Capítulo 29 - Equipe de busca


Lisa aproveitou a distração deles para se mandar. Não tinha motivos para ficar. Sentia um ódio gigantesco de Dione, queimando dentro de si por iludi-la. Caminhava a passos rápidos pela calçada e não conseguiu segurar as lágrimas que começavam a rolar...

"Machuquei a Jude por ele, e descubro que tem outra! E ainda por cima vou levar uma tremenda surra do seu Neco por não ter conseguido a maldita grana." - Lisa murmurava para si em pensamentos e logo em voz alta:

__ Que merda! Que merda! Que merda! Que mer... - Engoliu o xingamento para si, ao se deparar com uma cena inusitada.

Um grupo de homens armados interrogava um andarilho na esquina logo a sua frente. Lisa não hesitou em se esconder. Pôs-se logo atrás de um contêiner de lixo quadrado que havia por ali e espiava a cena quase sem respirar para tentar ouvir o que diziam.

__ Um homem alto, assim... - O senhor que aparentava ter uns sessenta anos, porém com porte atlético, usando um pequeno chapéu de tecido sobre a cabeça, gesticulava as mãos e interrogava o sujeito. __ ... forte e um tanto vistoso e uma bela mulher, morena com uma garotinha, você os viu por aqui?

__ Não. Eu não os vi. - O homem olhou em volta de si todos aqueles homens armados e o pavor tomava conta dele. __ Por favor, me deixem ir agora, eu não vi ninguém, eu juro!

__ Tem certeza?! - O interrogante enfatizou colocando uma pistola em sua testa.

__ Sim. Tenho! - O andarilho respondeu de sobressalto vendo a arma em sua fronte. __ O negócio é o seguinte, saímos de casa dispostos a matar quem cruzasse o nosso caminho nessa madrugada fria. Mas abriremos uma exceção pra você se nos disser algo relevante que nos ajude a encontrar quem procuramos.

O sujeito refletiu por alguns segundos. E ficou em silêncio. Não tinha nada a dizer aqueles sujeitos. Ou pelo menos, não queria. Era um pobre coitado abandonado à própria sorte que no momento, parecia ter o deixado também.

__ Isso é pra você ver a veracidade do que falo... - Falou o senhor disparando no pé do pobre homem, que começou a gritar e caiu no chão de dor tentando conter o sangue que borbulhou do ferimento. Todos em sua volta riam sem remorso do sujeito ali aos seus pés se contorcendo de dor.

__ Lisa soltou um gritinho de susto e levou a mão à boca, voltando a esconder a cabeça atrás do contêiner. __ O medo a fazendo soar frio. Precisava sair dali, precisava avisar Dione, mas como?

__ Percebe o quanto é dolorido? Vou contar até três e acertarei seu outro pé se não me disser algo revelador. Um... Dois...

__ Tá bom! Ta bom! Eu falo, eu falo, mas não atire de novo... - Choramingou. __ A garotinha está deitada ali na minha barraca... - Apontou para trás. __ A encontrei desacordada no chão, lá na avenida, e a trouxe para cá. Imagino que deva ter caído do táxi que capotou por lá...

__ Eu sabia... - O senhor sorriu debochado. __ Vão lá averiguar. - Ordenou aos comparsas que logo obedeceram. Lisa acompanhava tudo apreensiva. Logo eles averiguaram a barraca apontada por ele e um deles gritou:

__ O mendigo Mentiu chefe, ela não está aqui! - O senhor de chapéu se virou para o andarilho e cerrou o cenho lhe apontando a arma novamente.

__ Como ousa mentir para mim?! - O encarou com uma carranca no rosto.

__ Mas como assim?! Eu a deixei Lá! Deve ter despertado e ido embora. Por favor, acredite em mim, eu... - O senhor o calou com um tiro no meio da testa.

__ Aí, meu Deus! Mas que merda! - Lisa tapou os olhos, não acreditando no que via.

__ Vamos nessa, nossa caça nos espera! - O senhor desdenhou para o bando.

__ Só um minuto chefe, Raul e Marquenze foram até o segundo quarteirão, viram um homem correndo para lá, talvez seja o desgraçado que procuramos. - Falou Drico, um dos capangas.

__ Que idiotas! Já sabemos onde eles estão, O táxi da desgraçada capotou! Não ouviram o miserável falando?! Só espero que a encontremos com vida. Eu quero ter o prazer de matá-la.

