11. broken

Luka sentiu a brisa forte do vento bater contra seu rosto. O outono estava definitivamente na cidade e mais frio do que nunca, e ele mal esperava até o inverno e fim das aulas. Queria dar um salto no tempo até junho para finalmente se formar e seguir com a vida, mas ainda tinha uma parte de si presa à pessoas importantes, principalmente Adrien.

Depois de conseguir superar tantos problemas do ano anterior — que fora um inferno — ele se sentia tranquilo e feliz, talvez até em paz consigo mesmo e com o mundo.

— Sua mão está gelada — Adrien comentou enquanto caminhavam no parque, isolados. Couffaine apertou forte a outra e acariciou a pele do loiro. — O que tá pensando? Não é de ficar muito quieto.

Ele deu de ombros e exibiu um sorriso para Adrien. Viu que o rosto do garoto estava vermelho tanto quanto o nariz por culpa do tempo, e cabelo desarrumado e olhos verdes mais claros que o normal. Luka segurou uma risada. As vezes ele era bonito mesmo sem fazer nada.

— Nada. É que eu queria escutar bem a música pra tocar depois.

O loiro assentiu, já acostumado. Luka não queria dizer que pensava nele pois pensou que seria muito meloso até para Adrien, que era tímido com essas coisas. Agreste abriu a boca para dizer alguma piada boba, mas fechou e prestou atenção na melodia que soava em seu ouvido esquerdo do fone de ouvido compartilhado.

Ambos já tinham conversado demais, Adrien pensou. Quase duas horas de caminhada e beijos no parque às escondidas e havia sido uma das melhores tardes que tivera. Em breve Gabriel Agreste ligaria perguntando onde diabos ele estava e o que fazia, e não seria educado daquela vez.

— Uma hora ou outra o papai vai ligar e mandar a polícia federal me buscar — disse rindo. Luka apertou um pouco sua mão e parou de frente para ele com olhar atento. — Desculpe.

— Eu entendo. Acho melhor você ir — Luka depositou um beijo quente nas mãos do garoto, que observou seu esmalte preto descascando das unhas. Luka passou a ter esse hábito que beijá-lo ali e Adrien se sentia especial de certa forma. — Te vejo segunda-feira na escola, chaton.

— Para de me chamar assim! — Adrien repreendeu e revirou os olhos com o apelido. Mesmo assim ambos sorriram.

Luka não gostava de chamá-lo de "amor", "namorado" ou qualquer coisa parecida. Achava meloso demais. Além do mais, era uma piada interna dos dois.

— Escuta, gatinho preto, você é muito azarado e eu dou o apelido que você merece — ele chegou mais perto e o beijou. Adrien estremeceu um pouco com o contato, mas o garoto era imprevisível algumas vezes. — Pode ser sua fantasia da festa de aniversário da Chloé!

— Vai sonhando.

Luka recolheu os fones e guardou nos bolsos da jaqueta. Ambos foram para saídas diferentes do parque, despedindo-se com um aceno e "au revoir!". Enquanto Agreste digitava o telefone de Nathalie, mal percebeu o sorriso involuntário nos lábios.

duas semanas depois

— Vocês dois são inacreditáveis — Kagami resmungou e sentou-se mais largada na poltrona. A japonesa estava de boca aberta e tinha vontade de pular, sair pulando e gritando por toda a Paris, mas como estavam na mansão Agreste, seria mais complicado.

Os dois haviam combinado de contar tudo para Kagami e Nino, pois já estavam juntos às escondidas faziam semanas e precisavam de ajuda, sem falar que seria bem mais fácil conversarem durante os ensaios sem parecerem indiferentes.

Então, "casualmente", ambos disseram o que estava rolando. A baixista quase soltou água pelo nariz, mas Nino tossiu várias vezes antes de gaguejar algum resposta.

Adrien sentiu as bochechas esquentarem e Luka deu um sorrisinho vitorioso para o mesmo. O loiro queria se esconder dentro do suéter rosa, mas viu que até Nino pausou o videogame que jogavam para prestar mais atenção na conversa. O baterista cerrou os olhos com desconfiança.

