Não parta meu coração
☽
Uma semana depois
— Bom dia, minha princesa.— Jasper sussurrou no meu ouvido e eu me arrepiei de cima abaixo.
— Não me assuste desse jeito!— bati meu caderno em seu peito e fechei meu armário.
— Você que se assusta com tanta facilidade.— ele zombou e fizemos caretas engraçadas um para o outro. Emmett veio nos cumprimentar junto de Edward e Bella. Era a hora de troca de sala e Emmett levaria Jasper para longe.
— Oi, maninha Becca.— o grandalhão brincou com um sorrisão enorme.
Emmet chegou se aproximando de mim quase como um furacão nessa ultima semana, ele é teimoso, implicante, mas é impossível ficar tempo demais irritada com sua falta de senso, ele é muito divertido. Ele e Rosalie ainda não se sentam conosco, a loira resistindo teimosamente à qualquer tentativa de aproximação. Alice e Bella estavam se dando muito bem e, apesar do bloqueio entre nós duas, até que conversamos.
— Como vai, Em?— perguntei abraçando a cintura de Jasper que passava o braço por sobre meus ombros.
— Melhor impossível.— respondeu ele, e quando é que Emmet tem um tempo ruim?
— Não sei, Alice.— Edward falou de repente e Alice brotou do lado de Jasper que lhe deu certo espaço, me pressionando mais contra o armário.
— O que?— perguntei curiosa, talvez um tanto intrometida, mas eu odeio ser deixada de fora das conversas. Jasper franziu a testa de mármore para os irmãos, também curioso.
— Vai ter uma tempestade este sábado.— Edward disse e o sorriso de Emmett aumentou ainda mais — se isso for possível — e ele esfregou as mãos.
— Um jogo seria interessante.
— É claro que ele iria adorar.— Edward disse para Jasper. Era excelente, ainda que um tanto estranho, que eles estivessem se sentindo bem o suficiente para agir na sua maneira natural conosco por perto. Edward respondia os pensamentos de todos antes que eles os pudessem verbalizar, e também eles ficam imóveis como estatuas com mais frequência. Como eu disse, “estranho”, mas lindo.
— Precisamos de mais jogadoras na nossa equipe. O que acha, Becca? Bella já aceitou.— Alice disse sorrindo animada, era quase como Emmett, não parecia ter um tempo ruim. Olhei Bella de canto e ela sorriu corando um pouco, Alice também começara a dizer nosso futuro óbvio.
— Claro que vou.— disse e Jasper me abraçou por trás.
— É seguro para elas?— ele perguntou antes que Edward o fizesse. Todos se viraram para Alice. Eu sabia o que ele queria dizer, falava sobre os outros vampiros, andarilhos, aqueles que andaram aterrorizando as redondezas. Sem poder me segurar, estremeci nos braços do meu garoto de ouro e o segurei com mais força. Meu pai e muitos voluntários estavam indo atrás desses “animais” e eu não podia fazer nada para impedir, como justificar o perigo que corriam sem expor o segredo do meu namorado ou parecer uma louca tentando? É um conflito enorme, como se devesse escolher entre a segurança do meu pai e a do meu namorado. Eu amo os dois demais para escolher um lado.
Minha linha de raciocínio me deixou perdida, franzi a testa e Bella me olhou curiosa, mas deixou passar imaginando que minha preocupação seria com papai. O caso não era só esse. É que eu descobri agora o quanto eu preciso falar para Jasper que eu o amo, não que ele não imaginasse isso até o momento, mas dizer as palavras em voz alta as deixavam mais reais. Olhei para ele por cima do ombro e ele me encarou sorrindo com aqueles lindos olhos dourados. Sorri para ele e lhe roubei um selinho fazendo seu sorriso crescer.
— Acho que sim, nenhuma complicação a vista.— Alice garantiu e Edward balançou a cabeça concordando. Jasper suspirou e apoiou o queixo no topo da minha cabeça.
— Ótimo então.— Emmett comemorou.
— Mas espere aí, como o jogo será bom se vai vir uma tempestade?— indaguei depois de repassar a conversa tentando não me concentrar no assunto que levantei sem querer.
