001 - First Attempt


Sabe aquela sensação de inquietação que você sente quando está à espera de algo? A sensação de queimando em seu estômago e a ansiedade que parece corroer seus ossos?

Era assim que eu me sentia. Principalmente em épocas de provas. Bonnie costuma dizer que eu me cobro muito. O que não é totalmente mentira. Mas você pode me culpar? Nossos pais não nos deixam ir nem ali na esquina, a única coisa que me resta é ficar trancada dentro de casa ou ficar no jardim logo pela manhã antes da escola.

São os trinta minutos mais preciosos de toda minha vida.

Eu nunca entendi o porquê dos nossos pais serem tão severos. Eu tentei, realmente tentei. Mas nada do que eles falam faz sentido.

Qual é? Eles realmente acham que Deus irá nos mandar para o inferno só porque um garoto olhou para uma das minhas irmãs e ela sorriu pra ele? Tá de brincadeira, né? Ele tem mais o que fazer do que mandar um bando de adolescentes para o inferno só porque eles trocaram olhares.

Mas esse não é o assunto.

Ando de um lado para o outro enquanto roou minha unha, meus olhos fixos no carpete do meu quarto.

Cecília me olha, entediada, na cama do outro lado do quarto. Ela nunca entendeu o porquê de eu quase entrar em colapso por causa de uma nota.

Talvez seja porque mamãe iria queimar todos meus gibis se eu tirasse uma nota baixa. Além de gritar comigo e dizer que eu nunca vou ser alguém na vida porque eu não me esforço o suficiente para ter um bom futuro.

Ou talvez ela soubesse. Afinal, as paredes dessa casa são finais. Ela com certeza ouvira os gritos de mamãe.

E ela sempre deitava comigo quando eu voltava pro quarto, em prantos. Ela me abraçava e ficava ali, sem dizer nada. Porque ela sabia que nenhuma palavra anularia o efeito das palavras da mamãe.

Então sim, ela sabe.

- Você vai acabar fazendo um furo no chão e cair de cara lá em baixo. - Disse Cecília. - Talvez você quebre um braço. Uma ou duas costelas, se der sorte.

Eu parei e suspirei. Minha mente pareceu voltar para a realidade, deixando para trás a prova que eu fiz hoje de manhã. Eu não deveria me preocupar tanto, eu estudei. Estudei muito. E tenho certeza que vou tirar uma boa nota.

Eu tenho que tirar. Preciso mostrar para minha mãe que eu sou capaz. Que eu sou uma garota inteligente, que vou conseguir um bom emprego quando crescer. E então, vou ter dinheiro o suficiente para minhas irmãs e eu nos mudarmos para bem longe daqui, desse bairro, dessa cidade, desse país. Um lugar bem longe deles. Iremos viajar pelo mundo e sermos felizes, igual toda família deve ser.

- Tô nervosa. - Admiti, puxando a pele solta do meu lábio inferior com os dentes.

- É claro que tá. - Ela revirou os olhos e zombou, mas eu sabia que ela estava brincando e não falou com intenção de me magoar. - Relaxa, você se saiu bem. Melhor do qualquer um da sua turma.

Observei Cecília pegar uma carta e a girou entre os dedos antes de fechar a gaveta da mesa de cabeceira. Ela sorriu para mim levemente e deu um leve tapinha em minhas costas ao passar por mim.

- Vou no banheiro. - Ela avisou.

Eu assenti, caminhando lentamente até minha cama e me jogo nela. Meus olhos se fecham assim que ouço a porta do banheiro se fechar com um suave "click" e minha mente volta para a bagunça nervosa que ele é.

Se eu tivesse estudado mais, talvez eu não estivesse tão nervosa sobre a minha nota.

Mas eu sei que não estaria. Não importa o quanto eu estudasse, essa ansiedade e nervosismo sempre irão me perseguir.

{...}

Não sei dormi, mas devo ter cochilado um pouco em algum momento. Ou se eu só fechei os olhos e abri depois de uns cinco minutos.

Olho em volta e vejo que ainda estou sozinha no quarto, Cecília deve estar lá embaixo com nossa mãe ou no quarto ao lado com nossas outras irmãs.

Me levanto e esfrego o rosto, bocejando enquanto ando em passos arrastados até o banheiro e seguro a maçaneta, franzindo o cenho levemente quando ela não abriu quando a girei.

Estranho.

Tentei mais duas vezes e nada.

Bufo e reviro os olhos, batendo na porta. Cecília ainda estava no banheiro até agora?

- Cecília? Vai demorar muito aí? Eu quero fazer xixi! - Elevei a voz, batendo na porta mais algumas vezes.

Prendi a respiração quando não obtive resposta.

