Capítulo 51 - Deus perdoa, mas o homem não
Dona Jane trabalhava como cuidadora de idosos. A maioria das vezes a noite. Não se submetia a isso apenas pelo salário, assim como Neco, era uma golpista de carteirinha. Não perdia a chance de tirar proveito dos idosos dos quais cuidava. E até o momento tinha se saído muito bem nas suas falcatruas.
Os policiais ali próximos da confusão se preparavam para averiguar a informação que a senhora havia lhes repassado de que o possível suspeito de explodir a sua casa estaria na Catedral Central, quando um automóvel chegou em alta velocidade e freou cantando pneus no asfalto diante das viaturas. O condutor abriu a porta e saiu ligeiro do carro. Espantou-se ao ver a casa queimada e toda aquela gente em volta.
Estava nervoso, seus olhos delatava isso. Passou o olhar em todas aquelas pessoas à procura de dona Jane. Seus olhares se cruzaram no meio da multidão. Ela saiu às pressas do seu lugar, abrindo o caminho a base de empurrões e cotoveladas e o homem que a observava, mas que depressa a seguiu em seu encalço.
__ Segurem essa mulher! - Gritou chamando a atenção de todos, apontando na direção dela.
Dona Jane continuava a fugir, acentuando a marcha de seus passos para aumentar a distância entre os dois. O moço atrás dela, aumentou ainda mais sua corrida se desviando e trombando nas pessoas pelo caminho. Um alvoroço se iniciou.
__ Mas o que está acontecendo?! - Bernard, que já estava dentro do carro, perguntou olhando pelo retrovisor a cena de dona Jane correndo e atravessando as ruas paralelas de mão dupla.
__ Segure essa mulher, ela me roubou! - Gritou novamente o homem que a perseguia para um dos policiais que estava mais à frente da mulher tentando organizar o trânsito. Ele a segurou pelo braço ao passar próxima de si.
__ Hei, o que pensa que está fazendo?! Tenho o direito de ir e vir! - Falou tentando se soltar.
__ Por que está fugindo assim? - O policial perguntou desconfiado.
__ Não a deixe escapar, reviste a bolsa dela, ela roubou todas as joias da minha mãe! - O moço que a perseguia gritou se aproximando quase no limite de seu fôlego.
__ É mentira seu policial!
__ Bom, vamos ver então... - Falou o guarda retirando a bolsa da mulher de seus ombros a abrindo e despejando todo o seu conteúdo no capô da viatura. Para a surpresa ou não, do policial, verdadeiramente as joias estavam ali. Ele fitou a senhora esperando uma boa explicação.
__ Essas joias são minhas, moço! Acredite em mim! - Dona Jane implora esperando ser convincente.
__ Sua bandida! Confiei em você e me roubou! - Falou o homem apontando o indicador para ela e a fitando com ódio.
__ Você terá que me acompanhar até a delegacia, dona. - O policial a segurou pelo braço mais uma vez para conduzi-la até o distrito sob a alegação de furto.
__ Me solte! Eu não vou a lugar algum com você! - A mulher disse conseguindo se soltar de sua pegada já iniciando uma corrida.
__ Senhora, volte aqui, você está detida! - Ele falou indo atrás dela.
Dona Jane corria como uma louca, atravessando as duas ruas paralelas sem sequer prestar atenção no trânsito. Cruzou a primeira faixa e ao atravessar a segunda se virou de rompante ao ouvir a freada brusca de um automóvel que, inevitavelmente, acertou seu corpo em cheio a fazendo cair sobre o capô, rolar pela lataria e estatelar-se ao chão. Ela parecia desacordada pelo efeito da batida da sua fronte ao asfalto. O policial levou as mãos à cabeça em desespero vendo a tragédia à sua frente. Bernard que acompanhava tudo ao longe, desceu do carro e correu para lá, sendo seguido por Sílvio. Esse dia definitivamente estava bem agitado...
Enquanto isso...
Dione lembrou-se que havia passado por uma loja de produtos importados no caminho para a catedral, com um nome muito suspeito, "loja de mercenária", e sabia que a palavra tinha sido escrita errada de propósito. Decidiu ir a pé até lá enquanto Lisa terminava sua confissão.
__ Em que posso ajudar amigo? - O senhor de regata e braços tatuados perguntou.
__ Quero uma arma e mais um brinquedinho. Algo bem explosivo, se é que me entende. - Falou sorrindo para o vendedor.
__ Pode escolher, só precisarei dar uma olhada na sua licença. _ debochou imaginando que Dione não seria muito experiente no assunto. Se enganava.
__ Licença?! - Dione se fez de bobo cerrando o cenho.
__ Sim. Licença. Sem ela eu não tenho autorização para lhe vender uma arma. Você tem, não tem?
__ Será que essa aqui serve? - Dione falou colocando um maço de dinheiros sobre o balcão. Já havia o colocado no bolso desde quando foi atrás de Mercedes.
