Saudades do que nunca vivi
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Respirei fundo o ar quente da praia, senti falta de usar roupas leves para um verão quase perpétuo, olhei o mar quebrando em ondas, deixei todo meu corpo se resetar e me deitei na areia. Olhei o céu, um azul maravilhoso e quase sem nuvens, lindo, eu até que gosto de dias assim mesmo que verão não seja minha estação favorita.
Fechei os olhos e me concentrei no calor tocando minha pele, o vento ameno e as garças cantando ao longe. Me permiti pensar nas coisas enquanto isso.
Eu iria querer mesmo essa vida calma até o dia — desconhecido — da minha morte? Uma vida comum, regular e que passaria como um sopro. Nada demais, eu não seria ninguém importante. Mas eu ligo pra isso?
A hora de Bella está chegando, essa muito provavelmente é a última vez que ela verá nossa mãe. Será que eu também deveria estar com elas, me despedindo?
...
Não, eu não vou me transformar agora e também espero não morrer agora. Vou ter tempo de conversar com ela. Ainda vou ver minha mãe muitas vezes.
Suspirei pesadamente, talvez eu esteja mesmo sendo pessimista, vou tentar não pensar demais se não posso acabar explodindo.
Tantas possibilidades...
Pare de se torturar, Rebecca.
Me levantei e entrei na água pouco agitada do mar, fiquei lá por um bom tempo antes de voltar para casa sozinha. O sol de meio dia rachando no pico. Bella e Renée estavam sentadas tomando um banho de sol, passei direto por elas, Edward estava desenhando num caderno aleatório e me olhou de relance, nada interessado embora tenha arregalado um pouco os olhos ao virar a cara arrependido do que viu, apressei-me para o banheiro já que não queria molhar mais o chão do que o necessário. Talvez eu devesse ter pego uma toalha antes de sair para início de conversa.
Tomei um banho frio e me demorei ao vestir um short e uma regata, ficando deitada na cama mais um momento.
Nessas horas eu queria Jasper me perturbando, nem que fosse só um pouquinho.
Me virei de barriga para baixo e pensei no loiro, não me lembrando de momentos com ele mas dele, eu quero vê-lo, senti-lo do meu lado. Ou encima de mim, o que fosse estaria bom.
Lembro de sua cara enciumada, do seu sorriso convencido, dos seus olhos me fitando cheios de malícia, de suas mãos, ah, Deus, aquelas mãos!
Suspirei com um calor diferente em meu corpo, não era culpa do clima. Virei novamente com a barriga para cima e fechei os olhos, visualizando o cara mais sexy desse mundo, sorri ao ver Jasper por cima novamente, sem camisa.. aqueles músculos definidos sem serem exagerados como os de Emmett. Ele tem um corpo perfeito. Atlético, alto e magro. Ao focar em seu corpo, não foi difícil minha mente ir mais além.
Queria suas mãos grandes e lindas segurando minha cintura com firmeza e me puxando para perto para um beijo intenso, sentir os arrepios quando sua boca fizesse caminho para meu pescoço e então para meus seios, suas mãos provavelmente já me provocando dos melhores jeitos possíveis.
Abri os olhos frustrada e me sentei com a respiração irregular, não importa o quanto eu imagine ele fazendo todo tipo de coisa comigo, eu nunca conseguia me concentrar o suficiente.
Se ele estivesse comigo agora eu cederia tão fácil que forçaria ele ir até o final. Gemi baixinho de raiva e saí do quarto tentando me livrar dos pensamentos impuros que eu queria calorosamente que se tornassem reais.
O choque na minha pele quando os dedos dele deslizassem, eu arderia em chamas, querendo mais. Trinquei os dentes ao me sentar do lado de Edward. Dessa vez ele não me olhou.
— O que é que você têm?— ele indagou, desatento.
— Saudades do que eu nunca vivi.— admiti frustrada, sabendo que Edward não entenderia, ele franziu a testa rabiscando. Tentei olhar seu desenho mas ele o escondeu rapidamente.
— O que quer dizer?— ele tentou distrair minha atenção, bufei e apoiei o rosto na minha mão, agitada, pensando em como faz tempo que eu não beijo Jasper.
— Eu...— limpei a garganta mudando de assunto— o que você está fazendo?
— Nada que seja da sua conta.— rebateu ele com um sorrisinho, revirei os olhos.
— Cara, você é um pé no saco.
— Comparado á você eu sou muito adorável, na verdade.— corrigiu-me. Bufei e olhei pela janela, Renée entregava uma caixa grande para Bella. Suspirei com a mente distante e enrolei uma mecha do cabelo com o dedo encarando as duas se abraçarem. O olhar de Bella cruzou com o meu e ela tinha uma cara muito triste, talvez eu devesse ir lá.
