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Charlie, com toda razão, ficou possesso. Nos botou de castigo — ainda que não tão severo — para o resto de nossas vidas quando voltamos. Jake contou a ele sobre as motos então estamos basicamente bem fodidas. A rotina não mudaria tanto, mas Edward e Jasper estavam proíbidos de passar pela nossa porta por um bom tempo. Foi por um triz que não levamos uma surra, mas com isso era normal lidar.

Quando voltamos, os rapazes foram sair para caçar então não os vimos no final de semana, o que eu achei uma coisa boa, considerando o fato do que eu tinha que pensar.

Eu não vou voltar com Jasper, não estou pronta para perdoá-lo, o que ele me disse no dia que teve que ir embora podia não ser toda a verdade, mas duvido que nem ao menos uma parte poderia ser real. Nós teríamos que discutir isso, porque eu precisaria que ele me desse espaço, preciso me recompor.

Antes eu estava voltando à mim e eu preciso continuar esse processo sem usar ninguém de muleta. Mesmo que doa, eu farei ao menos isso por mim, estou me devendo essa. Talvez eu voltasse para a casa da minha mãe... Talvez não, já que Victoria ainda está nos caçando. Nos dividirmos não seria bom. Carlisle voltou a trabalhar no hospital, foi uma alegria geral, todos o receberam de braços abertos. Os Cullen voltaram á sua antiga casa pelo que soube por Bella no domingo de manhã.

Mas foi na tarde do mesmo, quando acordei depois de um pesadelo que eu teria que encarar as minhas decisões. Despertei com dedos frios roçando minha bochecha e segurei o pulso de Jasper por reflexo, já que no meu inconsciente aquela era a mão de Félix vindo atrás de mim para realizar o que desejava. Jasper me encarou sério, os olhos dourados penetrando minha alma, como se ele quisesse ler meus pensamentos. Suspirei e me sentei na cama, a distância entre nós era mínima.

— Oi.— cumprimentou ele.

— Oi.— cumprimentei-o de volta, pensativa, sem saber por onde começar. Nos encaramos em silêncio por um tempo.— Precisamos conversar, Jasper.

— Eu sei disso.— comentou ele com um sorriso que não chegou aos seus olhos— Mas eu preciso que você me dê uma chance de falar meus motivos primeiro.

Ok... eu posso aceitar isso, facilitaria, eu posso pôr as minhas perguntas em ordem. Assenti, cautelosa, com medo do que ouviria.

— Eu não fui embora por causa do que eu quase fiz com Bella, Rebecca. Tem uma parte da história que talvez eu não devesse te contar a princípio... Mas talvez seja melhor já que sei o que você tem em mente. Vou ser sincero... Logo no começo de tudo... Quando nós nos conhecemos, quando ainda não éramos as pessoas favoritas um do outro..— soltei uma risada nasal, mas não interrompi, curiosa— Alice tinha vislumbres, vagos e incertos do nosso futuro, mas a única certeza que tinha era que... nós dois— ele apontou para si depois para mim— aconteceríamos, de um jeito ou de outro somos o futuro um do outro, Becca. Para o bem e para o mal, tudo dependerá de nossas escolhas.— esta parte ele disse em voz baixa como se fosse mais para ele mesmo do que para mim, Jasper franziu a testa antes de continuar— com o passar do tempo, depois de James, Alice teve uma visão... ela tentou ver outros caminhos, ver se havia outros caminhos, no entanto, só tinha um futuro certo para mim e para você...

— E qual é?— perguntei quando pareceu que ele não continuaria.

— Você ia morrer, Rebecca. E ia ser culpa minha. Não haveria uma saída, você não se tornaria uma de nós. Simplesmente morreria nos meus braços e eu não poderia fazer nada porque provavelmente fui eu quem te matou.— ele desviou o olhar conforme meu choque crescia.

— Mas... Mas você resistiu... No estúdio de balé, eu lembro.— eu falei, Jasper encara as próprias mãos com uma careta cheia de rancor e nojo.

— Por um triz. E a cada semana que passava, a visão de Alice ficava mais certeira, até o dia em que quase matei Bella, por teimosia...— ele riu sem humor balançando a cabeça— Eu sempre tento ser mais forte, sempre tento ir ao meu limite, mas isso quase matou Bella e mataria você se Alice não tivesse me contado sobre as visões que andava tendo naquela noite que me levaram pra caçar. As coisas ficaram pesadas, Becca, eu tinha que fazer uma escolha. Eu tinha que ir embora...

