Toda a verdade

A verdade ia ser exposta e para comemorar pedi um prato grande de frango assado e batata cozida. Jasper riu de mim.

— O quê? Estou com fome.

— E você come tanto?— zombou cruzando os braços e se encostando na cadeira, relaxado. A garçonete se manteve ao nosso lado, parecia inquieta perto do loiro que nem sequer a olhava.

— Desde que você esteja pagando, não há nada que eu não possa comer.— provoquei, o sorriso dele se alargou cintilante e ele balançou a cabeça.

— É injusto que seja magra.— ele finalmente reparou a mulher estagnada no nosso lado e a olhou confuso— Nós já pedimos.— falou como uma dispensa, tive que recolher os lábios para não rir.

— Não pediram nada p-para beber— ela gaguejou envergonhada, baixou o olhar com as bochechas vermelhas, Jasper me olhou.

— Suco de laranja, por favor, uma jarra.— ele me deu uma piscadela de cumplicidade e eu revirei os olhos.

— Você não vai querer mais nada?— perguntou para ele, o olhar se fixando de novo, me senti incomodada imediatamente, isso é vergonhoso demais para se encarar e apesar de eu não ser sua namorada odiei ter sido ignorada como se nem estivesse ali. Arregalei os olhos, incrédula.

— Estamos bem.— Jasper disse sem olhar a mulher que foi embora, a imaginei com o rabo entre as pernas e isso me fez sorrir enquanto a segui com o olhar.

— Nenhuma mulher pode ficar perto de você sem se apaixonar?— ironizei me ajeitando na cadeira, estamos realmente frente a frente agora, ele mordeu os lábios antes de responder com um olhar malicioso.

— Depende, você já se apaixonou?— me perfurou com seus olhos dourados e eu senti minha cara esquentar, Jasper abriu um sorriso triunfante, pareceu ter notado que eu não responderia e meu silêncio mais que bastava para sua confirmação.

Ficamos um tempo em silêncio para eu me estabilizar novamente.

— Você vai ser sincero comigo, Jasper?— perguntei e o examinei, ele está com a cara radiante, limpa. Lindo como sempre, as luzes do restaurante o deixando ainda mais sensual, é quase tortura, mas daquelas que você vai até o fim sem dar um pio. Limpei a garganta e me ajeitei na cadeira tentando mudar os pensamentos, não ajudou muito. Jasper sorriu malicioso, se ele sentia o mesmo que eu, teremos muita tensão, acredito.

— Prometo responder todas suas dúvidas sobre mim.— ele descruzou os braços e se inclinou sobre a mesa. Todos seus movimentos faziam minha mente se afundar em sexo, sexo e sexo, tudo que eu pudesse entregar a ele. Comecei a bater o pé sob a mesa.

— Estava me seguindo?— perguntei me inclinando também, quase que cegamente, ele suspirou e olhou pra cima hesitante.

— Seguir  é uma palavra muito forte.— desviou e riu quando eu revirei os olhos.— Rebecca, por favor, entenda, eu não sei explicar essa parte muito bem mas... eu sinto como se devesse protegê-la.— assumiu olhando para a mesa.

— Por isso me seguiu?— insisti e ele teve que concordar acenando.

— Basicamente.

— Se me deu este anel— exibi a joia para chamar sua atenção— por que não me contou?

— Por que contaria?

— Não me responda com outra pergunta de novo, Jasper Hale.— senti minha irritação aumentar ao passo que a excitação era controlada. Ele sorriu e me encarou fixamente, concentrado.

— Acalme-se.— uma onda de conforto percorreu por mim e eu relaxei na cadeira de maneira quase instantânea, Jasper sorriu contente— Você não tem imunidade a mim nesse assunto.

— E que imunidade eu tenho contra você?— perguntei, minha voz saiu leve, mas isso não me incomodou como geralmente faria, eu não estou mais no controle.

