Capítulo 12 - A Leoa Ferida (Arruaça parte 2)

Slander...

Sara Agramunt...


Slander, sem piedade, começou a disparar contra o casal que logo buscou uma maneira de se refugiarem.

_ Corra! - Dione gritou para a mulher já saltando para o lado, atrás de uma das colunas, e caindo por detrás de uma das mesas. Mercedes também fez o mesmo, correu e caiu ao chão de rompante e se arrastou apavorada para debaixo de uma mesa, ficando de joelhos com a testa apoiada no piso para se proteger das balas que cravejavam as paredes atrás de si, e tapou os ouvidos com as mãos os protegendo do barulho ensurdecedor que os tiros produziam.

__ Ficar aí não vai adiantar, nós precisamos correr! - Dione falou se levantando e indo até a mulher e já a puxando pelo braço. Dione a protegia com o seu corpo enquanto corriam rumo à saída da varanda. Slander extravasava a sua ira, movendo a metralhadora de um lado a outro, com gritos de fúria mesclados com sua risada sinistra, agora com a visão privilegiada dos dois, os avistando do corredor a correrem como ratos pela varanda.

Já avistaram o pátio e a rua a sua frente, quando os dois homens que haviam saído, retornavam. Eles riram sarcásticos os vendo parar de rompante e quando Dione viu que iriam puxar o gatilho, empurrou Mercedes para o lado direito para que se protegesse em uma das colunas e rolou para o lado esquerdo também se protegendo em outra. Eles se separaram. Dione andou de quatro até entrar por uma porta alcançando o interior de um cômodo onde parecia a cozinha e a despensa.

Mercedes entrou pela primeira porta que viu em sua frente, por sorte estava aberta. Passou a chave a trancando e escorou de costas na porta com os olhos arregalados e aflita pelo perigo que passou. Seu peito subia e descia delatando sua respiração ofegante. Se assustou ao ver a maçaneta sendo pressionada na tentativa dos homens de tentar entrar. Os escutou conversando do lado de fora...

__ A vadia trancou a porta, vamos arrombar. - Falou o que tentou abrir, um gordo, baixo, calvo com um espalhafatoso bigode pontudo.

__ Fique aí de vigia. Não a deixe sair. Vou atrás do homem. Ele entrou bem ali... - Falou o outro, de rosto quadrado, cabelo moreno volumoso, vestia calça e camisa social azul clara. Apontou para a porta e foi rumo à ela com a arma em punho.

Mercedes deixou o corpo escorregar pela porta, até se sentar ao chão, aliviada e agradecendo aos céus por ainda estar viva. Estava encurralada, mas pelo menos teria uma chance de pensar em algo para poder salvar a filha e uma possível e improvável rota de fuga para elas. Fechou os olhos suspirando aliviada mais uma vez e por alguns segundo fora assim, ouvia seu coração ainda descompassado e o pensamento na filha imaginando se ainda estaria viva ou não, Isso a desesperava e lhe roubava a concentração. Ainda perdida em seus pensamentos, foi surpreendida com uma arma sendo pressionada no meio de sua testa a fazendo abrir os olhos de rompante.

__ Você é a responsável por tudo isso. Vou lhe entregar para eles, para que parem com toda essa arruaça em meu estabelecimento. - Margarete, a dona da pensão falou ao ver Mercedes invadir o seu quarto.

Ao ver que as balas acabaram, Slender ainda furioso, pegou a metralhadora pelo cano e a jogou rumo onde Dione havia ido a fazendo se chocar contra uma das colunas e cair ao chão.

__ Aí, isso está quente! Que inferno! - Gritou sacudindo uma das mãos por ter se queimado no metal superaquecido da arma. __ Tragam esse desgraçado para mim, arranquem a cabeça dele! - Gritou para os dois homens.

Slander franzia a testa, e pressionava a mão queimada com um lenço que retirou do bolso. __ O que está olhando, imbecil?! - Falou ao se virar para o barbudo com a menina ainda nos ombros.

__ Nada chefe. - Respondeu demonstrando respeito, mas no fundo queria lhe dizer o quanto foi idiota por segurar um cano quente.

__ Isso é jeito de segurar minha filha?! - Se indignou fitando o homem que logo se desculpou a colocando no chão. Slander se abaixou apoiando um dos joelhos no piso e ficando a altura da filha, a fitou com aparente ternura. A menina ainda tinha os olhos lacrimejados e as bochechas molhadas. Seus olhinhos castanhos fitavam os do pai apreensiva.

__ Não chore filha... tudo vai ficar bem agora. - Sorriu. Colocou uma mecha de seus cabelos atrás de uma orelha e enxugou o canto de seus olhinhos com o polegar.

__ Eu quero a mamãe. Pode me levar até ela? - Falou choramingando.

__ Sim. Claro que sim. Vou buscá-la, para juntos irmos embora para a casa. - Sorriu com ternura novamente.

Slander se levantou segurou na mão da menina e disse:

__ Venha... fique nesse quarto. Eu já volto. - Abriu a porta. __ O senhor Baruque vai trazer a sua mãe de volta, sã e salva. - Olhou para ele ali ainda parado.

O tal Baruque assentiu com a cabeça entendendo o recado. Sacou um revólver que trazia por trás da cinta e saiu em seguida a passos rápidos.

Slander deixou a filha ali, fechou a porta e caminhou até o corpo de Eric preso por entre os vidros da janela. Abriu a porta do quarto e entrou para o seu interior. Fitou o rosto do amigo sem vida do outro lado, dependurado e ensanguentado.