Não, algumas coisas ela vai ter que passar sozinha.
Eu olhei Edward de canto, ele tinha voltado a desenhar, olhei suas mãos e novamente me lembrei de Jasper, comecei a mexer o pé debaixo da mesa, o que ele estaria fazendo agora? Será que está bem? Será que pensa em mim na mesma frequência que eu penso nele? Suspirei alto novamente.
— Pergunte logo, Becca.— Edward resmungou.
— Jasper está bem? Digo, sabe como ele está?— perguntei, Edward respirou fundo e me olhou soltando o seu caderno com o desenho virado para baixo na mesa.
— Ele está bem, Becca. Deve estar sentindo sua falta também.— ele sugeriu, eu não pude conter o sorriso.
— Você acha?
Edward revirou os olhos.
— Eu conheço bem os pensamentos dele, sabe?— ele estremeceu com uma cara de nojo, meu sorriso se alargou, feliz pelo incômodo do garoto.
— Me considero vingada. Você pega minha irmã, eu pego seu irmão, estamos quites.
— Bom, vocês não estão juntos.— argumentou ele.
— Relaxa, meu bem, isso pode mudar. Somos o futuro um do outro.— falei com um sorriso presunçoso, Edward revirou os olhos de novo e eu lhe lancei uma piscadela indo me juntar á minha irmã e minha mãe.
Bella não demorou a entrar com seu presente de formatura para ficar com Edward nas sombras da casa.
— Eles formam um belo casal, não é?— minha mãe comentou, a cabeça virada na direção dos dois que agiam normalmente embora eu imaginasse que estariam apenas agindo como de acordo Renée gostaria de ver.
— Certeza? Ele é tão feio.— brinquei, Edward sorriu para Bella, apaixonado e eu tive que virar para frente para não vomitar.
— Parece que você se dá bem com ele.— mamãe sorriu também se voltando para frente.
— É, a gente é amigo.— balancei a mão em sinal de um mais ou menos, sorrindo.
— O irmão dele por outro lado...— ela começou, me olhando de canto, cautelosa. Dei de ombros, sorrindo minimamente.
— Com Jasper é complicado.— comentei.
— Já o perdoou?
— Sim, mas vou negar até a hora que achar certa.— ri sem humor.
— Quando vou conhecê-lo?— perguntou ela numa voz calma que me lembrou de Esme, amorosa e gentil, uma voz de uma mãe.
— Não sei.— pisquei confusa pelo que sentia ao imaginar Renée conhecendo Jasper— Mas temos tempo, não é?— sorri e minha mãe me pegou desprevenida ao tocar no meu rosto com carinho. Ela sorria e seus olhos cintilavam com algo que eu tinha que reconhecer com satisfação. Aceitei o carinho mantendo sua mão na minha bochecha.
— Estou vendo que você está melhor, minha menina encrenqueira.— nós rimos— Fico tão contente em te ver assim de novo.
Baixei os olhos, envergonhada.
— Me desculpe por ter sido uma filha tão ruim da última vez que nos vimos, eu estava frustrada e descontava nas pessoas erradas.— falei sem a encarar— Eu sinto muito, mãe.
— Não tem o porquê se desculpar, Becca, eu não estou chateada com você. Eu te entendo, minha menina— ela apertou minha bochecha antes de me soltar— seu primeiro amor a magoou, cada um lida com isso de um jeito. Mas me diga, descontou nele a raiva que sentia?
De que adiantava mentir?
— Não.— revirei os olhos, rindo— Não acho que eu consigo o odiar com ele no meu pé, tentando me conquistar de novo e essas coisas... E isso só me deixa mais frustrada porque eu não consigo odiá-lo, mãe! Eu queria tanto... Mas toda vez que o vejo, é como se fosse a primeira vez... Eu pensei que esse sentimento ridículo passaria depois de um tempo— dei de ombros— mas não muda, quando ele está comigo tudo está bem, tudo é certo, tudo é mais do que o suficiente.
— Você o ama mesmo, não é?— as sobrancelhas da minha mãe se uniram conforme ela cerrava os olhos por causa do sol, ela sorriu pra minha cara de frustrada.
— Tanto que chego a o odiar por isso, pelo que ele me faz sentir.— admiti.— Eu não tenho controle nenhum, mãe! Ele me deixa louca.
— É, o amor têm suas linhas tortas, mas nunca deixa de ser amor.— ela citou.— Então ele está tentando de reconquistar?