— Pensei que era você que controlava minhas emoções por um tempo... Mas agora, ah, está tudo perfeito. Sua raiva não vai mais instigar a minha.

— Ah, então você está controlando minhas emoções agora?— tentei ficar irritada mas foi inútil, eu odeio ser controlada e não consegui nem demonstrar isso, Jasper assentiu em silêncio, sim, ele pode mexer com minhas emoções, talvez ele soubesse que faz isso sem precisar fazer nada sobrenatural. Um sorriso involuntário surgiu no meu rosto.— Isso é trapaça.

— É, você é um pouco mais difícil do que o resto das pessoas mas eu ainda posso te controlar bem.— quis revirar os olhos.

— Pare de me controlar, Jasper. Eu não sou uma marionete.— minha voz não era nada ameaçadora.— Ou eu vou embora.

A sensação maravilhosa me deixou e de repente era só eu de novo, precisei de um segundo para me reacustumar.

— Desculpe-me, eu só precisei testar uma coisa.— ele murmurou e batucou os dedos na mesa. Incomodada pelo som coloquei minha mão sobre a sua e levei um choque com o contato como se tivesse enfiado a mão no gelo, mas por mais frio que estivesse eu não queria nem pensar em tirar minha mão da dele.— Saia da minha cabeça, Edward.— ele falou de repente olhando para trás de mim, instintivamente segui seu olhar para direção da mesa em que minha irmã e seu irmão estavam, eles nos olhavam de volta, Isabella e eu nos encaramos, confusas.

Edward movia a boca respondendo mas eu fui incapaz de ouvir qualquer coisa, ao contrário de mim, Jasper entendeu e revirou os olhos.

— Eu sei o que eu penso e não é da sua conta.... Não tem como você ir pra outro lugar?— tempo para resposta do outro lado do restaurante, minha mão ficando dormente sobre a pálida de Jasper.— O único problema aqui é você.— respondeu num tom brincalhão, seu irmão riu do outro lado. Olhei Bella de novo, ela é um reflexo da minha cara de "o que caralhos acabou de acontecer?"— E o que ela está pensando?— os dois olharam na minha direção.

O que? Como é que é? Saber o que eu estou... pensando? Como? Pra quê? Por que? Meu Deus, por favor, não. Edward me encara concentrado e depois balança a cabeça, seus lábios se moveram de novo, brevemente.

— Ah, privilegiadas!— Jasper riu e revirou os olhos, arregalei os olhos furiosa, Jasper finalmente me olhou. Um ar divertido.

— Privilegiadas do que?— perguntei.

— Edward não pode ler nem seu pensamento nem o de sua irmã.— explicou simples e deu de ombros, me analisou e esperou minha reação.

— Então ele pode ler a mente das pessoas?

— Basicamente.— falou e pela segunda vez na noite minha cabeça quis explodir.

— Ah, ótimo! Você controla minhas emoções e ele lê mentes! É claro que vocês podem fazer isso!

— Bom, ele não lê a sua.— Jasper enfatizou como que tentando amenizar meu agito. O loiro passou a língua nos lábios e se inclinou para mim com relutância— Por favor, Rebecca, não ache que eu sou uma aberração.— minha testa franziu de tamanha indignação.

— Isso nunca sequer passou pela minha cabeça!— exclamei incomodada por ele ter pensado nisso— Nunca achei você uma aberração, Jasper. Muito pelo contrário.— eu ri irônica— Eu te acho maravilhoso.— a palavra certa seria magnífico ou até mesmo surreal, mas jamais uma aberração.

Jasper baixou o olhar e esboçou um sorriso breve.

— É só... muita coisa para raciocinar. Eu fico bem fodida da cabeça quando não entendo algo de primeira.

— Você tem sérios problemas com o controle não tem?— ele riu, entretido.

— Pode-se dizer que sim.— admiti.

— Você não pode estar no controle de tudo, querida.— senti-me travar pela forma como ele me chamou e demorei um pouco demais para responder.

