Meus sonhos e eu

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QUARTA FEIRA


Me examinei no espelho, meu rosto estava extraordinariamente melhor do que em outros dias. Pela primeira vez em meses, eu não tive nenhum pesadelo e até mesmo minha consciência ficou calada.

Eu me senti bem. Me encarando no espelho, eu olhei nos meus olhos e me enxerguei. Quase chorei de tanto alívio. Eu ainda estou aqui, ainda estou aqui.

Passaram-se dois dias desde A realização óbvia do século, era estranho notar há quanto tempo eu vinha evitando meu próprio reflexo. E hoje, eu acabei de tomar banho, pintei meu cabelo de preto novamente, — as raízes estavam voltando a ser castanhas — me maquiei levemente e fui para a escola com uma roupa que era normal para o meu eu do passado.

Claro, eu não estou cem por cento feliz. Tenho noção de que Victoria pode estar á espreita, mas realmente acredito que a alcatéia de Sam pudesse proteger á mim e minha família. Odeio depender de outros para minha segurança, mas pouco me abala já que eu me senti bem comigo mesma. Nem mesmo as lembranças boas do passado me abalavam tanto nesses dois dias. Eu bloqueei tudo. Jasper me disse que seria como se nunca tivesse existido, talvez eu devesse agir como tal. Como se ele não tivesse existido... Vai ser difícil, mas se eu quiser ser eu mesma de novo, vou ter que batalhar para tal. Um problema é Dave, eu quero sua amizade, mas apenas a amizade, só que ele teima em fingir não entender.

Me escreveu bilhetes no meio das aulas, coisas engraçadas e que me obrigavam a segurar o riso, me elogia como ninguém, como se eu fosse uma deusa na terra ou coisa parecida. É divertido, mas eu não posso continuar dando brechas para ele sonhar.

— Você vai sair comigo no sábado.— ele disse enquanto corríamos. Bufei e acelerei o passo, mas ele e suas pernas cumpridas me alcançaram.

— Eu não confirmei nada.— rebati pela milésima vez.

— Mas você vai.— ele insistiu, eu ri.

— Não pode me obrigar.

— Se não ir até o jantar o jantar irá até você— ele provocou.

— Você sabe que meu pai é o xerife, certo? Que nós temos armas em casa, né?— o provoquei de volta com os olhos um pouco arregalados, como que para dar ênfase a seriedade do que dizia.

— Charlie Swan me adora. Pode perguntar.— ele acrescentou, ofegante ao ver minha cara de descrença. Estava claramente se cansando, mas eu estranhamente me sentia cheia de energia.

— Se quiser desistir ninguém vai te julgar.— zombei fazendo careta, ele deu uma parada, apoiando as mãos nos joelhos para respirar melhor. Comecei a correr ao redor dele.

— Você vai.— ele disse com a respiração afetada.

— Só um pouquinho.— fiz um gesto de mais ou menos agitando a mão na cara dele. Estávamos suados demais, mas eu me sentia ótima, como se pudesse correr por todo planeta.

— Você parece bem.— Dave disse, me seguindo com o olhar.

— Eu estou ótima.— talvez a palavra fosse um exagero de precipitada, mas eu estava bem depois de meses tudo parecia mil maravilhas, como um novo mundo. Era um alívio enorme, mesmo que meu peito ainda carregasse um buraco de tamanho significativo.

— Que bom, gosto de te ver assim.— ele sorriu docemente— Pena que ainda não é a mais rápida!— ele disparou na minha frente e eu sorri ás suas costas com o desafio, meu coração batendo forte. O segui com uma determinação incrível e em tempo recorde eu o ultrapassei em metros, as pernas dele foram o traindo e eu o deixei para trás.

— FRACOTE!— zombei sem parar de correr e o perdi ao virar a esquina de sua casa. Parei na frente da mesma e o aguardei pacientemente, me alongando á sua porta. Meus batimentos estourando nos meus ouvidos. Sorri para Dave enquanto ele se arrastava em passos lentos para o meu lado.

— Eu... te odeio!— ele disse, cansado e pálido.

— É, com certeza!— eu ri— Eu vou dar mais uma volta, eu acho...