Bati mais algumas vezes, um pouco mais forte e forcei a maçaneta novamente.

- Cecília?!

Nada.

Nenhum sinal de que ela estava lá. O silêncio fora minha única resposta.

Olhei em volta do quarto, ficando o olhar na cômoda perto da porta e lembrei da chave estra que tinha em uma das caixinhas bonitinhas de estrelas que eu fiz.

Rapidamente revirei as coisas da cômoda, a deixando ainda mais bagunçada do que já estava. Logo encontrei a chave e solto um suspiro que eu nem sabia que estava segurando.

Minhas mãos tremeram enquanto coloco a chave na fechadura e abro a porta.

Coloco apenas minha cabeça para dentro do banheiro, que parecia normal, é claro que estava. Por que estaria? Não tinha nada fora do lugar e os meus produtos estavam corretamente arrumados em seu devir lugar sobre o meu lado da pia.

Resolvi entrar para dar uma olhada geral.

Um grito de terror cortou por minha garganta. Meus olhos se embaçaram com lágrimas ao ver minha irmã na banheira, seu olhar estava vago e quase sem vida, fixo no teto. A cor avermelhada foi o que mais me deixou em pânico e assustada.

Quando dei por mim, meus pés desciam as escadas o mais rápido possível, pulando dois ou três degraus no processo. Lágrimas escorriam desesperadamente enquanto corro pela casa e grito pela minha mãe.

A próxima coisa que vi, foi um grupo de enfermeiros subindo rapidamente as escadas. Quase tão rápido quento eu as desci a alguns minutos atrás.

Poucos segundos depois, eles desceram, carregando minha irmã nos braços. Sangue pingava no carpete da escada. E tenho certeza de que havia muito mais no chão do nosso quarto.

Ouço as vozes longe, não tenho certeza de quem falava comigo, estava muito em choque para focar em outra coisa a não ser em minha irmã sendo colocada na maca e levada na ambulância.

Meus olhos seguiram a ambulância até a curva à umas quatro casas depois da minha, onde ela fez a curva e dobrou para a outra rua.

Pisco algumas vezes, tentando processar o que acabara de acontecer. Tentando tirar a imagem de Cecília na banheira, com os pulsos cortados e a água avermelhada em volta dela.

Encaro algumas pessoas que estavam em frente de suas casas, no meio da rua ou no meio fio.

Bando de fofoqueiros.

Encarei cinco garotos que estavam no outro lado da rua. Acho que um deles mora na casa em frente da nossa, mas não tenho certeza. Eles me encararam de volta e não desviaram o olhar até que minha mãe me levou para dentro de casa e fechou a porta.

{...}

A sala de espera do hospital é um gelo. Deveria ter vindo com um casaquinho.

Minha perna balança de um lado para o outro desde os últimos cinquenta e cinco minutos que estou aqui. Meus pais estão na sala com o médico, e ainda não me deixaram entrar para ver minha irmã.

Palhaçada hein.

Meus pais voltaram da sala onde estavam com alguns médicos. Mamãe estava com o nariz vermelho de tanto chorar.

Finalmente consegui entrar no quarto onde Cecília estava. Seus pulsos estavam enfaixados e seu olhar estava distante, mas olhou para mim assim que entrei.

Pego a cadeira que havia no quarto e a coloco próxima a maca onde ela estava, em silêncio total. Não havia nada que eu pudesse ou deveria falar.

Seguro sua mão e a aperto levemente, deixando ela saber que eu estava lá por ela.

Sempre estaria.

O médico entrou e dividiu o olhar entre nós duas. Vou dar na cara dele com aquela prancheta se ele mandar eu sair desse quarto.

Ele forçou a garganta e deu uma última olhada na prancheta. Seus olhos de ergueram e ele olhou para minha irmã.

- O que você está fazendo aqui, querida? - Ele começou e checou uma última vez a prancheta, como se tivesse entendido algo errado nas outras vezes. - Você não tem idade para saber como a vida pode ser ruim.

Isso quase me fez dar uma risada irônica. Seria engraçado se não fosse triste. Os adultos acham que crianças não tem seus próprios demônios para lidar.

Cecília zombou e tentou dar um leve sorrisinho, que não fui muito longe.

- Tá na cara, doutor, - Ela apertou minha mão. - O senhor nunca foi uma garota de treze anos.

Voltei a encarar minha irmã. Algo dentro de mim dizia que aquela não seria a primeira vez.

Mas me recusei a acreditar.























Notas da autora:


Oioi gente, como vcs estão? Espero que tenham gostado do primeiro capítulo.

Me desculpem por qualquer erro ortográfico.

Não se esqueçam de dar a estrelinha.

Bjs da autora, até o próximo capítulo 💞

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