Reza a lenda
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Assim que voltamos para casa Jasper estava me esperando, desta vez ele estava de pé no meio da sala. Olhei séria para Bella que apenas assentiu e subiu para o quarto. Joguei minha bolsa no sofá e me apoiei sobre o mesmo com as mãos.
— Ainda está chateada?— ele começou, dei de ombros.
— Não sei. Estou, Jasper? Pensei que você saberia me dizer já que me conhece melhor do que eu mesma.— cerrei os olhos na sua direção, séria. Ele bufou, mas se manteve calado.— Você vai me falar o que aconteceu ou não?
Jasper indicou o sofá com o queixo e eu dei a volta nele me sentando, ele se sentou do meu lado e encaramos a TV desligada, em silêncio.
— Alice teve uma visão semana passada, de que Victoria viria.— ele começou, sem ânimo— Edward levou vocês duas para fora da cidade por precaução, mas Victoria não alcançaria vocês. Não tinha a menor chance.— Jasper disse sério para demonstrar sua certeza sobre isso— Não protestei, sabia que ela não chegaria á um quilômetro de você, mas saber que você estaria ainda mais segura, foi de certo um alívio...— a frustração reapareceu e ele trincou os dentes desviando o rosto quando tentei o olhar nos olhos— Eu e Emmett quase a pegamos, mas Victoria parece ter um instinto de evasão e escapou para a fronteira quileute. Ela conhecia o lugar, tive certeza disso, como se estivesse com um mapa mental. Para piorar, as habilidades de Alice foram anuladas com o envolvimento daqueles cachorros.— Jasper revirou os olhos, mas depois pareceu ter pensado melhor— Para não ser tão injusto, eles também quase a pegaram, mas nós só atrapalhamos uns aos outros.— ele olhou para as próprias mãos.— O tal Paul— ele disse o nome com tanto desprezo que me lembrei de nunca mencionar que Paul foi o tal que quase matou minha irmã e eu quando o "segredo do lobo foi revelado" como Embry nomeara o incidente que eu provoquei tanto seu amigo que ele se transformou na minha frente— achou que Emmett tinha passado dos limites e ficou na defensiva e claro que Rosalie reagiu a isso, os outros pararam mas eu segui Victoria por mais uns minutos do nosso lado da fronteira até ela se jogar no mar.— ele cerrou os punhos e eu me perguntei se ele não desejava que estivesse com eles envolta do pescoço da ruiva— Eu poderia tê-la seguido, tê-la matado ali mesmo, mas minha família precisava de mim para acalmar a situação antes que saísse do controle e não para piorá-la ultrapassando os limites. Então eu voltei para o lado de Carlisle.— Jasper me olhou como quem se desculpa, e eu suspirei pesadamente, pensando em perguntar porque ele se desculparia.
— Você fez o que era necessário. Sabe que eu faria o mesmo.— falei balançando a cabeça. Jasper virou o tronco na minha direção e inclinou a cabeça para o lado.
— Sei que faria.— ele uniu as sobrancelhas— Mas eu devia ter ido até o fim, nunca fui treinado para hesitar, mas eu pensei demais, pensei na porra dos lobos atacando minha família e eu, além de os deixar para trás os deixei desprotegidos.— ergui as sobrancelhas, surpresa, é um tanto incomum Jasper falar palavrão, a boca suja da história sou eu.
— Você acabou de falar "porra"?— brinquei tentando aliviar sua tensão.
— É, você é uma péssima influência.— ele deu um breve sorriso, mas sua testa se franziu, ele está se torturando.
— Bom, acho que mesmo se você não estivesse lá, eles ficariam bem. Não é sua obrigação proteger todo mundo, Jasper.— assim que terminei de falar, o loiro voltou a si e me encarou com certa ironia.
— Você me falando que não é meu dever proteger todo mundo?— perguntou-me e eu revirei os olhos quando ele sorriu malicioso— Que ironia. Está se ouvindo?
Bufei alto e desviei o rosto.
— É, nisso sei como somos iguais.— resmunguei e cruzei os braços.
— E sabe que não vou mudar.
