Maré de azar

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TERÇA FEIRA


Acordei com os gritos de minha gêmea, sentei de repente acordando assustada e papai rompeu pela porta, alerta e de pijama, acendendo a lâmpada. Nós nos encaramos brevemente.

— Pensei que sua companhia fosse ajudar um pouco.— ele comentou, sua cara de preocupação se desmanchando por uma cara que chegava a ir além do cansaço.

— Também pensei. Vá dormir, pai.— pedi e ele concordou fechando a porta e resmungando um "boa sorte".

Não precisei acordar Bella. Em menos de minuto seus gemidos desesperados cessaram e ela arregalou os olhos, no clássico pavor, que eu já me acostumei. Me senti mal por pensar o quão melhor eu estou.

— Rebecca... eu... preciso ficar sozinha.— ela disse com dificuldade. Suspirei a encarando sem me mover, bom, não podíamos dormir juntas para sempre, de qualquer maneira. Beijei sua testa rapidamente e me retirei, apagando a luz e fechando sua porta. Voltei para meu quarto depois de muito tempo longe e peguei as cobertas e o travesseiro no guarda-roupa e me deitei na cama um tanto fria e solitária, soltando um espirro baixo por conta de um pó que inspirei das minhas coisas.

Talvez amanhã eu devesse fazer uma limpa...

QUARTA FEIRA


Acordei sem sono e minha mente me fazia sugestões de o que fazer ao sair da escola, como uma vendedora mostrando seus produtos.

... está frio demais lá fora, talvez devêssemos matar aula e dormir até tarde.

... será que Dave aguenta uma luta corpo a corpo? Levanta, mulher! O dia está pra começar.

.... foda-se que está congelando lá fora, talvez eu devesse pegar um pote de sorvete.

.... Qual é o sorvete favorito de Dave? Talvez eu devesse ligar para ele e matarmos aula juntos.

... ninguém vai morrer se você não aparecer na escola hoje, peça para Bella dizer que você está doente..

Meus pensamentos se interromperam ao ouvir o ronco do motor da picape, levantei às pressas mas só desci a tempo de ver Bella virando a rua. O que...? A escola não fica para lá, só tinha La Push e... a saída da cidade, a casa dos Cullen. Ah, merda, por que ela iria para lá?

Olhei ao redor sem ter uma ideia sequer do que fazer, talvez se eu fosse correndo? Falando sério, não duvido que eu alcançasse, a picape é incapaz de correr demais, mas como eu saberia para onde ela estava indo? Porra, puta que pariu, caralho. Pensa, pensa pensa... Pra quê Isabella sairia sem mim?

Saudade demais de Jake? Não, não faz sentido, ela está lidando com isso, sabemos como ele anda ocupado. E porquê.

De repente ficar em casa sozinha se tornou ainda mais assustador. Se bem que se Victoria passasse os lobos... Pelo menos minha família não estaria aqui para ver, ou será que Victoria esperaria até que os outros voltassem para exterminar a família Swan? Jasper me contou como um vampiro perde o controle depois da primeira vez que experimenta... Fora o fato que a vadia ruiva quer se vingar.

FOCO, REBECCA! Subi as escadas em passadas largas e troquei de roupa, ficou uma mistura de roupa de corrida com moletons para ficar desleixada, mas não era uma coisa para se preocupar no momento.

Saí de casa e encarei a rua, incerta. Ela tinha que levar a picape? Lamentável.

Será que ela pensou em sair sem mim ontem a noite? Por isso me pediu para sair? Ela queria ficar sozinha... planejando? Sabia que eu acordaria caso ela saísse bruscamente.

Merda, por que ela faria isso? O que ela tanto iria querer fazer sozinha? Uma lâmpada se iluminou sobre minha cabeça.

Edward. É claro, ela quer ver Edward. Fiquei sabendo que a adrenalina instigava isso... Mas como arranjar uma dose de adrenalina em Forks? Será que ela iria até La Push para pegar as motos já que ela e eu ouvimos os rapazes...?

Corri na direção que a picape tinha ido, mas parei. Se ela for fazer um merda, muito provavelmente eu não chegue a tempo se for correndo, preciso de uma carona, urgentemente. Corri para casa de Dave, tinha de ir á La Push e tinha que ser o mais rápido possível. Dei meia volta e corri pelo caminho conhecido, Dave saía da casa dele no mesmo instante que cheguei perto, nunca fiquei tão feliz em vê-lo.

— Me empresta seu carro!— falei rapidamente, ofegante, Dave me encarou confuso.

— Bom dia para você também.— começou ele, sabia que faria alguma piadinha, mas fiz um gesto para que ele se calasse.

— Não tenho tempo para explicar, me empresta o carro. Minha irmã vai fazer alguma merda e eu preciso encontrar ela antes— o garoto me encarou como se esperasse que de repente eu fosse assumir que aquele papo era só uma pegadinha muito estranha.— Dave, por favor!— agarrei-o pelo colarinho o puxando para perto de mim— Eu preciso do seu carro!— o olhei no fundo dos olhos, desejando que ele entendesse minha urgência.— Eu faço o que você quiser um dia inteirinho, mas rápido...— acelerei-o, seus olhos faiscaram.

— Uma semana.

— Tá, tá bom, que seja, chaves?— estendi minha mão ansiosa, ele tirou as chaves do bolso e apertou um botão para abrir a garagem. Corri para a mesma e ele me seguiu.— Isso!— comemorei ao entrar no carro e ligá-lo.— Eu amo você!— beijei o rosto de Dave e o empurrei para fora da minha janela pisando na ré após arrumar ajeitar a marcha.

Um momento depois me toquei do que acabara de fazer, mas sufoquei a preocupação, lido com Dave depois.

