Capítulo 27 - Surpresas no Rôle


Judite passou veloz por eles cortando o Cadillac, fazendo Lisa voltar à posição mais confortável na poltrona, e se virar para frente observando a estrada. Assim que estava a certa distância, Judite deu um cavalo de pau na moto fazendo a fumaça levantar no asfalto, e o cheiro de borracha queimada logo alcançar as narinas do casal no veículo. 

__ Tem certeza que é uma mulher? - Dione perguntou com sarcasmo, admirado com a manobra que havia feito.

Judite parou bem no meio da pista obrigando Dione reduzir a velocidade e pisar no freio parando a poucos metros dela. A moça desceu da moto, retirou o capacete o colocando no guidom, e veio caminhando tranquilamente rumo ao carro. Parou do lado na porta de Dione com uma postura séria, trocou olhares com Lisa que a olhava espantada e em seguida fitou Dione com cara de poucos agrados por ver ele ao lado da garota que amava.

__ Então... - Dione começou falar, mas a voz da moça se sobressaiu a dele...

__ Vim resgatar Lisa de suas mãos. - Bradou, sacando uma arma e a apontando para sua cabeça. As mãos tremiam, era evidente que não tinha nenhuma experiência com a arma em suas mãos.

__ Jude!? - Lisa ainda estava confusa. De momento nem percebeu o porquê da reação dela contra o homem ao seu lado. Não era a pessoa que conhecia. O ódio estampado nos olhos provava isso. 

__ Lisa, abra a porta, saia desse carro e me espere próxima à moto. 

__ O que você acha que eu estou fazendo?! - Dione perguntou querendo entender a situação que envolvia as duas garotas.

__ Lisa só deve estar nesse carro com você, por que a raptou. - Olhou fixa nos olhos dela procurando a confirmação da sua resposta. __ Ela jamais estaria ao seu lado por algum outro motivo, ao qual não estivesse sendo obrigada. Não faria nenhum passeio com outra pessoa e me deixaria de fora. Na pior das hipóteses, ao menos, me avisaria... - Uma lágrima escapou dos seus olhos. 

__ Jude, desculpa não ter avisado... Tudo aconteceu tão rápido que... É difícil explicar. Só te digo que tem a haver com o seu Neco. Depois se me der a chance de poder te explicar com mais calma eu... - Lisa falava arrasada por dentro. 

__ Não coloque a culpa dos seus atos nos outros, Lisa. Pelo menos assuma o que faz! - Judite estava sendo dura. __ Era só falar que não queria nada comigo, e que o seu lance mesmo era com homens! Eu entenderia numa boa... - Judi tentava manter-se firme em sua decisão, mas não era de aço. Enxugava as lágrimas que rolavam com as costas da mão, como se conseguisse esconder seu abalo emocional diante de Dione e Lisa. 

__ Jude, venha com a gente, estamos indo para aquela discoteca que você sempre me chamou pra ir, e eu nunca pude. - Lisa esforçava um sorriso. Não viu o tiro no pé que acabou de dar. 

__ Você está indo para a discoteca que eu sempre te chamei pra ir, com outro, e não comigo? - Falou gesticulando a arma de um lado para outro, enraivecida agora, completamente descontrolada. 

__ Por que essa revolta toda mulher?! Só trouxe Lisa para dar uma volta nessa maravilha de carro, só isso. - Dione tentava intervir. 

__ Cale essa sua boca, babaca! Ou eu juro que eu meto uma bala bem no meio da sua cara! Vocês acham que eu sou trouxa?! Eu vi muito bem vocês se beijando lá na garagem! - Falou lembrando-se de quando os viu assim que chegou diante ao portão da casa de Neco para ver como a amiga estava.

Dione trocou olhares com Lisa que engoliu em seco. Judite puxou a trava da pistola, e a segurou firme com as duas mãos, colocando o casal na sua mira. 

__ Me dê um bom motivo pra não encher vocês dois de bala agora mesmo?!

__ Calma aí, meu bem, coloca a cabeça no lugar... - Dione se via numa situação muito delicada. __ Alguém pode me explicar o que está acontecendo?! - Exige nervoso.

__ Você me chamou de meu bem, é isso mesmo que eu ouvi?! - Jude abriu um sorriso repleto de nervosismo para Dione. 

__ Um bom motivo, é que você não é esse tipo de pessoa, Judi... Não é da sua índole fazer uma coisa dessas! - Lisa deu uma resposta convincente. __ Abaixe essa arma e vamos conversar como adultos que somos! - Dione mais uma tentava controlar a situação. 

