Uma morte rápida
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Edward foi buscar o copo com sangue apetitoso para minha gêmea. Dei meio sorriso para Bella e recuei com Jasper para a saída. Dessa vez encarei a janela toda quebrada e parei no corredor.
— Não sei como Esme não me odeia— comentei, chutando uns cacos de vidro para o lado. Jasper riu.
— Só vandalizou duas casas dela, ela supera— ele comentou, irônico.
Eu ri e pesquei a mão dele.
— Vamos, vou fazer a ronda com você, aposto que os cachorros vão hesitar ao nos ver juntos— sorri de canto.
Jasper me puxou escadas abaixo correndo.
— Você certamente vai os fazer repensar antes de nos atacar— Jasper acariciou minha mão com o polegar. Colei meu ombro ao dele.
— Me ajuda a levantar?— Bella pediu a alguém quando saímos da casa— Preciso ir no banheiro.
— Aí, Jacob!— chamei, o moreno apareceu na janela logo em seguida.
Ele cruzou os braços me dando aquele olhar metido. Curvei-me com um sorriso irônico.
— Me desculpa por não ter quebrado sua coluna— falei— Sinto-me horrível por ter falhado na missão.
Ele riu e revirou os olhos.
— Desculpas medianas, mas eu aceito— sorrimos um para o outro.
— Por que você não chama Seth e Leah para eles descansarem?— Jasper oferece— Vamos vigiar agora.
— Pode ser uma boa...— ele se interrompeu, houve um estalo que incomodou meus ouvidos, e tudo ficou muito quieto por três segundos. Tudo ficou terrivelmente quieto.
Os gritos de Isabella ecoaram pela casa. Corri para dentro nem sei como.
— O que houve?— indaguei, Bella estava nos braços de Edward, os olhos arregalados de horror, tinha sangue no chão, mas logo vi que não era dela. Edward a pegou no colo e correu pela casa, o segui cegamente pela ala que eu não lembrava ser desse jeito, parecia o escritório de Carlisle e uma ala hospitalar ao mesmo tempo, a maca no centro e aparelhos de hospital. Os gritos de Bella me encheram de pânico, ainda mais por eu não ter ideia do que fazer.
— Morfina!— Edward pediu, Rosalie entrou atrás de mim me tirando do caminho para entrar.
— Alice, ligue para Carlisle!— Rosalie pediu. Arregalei os olhos, congelada. O coração de Bella se acelerou e ela começou a convulsionar, mais um estalo, ela gemeu incoerente, Edward e Rosalie tentando ampará-la.
— O que está acontecendo?— Jacob perguntou agoniado, Edward rasgou a roupa de Bella, expondo a barriga.
— Ele está sufocando!— Edward disse.
— A placenta deve ter deslocado!— Rosalie disse, eu só via os movimentos, ao mesmo tempo parecia que ninguém fazia nada.
— TIREM ELE!— Bella gritou alto, agoniada— ELE NÃO CONSEGUE RESPIRAR! TIREM!— ela estava engasgando, cuspiu para cima, havia muito sangue. Dei um passo na direção do tumulto.
— Saia daqui, Rebecca!— Edward disse entre dentes, ele acha mesmo que eu iria atacar minha irmã?
Alice entrou correndo no cômodo, colocou o telefone na orelha de Rosalie, mas o que a loura sibilava rapidamente no telefone não passava de um zumbido contínuo e de fundo na minha mente. Voltei a mim quando vi Rosalie pegar o bisturi e o levar a barriga exposta de Bella, segurei seu pulso.
— O que você pensa que está fazendo?— sibilei para ela, furiosa. Edward estava dando apoio a cabeça de Bella, tentando ajudá-la não sufocar com o próprio sangue.
— A morfina ainda não se espalhou!— Edward gritou para Rosalie.
— Não temos tempo! Ele está morrendo!— houve um momento de hesitação.
— Rebecca, você precisa sair daqui— Edward sibilou, soltei o pulso de Rosalie.
