua vontade, seguir sem ele, ele entenderia e aceitaria numa boa. 

__ Helena saiu da cama e foi até você pedindo calma e implorando pela vida do amante. Muito cretina ela… - Charles riu debochado. __ Você não quis saber e já passou a espada no pescoço dela. - Charles mantinha o sorriso. Marina já deixava as lágrimas rolarem sem controle por sua face.__ O bonitão chegou atrás de você, e te acertou a cabeça o nocauteando. Para o azar dele, eu estava no quarto. Enchi o sujeito de balas. - Charles diz com semblante mais sério, sacando a sua arma e reproduzindo a cena com ela. 

__ Pai… - Marina não conseguia falar. Derramava-se em lágrimas. 

__ Filha, eu não sei se essa versão é verdadeira. Depois que acertaram minha cabeça, eu não lembro muito bem de tudo que aconteceu naquela noite. Confusões passaram a povoar a minha mente… Se criaram muitas versões aqui dentro. Quando achava que finalmente havia me lembrado de como foi, outra versão se desenhava para mim… __ cobriu o rosto por um instante. As imagens voltavam como um furacão em sua mente.

__ Coloquei a lâmina na garganta do desgraçado. Ele estava sozinho na cama. De repente, Helena chegou por trás, me chamou e tocou nos meus ombros. Eu me assustei e já me virei decepando a cabeça dela… __ parecia um filme de terror a cada troca de cenário.__ Em outra hora, a lembrança era de estar transpassando seu corpo com a espada…__ Cerrou os punhos ao lado do corpo e suspirou.__ Outra, corria atrás dela num corredor escuro, para tentar matá-la e ela já cheia de cortes pelo corpo banhada em seu próprio sangue, usando suas últimas forças para escapar de mim…

__ Penso que isso são fantasias da minha mente. Loucuras. Eu nunca quis admitir isso, mas reconheço que minha mente não está boa. Eu preciso de um tratamento psiquiátrico. - Dione já marejava os olhos. __ As versões daquela noite são muitas, mas acredito que a verdadeira ainda não foi posta à luz. Eu só quero que você acredite que eu jamais faria uma coisa dessas com a sua mãe.

__ O que você fez com a espada, depois disso pai? - Marina questionou ainda chorando. 

__ Bem, depois disso, a joguei nas profundezas daquele rio. - Dione falou lembrando. 

__ Um detalhe por ali o marcou, a ponto de dizer que jamais se esqueceria do local específico onde jogou a espada, que detalhe foi esse? - Marina questionava e Dione ficara surpreso por ela parecer conhecer a história. 

__ Uma travessia feita de tábuas e cordas que estava sobre o rio. - Dione lembrou na hora da imagem bem viva em sua mente. __ Espera aí! - Dione estreitou os olhos. __ Como você sabe disso?! - Perguntou intrigado.  

__ Charles já me contou toda essa história antes, eu só queria confirmar. - Explicou. __ Disse que você jogou a espada ali, e estava bem abalado. Se estava abalado, com certeza é por que verdadeiramente matou a minha mãe… - Deu uma pausa suspirando fundo e engolindo o choro e continuou: __ Você não jogou apenas a espada ali. - Dione ouvia ainda mais intrigado. __ Você voltou com Charles na residência no outro dia, cheio de remorsos pra buscar o corpo da minha mãe. O colocou num saco e saiu às pressas quando a polícia chegou, passando por todas aquelas pessoas mortas caídas por ali. Uma verdadeira chacina. A polícia estava no encalço de vocês dois. Ao passar pela travessia, Charles o aconselhou jogar o corpo nas águas, sob a alegação de que estaria dificultando a fuga e que se não fizessem assim, logo seriam pegos. Você fez o que ele disse. Abandonou o corpo da minha mãe ali. Charles buscou uma enorme pedra e colocou no saco junto ao corpo. Então vocês o atiraram no rio.