— Esse é um problema que eu duvido que vá me acostumar tão cedo.— resmunguei, sem jeito.

— Seu pedido está pronto.— antes que eu entendesse, olhei para o lado e avistei que minha "janta" se aproximava. Eu estou faminta demais.

— Por que você não me conta mais sobre você enquanto eu só ouço e mastigo?— sugeri, o garçom não se demorou como a ultima, apenas deixou meu suco e meu prato e partiu. Comecei a devorar de maneira até tímida na frente do garoto, maldita frescura, mas aí pensei "ah, foda-se! Não vou agir como princesa na frente dele" então comecei a comer como a selvagem que eu sou e Jasper me observou de olhos arregalados por um segundo antes de cair na gargalhada.

— Você é mesmo bem estranha.— revirei os olhos e engoli o que tinha mastigado até então.

— Você me ama por isso, agora vamos, conte-me sobre você.

Jasper mergulhou num silêncio profundo, eu comi quieta do seu lado o encarando confusa mas sem intenção de me meter, virei dois copos do suco quando ele parou de bancar a estátua. Ele parou de dopar minhas emoções.

— Rebecca, eu sou um vampiro... E você já sabe disso.

É isso, eu já sabia, mas ouvir ele assumir em voz alta e saber que são palavras verdadeiras foi como um tapa na cara. Ainda bem que eu já tinha engolido todo o suco se não eu cuspiria ele todo na sua cara impecável. Jasper me encarou, um pouco receoso, eu sabia exatamente que cara estava fazendo, sabia que meus olhos estavam um pouco arregalados e que eu estava um pouco pálida, aparentemente em choque.

— Estou ficando bom em te deixar sem palavras.— ele brincou e eu tive uma crise de riso, compulsivo e nervoso.

— Eu... estou... sem ar!— bati a mão na mesa e encarei sua cara linda e confusa.

— Está rindo por que não acredita?— sua voz carrega certa mágoa. Eu só consegui balançar a cabeça e senti meu rosto todo queimar sem ar.

— N-não é nada disso!— tossi tentando me controlar— É engraçado porque eu sei que é verdade. Mas ao mesmo tempo tão surreal que eu não paro de me perguntar se não estou louca!— joguei as mãos pro alto rindo, Jasper pensou um pouco e riu, muito menos que eu, mas riu.

— É... É um pouco insano mesmo.— ele murmurou. Tudo o que eu pensava era: pronto! Isso é o cúmulo e agora não sou nem capaz de parar de rir de tão louca que estou, é só um sonho? Jasper seria o sonho perfeito, mas por Deus, eu estou tão louca? Será que eu sou real?

Voltei a ficar séria e comecei a contar os dedos das minhas mãos, tinham dez, não, eu não estou sonhando. Respirei fundo e evitei olhar Jasper com medo da crise voltar.

— Eu sabia... sabia que você não podia ser real.— balancei a cabeça com um sorriso talvez psicótico no rosto e finalmente o olhei— Ah, Jasper, você é um vampiro! Tão perfeito que chega irritar, destrói carros e é rápido como o vento. Fora controlar minhas emoções pode fazer mais o que? Voar?— ele deu de ombros e sorriu por eu estar lidando "bem" com isso. Eu estou fascinada.

— Praticamente.

— O que mais?— inclinei-me sobre a mesa mais interessada do que nunca.

— Eu posso enxergar de noite e ouvir muitas coisas de longe, até sentir cheiro delas.— ele contou como se conta histórias para uma criança. Sorri e sei que meus olhos brilham, eu estou definitivamente apaixonada por um homem super poderoso. Eu sou a porra da Lois Lane.

— E o que mais?— insisti.

— Eu não me alimento de sangue humano.— assumiu e um alívio grande percorreu minha espinha. Nesse momento descobri que acreditaria imediatamente em qualquer coisa que ele me dissesse, nunca me senti tão manipulável.

