Capítulo 39 - Invasão Sorrateira.

Mercedes Agramunt...
Dione Rocha...


Alguns minutos mais tarde ...

Dione invade os jardins sorrateiramente da casa. Queria evitar um embate. Estava cansado demais pra isso. Não acreditava numa vitória e para ele já bastava a cota de mortes que tinha atribuída a sua longa lista.

Na mansão, tudo estava quieto. Seguranças que faziam a ronda no jardim nem perceberam sua aproximação distraídos com conversas fiadas sobre assuntos corriqueiros. Entrou sorrateiro pela porta da cozinha, subiu os degraus nas pontas dos pés e entrou de mansinho no quarto principal. Seu Clóvis dormia um sono profundo e até roncava. Mercedes estava ao seu lado e dormia profundamente também.

Uma sombra passou sobre os corpos deles como um ser fantasmagórico na penumbra do quarto iluminado apenas pela luz artificial dos postes que adentraram fracas pela janela coberta pelas cortinas de renda. Dione já estava ali e os observava dormir com uma certa fúria em seu olhar. Se aproximou de Mercedes e sussurrou seu nome.

Ele olhou por alguns segundos até que ela abriu os olhos e se assustou ao ver o homem parado à sua frente. Dione rapidamente tapou sua boca a impedindo de gritar. Em seguida colocou o indicador nos lábios pedindo silêncio.

__ Shiu... - Ele retirou sua mão e ela questionou sua invasão num sussurro.

__ O que você faz aqui?

__ Levante-se. Vamos conversar. - Falou também em sussurros.

Dione a esperou no corredor. E ela saiu do quarto amarrando o roupão sobre a camisola e assustada com sua presença já o interrogou.

__ O que você quer comigo? Já ficou bem claro para mim que não me quer na sua vida! - Seu olhar o desafiava.

__ Estou aqui pra lhe mostrar que não está segura. Passei numa boa pelos seguranças.

__ Como conseguiu?

__ Pegue essa grana... - Falou lhe entregando o maço de dinheiro.-Amanhã mesmo você comprará as passagens e voltará para a Espanha.

Mercedes sorriu com o dinheiro nas mãos. Aquilo era interessante mas, nem de longe sua liberdade. O encarou sarcástica o interrogando deforma direta.

__ Você não pode estar falando sério?

__ Não trate a sua sobrevivência com ironia, senhorita Mercedes.

__ Eu não quero sua grana! - Falou devolvendo o dinheiro. Ele não o pegou de volta.

__ O que pensa que está fazendo?! Está escalando as hierarquias? Um inferior morre e você migra para um outro superior?- Dione sentia-se traído ao ver ela na cama com Clóvis. Era assim que ela pagava sua proteção?

__ Eu não sei do que está falando!

__ O seu Clóvis é o Tio do tráfico. - A mulher soltou uma gargalhada. Aquela notícia para ela era a piada do século. Ele não sabia disso?

__ Não me venha com sarcasmos, você sabe muito bem aonde está se metendo! Por que acha que a polícia não apareceu para nos socorrer? Ele pode até ter uma ligação com o seu ex sogro!- Dione insistia em abrir os olhos.

__E se eu souber? O que você tem haver com isso? Não foi você que me dispensou numa noite fria? Que disse que ainda corro perigo?- ela o enfrentou.

- A palavra traficante não lhe diz nada? Saiu da frigideira pra cair no fogo! Não percebe isso?- havia sinais de raiva nas palavras que lhe cuspia na cara.

- O senhor Clóvis não é o tio de porra nem uma! É só um senhor muito gente boa que me ofereceu proteção. - Ela sorriu deixando claro que era o momento de sair dali esquecer toda essa história. Como ele nem sequer se moveu do lugar, completou. - Quem está colocando isso nasua cabeça? Tem tudo pra ser aquela Japinha...

__ Coreana. - Corrigiu ele.

__ Há, tanto faz, para mim são todas iguais; Coreana, Japonesa, Chinesa, Tailandesa... - Falou irritada com a correção de Dione. __Todas tem aqueles olhinhos puxadinhos assim... - Falou esticando os olhos com as mãos. __ Será que elas enxergam direito? Pergunta isso para aquela Coreana quando a ver novamente.

Dione de braços cruzados, esperava a mulher terminar. Dava para ver o ciúme estampado em seu rosto. Ela pensava que ele era burro? Que não tinha capacidade de entender toda a sua situação em volta?

__ É sempre preconceituosa assim, ou isso é só com as Asiáticas? -ironizou.

__ Isso soou preconceituoso pra você? Pergunte para ela o que pensa de mim?

__ Muito. E o que ela poderia pensar sobre você que a imagem que vi momentos atrás não delatasse a verdade?- Mercedes lhe deu um tapa forte no rosto. Ele tinha lhe dado um fora, ela tinha uma filha pra defender. Quem era ele para julgá-la?

__ Não. Eu não sou preconceituosa. Longe de mim seu Dione! Confesso que sinto ciúmes dela. - Falou cruzando os braços sobre o peito enquanto ele acariciava seu rosto pela dor do tapa que levou. -Mas, pelo jeito, fez sua escolha!

__ Se isso lhe deixar mais tranquila, eu também não a levarei comigo. -Dione apertou as mãos em punho, que diabos tinha acontecido com essas garotas? Estavam declarando guerra contra ele?