__ Lisa is the reason I live! ( Lisa é a razão do meu viver!)

Judite gritou tão alto quando pode extravasando a dor que sentia em seu peito pela imagem dos dois ali em sua frente, colocando tudo que sentia para fora, ao mesmo tempo em que puxava o gatilho freneticamente. Dione deitou sobre o corpo de Lisa, se colocando como um escudo humano, entre ela e os tiros, enquanto a garota gritava ensandecida de pânico. 

Não se ouvia o barulho dos tiros, apenas a trava batendo seca no tambor a cada disparo efetuado pela mulher.

Dione ergueu-se em seu lugar assim que Judite parou de atirar e já a viu montando na moto, acelerando e saindo em disparada, passando por eles como um furacão voltando para a direção em que viera. 

__ Nós ainda estamos vivos?! - Lisa perguntou se levantando e espiando a estrada agora deserta. Ajeitou-se em seu lugar novamente alisando a roupa e tentando controlar o medo que ainda estava sentido do susto que Jude deu neles. Com o coração ainda descompassado e quase saindo pela boca tentava enxugar o suor frio da testa. Ter a impressão que morreria não foi nada agradável. 

__ Pelo o que parece, sim. Por sorte ela se esqueceu de carregar a arma. - Dione falou com uma risada sarcástica. 

__ Ela só quis nos assustar, Jude tem um bom coração. Está arrasada, e eu sou a culpada disso. - Falou triste. 

__ Você vai me contar quem é essa Jude, e tudo o que está rolando entre vocês. - Falou Dione, não querendo ser pego desprevenido mais uma vez.

Lisa engoliu em seco imaginando como contaria o que havia acontecido entre elas, e o que Judite realmente pretendia com a amiga. Tentou se acomodar o melhor possível no banco, respirou fundo e deixou que as palavras escapassem sem filtro dos seus lábios...


[...]

Lisa havia colocado tudo a pratos limpos para Dione, e sua reação foi a mais natural possível. Não tinha preconceitos. Comentou até que um rapaz deu em cima dele quando era mais novo. Lisa falou que talvez seja bissexual. 

__ Quer voltar daqui? - Dione perguntou reparando o semblante triste da moça, e como ficou calada desde o acontecido. 

__ Estou um pouco abalada pela Jude, mas quero continuar. Amanhã bem cedo eu converso com ela e explico tudo. É a última vez que nos veremos, então quero aproveitar cada segundo do tempo que nos resta. - Olhou para ele e sorriu segurando a sua mão em seguida. 

Dione começou  beijá-la. Já com o coração partido imaginando como seria o momento de deixá-la para trás. Ele cessou o beijo e lhe fitou. Percebeu que estava triste. Então bateu a ponta do indicador em seu nariz lhe arrancando um sorriso. 

__ É assim que quero sempre te ver, com esse sorriso lindo no rosto - Comentou satisfeito, mas ainda era pouco. Precisava de mais uma ideia para fazê-la sorrir. Então perguntou: 

__ Você sabe dirigir Lisa? 

__ Não. Nunca nem segurei em um volante. - Falou a moça rindo sem graça se mexendo no banco e colocando uma mecha de cabelo que se desprendeu atrás da orelha.

__ É bem fácil. Vem que eu lhe ensino... - Falou levando uma das mãos na alavanca embaixo da poltrona e a afastando até o seu limite para trás. Lisa viu aquele espaço liberado e disse:

__ Está falando sério?! Sorriu surpresa. 

__ Sim. Vem logo!

Lisa se sentou na frente do homem. Aquele cheirinho dela o acompanharia por toda sua vida. O calor do seu corpo o atiçando. E isso talvez, tenha feito que se deixasse levar pelo ego de macho querendo impressionar a sua fêmea.

__ Não é perigoso? - Ela perguntou apreensiva mais ansiosa para começar. 

__ Não. Não é. Vamos deixar aulas mais complexas para outro dia. Nessa aula você só vai guiar. - Dione relegou o carro. __ Apoie as suas mãos no volante e sinta a sensação de dominar essa máquina. Deixe o tesão te dominar e guie o veículo para onde quiser ir.

Falou colocando suas mãos suavemente sobre as mãos da moça no volante e foi saindo devagar com o cadillac. Ela começou a guiar. O seu coração acelerando pouco a pouco com a vibração do motor. O vento no seu rosto, o calor de Dione atrás de si...

Entendeu qual era o tesão do qual ele falava e se deixava contaminar pouco a pouco por ele. Dione retirou suas mãos de sobre as delas feliz em ver a pele dela se arrepiar a cada metro percorrido da estrada. Não resistiu e beijou sua nuca. O riso dela invadindo a noite era a única música que queria escutar.