O senhor conferiu se o dinheiro era verdadeiro, sorriu para ele e disse:
__ Não tecnicamente, mas posso abrir uma exceção. - Falou sarcástico colocando logo o dinheiro no bolso. _ Então, o que tem e mente?
Na Catedral...
Algumas crianças subiam a escadaria e entravam no templo organizadas em uma fila indiana. Estavam já se posicionando em uma ala de bancos próximo ao altar. Eram do coral "Vozes Mirins" que participaria de mais um ensaio. Uma mulher gorda, baixa e negra de semblante sério esperava em frente ao coral impaciente as crianças assumirem suas posições.
No confessionário, Lisa estava realmente decidida a contar o que havia feito. Não poderia perder mais tempo pensando. Sabia que Dione esperava impaciente e precisavam sair logo dali. Ângelo esperava a confissão da moça do outro lado da cabine já muito impaciente.
__ Se não se sentir à vontade para contar os detalhes agora, eu lhe dou um tempo. Tome uma água, respire fundo... - O Padre transmitia mansidão em suas palavras.
__ Não. Eu não tenho tanto tempo. - Lisa falou aflita. __ Plínio me abusava quando eu era uma criança... Machucou-me muito na última vez que fez isso. E hoje em minha casa, ao vê-lo bem na minha frente com aquele sorriso sarcástico, rindo da minha cara por ter se aproveitado da minha inocência e ainda continuar impune, eu... - Lisa começou a chorar. Seria assim sempre que tocasse nesse assunto. __ ...Eu relembrei de tudo que vivi e acabei o matando de forma cruel, a facadas. O vi cair sem vida em minha frente, daí me toquei do que havia feito e me arrependi profundamente, eu juro que me arrependi! - Lisa falou alto deixando as lágrimas rolarem sem controle.
__ Eu acredito que sim filha, se não fosse assim, você não estaria aqui se confessando para mim diante de Deus. - O padre falou a confortando.
__ Eu espero que Deus me perdoe por isso. Preciso tirar essa culpa das minhas costas. - Lisa se levantou. Sabia que o seu tempo era curto e que já havia concretizado o que se propôs a fazer.
__ Sim, Deus perdoa... - Lisa ouviu o barulho do banco do padre assim que ele se levantou a ecoar pela igreja. Ouviu os seus passos vindo em sua direção. A fitou assim que chegou do outro lado da cabine e concluiu: __ Mas infelizmente o homem não.
Lisa o olhava de alto a baixo espantada, o vendo com suas mãos juntas à sua frente. Uma cara confiante de quem tinha conseguido uma grande vitória. Ela engoliu em seco aquele olhar sobre si e sentiu o corpo arrepiar com as próximas palavras que diria.
__ É por isso que eu confio esse segredo a você. - Lisa falou apreensiva. Ainda descrente no que ouvia.
__ Você é muito inocente menina... - Ângelo sorriu.
__ Como assim padre? Eu me confessei para você e espero que cumpra a sua palavra guardando esse segredo! - Lisa se desesperava.
Ângelo deu as costas para ela e ela o seguiu, antevendo o perigo que corria.
__ Espere, aonde vai?
__ Vou trancar todas as saídas da igreja para garantir que não fuja. - Respondeu continuando a andar calmamente sem olhar para trás. __ Em seguida, ligarei para polícia e falarei que tem uma assassina aqui.
Lisa lembrou-se na mesma hora das palavras de Dione lhe alertando a respeito de se confessar...
"Está louca menina?!"
"Lisa, uma coisa dessas a gente não conta nem para o papa."
__ Por favor, padre, por tudo que é mais sagrado, não faça tal coisa! - Lisa segurou firme o seu braço o fazendo parar. A moça se desesperou ainda mais.
__ O que pensa que está fazendo?! - A fitou enraivecido. __ Suas mãos estão sujas. - Ele se soltou de sua pegada.
__ Não padre, por favor, não, volte aqui... - Lisa se jogou no chão e se pendurou em sua batina. O Padre lhe olhou com repulsa e gritou:
__ Saia de perto de mim! Imunda! - Puxou de rompante a sua roupa. __ Pecadora! - Franziu o cenho a fitando de cima.
__ Eu preciso sair daqui... - Ela disse para si já se levantando e tentando tomar a dianteira do padre e alcançar a porta primeiro que ele. Passou a passos largos em sua frente e foi puxada para trás pelos cabelos a fazendo gritar e cair de costas no mesmo lugar. Ângelo alcançou a porta daquela sala e passou a chave a retirando da fechadura.
__ Se não me deixar sair agora, eu vou gritar alto, mas tão alto que a cidade inteira irá ouvir. - Lisa falou furiosa do chão. O padre sorriu com desdém.