— Eu já sabia.

Luka revirou os olhos, mas sabia que Nino já desconfiava há muito tempo. O moreno repousou o controle ao seu lado no sofá e empurrou os óculos para baixo em um sorriso malicioso.

— Mano, por que você não me contou antes? — Nino continuou. — Sou seu melhor amigo!

— Eu sei, mas... — Adrien coçou a nuca em nervosismo. — Ninguém podia saber, e sabe como as coisas são complicadas pra mim aqui em casa e tem a Marinette, Chloé, você sabe.

Luka abaixou o olhar. Odiava pensar nisso, em se esconder e não contar para mais ninguém. As únicas pessoas que sabiam até o momento eram a banda, Juleka, Rose e Anarka — até porque, Luka precisou dar justificativa dos "ensaios" excessivos e até um pouco mais tarde da FK.

— Você se importa com a opinião deles? — Tsurugi perguntou, os olhos puxados em uma interrogação. Ela arrumou o cabelo curto com rapidez tentando aliviar a si mesma.

Adrien não respondeu. Kagami trocou olhares tristes com Luka e Nino, voltando-se em seguida para Agreste:

— Escuta, é legal que você não queira magoar a Marinette. Eu entendo que ela é sensível, mas também é sua amiga e vai entender e ficar feliz por você assim como eu, Nino, Juleka... — ela umedeceu os lábios. Adrien assentiu. — Assim como o seu pai. E daí que ele não gosta? A boca é sua e vai beijar quem quiser.

Os quatro deram risada.

— Todo mundo sabe que a Chloe vive no seu pé — Nino disse. — Quanto antes ela souber, melhor. Coitadinha.

Quando deram mais uma gargalhada, Adrien teve que secar uma lágrima. Estava aliviado e feliz por contar. Parecia que um peso enorme saia de seus ombros aos poucos, mas, por mais simples que parecesse, ele ainda não tinha coragem. Não sabia como Gabriel Agreste agiria — provavelmente em total negação — e pior, podia partir o coração de Marinette Dupain-Cheng.

Na real, Adrien queria dizer tudo para o pai de uma vez. Tirar o curativo rapidamente e aliviar a dor.

Gabriel era do tipo rígido, rigoroso e frio. Não aceitaria o fato de ter um filho gay e trancaria Adrien em casa pelo menos até completar dezoito anos e decidir o que fazer com a própria vida.

Por mais que doesse, se Adrien fosse embora, Gabriel ficaria sozinho. Ambos foram o conforto um do outro quando Emilie Agreste morreu e provavelmente continuaria sendo assim.

Falando no diabo, alguém bateu na porta.

Nathalie, a secretaria morena e séria vinha acompanhada do segurança particular da família — que mais parecia um gorila de tão forte e grande, por isso o mais novo o chamava assim desde pequeno — e o estilista.

Gabriel ficara sério. Seu semblante estava vazio e pálido, o cabelo loiro quase branco penteado para trás, óculos caros e a roupa social revelavam mais da sua personalidade. Ambos os amigos gelaram ao ver o homem ali, o que era uma situação bem rara.

— Boa tarde — ele disse. A voz grave como um trovão, que fez Kagami estremecer. O estilista se voltou para o filho. — Melhor você se arrumar. Vamos ter o jantar na casa da senhorita Tsurugi mais tarde.

Kagami assentiu com a cabeça. O jantar que a mãe havia preparado serviria mais como uma festa para pessoas ricas fazerem mais alianças, exibir roupas caras e esse tipo de coisa. Chloé provavelmente estaria lá com o prefeito. Duraria a noite inteira e só a elite estaria lá na casa enorme da japonesa. Ela e Adrien tinham pais idênticos, pensou ela ao olhar para Gabriel. Ao menos o amigo estaria lá e ambos tocariam algumas músicas no piano enquanto ela cantava o jazz clássico.

— Sim, pai — disse se erguendo do sofá. Os outros imitaram.