— Então como... se alimenta?— eu perguntei tentando usar a mesma palavra, é estranho, mas não deixa de ser uma boa palavra pra descrever.

— Animais.

— Ah não, Jasper!— o julguei com o olhar brincalhão e ele apontou para o meu prato.

— Você acabou de engolir um frango inteiro sozinha, quer mesmo falar de mim, senhorita Swan?— ironizou e nós rimos, a conversa num clima leve.

Até eu estragar tudo — siga o rumo:

— Eu sou imortal.— ele acrescentou depois de uns minutos em silêncio. Minha boca se abriu de choque.

— Essa deve ser a pior parte, não?— falei, sem pensar muito, suas sobrancelhas se uniram.

— Por que acha isso?

— Porque você vai estar vagando por aí até o fim dos tempos... Parece muito solitário.— ele levantou as sobrancelhas, talvez nunca tenha pensado as coisas desse jeito.

— Eu não estou sozinho. Tenho família.

— É sua família mesmo?

— .... não. Mas ainda estamos juntos nessa vida.

— Ninguém fica junto para todo o sempre, Jasper.— rebati e ele se calou pensativo, olhou janela a fora, o olhar agora sombrio, eu quase me xinguei por ter falado algo tão mórbido, mas se pensar bem, não me arrependo de nada. Nunca acreditei em nada duradouro nem por dez anos quem dirá uma eternidade. Assisti os romances eternos da minha mãe a vida toda, nada dura muito, fora a família, as pessoas do seu sangue, o resto não fica. É triste essa perspectiva e é claro que eu não vejo futuro entre nós, mas não significa que eu não quero que aconteça. Ás vezes eu o desejo tanto que, como se não bastasse pairar meus pensamentos ao longo do dia, ele vem atormentar meus sonhos— As vezes uma vida inteira basta. Uma vida humana. Só uns 60 ou 70 anos... As vezes, isso basta.

— Acho que sim, mas e depois? Depois a gente vê, podemos viajar o mundo, ler todos os livros e conhecer todas as musicas... A eternidade também basta— ele murmurou, odiava quando fazia isso. O pior é que ele parece realmente chateado comigo.

— Jasper, me des...

— Você gostaria de viver pela eternidade, Rebecca?— ele me fitou, interrompendo-me.

— Não se fosse para viver sozinha. Não lido bem com a solidão.— admiti sem pensar muito, no entanto, ainda é a resposta certa.

— Eu não te deixaria viver sozinha nunca.— sorri, grata pelas suas palavras.

— Não me suportaria tanto tempo.

— Se eu não fui embora até agora, não tem como ir embora qualquer outro dia.— ele parecia querer fazer promessas e isso me apavorou um pouco.

— Não prometa nada que não vá cumprir, Jasper.— alertei com certo receio.

— Minha querida..— ele suspirou— não sei se depois de hoje vou ser capaz de te deixar de qualquer maneira, sinto que isso me mataria. Porque, Rebecca... eu acho que estou apaixonado por você.

Eu senti meu rosto queimar ao mesmo tempo que senti minha pressão cair. Por um segundo acreditei seriamente que ia desmaiar. Ele estava sério, sua voz era séria, sua postura era séria. Comecei a rir de novo, menos do que da última vez e com muito menos humos. Mil sensações passaram por mim, tudo por causa dele, mas sem ser sua culpa, é simplesmente... Ele. Tudo se resume a ele, meus sonhos, meu coração e minha mente, de repente eu só podia sorrir de felicidade — embora seriamente questionando minha sanidade — e eu soube o que dizer. A verdade. Como Isabella disse, eu só precisava admitir.

— Ah, Jasper, eu acho que eu também...

Foi isso. Todas as verdades foram postas na mesa, custa saber o que será de mim daqui pra frente... Eu não acredito que estou apaixonada por um vampiro. Um vampiro! Meu Deus.

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