Perdoa-me
☽
— O que tem em Seattle?— Jasper apareceu de repente do meu lado na cantina me dando um susto, o repreendi com o olhar irritado.
— Bom dia pra você também, senhor Hale.— voltei a separar minha comida, ele riu baixo— É assim que começa uma conversa sempre?
— Me perdoe pelos meus modos. Bom dia, senhorita Swan, e então? O que tem em Seattle?
— Não é da sua conta.
— Ai.— falou botando a mão no peito e fazendo cara de ofendido, ri e fiz careta.
— São só umas compras, nada demais, apenas fugindo do baile.— dei de ombros.
— Ah, é? E vai comprar o que?— sorri contente por seu interesse.
— Continua não sendo da sua conta.— fiz uma careta para ele, implicante.
— Bom então me fale algo que seja, antes que me mate de curiosidade.— precisei de um minuto para pensar bem, peguei uma salada e um lanche, ia pegar o suco de uva, mas Jasper foi mais rápido, agarrando a garrafinha e a tirando do meu alcance.— Pode falar alguma coisa?
— Se insistir aí que ficarei mesmo muda.— estendi minha mão pedindo meu suco, ele me deu de mau grado revirando os olhos dourados.
— Rebecca.
— Jasper?— rebati afinando a voz para provocar, ver ele perdendo a paciência é muito divertido.
— Eu desisto.— fez menção de ir embora, eu sabia que era só um truque para me fazer abrir a boca e que ele voltaria antes de se afastar demais se eu não o fizesse, no entanto, eu cedi.
— Tá!— revirei os olhos, ele se voltou pra mim, sorrindo convencido.— Isso anda martelando minha cabeça tem uns tempos.
— Prossiga.
— Por que você me salvou?— perguntei curiosa. Ele se arriscou ao tomar tal atitude, um risco que, muito provavelmente no seu lugar, eu não correria. Ele pensou um pouco.
— Por que não salvaria?— rebateu ele, todo sério, encarei como empate.
— Essa resposta não vale.
— Ainda não posso lhe dizer a verdade. Não toda ela.— bati a garrafa de suco na minha bandeja, irritada. Respirei fundo. Urgh, suspense.
— E quando vai poder?
— Preciso confiar plenamente em você ainda.— ele suspirou e olhou para trás, para a mesa onde seus irmãos estavam olhando para nós sem expressão. Não fiquei os encarando, intimidada com seus rostos angelicais.
— E por que não confia em mim?— questionei quase ofendida, seus olhos se voltaram para mim, cínicos, como se perguntassem "é sério?"
— A senhorita confia em mim?— rebateu, selei os lábios incomodada por ele estar certo, odiava ser respondida com outra pergunta, mas não posso negar que ele está fazendo o que deveria, ainda não confio plenamente nele, isso leva tempo. E o que tudo indica é que só saberei mesmo seu segredo se o descobrir a força. Bom... Saber eu sei, a questão é fazê-lo admitir.
Ou talvez me convencer.
A palavra que Jacob usara ocupou minha mente por um segundo. Frios. Se é mesmo isso que Jasper e sua família são, será que ele é tão perigoso como diz toda nossa cultura? Eu não queria ver ele como um vilão, ele não tem a aparência de um. Balancei a cabeça para tentar afastar pensamentos ruins como se fosse adiantar. Jasper estranhou meu movimento, mas não perguntou nada.
— Eu sei que isso é uma droga.— falou, sentia seus olhos em mim o tempo todo.
— É, irritante para um caralho.
— Pode me fazer um favor pelo menos?— ele lançou de repente, dei de ombros.
— Talvez.— aceitei hesitante.
— Tome cuidado em Seattle.— sorri com a preocupação alheia.
— Sim, cowboy.— zombei, ele ficou sério por um segundo— O que foi?— me preocupei quando seus olhos estavam desfocados.
— Ah.. hm.. nada. Eu... Tenho que ir.
— Mas já?— protestei— Mal conversamos.— ele gostou da minha relutância e sorriu permanecendo do meu lado.
— O quanto você quer que eu fique?— perguntou numa voz baixa e sexy. Sorri e revirei os olhos, seu olhar intenso em mim.
— O suficiente pra não mandar você parar de flertar comigo.— fiz careta de novo. Ele se fez de sonso.