Gorila, Nathalie e Gabriel ficaram do lado de fora. Adrien abraçou os três, um por vez, em agradecimento por passarem uma tarde curta com ele. Era um tédio ficar sozinho naquela mansão enorme e silenciosa.

— Deixei uma coisa na sua cômoda — Luka sussurrou baixo no ouvido do namorado e exibiu um sorriso, logo depois depositando um beijo rápido na bochecha de Adrien.

Kagami e Nino riram só de pensar em ter que ver um Adrien-tomate todos os ensaios.

Adrien fechou a porta atrás de si quando saíram. Ia tomar um banho e se vestir, mas antes espiou o que havia na gaveta da cômoda de tão curioso que estava. Luka era inescrutável e malicioso, então tremeu um pouco as mãos. Era o que mais gostava nele.

Com sorte, era melhor do que outras coisas que se passavam pela sua cabeça.

O loiro pegou a caixa de tinta para cabelo da cor rosa e pensou que um dia, só quando tudo mudasse, estaria pronto.

***

— Senhor Couffaine, posso conversar com você um segundo? — Gabriel Agreste perguntou antes dos amigos atravessarem a porta enorme da casa.

Luka olhou para o homem com certa dúvida e acenou com a cabeça para Kagami e Nino, que o esperavam. Uma vozinha em sua cabeça dizia para ele sair dali o mais rápido possível.

— Podem esperar no carro? — disse em um tom mais baixo. Ambos assentiram e saíram da casa.

O ambiente estava mais escuro e silêncio, com apenas o guitarrista e o homem severo no hall da entrada.

A secretaria e o segurança saíram para outro cômodo. Eles estavam a sós, a pouca luz atravessava as enormes vidraças sem cor. A sala era absurdamente preta e branca, assim como o dono, sendo apenas o garoto o único ponto roxo com seu cabelo.

Luka, pela primeira vez em muito tempo, se sentiu sem saída e inseguro. Enfiou as mãos geladas no moletom aproveitando até para esconder as unhas pintadas.

— Soube que você está com o meu filho — Gabriel disse calmamente como se pedisse uma pizza no telefone.

Luka arregalou os olhos e abriu a boca, incrédulo. "Está"? Do que ele estava falando exatamente? Queria saber como, onde, quando, quem...

— Eu sei cada passo que Adrien dá, dentro e fora desta casa. Sei quando ele haje estranho, principalmente desde que entrou para a sua banda.

O que foi um milagre, pensou Couffaine.

— Vi que trocam mensagens e pesquisei um pouco sobre você, senhor Couffaine.

— Isso é invasão de privacidade — retrucou em tom cínico apesar de ter a voz trêmula. O estilista franziu o canto dos lábios e o garoto notou isso. Já havia entendido o tipo de homem e pai que era, e não um dos bons. — O que o senhor quer comigo?

— Adrien não fala comigo sobre o que anda acontecendo com ele desde a morte de Emilie. Vocês dois andam juntos por tempo demais e isso me incomoda — disse encarando os olhos azuis raivosos de Luka. Gabriel também tinha o azul mas pupilas, mas era diferente. Cinzas, sem vida. Que já passaram por muito sofrimento na vida.

"O problema é que meu filho é gay, e está com você", foi isso o que ele quis dizer. Luka cerrou os punhos por dentro do casaco. Sentiu os dedos ficarem mais quentes e apertarem mais a própria pele com força.

— Está dizendo que se incomoda por Adrien gostar de mim?

Luka falou na lata. Gabriel perdeu um pouco a postura, arrumou os óculos com certo desconforto e nervosismo.

— Só não esperava isso dele — conseguiu dizer. — Bem, às vezes eu desconfiava, mas não tinha certeza.

— Talvez você estivesse muito ocupado para prestar atenção nele, não acha? Adrien já tem dezessete anos, me conheceu, e agora está bem.

Gabriel estalou a língua.

— O problema não é a sexualidade do meu filho.