— Por que você não me falou nada? Por que...

— Por que falei aquelas coisas para você?— ele completou por mim— Porque eu pensei que se conseguisse fazer você me odiar você... conseguiria seguir uma vida melhor.— ele disse.

— Por um momento você conseguiu. Eu te odiei tanto, Jasper.

— Sei que sim.— ele sorriu triste.

— Sei que sabe.— rebati e ele finalmente voltou seu rosto na minha direção. Seu rosto sempre insuportavelmente lindo. Ele parece um anjo.

— Eu iria matar você, Rebecca. Era te deixar ou te matar, a escolha foi clara. O caminho egoísta seria muito mais irreversível do que um coração partido.

— Parte de mim morreu aquele dia.— falei, engolindo saliva, Jasper trincou o maxilar.

— Parte de mim também.

....

— O que mudou?— perguntei, de repente, me lembrando da fala de Alice com Aro.

— Sobre o quê?— Jasper tirou uma mecha do meu cabelo da frente do meu rosto.

— Meu futuro.— esclareci num sussurro.

— Não sei. Mas Alice tem quase certeza de que talvez ela mesma vá te transformar.

— Sabe dizer quando?— perguntei, nervosa.

— Não.— Jasper respondeu, calmamente.

— Não estou pronta pra isso, Jasper.

— Imaginei que fosse dizer isso.— ele respirou profundamente e suspirou com ar de cansaço e então riu ao se lembrar de alguma coisa— Não acredito que fui idiota de pensar por um momento que você me receberia de volta tão depressa quanto Bella aceitou Edward.

— Eu não sou minha irmã.

— Não. Não é.— ele encarou minha boca por uns segundos e então desviou o rosto.— Eu não teria te deixado.— sussurrou ele.— Não se... houvesse uma chance de você sobreviver caso eu... Perdesse o controle. Por menor que fosse.

— Mas não tinha.

— Não. Não tinha— ele concordou, encarou de novo as próprias mãos com o mesmo rancor— Você... ainda me odeia?

Pensei, pensei e pensei, se eu dissesse que "sim", o que ele faria? Saberia que é mentira? Iria embora?

— Não.— respondi, decidida— Mas não estou pronta pra perdoar você, Jasper.— repeti.

— Eu sei.— ele não pareceu querer argumentar, está satisfeito em saber que eu não o odeio.

— Não foi fácil sem você... Eu pessoalmente nunca acreditei no que você me disse aquele dia, mas não significa que não me magoou.

— Eu sei.

— Para de concordar comigo!— exigi.

— Tá bom.— concordou ele sorrindo desafiador, fechei os olhos controlando o riso.

— Sei também que nem tudo que você disse foi mentira.— Abri os olhos, Jasper me encara sério.

— Tipo o quê?— perguntou ele. Dei de ombros.

— Que você tenha se cansado. Eu não posso dizer que entendo, Jasper, mas não quer dizer que não há motivos para você não se cansar. Eu sei que você tenta agir o mais humanamente possível perto de mim, sei disso quando você coça seu rosto, quando pisca ao me encarar ou quando tenta não sentar tão ereto quando está perto de mim como está fazendo agora.— apontei, Jasper sorriu e ajeitou a coluna, ficando numa pose perfeita de estátua— Talvez... um tempo seja bom para nós dois. Talvez seja melhor nós continuarmos com o término passado.— balancei a cabeça concordando comigo mesma. É, eu tenho que seguir com isso.

O sorriso de Jasper se desfez e ele torceu o nariz contrariado, mas não se opôs.

— Eu demorei muito no fundo do poço quando você foi embora, Jasper. Foi um inferno.— Jasper observou minha expressão com cuidado e usava sua típica máscara neutra enquanto balançava a cabeça minimamente, concordando.— Eu estava me reerguendo até Bella ter a brilhante ideia de se jogar daquele penhasco— gesticulei como se estivesse enforcando a mesma—... Sabe?

— Não, na verdade. Mas eu imaginava que isso poderia ter acontecido. Você é mais forte do que imagina, Becca.

— Ah, por favor, não. Você estava comigo em todos os processos.— comentei, lembrar disso no momento me fez querer rir— Teve umas duas vezes... Que eu cheguei a ouvir sua voz... E quando pulei atrás de Bella naquele maldito penhasco... Lá estava você.— baixei os olhos não aguentando a intensidade dos seus olhos dourados. Mordi o lábio de nervosismo e esperei que ele me chamasse de louca. Me encolhi e abracei minhas pernas dobradas e pressionadas contra meu peito. Jasper levantou meu rosto com o indicador.