— Espera.— ele pediu após recuperar lascas de dignidade pois parecia a ponto de chorar.— Já que está tão cheia de energia, por que não experimenta outra coisa?— ele perguntou levando a mão ao peito. O olhei, estranhando— Ah, merda, eu quis dizer... Tem um saco de pancada na minha garagem, minha mãe trouxe para mim e meu irmão.— ele tomou fôlego e eu ri— Estamos começando a treinar com ele. Topa?— ofereceu, seus olhos brilhando de leve.

Concordei sem pestanejar.


— Ui, estou pronto.— o loiro anunciou ao voltar para a garagem que me largara para tomar um banho— muito melhor— ele suspirou alto sacudindo a cabeça como um cachorro molhado tentando secar os cabelos.

Me levantei tentando ocultar às minhas costas a jarra de suco que eu esvaziei enquanto estava sozinha.

— Pronta para ser uma lutadora peso-pena?— zombou ele, agarrando um par de luvas pretas e bem gastas no balcão onde se guardam as ferramentas e as jogando na minha direção.

— Eu já me meti em brigas, moleque, me respeite.

— Pff.— ele fez som de descaso e eu soquei seu braço com força antes de vestir as luvas.— Ai.— ele levou a mão ao ponto que eu o atingi, massageando-o. Fechei o velcro das luvas com os dentes e esperei Dave pendurar o saco no teto da garagem pequena.— Vai lá, machão, lance seu melhor soco.— provocou-me segurando o saco diante de si.

O soquei jogando todo o peso do meu corpo no meu punho. Dave gemeu, mas logo fingiu não ter acontecido nada embora eu o pegasse levando a mão a barriga vez ou outra.

— Fraca.— debochou e eu ameacei ir atrás dele fazendo-o se encolher atrás do saco de pancada.

Infelizmente eu não podia ficar ali por muito tempo que meus músculos reclamavam pelo exagero do nosso primeiro treino, enquanto eu voltava para casa quase rastejando, fiquei massageando suavemente meu ombro direito.

— Onde é que você estava?— perguntou meu pai, ele e Bella estavam sentados á mesa e jantavam.

— Na casa de Dave Marks, socando um saco de pancadas.

— Sua cara.— Bella disse baixando o olhar para seu prato e brincando com seu frango. Sorri. Mesmo com o perigo na esquina, eu estou bem.

Olhei a arma apoiada ao lado da cadeira de Charlie e imaginei se ele estivera obtendo qualquer pista sobre os mega lobos que andou caçando. Ainda era quarta-feira e nem os lobos nem Charlie acharam o que procuravam.

— Você parece... suada.— papai comentou e eu soltei uma risada nasalada.

— Obrigada, pai, eu estou alerta disso.— prendi meus cabelos me sentindo horrivelmente pegajosa.— Algum avanço?— indiquei a arma.

— Por enquanto, não. Mas é cedo, acabamos de começar.— Balancei a cabeça, concordando e me retirei para tomar um banho frio.

Enxaguei o rosto, as cicatrizes e todo meu corpo. Meu pulso esquerdo tremendo levemente quando apertei o shampoo para pegar o que restava dele. Ele doía muito, mas talvez um pouco de treino nele ajudasse as coisas a andarem, me xinguei mentalmente por ter adiado tanto para cuidar disso. Bem que dizem que quando se está apaixonado sua produtividade diminui. Não que eu não estivesse mais apaixonada, mas nós não falaremos mais sobre isso. Vou fingir ao máximo que nunca aconteceu, nada mais de masoquismo, eu quero melhorar, desta vez por mim.

QUINTA FEIRA


Quase joguei o despertador fora por ter me acordado do meu sono sem pesadelos. Me virei e vi que Bella estava suada, claramente nada bem. Acordei-a com sacudidas e a empurrei para o banheiro. Ela estava ficando cada vez mais indisposta com a falta de Jake que rondava incansavelmente atrás da "vadia ruiva" por todo seu território e mais além.

As aulas se arrastaram, mas tentei não dormir enquanto meu professor de história falava. Jess e Mike acabaram terminando, conhecendo Jess como conheço, sou incapaz de dizer que Mike tomou a decisão errada.