Lisa precisava sair logo dali e ir embora. Ou... Voltava pra alertar Dione do perigo? Quando ainda buscava uma resposta, foi surpreendida ao sentir o cano de uma arma por detrás de sua cabeça. Em desespero, Lisa levantou as mãos se rendendo...

Era uma sensação muito ruim ter uma arma apontada para a propria cabeça. Sentiu seu corpo se arrepiar da cabeça aos pés. Mataram o pobre andarilho e agora seria sua vez. Se arrependeu de não ter ido embora quando teve a chance.

__ Eu-eu não tenho nada a ver com isso, por favor, não atire. - Falou temendo por sua vida, ainda de mãos levantadas.

__ Você tem a ver sim! Eu vi você com eles. Você se envolveu com aquele sujeito! Está atolada até o pescoço nessa história.

__ Jude?! - Lisa reconheceu a voz da amiga e ainda de mãos levantadas, a olhava de soslaio.

__ Sim, sou eu gata. - Respondeu um tanto fria. Lisa tencionou se virar. __ Não se vire! - Jude bradou e Lisa tremeu.

__ Jude, como tem coragem de apontar uma arma para mim, depois de tudo que vivemos? - Lisa tentou parecer surpresa.

__ Há, olha quem fala... - Ironizou e uma lágrima rolou de seus olhos. __ Você não só apontou uma arma para mim Lisa Park, você também puxou o gatilho! Mesmo que fosse imaginário, o amor que eu sentia por você era o que me mantinha de pé e você o assassinou! Estou arrasada... - As lágrimas agora desciam sem controle.

__ Desculpa Jude, como já te disse, foi tudo tão rápido... Neco me obrigou a dar em cima do hospede. Estou tentando roubar a grana que leva consigo. Se eu não conseguir, eu estarei literalmente ferrada.

__ Mas parece que você está gostando disso. Não parece forçado.

__ Dione é um cara legal, você também concordaria se o conhecesse. Daí o seduzi e acabamos transando.

__ Então não foi só um beijo?! Vocês transaram?! - Jude não acreditava.

__ Desculpa Jude... Era isso, ou me tornar uma assassina.

__ Como conseguiu?! Quer dizer que comigo estava fingindo?! - Esbravejou demonstrando toda sua revolta.

__ Claro que não! Eu adorei, realmente eu amei, acredita em mim! - Lisa também chorava. __ Só tem uma explicação para isso... Acho que sou bissexual.

__ Cale a boca! - Jude gritou e se derramou ainda mais em um choro, agora contínuo. Houve um silêncio entre elas e Lisa logo ousou quebrá-lo.

__ Jude... Deixa eu me virar. Eu preciso muito do seu abraço! - Tencionou se virar novamente. __ Não... Se... Atreva... A se virar!- Jude falou pausadamente.

__ Eu não tenho nada mais com Dione, ele me iludiu, tem um caso com a tal Mercedes. - Um fio de esperança surgiu através das palavras de Lisa. Judite refletiu por alguns segundos e quis a confirmação.

__ Está falando sério?! - Falou quase se rendendo a ela. Deixar o seu orgulho de lado e logo se afogar naquela boca gostosa e pequena dela, parecia tão tentador... mas sentia que Lisa não merecia ser perdoada assim tão fácil. Ela a traiu. A apunhalou pelas costas. Mas, ela parecia tão inocente, como se não tivesse feito nada de errado.

__ Sim. Estou. Por isso estou longe deles! - Falou esboçando um sorriso. Judite baixou a arma e Lisa pôde suspirar aliviada. A moça se virou para ela.

__ Me dá um abraço agora... - Lisa abriu os braços.

__ Estar brigada com ele, não significa que não o ame mais... - Recusou o abraço e se voltou de costas para ela, começando a caminhar na direção de onde tinha vindo. Não sabia até quando manteria aquela postura, resistindo à tentação diante de seus olhos. Aquele cheirinho do perfume dela, totalmente embriagante, denunciava que não seria por muito tempo.

Lisa, sem graça, baixou os braços e pareceu petrificada no lugar. __ Venha, minha moto está logo ali na frente. Vamos dar o fora daqui. Te deixarei em casa.

Judite se virou para trás ao perceber que ela não se movia. Então gritou:

__ Vem logo Lisa, quer ser morta também?! - Falou irritada.

__ Você não me chamou de gata. - Falou triste. Lisa se incomodava com a frieza com que ela estava lhe tratando. Logo começou a segui-la.