— Você também esteve comigo. Todo esse tempo. Mas eu nunca ouvi sua voz.— lamentou, eu sorri, corando sem entender muito bem o porquê de meu rosto queimar assim.— Mas o fantasma que me seguia não fazia justiça a sua beleza.

— Jasper...— repreendi-o embora meu coração se aqueceu um pouco.

— Eu sei, eu sei. Você está me chutando. Essa doeu.

— Pra tudo tem uma primeira vez.— brinquei, nos encaramos em silêncio, eu engoli em seco. Talvez eu deva o mandar embora agora.

— Bom, mas talvez não seja a última.

— Do que está falando?— indaguei, confusa.

— Eu... Ah, me chame de egoísta, mas eu não vou desistir de você, Rebecca.

— Jasper!— o repreendi novamente, mais séria.— Qual parte de "eu preciso de espaço" não ficou clara?

— A parte de que eu vou sair da sua vida...— refletiu ele, a testa franzida.— É... Tsc tsc, não soa bem, soa?— ele não me esperou responder— Não, definitivamente, não vai rolar.

— Jasper!— chamei-o impaciente.

— Eu sei, eu sei, espaço, término, tempo. Entendi tudo. Mas você não disse que eu não poderia te reconquistar.

— Você está se escutando? Ou á mim?— perguntei, ele se levantou andando casualmente pelo meu quarto, me ignorando. Peguei meu travesseiro e afundei minha cara no mesmo para abafar meu grito.— Jasper!— o olhei, ele cruzou os braços.

— Sim, meu amor?— perguntou ele, exagerando no sarcasmo.

— Está na hora de você ir.— ergui minhas sobrancelhas e inclinei a cabeça na direção da janela.

Seu rosto se iluminou por um segundo, seus olhos brilharam e ele abriu um sorriso convencido enquanto balançava a cabeça concordando consigo mesmo.

— Não força as coisas, tá?— pedi. Ele deu de ombros.

— Eu não vou. Mas também não vou embora. Sabe, ainda temos uma vadia ruiva para matar.— Franzi a testa.

— Falou com Jacob?

— Não, você falou enquanto dormia.

— Há quanto tempo...? Não, quer saber? Eu não! Sai agora, Jasper.

— Quer um beijo de boa noite?— sugeriu ele e se colocou de volta na cama sentado de frente para mim com o rosto a centímetros do meu em um piscar de olhos.

— De onde você tirou essa audácia?— perguntei me afastando, irritada.

— Ah, meu amor, você sabe que eu faço qualquer coisa por você.— ele encarou minha boca e eu corei, desta vez de vergonha. Lhe ataquei com meu travesseiro.

— SAI DO MEU QUARTO!— gritei e continuei o atacando enquanto ele seguia para a janela, rindo. Estava encolhido apesar de eu ter certeza que ele mal sentia o meu ataque agressivo. Jasper abriu a janela e saiu graciosamente pela mesma, se apoiando do lado de fora em plena luz do dia.

Larguei minha arma de volta na cama e Jasper me puxou para perto pela minha cintura e beijou meu rosto demoradamente.

— Eu te amo.— ele disse sério com um sorriso verdadeiro enquanto me secava com os olhos, mordi o lábio inferior, não ia ceder, se ele vai dificultar as coisas, eu também vou.— Vou até o inferno por você, mulher.— prometeu e eu revirei os olhos irritada tanto com ele quanto comigo mesma por não conseguir conter o riso. Pus a mão no seu peito e o empurrei, ele agiu de acordo e se inclinou para trás dando uma cambalhota no ar e aterrissando perfeitamente no meu jardim. Olhou para cima depois de olhar para os lados e me lançou uma piscadela antes de disparar para dentro do bosque atrás de minha casa.

Fechei a janela quando o vento frio invadiu meu quarto. Me abracei, pensativa e girei o tranco da janela, sorrindo sozinha.

— Idiota— resmunguei. Ele vai ter que se esforçar mais do que ter um sorriso bonito.

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NOTAS FINAIS DA PARTE UM:

E aqui chegamos ao fim da primeira parte! Ô caminho, viu! Tem como ficar com raiva de um homem desses, minha gente?

Enfim, espero te ver na parte dois que também está concluída e postada no meu perfil, tanto no Wattpad quanto no Spirit. Basta procurar por FOR ME.

OBRA CONCLUÍDA: 05/02/2021