Capítulo 33 - Malditos Cães.


A brincadeira de gato e rato acabou para Mercedes. Ela foi envolvida pelos braços do cunhado e tentava a todo custo se soltar. Seus gritos ecoavam na noite e lhe arrancavam risadas. O brutamontes era forte o suficiente para impedir sua fuga. Ele a prensava contra seu corpo com tanta força que seus gritos saiam abafados.

- Não se mexa tanto cunhadinha... Meu pau já subiu e está no ponto de te dar uma boa surra! - lambeu a orelha dela lhe causando um asco. - E que bela bunda você tem!

Dione bufou, do jeito que as coisas andavam, precisaria de uma semana de férias nas Bahamas no mínimo, depois que tudo isso acabasse. Viu de relance a enrascada que a espanhola se meteu e correu em direção dela para socorrê-la. Seu ego de macho se perguntava por que mulheres tinham tanto talento para se meter em confusões desse tipo? Não tinham amor próprio ou gostavam de viver a vida com a adrenalina no limite? Viver se equilibrando numa corda bamba entre a vida e a morte era tão divertido assim? Desistiu de descobrir a resposta se aproximando rápido, mas sorrateiramente por trás do imbecil que a prendia em seus braços. De assalto, o segurou pelos cabelos e o puxou acertando a barra de ferro que tinha surrupiado a momentos atrás em sua perna esquerda. A dor do impacto o fez afrouxar as pernas e o corpo ficar pendendo ao abraço de Dione.

- Seu imbecil! Meu pai vai acabar com a sua raça!- Exclamou Marquenze com dificuldade, ainda se recuperando do golpe.

As mãos firmes de Dione em seus cabelos lhe impediam os movimentos. Ele girou a barra de ferro no ar e a apontou em direção ao estômago do homem à sua frente que, para diminuir a dor, segurava as mãos de Dione em seus cabelos. O olhar aflito dirigido ao pai, demonstrava que de momento, não tinha ideia de como se livrar daquela pegada. Implorava que o velho não agisse por impulso. O corpo do seu irmão e mais aquele amontoado de capangas espalhados na rua, antevia que seu destino não seria agradável.

- O que vamos fazer pai? - Roney, o filho fracote de Branco que preferiu ficar de companhia ao pai no carro, perguntou. A sua voz de zumbido de mosca falha o irritava. Eram uns idiotas! Sem atitude! E de momento, parecia que teria que fazer tudo sozinho.

- Maldição! - Branco pegou a sua arma calibre doze e já apontou à Dione. Queria ver os seus miolos espalhados pelo chão.

- Fique aqui seu maricas! Eu vou acabar de vez com essa palhaçada!

- O filho até fingiu um certo ar de ofendido com as palavras do pai. Mas, prezava pela máxima de que mais vale um covarde vivo que um herói morto! Limitou-se a acompanhar o desfecho a seguir. Apesar de ser uma arma antiquada. A espingarda calibre 12 faz um estrago enorme. E Dione não queria colocar mais ninguém em risco. Olhou para Mercedes encolhida em um canto na parede de um prédio e não tinha precisão se estava entre ele e a mira contra ela, ou se ela poderia ser o primeiro alvo. A razão falou mais alto. Alguém deveria ter chamado a polícia! Impossível que as pessoas os ignorassem naquela situação! Precisava de tempo!

- Seu Branco... - Dione colocou seu filho como escudo em sua frente. - Vamos ser realistas... Pegue o que sobrou da sua família e vá embora daqui!

Lisa se apavorou ainda mais no beco. Podia ver o homem com a arma de grosso calibre apontada à Dione. Os olhos dele pareciam demonstrar certeza que poderia acertá-lo sem machucar o seu filho. Ela tinha fechado a capota do carro, o breu se instalou ali dentro as deixando encobertas da sua visão. Ela e a garotinha tremiam de medo. Mas, parecia escutar ao longe sirenes.

- Graças a Deus! - Murmurou baixinho mesmo sem ter certeza se o som não era produzido pela sua imaginação diante ao pavor. - Precisamos de uma distração! - falou alto dando uma panorâmica a sua volta. - Mas, o quê?

