Capítulo 15 - Farol Alto.
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Dione não enxergava nada com aquelas luzes altas em seu rosto, barras de LED inferior e superior bem fortes, mas tinha ideia que nenhum ser humano tão bom estaria àquela hora perambulando pela rua, e que a madrugada pertencia aos pecadores pecaminosos e perdidos. Ouviu a porta abrir e fechar e se ligou em alguns passos quase silenciosos.
__ Olá! - Gritou, mas não obteve respostas. Com dificuldade forçou um pouco mais os olhos contra aquelas luzes e enxergou alguns vultos e sombras se movimentando, mas não pode discernir o que realmente eram.
__ Se fizer a gentileza de baixar esse farol a gente pode aproveitar esse frio gostoso e bater um papo e se conhecer melhor. - Disse o forasteiro puxando conversa e ao mesmo tempo se concentrando no que podia sentir em volta. Outra vez não obteve respostas, não tão rápido. Segundos depois os faróis foram desligados, vislumbrando o que estava à sua frente.
" Uau! Um cadillac!" - Dione disse para si, assim que viu a bela relíquia em sua frente, refletindo pelas luzes artificiais dos postes, seu brilho na lataria preta.
Ele contou quatro homens quando pôde os ver melhor, mas havia contado três silhuetas naquelas sombras. Nada mal! Pensou.
Além dos quatro homens que se dividiram em cada lado do carro, ainda sobrava o motorista que estava no mesmo lugar. Ele ainda pousava a mão no volante e ainda tinha sua face escondida nas sombras do interior do automóvel. Tudo que Dione conseguiu enxergar fora seu dente de ouro que se destacava brilhando entre os outros enquanto eram palitados. Dione olhou discretamente para a posição de cada um deles, meticuloso e cuidadoso voltou a olhar na direção do motorista.
__ Estão precisando de alguma coisa? Se for algum defeito no automóvel talvez eu possa resolver. - Disse. __ Entendo um pouco de mecânica. - Fingiu simpatia. Não sabia com quem estava lidando e demonstrar menos do que parecia ser lhe dava sempre uma vantagem sobre o que quer que fosse.
__ Não queremos forasteiros em nossa cidade. - Um deles foi direto ao ponto.
__ Tudo bem! Se o problema é esse, eu já estou de saída, na verdade acabei perdendo meu ônibus lá atrás. - Apontou para trás de si com o polegar. __ Amanhã bem cedo, pego o primeiro trem. - Explicou tentando evitar qualquer tipo de confusão.
__ Vamos te fazer uma revista e se não estiver portando nenhuma arma, você pode ir. - Avisou o calvo, narigudo e magro. Dione quis suspirar naquele momento, o tempo não estava bom e o clima pior ainda.
__ Tudo bem, eu estou liso. - Levantou os braços dando uma voltinha. Dois deles se aproximaram e um deles apontou com a cabeça para a mochila.
__ E essa mochila? Vamos dar uma olhada nela. - O homem deu um passo à frente e Dione um atrás. Balançou a cabeça ainda com os braços pra cima e fingiu vergonha olhando para o chão.
__ Não é uma boa ideia. - Disse entre um riso preso e mirou os dois caras nos olhos. - O que tem aqui não é muito agradável, são só algumas peças de roupas sujas e fedidas. - Explicou.
__ Então não vai se importar se a gente olhar, vai? - O Careta sorriu falso e trocou olhares com o resto do bando. Dione o encarou em silêncio sem tirar aquele riso do rosto. Por dentro não estava sorrindo.
__ Claro que não. Podem olhar se quiserem. - Tirou a mochila das costas a segurando em uma só mão. - Quem vai ser o primeiro? Você? - Disse.
Arremessou a mochila pro alto na direção do calvo narigudo usando-a como uma distração. Os dois olharam juntos para a mesma ao ar e foi o momento de Dione agir, sem pensar muito saltou para cima do que estava mais perto o derrubando com um soco firme no rosto. E quando o segundo que estava a alguns centímetros de distância se deu conta, Dione já estava o atacando com uma rasteira. O homem foi com tudo no chão arregalando os dois olhos quando Dione saltou para cima de seu corpo enterrando o cotovelo em seu estômago. O impacto o fez imediatamente cuspir sangue pela boca. Foi tudo tão rápido que ainda teve tempo de aparar sua mochila com as mãos meio metro antes de chegar ao chão.
Olhou para os outros dois que se aproximaram, e rápido os analisou. O da esquerda um ruivo corpulento de cabelos encaracolados retirou uma faca da cintura e começou a girá-la trocando de mão, mostrando certa habilidade. O outro, o mais forte deles ajeitava o soco inglês em seus dedos na intenção de amedrontá-lo.
__ Vamos lhe dar mais uma chance, nos entregue a mochila e não o machucaremos. - Disse o que portava a faca. Um riso crítico escapou dos lábios de Dione e ecoou em meio aquele escuro deserto.
__ Que isso amigos? Vamos continuar a brincadeira, está ajudando a aquecer o frio. - Zombou. Dione estava mesmo gostando da brincadeira. Ele virou para trás e colocou a mochila perto de seus pés.