— Eu sei.— suspirei— mas talvez devêssemos, Jazz.— o olhei de soslaio— Se bem que... ainda bem que você não pegou Victoria.
— Por que diz isso?
— Sei que não gosta de matar, Jasper.— falei dando de ombros e Jasper riu sem humor.
— Por ela eu abriria uma exceção.— disse friamente, como se isso fosse o óbvio. Fiquei quieta sem saber o que responder— Mas de qualquer forma, Becca... Victoria não seria a última que eu mataria.
— Eu sei. Mas não quero que seja torturado por mais fantasmas.
— Mas sempre serei, estou condenado, para sempre. Um dos muitos lados ruins dessa vida é a matança eterna, sempre teremos quem enfrentar, de quem nos defender...— ele sorriu com um humor sombrio— as vezes, eu me sinto... mal por ser tão bom com isso. Com a guerra, o caos, a morte.— ele desviou o olhar do meu de novo.— Não queria te expôr ao perigo, quanta hipocrisia para um assassino! Eu seria o motivo da sua morte como fui o de tantas pessoas antes de você.
Fiquei um tempo boquiaberta, surpresa com a facilidade que Jasper se abrira, é difícil discutirmos sobre coisas que o atormentam, sobre seu passado. Mordi o lábio quando seus olhos voltaram a encarar os meus. Ele sorriu, mas o rosto está contorcido em confusão e dor.
— Você nunca tem medo de mim.— ele disse sério— Eu sou tão egoísta e sádico por adorar isso? Eu sou um monstro, mas tudo o que sinto vindo de você é... amor, compaixão.— sorri fraco, mas mantive o olhar sério.
— Você não é um monstro, Jasper.
— Você não faz ideia de metade das coisas que fiz, minha querida. E quanto mais eu penso... Pior fica. Por que não basta eu não conseguir pensar em deixá-la viver paz, como humana, como você quer... eu ainda queria que você se transformasse por mim. Eu só via um futuro, Becca. E eu queria você nele de qualquer jeito.— ele admitiu, permaneci quieta— Eu devo ter algo muito errado dentro de mim... mas eu não consigo imaginar uma vida sem você. Quando Alice me falou de suas visões sobre sua morte pelas minhas mãos... eu queria encontrar desculpas, fossem quais fossem só para poder ficar com você, mas a imagem se tornava cada vez mais real, e só havia um futuro que você sairia viva, e eu não podia estar nele.
Estremeci só de lembrar de tudo o que passei desde o dia que ele foi embora, a tristeza sem fim, o vazio no peito, o quanto eu havia me perdido.
— Não vou me desculpar por tê-la deixado, Rebecca. Era preciso, eu não queria você morta. Eu não quero.— corrigiu-se— Posso lamentar por todo o resto, você devia me jogar na fogueira pelo que eu te disse, por quanto eu te machuquei, mas eu precisava te dar uma chance de viver. Talvez devesse fazer isso agora, mas nunca mais vou embora. Só se... não sei, seu amor por mim acabar, e você me expulsar da sua vida, mas fora isso...
Ficamos um tempo em silêncio, não falei pois sabia que ele falaria mais, e estava ansiosa para que ele continuasse para que eu entendesse onde queria chegar.
— Quando não estou com você, eu penso demais nas coisas. No que eu devia fazer, no que seria mais certo. Mas aí, a racionalidade vai embora quando eu te vejo e penso "nossa, como eu amo essa garota."— ele disse olhando através dos meus olhos, ele enxerga a minha alma, lhe sorri, sentindo meu rosto esquentar— eu amo quando sorri pra mim, quando revira os olhos, quando ouço seu coração bater mais rápido quando estamos mais próximos, quando se irrita por coisas pequenas, ainda mais quando tenta me seduzir— ele riu docemente e eu fiz bico, ofendida.
— Eu não "tento".— resmunguei. Jasper sorriu e acariciou minha bochecha de leve.