__ Tente... essa sala é quase totalmente a prova de ruídos. É aqui que faço minhas leituras e preparo os meus sermões. É quase inaudível para quem está lá fora o barulho produzido aqui, e de igual forma o barulho lá de fora é quase inaudível para quem está aqui dentro.
Eles ouviram o coro de crianças começando a cantar e parecia estarem muito longe. A melodia e as vozes saíam abafadas, ouvindo da sala onde estavam.
__ Por isso, eu disse: "quase." - Ele sorriu.
__ Aaaaaaa! - Lisa soltou um grito de fúria ainda ajoelhada ao chão. __ Abra essa maldita porta agora mesmo!
__ Acha que gritos de menininha histérica me assustam? Está enganada. - O padre falou em sua calma.
__ Dione já deve ter estranhado a minha demora, ele vai entrar aqui e acabar com você! - Lisa ainda continuava transtornada.
__ Quem é esse tal Dione?
__ Não lhe interessa! - Falou cerrando os punhos e o fitando com ódio.
__ É o cara que estava invocando o demônio lá fora? - Falou sarcástico apontando para as costas com o polegar, se lembrando dos xingamentos que ele fazia há minutos atrás.
__ Verá que ele é o próprio demônio. - Falou fitando o padre com olhar tenebroso o fazendo engolir em seco.
__ Espera ai... - Lisa pareceu refletir. Levantou-se e falou sorrindo:_ É a sua palavra contra a minha. Você não tem provas contra mim. - Falou com satisfação, já vislumbrando um fio de esperança para o seu conflito.
__ Há não? - O padre falou seguro de si e riu na cara dela. __ Gravei toda a sua confissão no meu telefone... - Tirou o seu celular do bolso e o mostrou.
__ O- o quê?! - Lisa não acreditava. Reconhecia que realmente estava em suas mãos.
__ Me dê isso! - A moça voou em sua mão tentando o pegar, mas Ângelo fechou a mão rapidamente tirando o aparelho do alcance dela a fazendo ir de encontro ao chão.
__ Nananinanão... Só lembrando que pegar o meu aparelho não vai adiantar muita coisa, eu já compartilhei a gravação com alguns contatos de minha confiança. Não é assim que vai conseguir resolver as coisas. Seja inteligente, vamos negociar. - Falou chegando onde queria.
__ Não negocio com um falso profeta, seu charlatão! - Gritou para ele do chão.
__ Tudo bem então, eu ligarei para a polícia e terminarei logo com isso. Se não sabe, eu tenho mais o que fazer. - Falou irritado colocando a chave na fechadura e tencionando abrí-la.
__ Não! Por favor, não faça isso! Eu negocio com você, eu faço tudo que você quiser, mas não ligue para a polícia. - Lisa se levantou abruptamente e de mãos juntas implorava. Pensava também em Dione, que poderia se complicar com a chegada da polícia.
__ Quero quinhentos mil em minhas mãos aqui agora. - O padre falou já com a sua condição pronta na cabeça.
__ Quinhentos mil?! - Mais isso é muito dinheiro! Eu não tenho nem onde cair morta! - Lisa gritou indignada.
__ Isso é problema seu. Se não quiser ir parar atrás das grades, consiga o dinheiro. - O padre corrupto falou duramente, não deixando opções para pobre moça.
__ Padre, eu não tenho onde arranjar toda essa grana! - Falou com pesar.
__ Pare com esse drama... você tem um namorado rico. Ele carrega uma fortuna naquela sua mochila.
__ Como você sabe disso?! - Lisa se espantou, acreditando até ser algo sobrenatural.
__ Deus me dá visões... - A encarou com olhar altivo.
__ Isso é sério?! - Lisa perguntou acreditando.
__ Claro que não. - Ele sorriu e ela baixou os ombros.
__ Sua mãe também tem uma dívida comigo, e das grandes... disse que me pagaria depois que roubasse a grana do seu namorado lá fora. - O padre observava curioso, a reação da moça. Lisa engoliu em seco, virou o rosto não conseguindo encarar mais o padre. Fitou o nada parecendo refletir. Isso não era nem uma surpresa para ela, já sabia de tudo que a mãe andava praticando com a ajuda de Neco.
__ Me agradeça por eu não exigir mais. Imagino que deve ter bem mais naquela mochila.
__ Dione jamais aceitaria entregar sua grana. Aquele é o dinheiro que usará para cuidar de sua filha! - Lisa falou apontando o dedo para o rumo que Dione estava. __ Ele iria preferir lhe matar, que entregar o maldito dinheiro.
