Capítulo 36 - Lavando o Sangue, Lavando O Corpo, Lavando A Alma...

Meia hora depois...

Distante dali, na escuridão da estrada, na turbidez dos olhos causadas pelas lágrimas que banhavam seu rosto, Lisa deu-se conta da garotinha assustada ao seu lado...

__ Está chorando? - Perguntou Sara.

__ Não estou. - Falou enxugando os olhos com as costas da mão.

__ Não tente me enganar, eu não sou boba. Você está chorando sim. - Falou a menina convicta do que falava.

__ Ai, pirralha, não enche! Eu estou chorando sim. E daí?! Eu não sou de ferro! - Falou estourada, não conseguindo mais suportar toda aquela pressão.

__ Já sei, está arrependia por ter deixado minha mãe e o seu Dione para trás. Não custava nada você ter trago eles também.

__ Vai continuar repetindo isso até quando? Eu estou pouco me lixando para aqueles dois! Aliás eles se merecem! Você passou a viagem toda falando nisso! - Disse Lisa brecando o Veiculo.

" Por que não trousse a mamãe? "

" Você vai voltar pra buscar ela?"

" A policia pode levar o seu Dione e ela presa." - Lisa falava afinando a voz na intenção de arremedar a criança. __ Você é insuportável garota! Eu devia ter te deixado para trás também. Por sorte, nós já chegamos. Não suportaria ficar mais nem um minuto com você nesse carro. - Falou Lisa colocando a cabeça para fora da janela e estreitando os olhos, conferindo o endereço.

Sara ficou triste e cabisbaixa. Ao perceber o estado da garota a olhando no reflexo do espelho, Lisa se arrependeu do que disse. Não deveria ter falado assim com ela. Ela era apenas uma garotinha e estava assustada, assim como ela.

__ Me desculpa vai... - Falou se virando e a olhando com ternura. __ Você não tem culpa pelo o que aconteceu. Eu acabei perdendo a cabeça. - Sara ergueu o rosto devagar, e deu um tímido sorriso

__ Olha... Vou lhe dar uma coisa como pedido de desculpas. - Falou a moça erguendo o corpo e pegando sua bolsa no porta luvas. Ela se acomodou novamente no banco, abriu a bolsa e tirou um pirulito de dentro dela. __ Isso é pra você! - Falou erguendo o braço colocando o doce na frente do rosto da garota que sorriu e o pegou.

__ Obrigada! Eu te perdoo sim. - Falou feliz pelo presente.

__ Tenho 20 anos, mas sou viciada nessas coisas. Trousse para viagem, mas aconteceram tantas coisas que acabei me esquecendo. Sorte sua né. - Falou sorrindo sem mostrar os dentes.

Lisa Avistou uma requintada mansão do outro lado da rua. Achou por bem parar um pouco distante. A menina desceu e agradeceu pela carona. Ela atravessou a rua chegando na frente no portão, apertou o Interfone e se apresentou.

Lisa não arredaria o pé enquanto não tivesse certeza que a menina estivesse em segurança. Um homem abriu a porta e a Recebeu de bom grado. Estava muito escuro e Lisa não conseguiu ver quem era. O homem pegou a menina no colo, trocou algumas palavras com ela e entrou para dentro. Sabendo que aparentemente estava tudo bem, Lisa seguiu seu caminho.

Enquanto isso, o taxista deixava Dione no seu destino. Haviam içado o táxi aproveitando uma corda na caminhonete como cabo de apoio e depois de algumas tentativas o trabalho exaustivo dera certo. Ele saiu do automóvel e Mercedes o acompanhou até a calçada.

__ Obrigada mais uma vez. - Disse ajeitando o cabelo atrás de sua orelha.

__ Não precisa agradecer. No fundo eu gosto disso. Gosto de ver a cara de frustração dos cretinos depois que são impedidos de fazer suas perversidades. - Sorriu sabendo que isso nem sempre era verdade. Os fantasmas deles o iriam perseguir onde quer que fosse. A morte não era brinquedo. Ela sugava a vida de quem fazia uso dela. Deixava uma carga psicológica pesada de carregar. Uma bagagem que nem a cargo de muita reza conseguiu se desapegar.