Diante das palavras de Dione, Branco parou no meio da rua. O cruzamento lembrava aqueles filmes de faroeste, só que iluminado pelas luzes artificiais do poste. Uma cruz em forma de estrada parecia demarcar o ato final de Dione nessa vida. Branco, era como o bandoleiro de arma em punho desafiando o mocinho ou juiz macabro dando a sua sentença de morte aos condenados. Mesmo assim, ainda se questionava. Quando perdera o controle da situação dessa maneira? Era um homem temido. Alguém que sempre esteve do lado da sorte. Agora... A imagem do filho agonizando lhe invadiu a mente. A forma que Dione segurava e ameaçava seu outro filho mais forte, porém tão debilitado nesse momento, o deixou em conflito consigo mesmo. Não poderia perder toda a sua família em uma única noite. Como contaria a sua esposa essa tragédia? De imediato, se intitulou um covarde...

- Vamos embora...- A voz saiu baixa e vergonhosa.

- Como assim pai? - Roney gritou da caminhonete. - Vamos acabar com ele! Olha a arma que o senhor tem em mãos!

- Quer ver mais um irmão morto?- falou sem olhar para trás.

Mercedes deixou seu corpo escorregar pela parede. Sabia que o sogro ainda a perseguiria pelo resto de sua vida. Mas, sentia-se aliviada por poder dar mais um abraço em sua filha hoje. Só que naquele momento, viu uma sombra surgir na noite. Era um dos capangas que deveria ter se escondido esperando o momento certo para agir, ou mesmo percebido que morreria se investisse contra aquele homem. Ela tentou gritar para alertar Dione sobre sua presença. Sua voz não saiu a tempo e ela viu o homem lhe acertar quase na altura da nuca com um pedaço de madeira. Marquenze aproveitou a deixa, tirou um canivete do seu bolso e enfiou com força na perna de Dione. A dor da paulada ao mesmo tempo da perfuração não lhe deram chance de defesa. Ele deixou a barra de ferro escapar de suas mãos, e agora era ele quem era segurado pelos dois diante de Branco.

- Muito bem, Drico! -Roney vibrou com a reviravolta do destino.

__ É isso ai mano! Por essa, ele não esperava! Dione pendeu para frente, os homens o obrigaram a ficar de joelhos diante do pai. Agora, provavelmente, não haveria uma escapatória. Já sentia o anjo da morte lhe beijar o rosto e as portas do inferno se abrirem à sua frente. Naquela distância, não tinha como errar um tiro...

- Dione! - Lisa gritou apavorada dentro do carro.

- Parece que o jogo virou novamente, seu Dione... - A voz de Branco tornou-se ácida, completada por um sorriso sarcástico. - Você resistiu bravamente até agora, mas...

- Acaba logo com isso! - Dione cuspiu as palavras enojado. Sabe que agora é aquela famosa hora do discurso do vilão. Porém, não tem paciência para isso. Se é pra morrer, que se morra com decência e sem todo aquele xororó.

Lisa, sabia que tinha um sentimento enorme por Jude, e também tinha certeza que amava aquele homem, mesmo ele sendo um babaca usurpador de donzelas. Tinha certeza das sirenes ao longe. Elas teriam que chegar a qualquer momento. Muniu-se de uma estúpida coragem, abriu a porta do Cadillac, saindo e gritando...

- Não mate ele! Eu lhe imploro! Por tudo que é mais sagrado!

- Que você tá fazendo? - Sara lhe falou encolhida em seu canto, morrendo de medo.

-Tá tudo bem, confie em mim! - Lisa piscou pra ela tentando a acalmar. Bem? Estava louca, isso sim! Mas, teria que tentar algo ou nunca se perdoaria pelo que poderia vir acontecer.

Conseguiu chamar a atenção de todos, e junto com ela, uma gargalhada generalizada. Homens! Tolos! Tola é você! Se expondo assim! Ouviu seu subconsciente lhe xingar e implorar para que voltasse para o carro.

Roney, mirou um feixe de luz com a lanterna que achou na caminhonete contra ela a obrigando cobrir parcialmente seu rosto por causa da luminosidade. Por causa da luz em direção ao carro, Mercedes percebeu a figura da filha se remexendo dentro do mesmo.

- Roney, não é a sua japonesa? Corajosa ela! - Marquenze brincou com o irmão.