__ Filha, por favor, não… - Dione tentou falar e foi interrompido por ela que gritou para ele:

__ CALE A BOCA! - Cerrou os punhos. __ Diante dos fatos não há argumentos, pai!  - Falou chorando.

__ EU NÃO MATEI A SUA MÃE! EU NÃO A MATEI! PREFERE ACREDITAR NA PALAVRA DE UM LUNÁTICO DO QUE NO SEU PRÓPRIO PAI?! - Dione revoltado, gritou de volta para ela.

__ Bem, só há um jeito de descobrir… - Marina falou chamando a atenção de todos. __ Olhando nas profundezas do rio, e averiguando se o corpo está lá. - Dione engoliu em seco e se virou para Jude, procurando em seus olhos talvez, um refúgio no qual sabia que não poderia encontrar. 

__ Agora, solte ela seu desgraçado! - Dione bradou.

__ Soltá-la?! Sou um lunático, você bem disse. - Sorriu. __ Agora que sua filha sabe quem você é de verdade, ela pode morrer em paz. - Marina engoliu em seco, e Max apreensivo esfregava a corda das amarras ainda mais rápido na coluna para se libertar. 

__ Não faça isso seu filho da puta, você deu a sua palavra que a soltaria! 

__ E como pode confiar na palavra de um lunático? - Deu de ombros e sorriu debochado. __ Isso é pela sua traição, você me entregou para polícia naquele dia. Lembra?! Você é um verdadeiro filho da puta, amigo da onça! - Assim que disse, empurrou o tamborete fazendo Marina descer e ficar pendurada pelo pescoço na corda. 

__ Assista a aflição de sua filha morrendo… - Charles falou pegando o celular sobre a mesa e o aproximando do rosto dela. - Jude fechou os olhos, não conseguia ver. 

__ Nãooooo! Seu filho da puta! Eu vou matar você! - Dione urrou, e chorou como nunca antes havia chorado.

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Logo viu as imagens tremendo como se o telefone tivesse caído, e sua câmera já focava o teto do chão, em seguida a chamada foi encerrada. Dione deixou o celular cair de sua mão e em transe parecia escutar apenas as batidas descompassadas de seu coração. Jude correu para segurá-lo ao perceber que iria cair...

Longe dali em um dos cemitérios da cidade, Mercedes é obrigada a andar por entre os sepulcros, enquanto sua sogra Soraia Fontana, lhe aponta uma arma na companhia de dois seguranças. 

__ Achou que iria escapar ilesa depois de ter acabado com toda a minha família! - A idosa falou. 

__ Eu não tive escolha, ou eram eles ou eu! - Mercedes argumentou parando no meio do caminho. 

__ Então, deveria ser você! Você traiu o meu filho! Continue andando, não mandei você parar! - Soraia bradou gesticulando a arma. 

__ Tudo bem, faça o que quiser comigo, mas não faça mal a sua neta. Ela não tem culpa de nada do que está acontecendo! - Implorou andando novamente. 

__ Saberei o que fazer com ela, agora Cale a boca! - Gritou. 

Andaram por mais alguns metros e pararam diante de uma sepultura aberta ao chão. Mercedes a fitou amedrontada e já imaginava para que fosse. Virou-se para sogra com olhar de desespero e tencionou falar. Mas, ela já gritou a ordem antes que sua voz fosse ouvida.

__ Entre aí dentro! – A mulher bradou. 

__ Pelo amor de Deus, a senhora não pode estar falando sério! - Mercedes não acreditava que a sogra poderia ser tão cruel a esse ponto. 

__ Você será sepultada também, como meu marido e meus filhos, só que com uma pequena diferença, você estará viva! - Gargalhou debochada. 

__ Por favor, me perdoa por tudo que fiz a sua família, eu reconheço que errei, eu…

__ Entre logo ali dentro, ou será enterrada morta mesmo, pela bala que colocarei em sua cabeça! - Soraia bradou furiosa. 

__ Tudo bem, tudo bem, eu vou entrar. - Mercedes falou retirando discretamente o anel de esmeralda que Clóvis havia lhe dado, antes de sair, e o escondeu nas mãos. 

Mercedes entrou e esperou olhando a sua volta o seu túmulo.