__ A gente vai se ver de novo?

__ Espero que não. - A mulher lhe olhou assustada. Não esperava por essa resposta.

__ Toda vez que você chega, a encrenca chega junto. - Sorrio lamentando esse fato. A mulher ficou sem graça e engoliu em seco. Não sabia o que dizer diante daquelas inesperadas palavras.

__ Eu estou brincando...

__ Mas não deixa de ser verdade. Sinto muito por ter lhe envolvido nos meus conflitos.

__ Não sinta. Tudo foi um grande acaso.

__ Sinto também por não tê-lo conhecido antes...

__ Eu poderia lhe perguntar: Por que a gente não se conhece melhor agora? Mas sou obrigado a descartar essa possibilidade...

__ O que lhe impede seu Dione?

__ Confesso que você tem uma beleza inigualável. Seria uma ótima companhia, mas não posso me envolver com você. Como já disse, tenho uma filha no qual a amo muito e não posso colocar sua segurança em risco.

__ Qual risco? Todos que me perseguiam estão mortos! - Mercedes aproximou-se mais dele tentando entender o que o Expedia tal fato.

__ Você se envolveu com quem não devia ter se envolvido. Seu sogro era o chefe de qual facção? - Foi direto, aquela história e toda a violência gratuita não tinham conexão lógica. A polícia nem sequer dar as caras? Isso estava muito errado.

__ De nem uma! Por que tá dizendo isso?! - Falou a mulher nervosa.

__ Um cidadão comum não estaria em posse daquele arsenal. Não minta para mim Mercedes, eu preciso saber com quem estou lidando. - Dione deu um passo para trás, seu lado mulherengo parecia estar se entregando á aquele perfume natural dela.

__ Por que lidando? Não sobrou ninguém. Todos estão mortos!

__ Sempre haverá um irmão, um tio, um sobrinho, um amigo... Isso não acaba nunca!

__ Você está certo, meu sogro era o líder de uma facção criminosa. Slander e todos os seus irmãos trabalhavam para ele.- baixou os olhos e falou com pesar.

__ Por que as garotas tem sempre a mania de se agradarem de maus elementos, hein? - Dione deixou uma questão no ar.

Ser o bad boy, o mafioso, o traficante ou até mesmo o trombadinha da esquina parecia exalar um almíscar que as prendiam. Era incrível os absurdos que faziam por caras assim! E de momento lembrou-se de Marina. Precisava urgente achar uma cura para tal feitiço! Não poderia deixar que sua filha se deixasse envolver por um encanto tão perigoso como este!

__ Eu me agradei de você, e pelo o que percebi você não é um mal elemento é?

Donzelas em perigo... Elas eram o calcanhar de Aquiles dos homens. Um belo sorriso. Um cabelo bagunçado devido a um salvamento. Aqueles olhos brilhantes pedindo uma chance. A boca macia se insinuando... Precisava acordar! Não Poderia cair em mais uma armadilha feita por esse tipo de mulher! Mesmo assim, esboçou um sorriso de macho alfa satisfeito por ser desejado.

__ Como pode ter tanta certeza?

__ A gente vai amadurecendo com o passar dos anos. Se você for mesmo uma pessoa ruim, ficaria surpresa. Seria uma grande contradição dos seus atos.

__ Sou uma incógnita. Pode acreditar. - Dione sorriu.

Mas ainda bem que não sou esse tipo de mulher. Jamais me envolveria com alguém como Slander, se não fosse obrigada. Dezenove malditos anos ao lado de um monstro. Mas graças a você, estou livre agora. Gracias, mil vezes gracias! - Lhe abraçou.

__ Meu conselho para você ainda continua o mesmo, voltar para a Espanha. Isso não terá fim enquanto não tiverem morta.

__ Eu estarei segura agora. - Falou com alívio.

__ A, é mesmo? E quem vai lhe proteger? - Dione a liberou do abraçou.

__ O senhor Clóvis. - Disse fitando os olhos dele.

__ Clóvis?! - Falou surpreso.

__ Sim. O moço que comprou o seu carro. Eu te segui. Eu vi vocês negociando. - Dione se lembrou da sensação de ter alguém lhe seguindo.