__ E não se importará se sua amada for presa? - Ângelo falou cruzando os braços.
__ Se tem que cobrar um preço, cobre de mim, mas um preço que tenho condições de lhe pagar.
__ Você está certa. - Sorriu. __ Venha me pagar então... - Estendeu uma das mãos para ela.
__ Como assim padre? - Estreitou os olhos confusa.
__ Venha, me acompanhe que eu explico. - Falou segurando a mão da moça e a puxando.
__ Espera aí padre, para onde está me levando?! - Lisa falou já resistindo.
Ângelo destrancou a porta e a abriu. O coro infantil agora era mais audível. O padre a arrastava pela mão, saindo da sala do confessionário e caminhando pelo corredor. Chegaram de frente da porta da sacristia e ele a abriu.
__ Entre... - Ele pediu com educação abrindo alas. __ Meu pagamento será desfrutar de seu corpo.
Assim que disse essas palavras, Lisa se soltou de sua mão e começou a correr pelo corredor tentando alcançar a nave da igreja, onde as crianças estavam. Ângelo foi atrás dela e a agarrou pelos cabelos a fazendo interromper os passos e segura por sobre suas mãos para aplacar as dores em seu couro cabeludo.
__ Socorrooo... - Gritou, mas foi silenciada quando Ângelo a agarrou por trás e tapou a sua boca com uma de suas mãos.
__ Venha logo, deixe de teimosia, você tem uma dívida comigo.
Ângelo a arrastava à força enquanto ela esperneava e se debatia tendo os gritos abafados pela mão do homem. Por fim conseguiu a levar para dentro da sacristia, trancando a porta em seguida.
Do lado de fora, Dione não podia ouvir os suplícios de Lisa com o som do coro cantando alto no salão.
Ângelo se virou para ela e começou a andar em sua direção a fazendo se afastar tomada pelo pânico até encostar-se à pequena mesa atrás de si.
__ Não, padre, por favor, não... - Implorou choramingando.
__ Essa ideia foi sua...
__ Você não sabe com quem se meteu. Dione já deve estar vindo atrás de mim. Ele derrotou sozinho um exército de traficantes e decepou a cabeça da propria esposa com uma espada por pura maldade. Ele lhe fará engolir esse celular, ligará para ele para ouvi-lo tocar, e em seguida vai lhe abrir ao meio para atendê-lo. Ela falou lançando um olhar tenebroso na tentativa de o intimidar. O padre engoliu em seco.
__ Sei que seu corpo é uma recompensa de Deus para comigo por tudo que faço pelo seu reino aqui na terra. Creio que ele não me deixará perecer.
__ "Não useis o nome de Deus em vão." Não conhece essa passagem?
__ Claro que conheço... não me tente sua diabinha!
__ Dione vai lhe matar, arrancará a sua cabeça fora e você pagará no inferno por suas perversidades! - Lisa inquiriu ainda o intimidando.
__ Você me deve e eu irei receber aqui e agora... - A pegou pelas nádegas e a sentou sobre a mesa. __... E seu corpo é o meu pagamento! - Abriu a blusa de Lisa com as duas mãos arrebentando os botões que voaram para longe, deixando os seus seios com o sutiã à mostra.
__ Dione socorro! - Ela se desesperava ainda mais e se debatia na tentativa de se libertar de sua pegada.
__ Não resista, assim vai ser pior. Não sabe as perversidades que se passavam em minha mente, todas as vezes que te via aqui tão perto de mim. Imaginava-te de todas as formas possíveis. E agora posso tocar o seu corpo... - Apertou com firmeza os seios da moça com as duas mãos. __ Posso ter o seu corpo todinho para mim... - Segurou as mãos dela contra a mesa e começou a beijar o pescoço dela. Se ergueu a olhando nos olhos e disse:
__ Quero você nesse momento, nem que seja a última coisa que eu faça nessa minha vida! - Voltou a beijá-la no pescoço novamente e ela a gritar demonstrando toda a sua repulsa.
Dione do lado de fora, não suportando esperar mais, disse para si:
__ Por que ela está demorando tanto? Alguma coisa está errada. Vou descobrir o que é, não confio nem um pouco nesse padre. - Disse colocando a arma que acabara de adquirir, na cintura e caminhando rumo à porta.
__ Dione, socorro! Ajude-me, por favor! Esse padre é um pervertido! - Lisa gritava com toda sua voz, erguendo a cabeça, olhando de soslaio para o padre, que desabotoava a sua calça, já deixando o cós de sua calcinha à mostra.
__ Posso estar cometendo uma burrice, mas seu corpo é tão perfeito que prefiro pagar o preço. - Falou se deitando sobre o corpo da moça na mesa.
Embora tentasse lutar com todas as suas forças contra o homem que tentava abusar de seu corpo, Lisa mantinha a fé, que em algum momento, Dione entraria pela porta atrás de si como o herói que sempre se mostrou, para salvá-la.
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