— Eu não vou a lugar algum— fui para o lado de Edward, ele me mostrou em silêncio como deveria segurar a cabeça dela, Bella cuspiu mais sangue, seus olhos foram pesando, Rosalie desceu o bisturi na barriga da minha irmã, Bella não gritou, nem reagiu, tentei não entrar em pânico ouvindo o coração dela batendo.
Rosalie perdeu o foco quando o sangue se espalhou, a sede fez meu corpo todo vibrar, minha garganta ardeu como um inferno e eu me remexi inquieta no lugar tentando controlar meus instintos, fiquei ofegante, o que não ajudou em nada meu estado.
— Alice, tire Rosalie daqui!— Edward gritou, a pequena fada que entrava e saia do cômodo veio rapidamente, prendeu-a pelo pescoço e a arrastou para fora do cômodo. Rosalie não resistiu.
Eu estava a ponto de perder a cabeça, minha visão ia e voltava, tudo o que eu pensava era sangue, sangue e mais sangue, eu queria. Eu quero, eu desejo, quero tanto!
Rosnei tentando abafar os pensamentos homicidas. Edward não sabia como eu reagiria, não sabia se eu aguentaria, mas não falou nada comigo.
— Ela precisa respirar, Rebecca— Edward me disse, olhei para Bella, a respiração dificultada e fraca, mas tudo o que eu realmente enxergava era o vermelho dos seus lábios.
— Jake!— chamei sem conseguir desviar o olhar do sangue. O moreno veio e eu procurei não resistir. Meu corpo todo está tenso e Jake teve que me empurrar para o lado. Eu não conseguiria, então ele fez o boca a boca.
Minha mente se revirava, minha mão tinha sangue do que tinha escorrido pela boca de Bella. Edward abriu mais a barriga da minha irmã, mais sangue foi derramado, Bella revirava os olhos enquanto Jacob fazia o boca a boca.
Minha mente só pensava, desperdício.
Eu queria ir para perto de Bella e dilacerar sua garganta, queria me servir do seu sangue, loucamente, eu queria matá-la.
— Fica comigo, Bella, fica comigo— Jacob pedia, o coração de Bella batia irregular e fraco. Tudo não passava de um barulho de fundo, eu não conseguia me manter focada. Me afastei até encostar na parede de vidro do escritório.
Eu estava de mãos atadas e com muita fome. Veneno encheu minha boca me deixando nauseada comigo mesma, mas agora eu sou mais uma telespectadora no meu corpo, afundei-me contra o vidro e despenquei dois andares até cair no chão de costas. Não senti nada, o vidro caiu em mim como se fossem gotas de chuva inofensivas. Olhei ao redor perdida. Eu tenho que voltar para a sala, mas o ar é tóxico. Encarei minhas mãos, aproximei-as do rosto e inspirei. Antes que eu levasse o sangue aos lábios, Jasper correu para mim e agarrou meu pulso. O fulminei com o olhar pela interrupção e projetei meu dom.
— Becca, se concentre, você não pode fazer isso— ele forçou minha mão para longe do meu rosto, ela tremeu no meio do caminho pela minha resistência. Eu só quero experimentar, é tudo o que eu tenho em mente fora ver a névoa cinza rodopiar Jasper.
Jasper gemeu de dor, apertando os olhos com força, mas se concentrou o suficiente para que, com a mão livre, prendesse meu pescoço, interrompendo minhas vias respiratórias. Houve silêncio naquele maldito cômodo de horrores. As rachaduras de Jasper foram ficando mais aparentes, arregalei os olhos e o empurrei para fora da névoa num vislumbre de sanidade.
— Renesmee— ouvi Edward sussurrar. Olhei para cima, da direção que havia caído. Pulei para lá, vendo o horror. Edward segurava um bebê no colo, enrolado na blusa que ele vestia momentos atrás. Estava coberto de sangue e a criatura sequer chorou, balançando os bracinhos para o rosto manchado de Edward.