__ E como fez para convencê-lo a lhe dar proteção? - Estreitou os olhos.

__ Enquanto vocês conversavam, eu entrei sorrateiramente em sua mansão. Seus seguranças me pegaram. Eles estavam me expulsando para fora quando Clóvis me viu. Eu lhe contei minha situação e como você, ele teve pena de mim.

__ Pena, ou enxergou uma oportunidade de um bom negócio? - Perguntou com ironia.

__ Prefiro acreditar que seja empatia. Quando o carro tombou, eu estava voltando da casa de uma amiga. Fui buscar algumas coisas minhas que havia deixado lá. Meu destino era a mansão do senhor Clóvis.

__ Que proteção é essa que está lhe dando que deixa você pegar um táxi?

__ Não é um táxi de verdade. Esse é um dos carros dele. O motorista é um dos seus homens. Ele está bem armado. Peguei aquela arma na sua cintura, enquanto estava desacordado. - Dione olhou para o motorista que lhe sorriu com o canto da boca, e lhe bateu continência.

__ Ele está bem armado e deixou a gente na maior fria? - Na visão de Dione, ele era um perfeito idiota com uma bela arma.

__ Ele desmaiou, coitado... a propósito, a camisa que lhe emprestou, lhe caiu muito bem. O lance do táxi foi tipo uma camuflagem.

__ Parece que ela não deu muito certo, Branco lhe achou. - ele ainda olhava o falso taxista de relance com total desconfiança.

__ Branco estava há muitas quadras de distância da gente, estávamos o acompanhando pelo computador de bordo. Clóvis instalou um sinalizador no carro deles. Iríamos escapar, se não fosse a louca daquela Asiática! - Falou revirando os olhos lembrando do acidente que Lisa provocou.

__ Mercedes... - Dione franziu a testa a reprimindo.

__ Desculpa... teríamos sim, escapado se não fosse o acidente.

__ Por que não nos alertou do perigo iminente que se aproximava se você já sabia que estava vindo?

__ Aconteceram tantas coisas que acabei me esquecendo...

__ Como consegue esquecer um sujeito como aquele? - Dione inquiril.

__ Ora Senhor Dione, teve o acidente e depois o sumiço da minha filha, eu só pensava nela naquele momento... Eu, eu...

__ Shiu... está tudo bem. Eu compreendo. - Falou Dione sorrindo a interrompendo e segurando sua mão. __ Esse Clóvis, vai mesmo lhe ajudar de bom grado, sem nada em troca?

__ Sim. Por que não? Ele me parece uma boa pessoa. Sara e eu estaremos seguras. Ele tem muitos homens ao seu mandato, muitos seguranças.

__ Meu conselho ainda é o mesmo: Volta pra Espanha.

__ No puedo volver! Já disse! Seu falar pesaroso ainda enfeitava a sua voz.

__ E por que não? O que esconde? - Dione a pressionou.

__ Eu poderia lhe falar mas acho melhor não. Chega de roubar a sua paz com meus conflitos...

__ Você é quem sabe. Bem, eu já vou entrar. Espero que encontre a paz que almeja e que Clóvis consiga lhe dar proteção. Ele me parece um bom homem.

__ Sim ele é. Pena que ele não tem esses seus olhos e essa sua pegada. Isso é pra você jamais se esquecer de mim... - Falou surpreendendo o Homem com um beijo.

Minutos depois, Lisa chegara em casa. Guardou o automóvel na garagem, pegou a mochila e seguiu rumo ao interior da casa. Quando ainda estava no corredor, retirou o seu celular do bolso, se sentou apoiando as costas na parede, passou as mãos no rosto e suspirou profundo.

Aquelas cenas das pessoas mortas ainda estavam bem vivas em sua mente. Era a primeira vez que havia tirado a vida de alguém. Isso era demais pra doce garota que só queria levar sua vida normal. As lágrimas escorriam por sua face sem controle. Havia procurado parcialmente Jude próximo onde tudo aconteceu, mas não a encontrou.