__ Agora se deite aí dentro! - A mulher ordenou. - Ela não se deitou, e implorou pela misericórdia da sogra mais uma vez. Ela soltou o anel que segurava nas mãos discretamente ao chão, do outro lado do sepulcro. 

__ Podem colocar a tampa. - A mulher disse aos seguranças que pegaram a pedra pesada feita de cimento e ferragens e lacraram a sepultura com ela. Mercedes se desesperava e chorava, enquanto batia a palma das mãos na tampa pedindo por socorro já sentindo o pouco ar do ambiente abafado e escuro. 

¡Ayuda! ¡Alguien me ayuda! ¡Estoy atorado aqui! ¡Tu Dión! ¡Tu Clodoveo! ¡Alguien!

Chorava se perguntando se era tão má ao ponto de merecer acabar assim. 

Enquanto isso na ponte, Jude segurava Dione estando sentada no chão com o corpo do homem apoiado em si. Ele estava totalmente abalado pelo acontecimento trágico que vivenciou há minutos atrás. 

__ Erga esse seu corpo seu Dione, seja forte, não se entregue! - Falou ao homem que olhava em transe para o nada. __ Diante do que aconteceu com a sua filha, não a nada que possamos fazer. Ela já está morta. Mas se você continuar assim perderá mais outra pessoa importante pra você, a Lisa. Eu posso imaginar mais ou menos o que deve estar sentindo ai dentro… Sei que só quem tem um filho ou uma filha sabe realmente o tamanho do seu sofrimento. - Jude deu uma pausa. 

  __ Vamos, levante-se, Lisa precisa de você… - Jude esperou sua reação. __ Merda! A polícia vem vindo aí! - Jude bradou ao ver os guardas se aproximando a pé. Ela depositou a cabeça do homem no asfalto e decidiu ir ao encontro deles, para ganhar tempo e impedir que vissem Dione. Assim que deu alguns passos, se virou para trás e o viu em pé sobre a grade da ponte, olhando fixo para as águas lá embaixo. 

__ Dione, nãoooo! - Gritou já prevendo o pior. 

Dione olhou para Jude com seus olhos vermelhos e marejados de choro numa despedida e se jogou para o rio. Ela correu rumo à grade se apoiando nela e o viu mergulhando nas profundezas das águas. 

Dione foi ao fundo daquelas águas turvas, e bateu a cabeça em uma pedra que havia por ali. Instantaneamente o sangue que saia do corte logo tingia as águas de vermelho.  Sentia a vida se esvaindo de seu corpo aos poucos a cada bolha de ar que flutuava em direção à superfície. Fechou os olhos e pode ver na escuridão de seu subconsciente o rosto lindo de Lisa a sorrir em sua direção…

__ Meu bem, vai me levar junto com você? - A ouviu dizer. 

Logo já não a via mais e sim, Marina com a cara trufada de sempre. 

__ Pai, o senhor não pode viajar agora, tem que me ajudar com a mudança! 

Bem atrás de si, Mercedes surgia… 

__ Será un hombre difícil de olvidar, Sr. Dione. ¿Nos volvemos a ver?

A mulher desapareceu. Olhou em outra direção e viu Judi de costas. Ela se virou séria para ele…

__ Eu estou com tanto, mas tanto ódio de você cara! Não rela mais a mão em mim! 

__ Então, nos encontramos de novo seu Dione. - Seu Neco diz sorrindo, surgindo ao lado de Jude, com a arma em punho. 

Logo escuta Slender bradando atrás de si e se vira enérgico. 

__ Eu vou matar você! Acha que vai se safar me matando? O velho Branco te levará para o inferno, e lá terminaremos de acertar as contas. 

Dione abriu e fechou os olhos e teve a visão de Marina morta pendurada naquela corda. Lisa indo a óbito no leito do hospital. Cristina no chão da sala, com uma bala no meio da testa. E a cabeça decepada de Helena, com a face da morte nos olhos o fitando. 

Logo tudo desapareceu, deixando um enorme vazio à sua volta. Sente o próprio corpo a boiar nas profundezas e escuta ao longe uma voz lhe chamar… 

__ Dione…

Fim.

 

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