- Sim, é ela mesma! Vou lá foder ela! - Certo da situação estar totalmente controlada pelo pai, desceu do carro e começou a caminhar em direção a Lisa.

- Por que não foi embora enquanto pode, Lisa! - Dione irritou-se. Mulheres! Quando elas aprenderiam a tomar decisões certas e não atrapalhariam mais sua vida? De súbito, percebeu que os dois idiotas que o seguravam estavam distraídos com ela. Perfeito! Talvez, ela não fosse tão tola assim. Puxou o canivete em sua coxa sentindo a carne rasgar no processo, sabia que era mais doloroso retirar a arma do que ser ferido por ela. O sangue esguichou no chão, mas ela tinha acertado só músculos. O que faria que coagulasse rápido. O guardou para um momento certo o escondendo atrás de uma das mãos e voltou sua atenção a possível heroína da noite.

- Não faz isso garota! - Gritou na sua direção. Tentando encobrir a dor que sentia.

- Jamais deixaria você, Dione! Mesmo sendo um grande panaca, traidor e sedutor de donzelas inocentes! - Dione revirou os olhos. Ela precisava ser tão cruel? - Se vai nos matar, quero morrer junto com ele! Olhando nos olhos dele e dizendo como me sinto humilhada e traída!

- Se é isso que você quer... -Branco se diverte com a atitude da garota. Ela era corajosa ou burra mesmo? Tanto faz, não tinha tempo a perder com ela!

- Mas, pai! Deixa eu foder ela primeiro! O senhor prometeu!

- Sinto muito filho... A moça tem mais coragem que você! Prefiro acatar seu pedido!

Roney voltou excomungando para o carro. Ele sempre era interrompido nas melhores horas. Quando seu pai lhe trataria com respeito? Talvez nunca! Assumiu seu lugar na carroceria novamente esperando novas ordens. Detestava ser tratado como um ser inferior. E sabia que Marquenze era o preferido da família. Revirou os olhos vendo Lisa se aproximar. Que desperdício! Tão linda!

Lisa começou a caminhada lenta até Dione. Eram poucos passos do beco até o ponto central do cruzamento onde ele estava. A cada passo a respiração acelerava e a audição se aguçava. Na rua central, a caminhonete estava estacionada à frente de Dione, sendo que na mesma só mais a frente ela via o táxi capotado. A rua que seguia à sua frente estava livre, mas não adiantaria correr por ela, as balas da arma a alcançariam antes que fosse muito longe. Engoliu em seco e continuou sua marcha.

Onde estavam as sirenes? Talvez, só em sua mente. E isso, não era um bom sinal! Ao aproximar-se das grades do portão, viu os cães excitados pelo cheiro do sangue e todo tumulto à sua volta. Lembrou de passar por eles quando foi se esconder no carro. Eles latiam ferozmente e ameaçavam atacar. Mordidas eram desferidas no metal à frente deles e projetavam os seus corpos contras as barras de ferro às sacudindo com violência. Eles eram assustadores. Dois enormes Rottweiler, negros como a noite projetavam seus corpos furiosos contra o portão cuja a tranca, nem sequer tinha um cadeado e pelo porte dos animais chocando-se contra ela, rompeu-se de rompante os fazendo rolar a frente de Lisa.

- Merda!- disse, começando andar devagar pra trás. Nem respirava olhando os cães sacudirem a cabeça de um lado para outro tentando se ambientar à nova realidade. Estavam livres! Procuravam alvos que aplacassem sua fúria. Desesperada, Lisa correu chamando a atenção deles para si. O suor começou a brotar em seu corpo e o pânico e em seu olhar ao ver Sara por instinto fechar a porta do carro para se proteger das feras.

- Abre a porta, Sara! Por favor! - Gritou para a menina.

- Não abre filha! Por favor!- Mercedes gritou para a filha. Sabia que Lisa levaria os cães para dentro do carro e seria o fim delas. - Estúpida! - Mercedes berrou furiosa tentando achar algo que tirasse a atenção dos cães ao carro.

Lisa pulou sobre o capô. Encolheu as pernas no momento exato de se salvar de uma mordida. Ficou em pé e lembrou-se de subir no teto. Só então percebeu que a lona não suportaria seu peso.