__ Mas que merda, Eric! - Se lamentou e uma lágrima rolou no canto de seus olhos. Viu que um dos cacos entrou em sua garganta o matando.

Slander socou com ira o resto do vidro que ainda estava inteiro o estilhaçando. Olhou com espanto para os nós dos seus dedos a sangrar, e logo para os pés. Se afastou ao perceber que estava pisando numa poça do sangue de Eric.

Na cozinha por onde Dione entrou, o capanga que o seguiu caminhava suntuoso com a arma em punho cauteloso à procura de sua caça de olho em todos os detalhes daquele cômodo.

Fogões industriais no centro. Balcões e prateleiras repletas de vasilhas e louças. Conchas de cobre penduradas nas paredes. Caldeirões enormes... sacos de seriais empilhados...

Dione estando escondido atrás de uma prateleira no centro, apontou a cabeça com cuidado para visualizar a posição do homem, já pensando em um plano para detê-lo. Olhou para o alto bem acima de sua cabeça e viu algumas vasilhas penduradas e fitou uma frigideira. Olhou para o lado e viu um saco de batatas aberto próximo de si.

O homem o avistou ao chegar no limite da prateleira, mas antes que pudesse fazer algo, foi acertado em cheio tomando uma frigideirada no nariz causando instintivamente um disparo, pelo susto que levou. Dione o desarmou lhe dando uma cotovelada na parte inferior de seu braço, jogando a arma para longe.

__ Já jantou hoje amigo? Pálido desse jeito, aposto que não. - Dione falou debochado.

__ Ele está aqui! - O homem gritou com o nariz sangrando e manchando toda a sua camisa azul com o próprio sangue que gotejava.

Dione pegou uma das batatas e o fez calar a enfiando com força dentro de sua boca. Em seguida segurou seu pescoço com as duas mãos e o girou. Dione pôde ouvir o estalar dos ossos se quebrando. O soltou e o viu cair no mesmo instante aos seus pés com os olhos arregalados.

Baruque, o barbudo, depois de ouvir o disparo e o grito do parceiro vindo de dentro da cozinha, trocou olhares com o gordo que guardava a porta onde Mercedes estava.

__ Continue ai, eu resolvo isso. - Falou para o bigodudo gordo que assentiu com a cabeça.

Assim que Baruque saiu, a porta do quarto que guardava se abriu de repente. O gordo se virou de rompante e quase deixou a arma cair de sua mão com o susto que levou. Firmou a mão na arma novamente e a apontou para Mercedes que se apresentava no interior do quarto lhe fitando.

__ Moço por favor, abaixe essa arma e me ajude! - Mercedes implorava de mãos juntas.

__ Ter aberto essa porta foi o maior erro de sua vida... Falou o gordo estreitando os olhos e caminhando devagar para o interior.

__ Se você me ajudar, você será muito bem recompensado por isso... - Mercedes mordeu o lábio inferior e puxou sua camisola um pouco para cima deixando seu belo par de cochas torneadas à mostra. O sujeito as fitou, ergueu os olhos para a mulher que lhe olhava com perversidade. O homem deu um sorriso sacana. Guardou a sua arma e ainda fechando a porta de costas disse:

__ Quero minha recompensa primeiro...

Ao se virar para Mercedes, levou um tiro no lado da fronte, disparado pela dona da pensão que estava a todo tempo ali escondida. Mercedes fechou os olhos não conseguindo olhar a cena. O gordo caiu de joelhos e em seguida tombou para frente sem vida.

__ Homens... não suportam ver um rabo de saia. - Comentou com satisfação a dona da pensão, uma mulher baixa e rechonchuda, trocando olhares com Mercedes. Segurou a arma pelo cano e a estendeu para Mulher.

__ Pegue isso... salve a sua filha... - Mercedes a pegou sem pestanejar.

__ E quanto a você? - Perguntou.

__ Eu? Vou tentar me virar com a ajuda da arma desse nosso amigo aqui. - Disse se abaixando e pegando a arma em seu corpo.

__ Obrigada por acreditar em mim, e não ter me entregado para eles.

__ Você está certa, eles me matariam também, não importa o que eu fizesse.

Na cozinha, Baruque atirava para o alto na intensão de amedrontar Dione na tentativa de o fazer se entregar.

__ Apareça meu camarada, sua amante e a filha dela já estão de posse de Slander. Se você se entregar, talvez ele não as faça mal.

Dione o escutava estando escondido por detrás de um balcão de pedra, que ficava no mesmo rumo da prateleira no centro.

Enquanto isso, Mercedes caminhava a passos lentos pelo corredor com a arma em punho. Era uma leoa ferida indo buscar sua cria e salvá-la das garras do leão feroz que a tinha em seu domínio. Passou pelas mesas observando toda aquela bagunça e as colunas e paredes cravejadas pelos tiros. Aquilo parecia mais uma zona de guerra. Pensou. Atravessou a varanda alcançando o corredor e olhou com espanto a horrenda cena do corpo de Eric sem vida pendurado na janela do quarto. Andou mais uma distância atenta a qualquer mísero ruído que denunciasse o paradeiro da filha. Parou próximo a porta do penúltimo quarto antes de virar o corredor para os fundos ao ouvir murmúrios do lado de dentro. Se desesperou ao reconhecer a voz da filha e a de Slander no seu interior.

Suspirou fundo imaginando o que poderia encontrar e chutou a porta a fazendo abrir de rompante. Foi surpreendida com a cena um tanto inusitada à sua frente... Sara estava no colo do pai que assentado na cama, lhe contava uma historinha. A fitou com o livro infantil aberto em mãos.



















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