— Eu te amo tanto que chega a doer.— ele disse, franzindo a testa sorrindo— Mas o que é que tem de errado comigo que eu não consigo te deixar viver a vida que você quer e merece? Ela me parece tão... pouco, como se nunca fosse o suficiente. Nunca vai ser, eu acho. Ao menos para mim.— ele disse, abertamente— Mas quem sou eu para te tirar disso? Você perderia tanto, talvez nunca se recuperasse. Deixar de ser humano nunca fez muita diferença para mim. Eu mal me lembro da minha vida antes de ser transformado e duvido que eu tenha perdido muita coisa. Nunca foi mil maravilhas e eu me adapto bem. Não posso pedir para que você troque tudo por mim.— prendi o ar por um momento.
— Você.... Não....
— Não vou embora, Becca.— suspirei aliviada— Como eu disse, só vou se você me chutar. Só estou dizendo... não que entendo, mas que não vou te forçar a se transformar por mim, posso viver com isso, se deixá-la feliz. Começo a ver mais a razão de Edward pelo jeito que ele não quer acabar a vida de Isabella. É o inferno, Rebecca. A sede, o isolamento, nunca poder pertencer á qualquer lugar, a vida nunca ter um fim, nem a menor pausa. A única certeza que os humanos tem é a morte, e quando isso é tirado de você... não resta nada. Posso querê-la do meu lado para sempre, mas não quero te dar mais dor do que dei até hoje.
Engoli em seco ao notar que ele esperava uma resposta minha.
— Eu não neguei a possibilidade de ser imortal.— lembrei-o.
— Não, não negou, mas também não aceitou de braços abertos. E eu não estou pedindo para que o faça.— apressou-se em acrescentar ao notar a mínima mudança em minha expressão.— Só estou informando, que...— ele bufou— tudo bem.— deu de ombros, mas eu sei que não está tudo bem. Não estaria tudo bem porque nossas ideias de futuro não são tão certeiras e há pontos em que não se cruzam. Não está tudo bem por ele, não estaria tudo bem por mim.
— Como saímos do assunto da vadia ruiva á isso?— perguntei-lhe retórica com um sorriso torto.
— Eu pensei, quando a perdi... e se ela voltasse e conseguisse passar por nós? Se ela chegasse até você antes de eu a impedir? Eu me culparia por não tê-la matado quando tive a chance. Aí eu pensei em te transformar antes disso, foi uma ideia passageira, eu não faria isso sem sua permissão,— ele esclareceu— não suportaria que você me odiasse pelo resto de nossas vidas... Mas eu pensei, e eu te vi, forte como eu, segura porque eu te treinaria para se proteger, nada mais te machucaria nem a assustaria, a morte seria uma piada e futuro improvável. Me senti parcialmente culpado por ter gostado tanto dessa visão, mas eu só pensava em mim, mas e você? Eu não paro de ignorar o que você quer, então vou tentar, pela primeira vez não ser um filho da puta egoísta que sou, e vou lidar com o que você escolher. Não importa o futuro, eu vou te apoiar, e se um dia você quiser do fundo do seu coração a imortalidade, eu estarei mais que disposto em dar ela a você.
— Mas... não seria muito difícil para você se controlar?— perguntei, insegura e com medo de o ofender, mas sua expressão calma não se abalou.
— Não acredito que haja mais qualquer dor pior do que a que enfrentei quando ouvi que você estava "morta".— ele fez aspas com os dedos, a cara demonstra certa raiva.
Relaxei afundando mais no sofá, e esfreguei o rosto.
— A vida cruel.— comentei com um humor ácido.
— O amor é cruel.— Jasper rebateu, me encarando fixamente. O olhei incrédula.
— Irracional, sim, mas cruel?
Jasper deu um sorriso ladino.
— Não acha cruel, querida? A necessidade que temos um do outro? Você mesma me disse que eu sou seu ponto fraco.— ele fez questão de ressaltar a última palavra.
— Levou como ofensa?
— Bom, sim. Mas você também é o meu. Ao mesmo tempo que é minha fraqueza, se torna minha maior força. Eu sou praticamente indestrutível, mas quando estou com você tudo se amplifica. Eu me sinto mais forte. Talvez porque você faça com que eu me sinta vivo. Esse é o lado bom.