— Eu também não entendi muito bem essa parte.— Bella fez bico e os outros riram de nós.
— Vocês vão ver depois de amanhã.— todos eles trocando sorrisos de cumplicidade. O sinal tocou e Emmett agarrou o braço de Jasper para o levar para a aula, Jazz o olhou com raiva fazendo o grandalhão recuar um pouco, Jasper odeia ser interrompido quando está comigo, eu amo isso nele também.
— Não precisa de estresse, irmão, só quero me formar, vocês andam matando muita aula.— Emmett riu e eu olhei para Jasper confusa.
— Como ele sabe disso?— eu pensei que era uma coisa só nossa. Íamos á cabana com mais frequência do que deveríamos, mas isso não ia me impedir de nada. Pensei que era seguro que eles não notassem já que não compartilhamos muitas classes.
— Eu sei.— Jasper respondeu lendo meus pensamentos como sempre.— Não tem como termos qualquer segredos em casa, com a habilidade de Edward e de Alice, tentar mentir ou omitir qualquer detalhe seria estupidez.
— Ah.— eu bati na minha testa envergonhada por não ter me tocado disso antes, como fui burra!
— Vão parar de conversinha ou querem terminar ela na diretoria?— gritou o professor de geometria da porta de sua sala e nosso grupo se espalhou depressa, eu, Bella e Edward fomos para a mesma sala, a de filosofia. Edward pode ser bem convincente, e ele usou um pouco disso para ir em quase todas as mesmas classes que Bella. Infelizmente, Jasper não podia fazer o mesmo. Ele ainda é mais velho que Edward de todos os jeitos possíveis.
A aula foi interessante, mas não foi capaz de prender totalmente minha atenção, já que no caso, eu já estava indo mal mesmo por estar apaixonada, imagine ter certeza que eu o amo, e até agora não ter falado isso diretamente. Eu só consegui pensar nisso.
Honestamente, nunca foi impossível para mim dizer essas palavrinhas, mas é claro que não foi, por que seria? Mas parecia ter muito mais peso se direcionadas á Jasper. Realmente tem, mas por motivos diferentes. E se ele não me amar como eu o amo — de maneira vista até como irracional, acima de qualquer senso? Ele se importa muito comigo, isso é óbvio, fazemos muito bem um ao outro, tenho tanta conexão com ele que com certeza não deve ser natural, mas e se quando eu falar a verdade óbvia acabar afastando ele? Eu já vi muito isso acontecer com minha mãe, e a ideia de passar pela mesma situação me deixa apavorada.
Não importa o quanto as coisas pareçam bem, uma palavra dita fora de hora pode fazer tudo desandar, e eu não posso arruinar o que eu tenho com meu garoto de ouro. Ah céus, ele é tão importante pra mim quanto o ar que eu respiro, e eu não posso fazer ele se sentir desconfortável e se afastar porque não é reciproco — não ainda ou não o suficiente.
E como eu falaria isso? Como eu explicaria isso? Como não sair toda errada, trocando as palavras ou usando menos do que o necessário? Bella puxou meu braço me dando um susto como de quando você sonha que está caindo e acorda antes de sentir o impacto do chão, ela e Edward me olhavam preocupados, olhei ao redor curiosa e notei que a professora esperava que saíssemos, parada ao lado da porta e o olhar de tédio com estresse.
— Becca!— minha gêmea chamou, estranhei pelo seu tom a quanto tempo ela está tentando chamar minha atenção.— O que há? A aula já acabou, temos de ir para a de educação física.
— Hm, nada, só boiando.— abri um sorriso amarelo que não convenceu ninguém e me levantei rápido, peguei meu material e saí antes que eles pudessem me fazer mais perguntas.
☽
— Está me evitando?— Jasper me barrou na porta de saída do refeitório e cruzou os braços.
— Não estou, não.— ri sem humor, apenas tentando me livrar do meu nervosismo crescente.
— Está sim!— ele me encarou curioso, franzindo a testa de mármore.— Por que outro motivo iria almoçar com seus outros amigos, isso sem nem chamar a Bella? Eu fiz algo? Eu a magoei?— balancei a cabeça.