— Me deixe— Bella pediu, fraca esticando os braços na direção de Edward, trêmulos. Jacob estava cobrindo minha visão do rosto dela— me deixe vê-la.— Edward foi na direção dela, os pés fazendo barulho gosmento enquanto atravessaram a sala, devagar. Me aproximei concentrada em não respirar mesmo que minhas narinas parecessem pegar fogo. Jacob olhou para mim saindo do caminho, assustado e abatido, os lábios e as mãos com sangue. No reflexo do seu olhar, me vi agitada e de olhos arregalados. Eu vi Victória. Uma selvagem.
— Tão linda... não é, Becca?— a voz de minha gêmea, rouca, me deixou confusa, eu tinha perdido de novo a linha de raciocínio, encarando o monte de sangue no chão. Olhei para o rosto de Bella, em pânico, dividida. Eu quero sair, eu quero ficar.
Fiquei imóvel no lugar, tremendo e tentando manter o controle.
Sede, sede, sede, sede! Eu estou morrendo de sede.
A bebê olhou na minha direção. Os olhos idênticos aos de Bella me fizeram dar um passo para trás, ela me encarou, parecendo exalar compreensão de quem eu sou e sorriu. Seu coraçãozinho batia ferozmente e, por trás do sangue fresco que a cobria, eu pude ver sua beleza.
Me aproximei, concentrada na pequena, como se estivesse hipnotizada, quando eu fiquei a um passo de distância, parei de novo, porque só então eu fui notar o silêncio além do coração dela e do de Jake. Desviei o olhar da criança para Bella, não ouvia seu coração, ela sorria com os olhos encarando o vazio. Edward pegou a menina no colo e eu empurrei Jacob do caminho para puxar Bella para o meu peito.
— Bella, Bella— chamei. Nada. O sangue dela manchando as minhas roupas. Estremeci com minha gêmea nos braços, mole. Sem vida. Eu gemi e gritei. A dor invadiu meu peito e se instalou.
Eu perdi de novo, eu só perco e perco. Puxei o corpo de Bella mais para perto e me balancei enquanto o seu cheiro tentador queimava minha garganta. As mãos quentes de Jacob me prendem e me tiram de perto de Bella. Eu não consigo sequer lutar, de repente o ser mais fraco do mundo de novo.
— Becca, sai daqui, eu sinto muito— Jacob me fala com a voz embargada, reajeita o corpo de Bella na maca e começa a massagear o peito dela.
Ela... ela está morta. Em algum momento o bebê vai para os braços de Rosalie e ela sai o ninando como se nada estivesse acontecendo naquele lugar maldito. Edward aplica o veneno no peito de Bella através de uma seringa, mas todos eles não passam de vultos para mim. Entrei em estupor, encarando o corpo morto do que me restava de família.
Em algum momento, Jasper veio para meu lado, ele me balbuciava alguma coisa, mas eu não o ouvia, não sentia quando ele tocava meu corpo. Ele me levantou no colo e me tirou dali, um lugar que obviamente lhe trazia dor do mesmo jeito que eu.
Não sei como fomos parar no banheiro dele. Jasper me colocou debaixo do chuveiro, de roupa e entrou comigo, levei um momento para processar que ele estava limpando o sangue de minhas mãos e do meu peito.
Jasper mexia minha cabeça, tentando falar comigo, mas eu estou anestesiada. Deixei com que ele me abraçasse e acomodei minha cabeça no seu peito enquanto a água do chuveiro banhava minhas costas.
Eu nunca me senti tão sozinha.
Não me vieram memórias com ela, eu não pensei na sua risada, eu não pensei na sua voz, nem me lembrei de seu rosto. Nem no melhor momento, tampouco no pior.
Tudo estava quieto, meus ouvidos apitam incansavelmente, eu não ouço nada além de apitos. Só sei que estou completamente imóvel nos braços de Jasper.
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