— E quem disse que eu estou flertando com você, senhorita Swan?— cruzei os braços, a fila crescendo atrás de mim, me toquei que estava parada ali a muito tempo com olhares zangados me fuzilando. Jasper me fazia perder a noção do tempo. Envergonhada, peguei minhas coisas e saí da fila.
— Nos separamos aqui?— perguntei desanimada, ele botou as mãos nos bolsos, ambos encaramos nossas respectivas mesas. Meus colegas me olharam por cima do ombro, curiosos.
— Não... Se a senhorita não quiser.— ele andou na direção de uma mesa vazia, tão afastada da minha irmã quanto dos irmãos dele, mal notei que Bella tinha feito o mesmo com o Cullen, parecíamos estar sincronizadas nesses garotos de um jeito que só o destino sabe. O segui hesitante e intrigada. Sentamos um de frente para o outro e nos calamos. Ele me analisava, mas não minha expressão nem se perguntando o que eu pensava, ele só me olhava como se gostasse dos meus detalhes, seus olhos iam das minhas mãos a minha cara ou meu cabelo e voltavam as minhas mãos. Me peguei fazendo movimentos parecidos. Não sei explicar porque aquilo era tão bom, mas vale dizer que eu estava muito confortável, mesmo no silêncio.
— E se... você matasse aula comigo?— perguntei de repente, eu queria passar todo o tempo com ele, ao máximo. Ele sorriu, seus olhos dourados se cravaram nos meus.
— E o que faríamos?— rebateu, sorri pensativa.
— Só vamos fugir, rapidinho, eu e você?— sugeri, a voz esperançosa, mal notei que minhas mãos se esticavam pela mesa para alcançar as dele. Ele olhou para minhas mãos solitárias e empurrou as próprias em minha direção, um movimento sutil. Nossos dedos se tocaram timidamente. O gelo de seus dedos subiu pelos meus braços.
— Pode ser, tenho minhas dúvidas que já sei de cor o que ensinam aqui.— brincou, o olhar fixo nos meus dedos, brincou com meu anel distraidamente. Tombei a cabeça de lado, desta vez quis saber o que passava em sua mente.
— Hale.— chamei sua atenção.— Seu carro tem alguma música boa?— ele me observou curioso com a sugestão, sabia que meus olhos brilhavam
— Se não tiver, eu busco pra você.— tornou, o olhar convencido, dei uma risada baixa.— Não vai comer?— ele apontou para minha bandeja enfim me lembrei que estava com fome e comecei a mastigar.
— Sabe, você é bem engraçado.— falei de boca cheia depois de uns segundos longos de reflexão e admiração ao loiro.
— Jura?— ele uniu as sobrancelhas, engoli o pedaço de hambúrguer antes de voltar a falar.
— Claro. Uma hora me odeia, outra não me deixa em paz.— sorri maliciosa. Ele recolheu suas mãos e cruzou os braços se apoiando sobre a mesa, o corpo inclinado em minha direção.
— Bom, então creio poder dizer o mesmo da senhorita.
— Touché.— minha cara foi de puro sarcasmo, ele riu. Terminei o lanche em mais umas mordidas enquanto ele me assistia calmamente.
— Sabe que eu não estou errado.— me desafiou. Peguei a maçã e a atirei na sua direção, ele pegou num reflexo rápido, quase não notei o movimento do seu braço. Arregalei os olhos, mas logo me recompus, olhando ao redor desconfortável. Ele interpretou meu desconforto da maneira errada.
— Primeiro: eu odeio quando está certo. Segundo: se sua verdadeira identidade é um segredo, você deveria controlar melhor seus reflexos, Clark Kent.— critiquei zangada, agora parecia que eu que estava com preocupações alheias. Ele riu, confuso.
— Acha que eu sou um super herói?— indagou e começou a brincar com a maçã, a jogando pra cima e a pegando.
— Se é bom o tempo todo, eu não sei— fui sincera, ele ficou sério, ouvindo-me com atenção.— Mas posso dizer que é um herói pra mim.— dei de ombros e peguei minha maçã antes dele, me debruçando sobre a mesa, ele foi rápido e segurou meu pulso.
— Eu sou um herói para você?— repetiu. Olhei para meu pulso e depois para ele, ele entendeu o recado e me livrou.
— Sim, Jasper, você é. Salvou minha vida, talvez eu não tenha agradecido corretamente.— mordi a maça, o encarando.