__ E deveria? - Jude respondeu seco continuando o seu caminho sem olhar para trás.

__ Espere! - Judite interrompeu os passos e olhou para ela.

__ Precisamos avisar a Dione sobre tudo isso. Mesmo que eu esteja odiando ele, eu não desejo o seu mal. - Judite soltou uma risadinha sarcástica.

__ Eu não acredito nisso...

__ Se você não for comigo, pode me deixar por aqui e seguir viagem, eu irei a pé. Sinto muito, me sentiria muito mal se acontecesse alguma coisa com ele.

__ Eu vi onde ele está. Não conseguirá o avisar a tempo. Eles vão te alcançar no meio do caminho, e te encherão de balas.

__ Não importa. Eu tenho que tentar.

__ Não seja estúpida! Vamos cair fora enquanto é tempo! - Voltou a andar novamente.

__ Não. Não vou embora sem antes avisá-lo.

__ Há! Que droga Lisa! - Judite chutou uma poça d'água que estava por ali, expondo todo o seu ciúme. __ Eu te dou uma carona até lá, mas pare de mentir pra mim sobre o que você sente por ele! - Judite falou a segurando pela blusa na altura do pescoço com força. A soltou com raiva e lhe deu as costas começando a andar novamente. Lisa se calou. Nada que dissesse, ajudaria a mudar o pensamento de Jude naquele momento. Restava lhe seguir. Montaram na moto e partiram.

Mais adiante, Dione e Mercedes fizeram uma busca de meia hora pela menina, quando escutaram os motores de uma moto se aproximando. Dione e Mercedes voltaram a atenção para a estrada. Dione saiu do meio dos arbustos e foi para o meio da rua. Mercedes caminhou até ele. A moto parou próxima aos dois e Lisa desceu.

__ Lisa!? - Dione, disse surpreso ao vê-la aflita e por estar na garupa de Judite.

__ Vocês precisam sair logo daqui, tem um grupo de homens armados atrás de vocês!

__ Como assim?! Quem está atrás da gente?! - Dione preocupado, queria mais informações.

__ Um bando de capangas armados numa picape aqui perto. Eu os vi interrogar e matar a sangue frio um andarilho. Eles perguntavam por ela e por você.

__ Como tem certeza que é a gente?- Falou ele se virando para Mercedes que o fitou sem graça, desviando o olhar.

__ Eles deram suas características. Eles são muito maus, torturaram o mendigo e dispararão na cabeça dele sem piedade, foi horrível... - Falou em desespero.

__ Lisa, acalme-se. Eles não vão pegar a gente. - Falou lhe abraçando. - Judite que desde que chegou não parava de analisar Dione, revirou os olhos e balançou a cabeça em negativo ao ver a cena do abraço. Mercedes parecia incomodada com a notícia.

__ Quantos eram? - Dione perguntou a liberando do abraço.

__ Não consegui contar, mas eram muitos. Um velho magro de chapéu parecia o líder deles.

__ Eles são quinze. Eu contei. - Judite falou sendo mais precisa, chamando a atenção de todos.

"Mas quem é essa mulherzinha?! Quanto mais eu rezo, mais assombração me aparece!" - Mercedes se questionava analisando Judite. Esta se virou para ela e a viu a encarando, lhe encarou também, e piscou um dos olhos de forma provocativa. Mercedes deu de ombros.

__ Precisamos dar o fora daqui agora mesmo. - Dione Falou pasmo, se virando para o Cadillac encostado no final da rua sem saída.

__ Pelo amor de Deus Dione, não podemos ir agora, temos que encontrar Sara primeiro. Não podemos deixá-la para trás! - Mercedes falou aflita se aproximando.

__ Não vamos abandoná-la. Eu só vou colocar vocês duas em segurança. Depois voltarei aqui para procurá-la.

__ Coloque essa aí... Em segurança! Com a Lisa não se preocupe que eu cuidarei dela. - Judite bradou o provocando.

__ Isso não importa senhorita, o que importa é ficarmos todos em segurança. - Dione Rebateu.

__ Se quiserem ir, vocês podem ir, mas eu vou ficar e continuar a procurar minha filha.

__ Como vai procurá-la se estiver morta? - Dione inquiriu.

__ Se nós formos e eles a pegarem? O que será dela? - Mercedes bradou.

__ Mercedes, você sabe quem são eles? - Perguntou Dione estreitando os olhos.

__ Pelo o que ela falou, esse é o meu sogro e seus filhos. Eles querem vingar a morte de Slander.

"Como assim, vingar?! Eles mataram alguém?! São assassinos?! Não acredito que Lisa se envolveu com esse tipo de gente!" - Judite estava confusa e percebia que a coisa era ainda mais cabeluda.

