15. crystalised
Adrien prendeu a respiração. Ficou sentado na cadeira por cinco minutos encarando a caixa e o papel postos na mesa.
Soltou o ar preso e sentiu o peito subir e descer. Estava uma mistura de medo e felicidade.
Olhou mais uma vez o boletim para ter certeza de que o que fazia era o correto. Acabou que depois de dias estudando com Marinette e Nino, ambos conseguiram passar no semestre e conseguir as férias. Agora, o ponto importante daquela noite: consertar o que tinha feito de errado (nas palavras de Nino "dar um jeito nessa merda toda que fez").
O terno preto estava em cima da cama. Caro, bem passado e lindo apesar de simples. A secretária havia ido experimentar com ele há dois dias e o loiro fez questão de estar básico.
— Eu não acredito que vou fazer isso.
Adrien fechou os olhos e pensou nas coisas que Gabriel diria quando visse a bagunça. Mesmo assim, faria.
Só mais um dia para o baile, só um dia.
Então pegou a caixa de tinta e saiu do quarto.
. . .
— O seu pai vai te matar quando ver isso, Adrien — Marinette disse arregalando os olhos. Eles conversavam por chamada de vídeo e a morena estava mais agitada que o garoto. — Quando chegar em casa me conte tudo.
— Eu vou. Já ouviu falar em "descolorir"? Meu cabelo começou a arder e pensei que ia dissolver meu cérebro — questionou e ela riu alto. — Foi a pior experiência da minha vida.
Quando o carro parou, o motorista deu um sinal para Adrien. Eles chegaram em casa.
— Boa sorte. Te vejo amanhã a noite. Se sair daí vivo.
— Tchau, bugaboo.
Adrien desligou a chamada e saiu do carro. Subiu as escadas pensando, em cada degrau, o que seu pai o diria quando visse o cabelo todo rosa claro.
Abriu a porta e sentiu o ambiente diferente do exterior que convivia. A sala estava fria e escura como sempre, mas não encontrava o estilista ali. Apenas Nathalie verificava algo no telefone.
Gorila passou por Adrien sem dizer nada. O "loiro" garantiu que o motorista não seria punido por levá-lo até o salão. Mesmo assim não puderam deixar de lado a tensão no ar.
— O que você fez? — Nathalie disse. Tinha as mãos trêmulas quase deixando o telefone cair. Ela o analisou com olhos agitados pelos fios rosados e engoliu seco. — Seu pai não vai gostar nada disso, Adrien.
— Isso vai sair, a tinta não é forte — reforçou. A porta do escritório se abriu revelando o Agreste mais velho.
Gabriel visou os fios de Adrien em olhar vago, sem vida. Era como quando criticava os próprios trabalhos feitos antes de ter certeza que estavam perfeitos.
— Pode explicar o motivo de sua insensatez, filho? O que estava pensando quando estragou o cabelo desse jeito?
— Eu não estraguei, pai, ele está mais macio e vai sair em breve — falou ele ao passar os dedos compridos entre os fios macios e rosados. — Isso tudo é culpa sua.
O semblante do mais velho era de desgosto. Nathalie e Gorila saíram do cômodo às pressas tentando evitar se meter na briga. Adrien ergueu uma sobrancelha em desafio, sentiu toda sua confiança percorrer os ossos e nervos pronto para dizer tudo o que estava preso na garganta.
— Culpa minha?
— Pai, por favor, eu fiz isso porque queria uma mudança em mim. Cansei de te obedecer e seguir seus caprichos. Por mais que eu tente te agradar nunca é o bastante e eu não estou feliz! — disse ele. Procurou outro canto para olhar que não fossem as pupilas do pai. — Me afastou da banda, do Luka, tentou me juntar com a Marinette... E eu deixei. Eu fui um idiota e sofri, fiz outras pessoas sofrerem, tudo por não te desafiar uma vez! Eu te amo, mas acabou passando dos limites.
Gabriel abaixou a cabeça e deixou a postura de lado. Adrien também curvou-se um pouco tentando tirar as lágrimas quentes dos olhos. A vista estava um pouco embaçada. Aquilo era pior que falar em público ou tocar para outras pessoas, pois não parava de tremer, ele sentia as mãos agitadas e seu peito começou a subir e descer rapidamente.
O homem parou por um instante, pensando, e Adrien sabia por quanto tempo aquilo duraria.
— Está parecendo a sua mãe — Gabriel disse em um pequeno sorriso e risada abafada. Era sim um elogio. — Ela não tinha medo de dizer o que sentia, nem em desafiar os outros.