— Realmente não agradeceu nenhum momento.— ironizou e eu revirei os olhos.— Eu posso ser mau, Rebecca.
— Eu duvido que seria mau comigo.
— Não seja tola. O que é? Se sente segura em minha presença?
— Não me sinto ameaçada.— respondi.— E ainda acho que só fala isso pra me assustar, me afastar. Você não é ruim, Jasper. Não sei quem tenta convencer com essa ideia, a mim ou a você mesmo.
Ele não pareceu gostar do que eu disse e fechou a cara.
— Eu não sei porque ainda falo com você...— resmungou cruzando os braços, senti raiva o suficiente pra querer socar a cara perfeita e simétrica dele. Seus olhos voltaram pra mim, me repreendendo.
— Não venha me culpar!— li seus pensamentos, se ele sente o que eu sinto, sabe como estou irritada— Você que está me provocando.— resmunguei de volta na defensiva, ele fechou os olhos e respirou fundo antes de voltar a abri-los.
— Tem razão. Perdoa-me.— ele ainda está em sua pose séria, os braços cruzados sem intenção de mudar de posição. Vi os planos que fizemos descerem pelo ralo. Matar aula ainda uma boa ideia, mesmo que eu fosse sozinha.
— Está perdoado.— como eu assumi anteriormente, não consigo ficar brava com ele por muito tempo. Isso só pode ser uma maldição para uma pessoa normalmente rancorosa como eu.
Antes do intervalo acabar eu peguei minha bolsa e saí do refeitório sem me despedir de Jasper. Parte de mim queria que ele estivesse atrás de mim, a outra não tinha tanta certeza. Não olhei pra trás, mas logo Jasper caminhava do meu lado, calado, sorri satisfeita e surpresa já que não tinha ouvido seus passos.
Andei em direção as árvores, Jasper anda a minha frente, suspeitei que conhecesse algum caminho então o segui. Não trocamos nenhuma palavra durante o trajeto curto. A floresta é linda, mesmo com o céu sempre nublado é um lugar confortável de se estar, tem um ar de liberdade que sempre apreciei. Quando paramos foi quando ele quebrou o silêncio enfim:
— Quer conversar sobre o quê?— perguntou Jasper, eu fiquei estagnada e ele começou a andar em círculos ao meu redor, como um leão cercando a presa, mas eu não me senti incomodada. Olhei para cima, vendo os galhos das arvores se esticando na direção umas das outras como se fossem se tocar igual naquela pintura do Deus e do homem. A criação de Adão de Michelangelo.
— Sobre o que você quiser.
— Eu quero ouvir de você. Saber mais sobre a senhorita seria o justo já que também quer saber mais sobre mim.— quando voltei a mim o vi encostado numa árvore um tanto longe, de braços cruzados e cabeça ligeiramente inclinada. Suas vestes — sempre pretas — quase o camuflavam com o tronco do pinheiro.
— Se eu falar de mim, terá que me falar de você.— desafiei sorrindo aberto. Ele me encarou de cabeça baixa, olhar sério.
— Não muito justo, porém posso tentar.
— Promete?— fiquei esperançosa, não pude conter.
— Prometo.— ele falou, gostei de acreditar que estava sendo sincero.
— Bom, na verdade, minha história não é tão interessante.— comecei.
— Depende do quão curiosas as pessoas estão para ouvir, não acha?— o loiro rebateu. Larguei minha mochila no chão, esperando que ele estivesse seco.
— Pode ser um pouco bagunçada.— falei o observando se sentar ao pé da árvore e bater no chão a sua frente, convidativo.
— Temos tempo— falou enquanto me sentei na sua frente, pernas cruzadas como índio.
— Bom, sobre mim? Hm, minha cor favorita é o amarelo por incrível que pareça, sou péssima em matemática, gosto mesmo de ler tanto quanto escrever.— ele sorriu e não me atrapalhou.— Hmm... eu não tenho segredos, meus pais são divorciados, minha irmã gêmea e eu nem sempre somos tão próximas quanto eu acho que deveríamos ser.— admiti um tanto chateada.— Minha mãe é uma adolescente num corpo de uma adulta, não existe pessoa mais apaixonada pela vida do que ela!— sorri ao me lembrar de minha ruiva, vi o garoto tombar a cabeça de lado com um sorriso torto, apoiou seu braço em seu joelho, enquanto a outra perna relaxava se esparramando no chão, mordi meu lábio tentando manter o foco.— Acho que meu pai é meu adulto favorito, ele é calmo e confia na gente, me dá o espaço que eu preciso... Posso ser bem explosiva e impulsiva, as vezes.— ri quando ele fez careta.