— Não é v...— não é ele? É claro que é ele, é tudo sobre ele. Deixei minha voz morrer.— Eu só estou confusa sobre umas coisas, não é nada que deva se preocupar.
— Confusa sobre mim?
Não, eu devia falar, mas como não gosto de mentir para ele, me mantive quieta o encarando.
— Jessica me chamou, foi isso.— Jasper me olhou como se estivesse ofendido.
— Rebecca, está confusa sobre mim?— ele insistiu, eu sabia que não deixaria isso passar, senti minha respiração acelerar como se estivesse a ponto de ter uma crise de ansiedade, não queria discutir aquilo agora, não assim como se estivesse a ponto de chorar, entende? A minha vida toda eu vi minha mãe sendo trocada, deixada de lado depois de dizer essas palavras em voz alta, o medo de que Jasper fizesse o mesmo comigo logo me dá um nó na garganta. O problema é que eu o amo tanto e sou tão egoísta que não saberia lidar se ele não sentisse o mesmo amor que o meu.
— Eu preciso ir, Jazz, o sinal já tocou.— falei tentando o contornar, mas ele apenas me girou e me prendeu contra o armário. Alguns alunos nos olharam curiosos.
— Eu fiz alguma coisa?— ele tentava encontrar meu olhar enquanto eu me desviava.
— Não é isso. Está tudo bem, eu só preciso pensar em algumas coisas..
— Está pedindo um tempo?— ele me encarou triste, como se tivesse levado um tapa na cara.
— Não! Não é isso, eu só... argh! Tenho que lidar com um conflito interno.
— Eu posso te ajudar, você sabe.— ele disse, com um olhar cauteloso.
— Esse é o problema... Meu Deus, eu preciso sair daqui!— desviei dele rapidamente e agradeci, pois dessa vez ele não me impediu.
Saí apressada da escola e corri até as arvores, tendo um pouco de falta de ar. O que eu faço? O que eu digo? Como não piorar ainda mais a situação? Agora ele certamente está se perguntando o que poderia ter feito para me deixar assim, querendo tanto o manter afastado.
A culpa não é dele. É da forma como eu vejo toda a situação. O conflito que eu me coloquei, isso deveria ser tão fácil como cortar manteiga. Tão fácil quanto eu falo para a minha família que eu os amo, mas não está sendo fácil, eu tenho medo do que pode acontecer, medo de que possa dar errado. E se agora não for a hora certa? Eu nunca fui do tipo que espera pacientemente para falar o que pensa. Eu não quero assustar Jasper, mas como não vou fazer exatamente isso se eu mesma já estou assustada?
Como eu demorei tanto para notar isso? Eu o amo, talvez desde o primeiro dia que começamos a namorar. Era óbvio desde o primeiro arrepio, o constante frio na barriga de excitação, a alegria quando ele sorri para mim ou a saudade que sinto quando ele não está por perto. E se eu estragar tudo?
— Becca.— uma voz doce e melodiosa me tirou do meu transe e eu girei nos calcanhares até ver Alice. Ela me encara piscando inocentemente.
Pisquei algumas vezes me perguntando o que ela vira sobre mim em suas visões, me questionado o quão estranho seria eu a perguntar como Jasper poderia reagir com minha declaração para ele.
— Sabe que não precisa ter medo, Rebecca.— ela disse depois de um momento breve de puro silêncio desconfortável.— Vocês só serão mais felizes.— não estava surpresa por ela saber exatamente o que eu pensava.
— O futuro é incerto, não é? Edward disse que depende muito de cada decisão.— eu rebati, não era o tipo de assunto que eu gostaria de discutir com ela, mesmo que tivesse certeza que ela não tentaria me sabotar.
— Com Jasper as coisas são muito certeiras, na verdade, Rebecca.— me mantive quieta— Ah, perdão, as coisas com vocês dois são muito certeiras. Não precisa temer, basta se abrir e ele fará o mesmo.
— Ele... me ama tanto quanto eu o amo? Você pode me assegurar isso, Alice?— eu me aproximei dela e agarrei suas mãos.— Eu sei que é cedo demais para discutir isso com você, mas eu estou desesperada para saber.
— Basta falar com ele diretamente, você sabe que sim. Mais do que ele até.
— Mas...