Luka deu um passo à frente e abriu os lábios prestes a dar outras mil respostas e fazer outras mil perguntas. O som dos solados dos tênis fez eco naquela mansão tão assustadora.

Mas antes que pudesse dizer algo, o simples semblante de rancor e antipatia no rosto de Gabriel cortaram Luka como uma flecha, passando direto em seu coração sem dó ou esforço. O problema era ele.

— Nunca fiz nada de mal para ele — Luka conseguiu comentar, a boca com gosto amargo e seca. Gabriel fez uma careta, mas não uma engraçada, e sim a do tipo desprezível como se dissesse "Eu não ligo. Você está errado e eu certo".

— Festas sem permissão, chegando tarde em casa, brigas na escola, seu próprio histórico de violência e envolvimento com drogas me deixaram muito preocupado com quem Adrien pode estar. Ele nunca fez nenhuma dessas coisas, e apenas o deixei entrar na banda com condições rigorosas de estudos em casa — Gabriel cuspia as palavras. Cada uma delas era como uma facada, pois ao mesmo tempo que eram inaceitáveis, ele também falava a verdade. — Adrien já passou por muito sofrimento. Não quero que vire um desajeitado, violento e viciado.

— Está dizendo que eu sou um viciado?

Luka ergue uma sobrancelha. Estava difícil discutir com Gabriel dando um sorriso sarcástico e mostrando os belos dentes.

No pensamento de Agreste, o filho apenas entraria para a banda se tirasse notas altíssimas na escola, se saísse bem nas aulas de mandarim e fosse aos eventos de moda na cidade. Apenas confiava no filho quando disse que Kagami Tsurugi, filha de uma das mulheres de mais influência, também participava. Em um período de dois anos desde que Emilie Agreste se fora, cada passo e nova descoberta era um tiro a mais e medo no coração de Gabriel.

— Eu deixo continuarem com a banda — disse ele com precisão. Gabriel chegou mais perto de Luka, fez o menino ranger os dentes, sem medo. — Mas não se envolva com o meu filho. Se um dia souber de qualquer coisa, acabou. Eu destruirei sua vida.

Couffaine franziu a boca e tirou as mãos dos bolsos para abrir a porta.

De cabeça baixa, ele cedeu e deixou os fios arroxeados caírem sobre seus olhos um pouco úmidos. Sentiu as bochechas esquentarem de raiva e apertou a madeira com força.

— O Adrien faz tudo pra te agradar. Chinês, sessões de fotos, aulas de esgrima, piano... E sempre tenta ser o melhor em tudo mesmo não gostando tanto quanto deveria — ergueu a cabeça e encarou Agreste. Ele pôs as mãos para trás do corpo e recompôs a postura. Aquela seria a última sentença de Luka. — Tudo porque ele te ama. O problema é que ele está tendo novas experiências agora com quase dezoito anos. E se ele entrou na banda, está feliz, apaixonado e fazendo novos amigos não vejo porque se preocupar com isso.

Gabriel bufou. Luka saiu e viu a silhueta do homem iluminada pela luz do lado de fora.

— Adrien está aprendendo como é ter uma vida.


...


Oi galeraaaa tudo bem? Espero que sim.

O que acharam desse capítulo? O começo foi bem meloso, eu sei, mas não resisti. Já o final... Tretas pesadíssimas. O Gabriel mal apareceu e foi um tremendo fdp kkkk. Como vocês acham que as coisas vão acontecer?

Ah, sobre os capítulos provavelmente tenham 20 e não 19. Eu tava esquecendo de uma coisa muito importante então talvez coloque lá pelo finalzinho.

Me contem: que outros desenhos vocês gostam? Eu tenho uma ideia de fanfic mas não tenho personagens sabe? Não sei se vou fazer um livro original, mas talvez dê certo.

Eu fiz um instagram da banda (como se fossem eles mesmos postando as coisas) então quem quiser é só seguir forkiwi_band. A conta é privada mas eu aceito todo mundo ;)

Durmam bem com esse homem perfeito:

xx

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