Ele estava para perguntar o que aconteceria em seguida. Adrien tinha medo, mas adorou a sensação de por tudo para fora, e o pai estava agindo o contrário de como ele imaginou.
— Por isso te admiro agora, filho.
— Você o quê? — nem ele mesmo consegui acreditar naquelas palavras. Estava esperando um sermão.
Adrien fungou e limpou o nariz. Gabriel não sabia mais o que dizer. Então, para quebrar o silêncio, disse:
— Acontece que... — o mais novo disse tentando rir. — Eu nunca tinha comido um hambúrguer.
— Como?
Adrien riu.
— É, você nunca me deixou comer essas coisas. Fazem mal, eu sei, mas são deliciosos. Sabe quando você experimenta algo novo e pensa "uau, como eu consegui passar tanto tempo sem aproveitar isso?". Então não imagina a vida sem ela, ou ele, e sente como se o pedaço que faltava de si mesmo finalmente apareceu. É isso que eu sinto.
Gabriel sentiu uma pontada no peito ao lembrar da falecida esposa. Emilie Agreste era o seu Sol. Ele girava ao redor dela e quando a mesma se foi, ficou sem chão ou até vontade de seguir em frente. Adrien era a única família que tinha, então sentiu-se obrigado a protegê-lo a qualquer custo, arrumando jeitos de serem mais próximos. Só agora ele percebeu o erro que havia cometido.
Se Emilie estivesse viva, será que seria diferente? Ele teria notado tudo. Ambos moravam na mesma casa mas mal se falavam. Era triste como Gabriel não sabia nada sobre Adrien e o privara de ter uma vida normal.
Do mesmo jeito que Gabriel se apaixonou por Emilie, Adrien se apaixonou também. Mas o pai não tinha lhe dado atenção muito menos aceitado o filho.
— É precipitado eu dizer, pai, mas eu sou gay. Pelo menos é isso que sinto — Adrien chegou mais perto dele. Gabriel tinha olhar solidário. — Vai ser difícil para aceitar, talvez, mas eu quero que saiba disso. Esse sou eu, o seu filho. Eu ainda te amo. Por favor, não me exclua da sua vida.
Adrien teve a impressão que se passaram dez minutos. Seiscentos segundos em completo silêncio. Ele olhou para os próprios tênis em volta do chão monocromático, na impressão que afundando cada vez mais.
Foi um alívio. Ele assumiu tudo. Não teve oportunidade de explicar o que aconteceu dentro de três meses e como sua vida tinha mudado.
— Desculpe.
Gabriel disso uma palavra. Em instantes o mais velho envolveu o filho nos braços em consolo. Só imaginava o mal que havia feito, mas tinha certa noção do que era "amor".
Se Adrien se sentiu tão incompleto durante toda a vida e agora achou a peça que faltava, não tinha motivo para Gabriel impedir que ele fosse feliz.
Felicidade, amor. Faltava isso nele.
Agreste deixaria que o filho se descobrisse, amasse, vivesse como se cada dia fosse o último.
— Eu te ignorei — ele disse. — Pensei que era apenas uma fase, que os outros andavam pondo coisas na sua cabeça. Ao invés de te deixar livre, te tranquei aqui e o privei de viver verdadeiramente. Eu sou o covarde aqui. Você é o corajoso, filho, e tenho muito orgulho de quem é e ainda vai se tornar.
— Você não tem raiva de mim?
— Acho que a raiva era de mim mesmo — Gabriel acariciou a cabeça de Adrien. — Vou aprender com os meus erros. Prometo. Escolha amar quem quiser e eu vou apoiar.
Adrien olhou o rosto com rugas do pai. Os olhos já não eram mais cinzentos, e sim o azul brilhante como o céu.
...
Oi gente!!! Como vocês estão? Tudo certo?
Eu to estudando pras provas então se demorar responder os comentários ou algo assim é por isso.
O capítulo ficou pequeno (eu achei) e também sinto que podia ter feito melhor :( me desculpem se pareceu muito corrido, mas quando eu escrevi já estava meio cansada e não tive tempo de corrigir 😣
O Adrien finalmente tá tomando as decisões certas né?
Ah, e o Gabriel não tá 100% a favor com isso tudo, mas é o filho dele e o que importa é a felicidade :)
Genteeee e o cabelo? O que acharam? Eu tive essa ideia quando teve uma moda de edições dele com o cabelo rosa e eu AMEI meu Deus. O próximo vai ser muito bom, e relaxem porque o Lu já já volta, Kagami, Nino etc.
Por enquanto é isso :) amo vocês ✨💞✨💞
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