__ O que?! - Perguntou Dione assustado ao se dar conta do tamanho da encrenca que se meteu ao dar uma de herói e ter defendido a Espanhola.

__ Dione, temos que ir embora logo daqui, eles devem estar chegando eu estou com medo! - Lisa falou aflita, afinal havia presenciado o que aqueles homens eram capazes.

__ Mercedes, entre no carro, agora mesmo! Se não achamos Sara até agora... Eles também não vão encontrá-la. Depois que forem embora voltamos a procurar por ela...

__ Podem ir. Eu já disse, eu não vou a lugar algum sem minha filha e ponto final! - Mercedes bradou batendo literalmente o pé.

__ Tudo bem. Vamos dar mais uma busca. Cinco minutos no máximo, depois a gente se manda.

__ Não acredito nisso... - Judite exclamou enraivecida. __ Vocês estão malucos?! Vamos nessa Lisa, deixem esses babacas aí. Não ficarei mais nem um segundo aqui.

__ Fala isso, por que não é a sua filha, "hóstia!" (Caramba.) - Mercedes gritou para Judite.

__ Há, vai me xingar agora?! - Judite Rebateu.

__ Vamos fazer então essa busca de cinco minutos. Se não a encontrarmos, nós vamos todos embora. Cinco minutos, ouviu bem Mercedes?! - Dione a fitou e ela assentiu com a cabeça.

__ Vou ajudá-los Jude, você fará o mesmo? - Lisa perguntou esperando que sim.

__ Eu já imaginava isso... - Judite falou debochada. Logo deu partida na moto e completou: __ Tenho uma arma comigo... - A mostrou levantando a jaqueta. Dione a fitou. __ Vou mantê-los por um tempo ocupados com ela, e com a minha nêga aqui... - Falou sorrindo dando leves e compassados tapinhas no tanque. __ Enquanto isso, vocês aproveitam e se mandam!

__ O quê?! Jude, não vá, pode ser perigoso! - Lisa realmente se preocupou.

__ Não acredito que esteja assim tão preocupada comigo. - Judite falou ainda demostrando todo seu desgosto para com Lisa, que engoliu em seco. __ Não se preocupe comigo, eu saberei me cuidar. - Falou baixando o visor de seu capacete e saiu cantando pneus no asfalto.

Dione se virou para Lisa e segurou sua mão.

__ Você está bem? - Ela a puxou e se afastou dele.

__ Não se preocupe comigo seu Dione, vamos nos concentrar na busca pela garota. - Falou séria o evitando.

__ Agora eu sou obrigada a concordar com a Asiática. - Mercedes falou, com ciúmes e também por querer encontrar logo sua filha.

__ Creio que ter uma detetive na equipe será de grande ajuda. - Falou sorrindo, fitando Lisa.

__ Dione, quer, por favor, levar essa busca a sério! Minha filha continua desaparecida. Cada minuto conta. - Falou enraivecida, imaginando que Dione fazia uma graça para Lisa.

__ Antes de morrer, o andarilho mencionou uma coisa... - Todos voltaram à atenção para a detetive.

__ E se a informação estiver certa, a garota está bem.

__ Como assim, desembucha de uma vez! Hóstia!

__ Ele disse que ela se escondia em sua barraca, mas ela não estava lá. Se ele disse mesmo a verdade, ela deve ter fugido antes dos homens chegarem.

__ Ela está viva! Gracias a Dios! Santiago el Mayor! - Mercedes olhava para o céu colocando a mão no peito grata pela possibilidade da filha estar viva. Lisa segurava o riso.

__ Então acho que já podemos ir agora. Ela está bem, e pelo o que pude ver é uma menina muito esperta. - Dione falou sorrindo. __ Vamos encontrá-la em...

Dione parou de falar e se virou para trás quando escutou o barulho de uma troca de tiros quebrando o silêncio da noite e atiçando os latidos dos cães da vizinhança. Logo todos se viraram para a direção em que Judite fora.

__ Jude! - Lisa pronunciou já temendo o pior...









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