__ Você que pediu, seu idiota! Afinal, devemos causar boa impressão aos visitantes. - Ironizou cada uma das palavras e partiu para cima de Dione.
O ruivo proferiu golpes aleatórios com a faca e Dione se esquivou facilmente. E mais uma vez, esticou o braço e fez um movimento violento em diagonal a fim de cortar a barriga de Dione, que rapidamente se desviou para trás escapando de mais uma facada.
Tudo que conseguiu fazer foi cortar sua camisa, mas o ruivo que já estava irritado pelos golpes frustrados foi mais rápido dessa vez e proferiu outro golpe que pegaria no rosto de Dione, que ágil virou o corpo de lado sentindo o rasgo arder em seu braço. Aquilo o enfureceu e mais ainda quando o outro de trás o segurou.
Dione colocou força para se soltar e não seria difícil, mas fora segurado para que o ruivo com a faca pudesse facilmente furá-lo até a morte. Sabia que ali poderia ser seu fim, mas ainda queria viver um pouco mais. Dione aproveitou o corpo do homem que o segurava fazendo valer todos aqueles músculos, e fez força quando o ruivo com a faca veio. Pressionou os pés contra o chão e suspendeu o corpo fazendo o que o segurava andar alguns passos para trás. Aproveitou a alavanca que fizera e chutou o ruivo corpulento que vinha para lhe ferir, o fazendo deixar a faca escapar da mão. Dione caiu propositalmente por cima do cara de trás que não teve outra opção a não ser soltá-lo.
Um salto bastou para que Dione levantasse e corresse até o ruivo que já engatinhava com rapidez para retomar a arma, ele o chutou tão forte no rosto que por um momento ao ver aquele sangue jorrar com brutalidade pensou em como fora possível sua cabeça não ter rolado do pescoço. No entanto, quando baixou um pouco a guarda, sentiu o metal duro e gélido do soco inglês cortando suas costas. Seus joelhos encontraram o chão como se precisasse fazer uma prece naquele segundo, mas ele se virou a tempo de segurar a mão do homem antes que o acertasse de novo.
Começou a empurrá-lo para trás enquanto erguia-se de volta, mas o homem ainda tinha uma vantagem, soltou uma das mãos da força que fazia contra Dione e desferiu outro golpe com o braço esquerdo se surpreendendo ao ver o forasteiro se defender o segurando também. Ali começaram a medir força como cabo de guerra, mas Dione tinha mais peso, era mais forte e maior, conseguiu tirar o cara do lugar e continuou o levando para frente até que ele se chocasse contra um tambor de lixo acabando por se ferir. Dione aproveitou aquele momento de fraqueza e o golpeou com dois socos no rosto acabando com toda chance de reação e o levando ao chão como seus companheiros.
Os roncos do motor lhe chamou a atenção. Ele se virou tendo que cobrir o rosto novamente, protegendo os olhos da luz dos faróis que pareciam mais fortes dessa vez. O "dente de ouro" brilhou em meio um largo sorriso egocêntrico destacando-se na boca do velho. É, era um velho. Dione percebeu sua intenção e correu para alcançar a mochila antes dele.
O veículo saiu cantando pneus e o forasteiro acelerou os passos e por segundos conseguiu chegar primeiro. Ele pegou o objeto e ao se virar, conseguiu ver apenas o clarão dos faróis antes de ser jogado por cima do veículo e cair ao chão abraçado à mochila. Dione bateu a cabeça e pareceu apagar.
O motorista parou, abriu a porta, e desceu do veículo. Sacou um revolver e o engatilhou.
__ Chega de brincadeira! - Exclamou retirando o palito da boca e o jogando no chão. Começou a caminhar ruma a Dione com a arma em punho quando percebeu o brilho vermelho e azul junto do som alto da sirene. A polícia chegava.
__ Era só o que faltava! Andem seus emprestáveis, vamos dar o fora daqui, A polícia vem aí! - Gritou o velho para os comparsas que se ajudavam com dificuldade a se carregar para dentro do cadillac.
O carro dos assaltantes passou ao lado dos policiais em sentido contrário em alta velocidade derrubando algumas caixas e latões no canto da rua.
__ Que abusados! - Comentou o guarda no volante brecando o veículo.
__ Estão mesmo fugindo da gente? - Questionou o outro olhando pelo retrovisor sem interesse algum.
__ Conseguiu ver a placa? - Perguntou o condutor. O outro balançou a cabeça e ajeitou seu chapéu. __ Não. Passaram rápido demais, mas vi que era um belíssimo "cadillac". Vamos atrás deles? - Pareceu estar pedindo mais uma opinião do que afirmando que iriam.
__ Não. Estavam parados por aqui, pode ter algo. Vamos dar uma olhada. - Sugeriu. O motorista desligou o carro e desceram os dois. Acenderam a lanterna apenas para averiguar o local, realmente não esperavam encontrar algo muito abalador, até que o policial do carona avistou um pé.
__Parece que tem alguém caído lá, olha... - Jogou a lanterna em cima avistando o homem.
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