— E o lado ruim?— instiguei-o a continuar, Jasper balançou a cabeça e sorriu.
— Você o conhece tão bem quanto eu. É o possível fim destrutivo, a dependência, a insegurança que o sentimento do outro mude, o medo que isso aconteça. Acho que, pior, é saber que um pode machucar o outro como ninguém. Com palavras, atitudes. E ainda assim...
— Nos perdoariamos.— completei por ele.
— É. Isso.— Jasper piscou pela primeira vez no dia e me olhou afetuoso apesar de triste.
— É, o amor pode ser cruel também.— sussurrei. Jasper colocou a mão no meu peito para sentir as batidas do meu coração.
— É a melhor coisa que aconteceu na minha vida.— ele revirou os olhos— Essa humana... ela é meio perturbada e emotiva.— ele zombou, ergui as sobrancelhas o desafiando a continuar e ele riu— Com os olhos mais lindos que eu já vi, e sei lá o que mais que me fez ficar preso á ela, ela é chatinha as vezes— ele fez careta e eu revirei os olhos rindo— e as vezes eu brigo com ela só para me divertir porque não suporto ficar muito tempo sem ouvir sua voz. Consegue entender?!— ele riu e me encarou como se o que quer que estivesse passando em sua mente fosse loucura.— A garota é intrometida, banca a esperta, é teimosa, e apesar de tudo... Ela é tudo.
Dei de ombros.
— Eu acho que tenho uma situação parecida com a sua.— brinquei e ele sorriu indo na minha onda.
— Ah, é? E quem é o afortunado?— ele pousou a mão que estava no meu peito, na minha coxa, perto do joelho.
— Ele também banca o sabichão, é insuportável quando quer— revirei os olhos e Jasper deu uma risada fofa.— teimoso feito uma mula, se bota uma ideia na cabeça, eu tenho que literalmente sair do país para lhe dar algum juízo...
— Olha quem fala.— ele me interrompeu, um brilho divertido nos olhos que tinham um dourado fraco.
— É, mas eu te entendo, cara. Ele ainda é o amor da minha vida, o que é um porre. E eu nem sei o que ele tem demais.— resmunguei e Jasper apertou de leve minha coxa dando um tapinha muito leve que tenho certeza que ele se concentrou demais para não exagerar na força— É meu melhor amigo, mesmo que eu mesma não vá admitir isso pra ele.— Jasper sorriu mostrando os dentes, o olhar de um bobo apaixonado, eu me sentia perfeitamente bem, com ele me olhando daquele jeito— É um filho da puta, mas é o meu filho da puta.
— Deve ser um cara de sorte.— Jasper riu.
— Com certeza não.— eu ri— Estou dando um gelo nele, as vezes o seduzo por diversão, mas não é como se estivéssemos tendo qualquer coisa.
— Ah, seduz o quê?— ele perguntou e nós rimos por um bom minuto.
— Cala a boca!— lhe bati com a almofada rindo um pouco.— Então, Joseph— continuei como se estivesse bêbada e desabafando com um velho que acabei de conhecer no bar.— eu estou meio que dando um tempo com ele, acho que a única coisa que me impede de voltar a beijar aquela cara linda, é o medo que as coisas mudem quando eu o aceitar de vez.
— Duvida que ele a ama?— Jasper cerrou os olhos, apenas uma sombra do seu sorriso.
— Não.— respondi honestamente— Muito menos do meu amor por ele. Mas também está tão divertido... Não, essa não é a palavra certa.— pensei bem— está tão excitante— corrigi-me— essa brincadeira entre nós, essa amizade crescendo, os flertes que ele acha que está arrasando corações, mas não está nem um pouco...
— Nem um pouquinho?— perguntou Jasper com um sorriso malicioso.
— Nem um pouquinho.— confirmei.— Bom, eu gosto do que estamos nos tornando. Talvez o nosso futuro não esteja tão longe assim.
Ele sabe a que me refiro, mas perguntou, com um sorriso de pura satisfação:
— Como assim? Que futuro?
— Bom, reza a lenda que somos o futuro um do outro.— dei de ombros com um sorriso sincero— Não deve ser tão ruim assim.
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