__ O que está achando? - sussurrou em seu ouvido. Deliciando-se em contornar a sua orelha com a língua quente lhe provocando ainda mais seu desejo.

__ Nossa! Isso é muito divertido. - Lisa estava extasiada e nem sabia se era por guiar o carro ou por aquele homem a provocando.

__ A diversão só está começando. - Falou Dione acelerando o veículo cada vez mais. Talvez, ele não se desse conta que a garota não quisesse tamanha adrenalina como ele queria.

__ Hei, não corra tanto, eu não sei se o consigo dominar assim, nessa velocidade toda... -ela começou a encarar a brincadeira com cara de espanto.

__ Não me decepciona. Você só tem que guiar, somente isso. - Falou ele tranquilo.Queria, talvez, lhe provocar um prazer que nunca tinha experimentado antes. Mas, não estava percebendo que as coisas estavam fugindo ao seu controle.

__ Mas, correndo assim fica impossível. Dione, mais devagar por favor!Eles se aproximavam de um cruzamento. Lisa sentiu o coração disparar ao ver o quanto rapidamente estava se encaminhando para tal travessia. O suor lhe brotou na face e o medo se apossou do seu corpo. As mãos ficaram trêmulas ao volante.

__ Dione, assuma a direção! Eu tenho medo! Eu estou morrendo de medo! - Dione se divertia com o pânico dela. Ele tinha tudo sob controle. Ou pelo menos assim pensava.

__ Do que está rindo? Eu não estou achando graça nem uma. - Lisa sentia a morte lhe aceder a alguns metros à sua frente. O peito subindo e descendo freneticamente à medida que se aproximavam da travessia Como o veículo estava rápido demais, Lisa prendeu a respiração quando ele cruzou as duas ruas. Feliz por ninguém vir das direções opostas e assustada com o solavanco do carro na elevação central da pista, soltou um grito de susto. Eles entraram numa rua sem retorno que terminava de frente com um muro. Dione acelerou ainda mais, fazendo a moça gritar e entrar em desespero.

__ Dione, não tem saída! Vamos bater aaaaaa... - Ela soltou o volante e tapou os olhos antevendo a batida, apavorada.

Dione assumiu o volante, olhos fixos na parede contando os segundos que antecipam a batida lentamente em seu interior. Puxou o freio de mão, juntamente enquanto pisou no freio sem deixar que o carro apagasse mantendo o pé na embreagem, girou 180 graus o'volante para a direita e brecou o veículo dando um cavalo depau, queimando os pneus no concreto, levantando o cheiro da borracha queimando,elemento que o fez inflar as narinas com a excitação do perigo quando evitou por centímetros a batida, deixando o automóvel na posição de retorno. Quando a fumaça simplesmente baixou o revelando...

__ Ha,ha,ha...- Dione deu uma longa gargalhada...

- Seu imbecil! - Lisa gritou assim que se sentiu segura. - Quer nos matar, seu idiota!

__ Você está bem? Foi muito divertido, não é mesmo?

__ Só se foi para você! - Falou Lisa abrindo a porta e saindo e a batendo com força atrás desi.__ Lisa, você não curtiu a adrenalina? - Dione abandonou o carro saindo atrás dela.

__ Nem um pouco! - Falou pisando firme e sem olhar para trás.

__ Lisa, volte aqui! Me desculpe! - Falou tentando alcançá-la e segurar o seu braço.

__ Você estragou o nosso rolê!

__ Eu fui um idiota, me perdoe!Lisa não acreditava que ele pudesse ser tão infantil ao ponto de quase os matar! Estava tão furiosa que quis o socar. Já estava no fim daquela rua quando cessou os passos olhoupara Dione furiosa e lhe disse:

__ Vou voltar pra casa a pé. Aproveita que já está no meio do caminho e se manda! Volta pra sua filha e a faça feliz! 

__ Lisa... não vou embora assim... sem antes me perdoar.

__ Está perdoado, caralho! Agora vá em paz! - Falou ela continuando o caminho ao passo do ódio lhe queimando por dentro. Dione jamais imaginou vê-la nervosa a esse ponto, nem ouvir falando palavrões.

Assim que chegou na rua principal viu o clarão de faróis vindo em sua direção e escutou obarulho de pneus cantando no asfalto como se tivessem tentando evitar uma batida numa freada brusca. O pânico a paralisou, fazendo que ela cobrisse os olhos assustada e já

proferindo um grito gutural que ecoava na noite...

















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