— Não tenha medo, Becca.— ela me interrompeu— Ele nunca machucaria seus sentimentos.— seu olhar sereno me acalmou e eu a abracei.
— Obrigada.— admiti e ela demorou pouco para retribuir meu abraço. Ficamos assim por uns segundos e então eu a ouvi rir.
— Pode vir.— ela disse e eu desmanchei o abraço cautelosa, merda.
Merda, merda, merda.
— Você tem mesmo essa duvida, Rebecca? Logo a coisa mais óbvia desse mundo, você insiste em questionar?— Me virei devagar na direção de Jasper e ele cruzou os braços me olhando de cima a baixo, um sorriso e olhar de divertimento.— Insiste em complicar as coisas, não é, querida?
— Não é a duvida, é a insegurança do amanhã.— olhei Alice por cima do ombro e ela ergueu as mãos como se se rendesse.
— Eu vou lhes dar privacidade.— e ela desapareceu num vulto nada natural. Suspirei e me aproximei de Jasper, que estava a apenas cinco passos de mim e cruzei os braços o encarando séria. Meio passo de distancia.
— Que insegurança? Que eu não vou te amar amanhã tanto quanto eu amo hoje?— abri a boca um pouco surpresa e ele sorriu— Rebecca Swan, eu a amo. Mais do que qualquer outra coisa na minha vida. Não duvide disso nem por um momento.
— Jazz, eu nunca vi relacionamentos durarem em toda minha vida. Eles sempre acabam, e eu sofri com cada um deles de forma diferente, mas se acontecer o mesmo com você... eu não sei nem o que eu faria.
— Você confia em mim?— ele segurou meu rosto com as duas mãos e diminuiu o espaço entre nós cada vez mais.
— É claro que confio.
— Becca, eu não vou partir seu coração.
— Não prometa o que não tem certeza de que vai cumprir. Por favor, eu tenho um coração de vidro.— brinquei e ele riu, o hálito fresco e frio rodou no meu rosto.
— É mais forte do que pensa, Rebecca.
— É mais sonhador do que pensa, Jasper.— olhei os detalhes de seu rosto, e sorri triste.
— Eu te amo, Rebecca. Você me ama?— seus olhos dourados interrogavam-me esperançosos.
— Mais do que eu consigo lidar.
— Diga.
— Eu o amo, Jasper Hale.
— Brilhante.— ele sorriu, vitorioso e se endireitou. O brilho de seus dentes faltava me cegar.— Eu queria falar isso há muito tempo, sabia?
— Há quanto tempo sabe?
— Desde que eu soube que você sentia o mesmo, um mês atrás, você me disse enquanto dormia. Talvez não conte para você, mas eu queria falar primeiro.
— AH!— senti meu rosto ferver contra suas mãos frias— eu falo enquanto durmo?
— Ah, querida, parece um papagaio.— rimos e Jasper olhou na direção da escola.— Tá afim de fugir?
— Matamos muitas aulas esse mês, Jazz.— torci o nariz a contragosto.
— Só mais umas não fará mal.— ele ergueu as sobrancelhas e eu puxei um bocado dos seus cachos.
— Jasper Hale! Que influência você quer me passar?
— Hm, que eu te amo e quero passar mais tempo á sós com você... ?— ele fez bico e eu ri.
— Vai mesmo usar isso como desculpa?!— fiz-me de indignada.— Não vamos matar as ultimas aulas, Jazz. Você talvez saiba exatamente o que os professores vão falar, mas eu ainda sou uma adolescente péssima em matemática básica.
— Ah, sim, esqueci que você tem doze anos.— ele zombou e eu ergui a mão para o bater, abaixando-a em seguida, ciente de a única pessoa a se machucar ali seria eu.
— Você ainda vai apanhar de mim tanto!
— Ah, nunca vou, porque você me ama demais para me machucar.
— Uma coisa não afeta a outra.— pisquei para ele e ele me pegou no colo me fazendo soltar um gritinho.— Jasper, me ponha no chão!
— Não, minha garota não precisa andar.
— Não seja idiota.
— Não seja grossa, eu estou sendo um cavalheiro. A partir de amanhã paramos de matar aula.— ele declarou antes de disparar pela floresta.
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