Ao invés de correr, eu e Dave fomos direto para a garagem dele. Meu pulso esquerdo não aguentou muito tempo e eu gemi de dor me encolhendo no chão xingando mentalmente James e desejando fortemente que ele queimasse no inferno por toda eternidade, eu conseguia o odiar cada dia mais. A senhora Marks preparou uma sopa para nós, e eu disse a Dave que "o jantar" estava pago. Ele não concordou, mas aceitou de cara emburrada. Ele não tinha definido nenhum termo.

Voltei para casa, tomei um banho frio e fui dormir no quarto que agora dividia com Bella antes que ela subisse as escadas.

Charlie estava claramente satisfeito com meu cansaço, e até elogiou Dave.

— Sempre soube que ele era um bom garoto.

SEXTA FEIRA


Dave surrupiou uns cigarros da mãe dele para me dar, eu neguei não querendo me apegar novamente o vício. O garoto teve a ideia brilhante de me fazer assinar uns papéis de divórcio com os cigarros. Foi uma cerimônia sentimental.

Eu acho tão fofa sua mania de ficar com a ponta da língua para fora da boca enquanto está concentrado.

Ele se exibiu demais na hora de socar o saco, e o grande saco vermelho voltou para ele com tudo, derrubando-o no chão. Eu achei que faria xixi nas calças de tanto que ri.

Voltei para casa e me virei com os deveres de escola com a ajuda de Bella. Não conversamos muito, mas não senti que era necessário.

SÁBADO


Passei o dia fazendo trilhas com Jacob e Embry no meu encalço, eles em sua forma de lobo só me assistiram subir e descer morros se recusando a mínima sugestão que eu dava de me ajudarem.

Billy passou a tarde lá em casa junto de Charlie, Harry Clearwater e sua família para assistir um jogo.

Leah usou nosso telefone e se isolou de todos. Bella ligou para casa dos Black e perguntou á Billy se Jake se juntaria á nós, Billy disse que Jake estava ocupado, nos lançando um olhar significativo.

Bella se trancou no quarto. A deixei ficar só, talvez ela só precisasse de espaço.

DOMINGO


Corri sozinha até a entrada de Forks, quase não resisti á tentação de entrar no caminho que eu sabia que me levaria á casa que ele morou.

Tive uma leve recaída e então corri para a casa de Dave, ele não estava, sua mãe que me recebeu, ele tinha ido pescar com o irmão mais novo. Por um momento suspeitei que ele tivesse ido ao mesmo lugar que Charlie, mas ignorei a ideia.

Voltei para casa e liguei o som de Bella no máximo, ela ficou na sala ocupada com os deveres de casa. Dancei até ficar cansada e me joguei na cama. Eu reli orgulho e preconceito para me ocupar sem ter que faxinar a casa. Por que eu fui fazer isso? Argh, eu odeio romances, malditos dialetos formais.

Que saudade dele.

Fechei o livro e me concentrei em qualquer exercício que pudesse melhorar minha coordenação do pulso esquerdo. Aquele filho da puta do James... se eu o visse de novo seria capaz de arrancar sua cabeça sozinha.

SEGUNDA FEIRA


Tudo que é bom dura pouco.

Eu sonhei com Jasper, ele fugia de mim na floresta, acordei com o rosto molhado, mas fingi que nada aconteceu, mesmo que Bella tivesse presenciado tudo.

O sonho me assombrou, porque quando mais você tenta não pensar em algo, com mais força a memória vai te agredir. O mesmo que nadar contra uma correnteza muito, muito forte.

Bufei e acabei pegando pesado no treino com Dave, ele trouxe gelo para meu pulso que quase me fez chorar de tanto que doeu, nos sentamos na calçada diante de sua casa e ficamos em silêncio por um bom tempo. Não precisamos preencher o silêncio e isso mais do que bastava para mim.

Eu queria fugir daqui. Mas não vou dar uma de medrosa, não mais.

Olhei para Dave.

— Fico feliz que esteja aqui— admiti, ele sorriu docemente.

— Eu sei que sim— gabou-se me fazendo revirar os olhos.

Ele ainda é um idiota.

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