— Uma bobagem eu diria, mas gosto de o ver tentar.— eu ri sozinha com um sorriso bobo.— E também... eu não quero que isso acabe, é por isso que não voltei com ele, não quero que esse joguinho chegue ao seu fim, porque tenho medo que quando ele me ter de volta ele vá embora de novo, não que ele tenha ido embora da última vez porque não me queria mais... Mas... Ah, entende?— busquei compreensão nos olhos azuis de minha mãe e, para meu alívio, a encontrei, me sentei no chão do seu lado, por preguiça de arrastar a minha cadeira mais para perto da sua e deitei a cabeça no seu colo. Ela acariciou meu cabelo devagar cobrindo minha lateral raspada.
— Minha querida, se ele está tentando te reconquistar, se ainda quer estar no seu pé, talvez o amor dele seja tão profundo quanto o seu, não acha? Ele não vai te perder de vista tão fácil.
— Ele é insuportável.— resmunguei.
— Então é o par perfeito para você.— comentou Renée num ar descontraído, levantei a cabeça para encará-la ofendida.
— Mulher!— censurei-a— Você também!?
— Olha, Rebecca, se mais de uma pessoa te disse isso...— ela deu de ombros arregalando um pouco os olhos— contra fatos não há argumentos.— ela riu quando a belisquei, e a seriedade se esvaiu enquanto eu tinha uma crise de riso com minha mãe.
A desmiolada, desatenta e esquecida Renée, minha mãe, uma das minhas pessoas favoritas. Minha família. A abracei e ela retribuiu com vontade. Respirei fundo e beijei sua bochecha.
— Eu te amo, mãe.
— Eu também te amo, Becca.
— Mesmo eu sendo insuportável?— brinquei, ela riu.
— Mesmo você sendo insuportável.— concordou ela e beijou minha cabeça, voltei a deitar minha cabeça em seu colo.— Minha garotinha insuportável.— ela disse com a voz melosa— estou tão orgulhosa da mulher que se tornou.
Meu peito estufou, me senti bem comigo mesma porque minha mãe está orgulhosa de mim, e isso vale mais que qualquer coisa.
Minha mãe fungou depois de um momento em silêncio e eu a observei, curiosa.
— Francamente, mulher, está mesmo chorando?— eu ri e sequei as lágrimas dela com meus polegares, segurando seu rosto com firmeza.
— Vocês estão tão grandes! Tão longe de mim! Eu me sinto velha e inútil.
— Você nunca vai ser inútil, mãe.— consolei-a— Velha, por outro lado...— fiz careta como quem fala "ai, minha filha... você já é".
Renée revirou os olhos levemente vermelhos e fungou.
— Vão se formar e depois se casar, me darão muitos netos... Eu odeio como o tempo voa!— resmungou ela. Eu ri embora a pergunta sobre o que eu seria nesses momentos me incomodasse um pouco, lá no fundo da minha mente. Renée me abraçou de novo, dessa vez apertado demais para que eu conseguisse respirar bem.
— Mãe, está tudo bem! Não é como se tudo isso fosse acontecer agora mesmo!— eu ri tentando fugir do sufoco.
— Ah, Becca, minha menina!— ela me apertou mais, e de repente me largou ao se lembrar de algo— Sim! Seu presente de formatura!— ela bateu na própria testa— Venha.
Ela agarrou meu pulso e me arrastou para dentro de casa, coisa que eu achei um alívio considerando que estava começando a torrar do lado de fora. Me guiou até seu quarto abafado e bagunçado e puxou uma caixinha da gaveta da cômoda que abrira. Me estendeu a mesma.
— Já dei o presente de formatura de Bella, este é o seu e como sei que adora usar jóias pensei que gostaria, era da sua vó, sua primeira herança de família.— ela contou e eu abri a caixa retangular, ansiosa, ela era bem pesada e eu me deparei com um colar banhado a ouro, fino e delicado, eram três juntos, pra ser mais específica, eles faziam uma trança, com um brilho aqui e ali. Está muito bem cuidado e eu nunca vi minha mãe usando, talvez ela só gostasse muito daquilo e zelou bem da jóia, mas desconfiei que a tivesse comprado e a herança fosse apenas uma desculpa para me fazer aceitar. Conhecendo sua personalidade, se fosse uma herança qualquer ela teria usado, perdido ou quebrado.
Cerrei os olhos, desacreditada e encantada.
— É linda.— admito.
— E é sua.— ela bateu palminhas, animada e se adiantou pegando o colar e indo para trás de mim para o colocar. Ele é grande, vai até o meio dos meus peitos.
Fiquei satisfeita, minha mãe viu pelo meu olhar.
— Está perfeita!— ela beijou meu rosto— Agora venha, vamos exibir para Bella, depois podemos sair para tomar sorvete!
— Claro.— sorri-lhe, alegre— Parece uma ótima ideia.
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