— As vezes? Você é sempre uma cabeça quente.
— Que mentira! Olha quem fala!— o apontei zombeteira.
— Você me influencia.
— Péssima desculpa!— falei alto.
— Não foi mentira.— se defendeu e baixou o olhar para sua calça, bateu nela pra tirar as folhas que caíram nele. Ouvi o barulho de chaves.
— Posso te pedir um favor, Jasper?— era audácia da minha parte o que estava prestes a pedir.
— Abandonamos mesmo a coisa de senhor e senhorita, não é?— foi a parte que ele se fixou, revirei os olhos.
— Você que começou.
— Justo— ele admitiu, franzindo a testa— Que favor seria?
— Me deixa dirigir seu carro?— falei sem freio, ansiosa, nunca tinha dirigido nada parecido, ele me olhou surpreso e depois riu.— O quê?— perguntei ofendida.
— Você é estranha, quer mesmo entrar em qualquer parte da minha vida, não quer?— se eu concordasse não seria mentira.
— Eu quero entrar no seu carro, Jasper, você não necessariamente precisa estar lá.— debochei, o que falei também não foi mentira.
— Ai. Ladra!— ele se levantou e se limpou, me olhando de cima, estranhei seu movimento. Tirou as chaves do bolso e as balançou muito longe do meu alcance, nem se eu estivesse de pé conseguiria pegá-las.— Se quiser dirigir, vai ter que pegar as chaves de mim primeiro.
Aceitei o desafio de bom grado, pelo menos até ele começar a correr enquanto eu me levantava, o xinguei e peguei minha bolsa do chão indo atrás do Flash. Ele corria devagar as vezes, me esperando, talvez para eu não me perder. Corremos de volta para o estacionamento, mas quando eu estava finalmente o alcançando, rindo como uma otária, de rabo de olho, vi Edward Cullen pegar minha irmã no colo, a reconheci pelas roupas e corri até eles, preocupada.
— Bella! Bella!— a minha gêmea estava meio inconsciente e verde, mas ainda olhou na minha direção. Edward parou de andar, olhei para o lado e vi Mike se afastando— O que houve?
Edward olhou pro irmão curioso depois me encarou de volta.
— Ela tem medo de sangue, estavam vendo nossos tipos na aula de biologia.
— Ah.— me tranquilizei imediatamente— Pode deixar que eu a levo a enfermaria.
— Não tenho certeza se ela consegue andar.— Edward rebateu, pensei um pouco, ela não parecia pesar nada nos seus braços e então assenti deixando ela ali mesmo. Fiz carinho no cabelo dela e beijei sua testa.
— Vou acompanhá-los então. Muito obrigada, senhor Cullen.
— Não tem problema.— ele falou baixo, uma voz aveludada. Me encarava como se tentasse me ler, mas logo voltou a andar, frustrado. Olhei para Jasper, ele olhava na direção que Mike tinha ido, parado uns metros atrás de nós.
— Jasper?— chamei confusa, ele olhou na minha direção tenso.— O que foi?
— Eu também não me dou bem com sangue.— ele falou, examinei Bella brevemente, ela não sangrava.
— Mike que tivera a mão cortada.— Edward respondeu a interrogação que surgia na minha testa, encarou sério o irmão que olhava para mim.
— Me perdoe, Rebecca, mas não os acompanharei, tenho que ir.
— Tudo bem...— respondi perdida, ele foi embora em passos largos.
— Não ache ele grosso, ele ainda não sabe lidar com sangue.— Edward me segredou quando já perdemos seu irmão de vista. Ainda?
— Mas como ele sabia que o Mike estava sangrando?
O Cullen se calou por um segundo.
— Tinha umas gotas na calçada.— justificou sem me olhar, já nos aproximávamos da enfermaria, olhei pra trás para ver se era verdade. Ou eu estava longe demais para confirmar se tinha mesmo sangue ali, ou realmente não tinha nada.
E minha teoria apenas se solidifica.
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