__ Por que tá me dizendo isso? Eu não me importo. - Falou fingindo, mas no fundo gostou do que ouviu. Sabia que num possível reencontro, a Asiática não estaria entre eles.

__ Eu só quero que saiba que você não está segura aqui. Sara não está segura aqui. Está cheio de seguranças lá fora e eu estou bem aqui. Se fosse outro em meu lugar, vocês duas já estariam mortas.

__ Você teve muita sorte de ter conseguido passar por eles. -Mercedes começou a reavaliar sua atual segurança naquela casa.

__ Não é sorte Mercedes, é destreza e habilidade. Lá fora, está cheio de gente assim como eu, que aceitaria uma mixaria para entrar aqui, e dar fim à suas vidas.

__ Eu lhe pedi proteção, você não pôde me dar... Acho que eu não tenho muitas escolhas seu Dione, e não me mande ir para Espanha novamente! Eu não vou voltar! - tinha apagado a Espanha da sua rota de fuga. Se tivesse que sair dali para qualquer outro lugar, precisava pensar em um novo porto seguro de refúgio.

__ Você disse que ele não pediu nada em troca, aí eu lhe peguei com ele na cama. - isso era ciúme? Ódio por ele ter lhe mentido? Que isso importava para ele? Dione não entendia por que a cena mexeu com ele. Era seu ego machista falando mais alto? Simplesmente não sabia...

__ Ele não pediu. Eu é que quis fazer algo por ele. Dei a ele uma das melhores transas de sua vida.

__ Posso imaginar. - revirou os olhos lembrando dos momentos que esteve junto dela.

__ Não me julgue seu Dione, Eu só estou tentando me virar.

__ Não. Não a julgo!- sim, por dentro, todas as suas células a acusavam de uma traição que só existia na sua cabeça.

__ Acha que Sara está segura? - tentou desviar o assunto.

__ Sim. Está dormindo no seu quarto agora.

__ Tem certeza? Reforçou a pergunta.

Mercedes começou a caminhar em direção ao quarto da filha. Abriu a porta e percebeu que a menina não estava em sua cama. Ela saiu desesperada do quarto e o pegou pelo colarinho prensando seu corpo contra a parede do corredor.

__ Onde está Sara?! Para onde você a levou?

__ Eu? Pra lugar algum. - Dione a afastou de si e cruzando os braços e achando graça ainda brincou.- Se não estivesse ocupada dando a melhor transa da vida para aquele velho saberia onde ela estaria.

__ Sara! - Gritou abrindo a porta de outro cômodo e conferindo.

__ Fale baixo, vai acordar o Tio. Eu não quero mais problemas nessa longa noite.

A mulher depressa desceu as escadas. Desesperada atrás da filha. Onde ela poderia ter ido? Alguém a tinha levado? O coração de mãe desesperada quase lhe escapando por sua boca. Não se perdoaria se isso tivesse acontecido por um descuido seu.

__ Sara! - Gritou ela assim que chegou na sala. Ela avistou a filha sentada ao sofá abraçada ao seu urso de pelúcia olhando para a porta da rua estática.

__ Mamãe! - Ela virou o rosto em direção a sua mãe e Mercedes pode vê-lo banhado em lágrimas.

__ Filha! Você está bem?! - Falou a pegando no colo e lhe abraçando.

__ Sim. - sussurrou. -Os cachorros me assustaram...

Mercedes lembrou da cena horrenda dos cães tentando entrar no carro. As bocas enormes a ameaçando, os latidos, o desespero da pequena. Beijou seus cabelos a confortando. Dione tinha razão, essa noite não poderia ter deixado a pequena sozinha.

- Seu Dione ... O que faz aqui?- A pequena esfregou os olhinhos o encarando.

- Ele veio ver se estávamos seguras...

- Obrigada, seu Dione... - Ela voltou a esconder o rosto na curva do pescoço da mãe.

__ Sim, filha, ele é um homem muito bom. Você não deve dizer a ninguém que ele esteve aqui, ouviu bem?

__ Não vou falar nada mamãe, pode ficar tranquila.

__ Você não devia ter saído do quarto...

__ Eu perdi o sono. Os cães latindo me assustaram!

- Esta tudo bem agora...

Clóvis descia as escadas e vendo a cena à sua frente gritou por

Mercedes.

__ Mercedes. Está tudo bem aí? Escutei vozes e percebi que não

estava na cama.

__ Está tudo bem, seu Clóvis, Sara é que está sem sono. - Falou

passando os olhos ao redor procurando por Dione que havia sumido.

Mercedes escondeu a grana por detrás de uma almofada do sofá esperando que Clóvis não desconfiasse de nada. Ele se aproximou das duas, acariciando o rosto da pequena e roubando um beijo rápido da mulher a sua frente a convidando a voltar para o quarto.

Mercedes subiu os degraus devagar e pediu pra ficar com a filha um pouco mais. Usou a desculpa dos pesadelos e Clóvis as deixou sozinhas. No íntimo, começou a se questionar o quanto de razão Dione tinha sobre sua segurança e da menina. Olhando a filha dormir tranquilamente novamente, tomou uma decisão que poderia mudar de vez todo o seu destino...

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