" Onde Você está Jude? Eu preciso tanto de você aqui..."

Ficou por algum tempo ali telfetindo. Precisava de força para continuar executando aquilo que pretendia. Ela olhou para o seu celular e fez uma chamada. Ela falava em coreano.

__ 어머니... ( __ Mãe...) - Ela começou a chorar.

__ '스네코에게 빌어먹을 돈이 있다고 전해줘. ( - Diz ao seu Neco que a maldita grana está aqui. )

디오네는 이제 멀리 ( Dione está bem longe agora.)

그에게 돈을 받고 디오네를 내버려 두라고 말하십시오. 그는 좋은 사람이다. (Diz a ele para pegar a grana e deixar Dione em paz. Ele é um bom homem. )

그리고 다시는그런 일을 부탁해! ( E nunca mais me peça para fazer tal coisa!)

오늘 나는 그 빌어먹을 계획 때문에 거의 목숨을 잃을 뻔했다. ( Hoje eu quase perdi a vida por causa desse maldito plano.)

나는 이미 한계에 다다랐다! (Eu já estou no meu limite! )

고통은 충분하다! 더 이상 쓰레기 취급을 받지 않습니다! ( Chega de dor! Chega de ser tratada como um lixo!)

이런 일이 계속된다면 자고 있는 그 노인을 죽이겠다고 약속할게. ( Eu prometo que mato aquele velho dormindo, se isso continuar! )

Dona Jane esbravejava do outro lado da linha, mesmo percebendo a voz da filha embargada pelo choro.

__ 당신은 그 어떤 것도 하지 않을 것입니다! 무슨 말인지 모르시겠다구요! ( __ Você não vai fazer nada disso! Você não sabe o que está falando! )

너... ( Você... ) - Lisa desligou o celular na cara da mãe.

Ela ficou ali no chão por mais alguns poucos minutos chorando, e logo pegou a mochila, deixando o celular jogado por ali, se levantou, e foi rumo ao interior da casa.

Lisa entrou no quarto, foi deixando as roupas sujas pelo caminho, entrou no banheiro e abriu sem pestanejar o registro do chuveiro.

Deixou a água correr por seu corpo como as lágrimas corriam sem controle sobre ele. Deslizou as mãos pelo seu rosto, passando pelo seu queixo, pescoço, os seios e parou no seu ventre. Ele lhe doía. Não sabia se era por causa da batida na caminhonete ou sua alma se revirando toda dentro de si. Abraçou-se tentando se confortar.

Tinha um vazio frio crescendo dentro de si e tinha medo que congele mesmo sob a água morna do chuveiro. Virou o rosto em direção a corrente de água e por um momento pensou que elas poderiam lhe afogar e acabar com todo aquele sofrimento interno. Lembrou da culpa crescendo dentro de si como uma erva daninha. Ela se apostava do seu coração e parecia espreme-lo cruelmente.

Abriu os olhos assim que baixou o rosto e deixou que a água caísse em sua cabeça. Os pingos pareciam marretar sua mente. Via aqueles olhos arregalados de Marquenze lhe olhando de frente. A morte desenhada neles. O medo. A dor.

Os fechou e a visão não foi embora. A escuridão que se formou em sua mente só a tornou tão real que quase a podia tocar. Começou a soluçar até deixar seu peito doer com todo o horror da noite. Quando os abriu novamente, parecia ver o vermelho tinto tingir o piso aos seus pés e seu grito reverberou dentro do box. Pegou o sabonete e começou a se esfregar com força para limpar ele de sua pele.

Ele era ilusório. Mas, a dor que sentia...

Vestiu sua camisola depois de desistir de lavar sua alma e foi a passos firmes em direção à cozinha. Agora era a hora tão almejada de afogar todas as suas mágoas nos líquidos inebriantes dos deuses que aquele velho desgraçado tinha escondido pela casa...

Só não imaginava a surpresa que teve. Dione já lhe esperava sentado à mesa com uma garrafa de vinho e duas taças cheias. Ele era a melhor droga que poderia usar para extravasar a sua adrenalina...

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