- Lisa!- Dione berrou tentando se soltar. Foi agredido e posto de joelhos novamente.

Os cães se projetaram contra o carro, mas seus corpos pesados não permitiam que subissem no veículo. Eles apoiaram as patas dianteiras sobre o capô e latiam ensandecidos. A menina gritava desesperada dentro do veículo. O que os atiçava mais ao ataque.

- Quase que sua namoradinha vira comida de cachorro seu Dione!- Branco o provocou. Os homens riram da situação da pobre moça desesperada.

Mercedes, aproveitando da distração deles e apavorada com a situação em que a filha se encontrava, correu até o táxi à sua frente. Sacudiu o motorista o trazendo a realidade e procurou algo no banco de trás entre a bagunça de coisas reviradas pelo acidente. Precisava salvar a criança daqueles monstros.

- Ok, seu Dione... - Branco engatilhou a arma e apontou em seu peito. - Quais suas últimas palavras!

- Vai pro inferno! E se possível... Dê lembranças minhas ao diabo!

- Aqui, meninos!!- Mercedes saiu correndo em direção ao beco ficando na rua em frente aos cães abanando algo em sua mão. Os cães pararam por um segundo observando a mulher. Pareciam sorrir ao ver a salsicha enorme que ela balançava no ar. Mercedes estava grata por a filha não querer comer o cachorro quente que havia comprado pra ela. Agora tinha uma distração. Só esperava ser muito mais rápida que eles...

- Ei bebês!!! Não estão com fome? Vem pra mamãe! Os cães desistiram de Lisa. Porém ela sabia ter uma única salsicha em mãos. Precisava de ideias de como usá-los a seu favor. Os dois iniciaram uma corrida atrás da mulher que disparou em direção de Branco. Eles latiam enquanto as suas babas escorriam por suas bocas. Pareciam cães do inferno!

- Tá com você coroa! - Mercedes passou por Branco que tinha parado sua ação para ver o desfecho dela com os cachorros e jogou a salsicha aos seus pés.

- Sua filha da puta!- Branco percebeu que a investida deles agora era sobre si.

Branco mirou e atirou no que estava mais a frente. Acertou em cheio sua cabeça a fazendo explodir em pedaços diante de si, espirrando sangue e miolos nos que seguravam Dione. Precisou de um segundo para engatilhar a arma e acertou de raspão no segundo cachorro que agora em fúria, não se satisfaria com o pequeno belisco. Ele parou para lamber a pata ferida. Rosnou e recomeçou a correr em sua direção. Dione aproveitou a distração, foi sua vez de usar o canivete e apunhalou Marquenze ferindo-o no braço e o fazendo largar de imediato. Drico, covarde como era o soltou de vez e ensaiou uma fuga, porém o motorista do táxi, aturdido ainda pela pancadas na cabeça e sem saber direito o que fazer, o interrompeu o atingindo com extintor de incêndio que havia escapulido do seu lugar no carro e repousava agora ao seus pés, acertando seu rosto quando passou por ele. Drico caiu inconsciente no chão e o homem vibrou com sua ação de herói.

O cão ferido fez Branco ir de encontro a caminhonete, engatilhou a arma mais uma vez, se virando, e quase sem mira apontou no cão que agora se projetava contra ele em um salto, fechou os olhos, e atirou...

O baque do corpo arrombado do animal sobre si o fez cair junto com o cadáver ao chão. A cara do animal com a boca aberta e caninos expostos ao extremo lhe fez quase mijar nas calças imaginando aquelas presas ao seu rosto ou no seu pescoço. Ainda via a fúria nos olhos do animal. O líquido grosso encharcando suas roupas lhe provocou ânsia. O peso era quase insuportável, e quando finalmente se livrou dele o rolando para o lado, viu as vísceras caindo por terra.

Roney próximo ao cadillac, sorria feliz por seu pai, novamente, contornar a situação. Lisa já tinha voltado para o seu interior e aconchegou Sara ao seu peito, impedindo a pequena de ver tal cena enfadonha a sua frente.

- Está pronta para me servir bonitinha? - Roney Brincou com ela, batendo a palma da mão aberta no capô e lambendo os lábios. Agora poderia se divertir com a garota sem interferência do pai.




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