Acelerei o carro — não tão novo, ainda que mais potente que minha monstruosa picape — e parti em direção á La Push. Estava no meio de uma caçada, que ironia.

Demorei uma eternidade para chegar na casa dos Black, estava vazia. Corri para os fundos e rompi na garagem de Jake, escorreguei várias vezes na terra lamascenta. As duas motos estavam lá, merda, porra!

Pensa, Rebecca, como ser imprudente em Forks? Ela saiu cedo demais, aposto que estava acordada quando Charlie saiu, ou devo dizer ainda estava acordada. O que ela pensou, onde mais iria? Voltei para o carro e encarei o retrovisor, pensando.

Qualquer coisa perigosa, estúpida e que daria muita adrenalina...

Com certeza não seria fácil de achar, talvez no meio da floresta, quase me julguei por pensar se Bella seria tão estúpida a ponto de se enfiar na mata apenas para ter um vislumbre de Edward, mas não tinha como estar errada já que outro dia ela estava disposta a esperar sentada pela chegada de Victoria...

Um lugar... isolado? Bella não se mataria, mataria? Merda, estamos cercadas por árvores gigantes, uma corda e uma cadeira dariam conta do recado e ainda seria impossível achar ela antes que ela conseguisse se matar.

Não, ela não se mataria... acho.

Ela quer ver o Edward de novo, ela precisa de uma dose de adrenalina, tem que fazer isso sozinha porque sabia que eu tentaria a impedir. Tem que ser uma coisa muito estúpida para ela ter certeza que eu não concordaria.

Uma boa dose de adrenalina, com certeza, a voz de Jake ecoou nos meus pensamentos, mas o raciocínio me escapou.

Jake? O que teria a ver Jacob? Ele não a colocaria em risco, não agora.

Me senti agoniada e liguei o carro só para ouvir o motor já que o silêncio era uma tormenta e ficar parada quando sentia o tempo correr atrás de mim só estava piorando as coisas. Dei meia volta pensando onde ir, dirigindo sem rumo, até que avistei as praias, o mar agitado, está frio demais, as ondas....

OS PENHASCOS! Nem eu concordaria, Jake falou para irmos lá juntos, muita adrenalina, um mergulho hoje seria péssimo, será que Bella retornaria por causa do frio? Rezei para que sim enquanto pisava no acelerador com mais força. Ela queria ir, Jacob nos chamou de doidas mesmo que eu tenha concordado que o tempo não estava bom.

— Vamos, vamos!— acelerei-me, o nervosismo crescente. Qual é, ela não quer se matar, assim deixaria de ver Edward para sempre, não faria sentido, ela tinha que estar raciocinando. Pensando num jeito de repetir o processo. Nenhuma de nós duas era uma boa nadadora, olhei pela minha janela, o mar está agitado demais, agitado demais, fiquei repetindo para mim mesma, a tensão contraindo cada músculo do meu corpo.

Quase perdi o caminho mas logo avistei o penhasco, não tinha ninguém ali, cheguei tarde demais? Não.

Me recuso, não. Bella não acabaria com a vida dela assim, ela sabe que eu a mataria. Traria de volta só para poder matá-la. Entrei num caminho que a mata começava a se condensar, eu não poderia mais seguir de carro.

Meu coração batia tão forte que eu podia sentir minha pulsação por todo meu corpo, um suor frio se formou em minha testa.

Quando o mato se tornou intransitável para passar com o carro, desci do mesmo, trancando-o, só por segurança, deixei a chave escondida no pneu traseiro e corri mata adentro, como esperado, me perdi muitas vezes já que nunca conheci a ponta aquele penhasco.

Um vislumbre distante da minha gêmea numa extremidade longe de mim me fez parar, suspirei aliviada, podia agarrá-la antes que ela fizesse merda.

Minha paz durou pouco enquanto eu serpeava para chegar até ela em silêncio, o vento me trouxe sua voz, ela falava sozinha e começou a tirar o casaco se aproximando da beirada, eu ainda estava longe demais para prender ela então acelerei o passo, minha respiração se acelerou mas eu não consegui encontrar voz para chamar por ela.

Até que ela pulou, antes que eu a impedisse.

— BELLA!— gritei, de repente apavorada e ficando de quatro á beira do penhasco. Meu coração acelerou a toda e eu resisti a tentação de me jogar atrás de Bella. Ainda sou uma péssima nadadora. Não muito depois a cara de Bella ressurgiu da água e ela me olhou com um sorriso no rosto.— SUA VADIA LOUCA, EU VOU TE MATAR!— berrei embora suspirasse de alívio. Ela está bem.

Falei cedo demais. Uma onda enorme veio e Bella afundou, o mar não parou de atacá-la nos próximos segundos e tão rápido quanto uma batida de coração, eu tomei uma decisão e mergulhei atrás da minha irmã, desesperada pois ela não ressurgiu novamente.

A queda livre me deu um arrepio na barriga de adrenalina sem igual, prendi a respiração no meio tempo e esperei o impacto.

REBECCA, NÃO! berrou a voz que eu bem conhecia e um vislumbre de segundo, eu o vi na minha frente, eu o vi e o atravessei. A água congelante não pegou leve, nem me deu tempo de recobrar a noção depois do fato. Cacei Bella, sentindo como se mil agulhas se enfiassem na minha pele, pela primeira vez na vida eu odiei o frio. Becca, o que você fez? perguntou a voz, em tom tão claro que por um segundo eu me esqueci que a água salgada invadia meus ouvidos, ele não podia me desconcentrar agora, não tinha o direito de roubar a minha atenção para si num momento como esse. Veio outra onda quando tentei nadar para cima em busca de ar.

Fui arremessada contra as pedras com força e soltei o pouco de ar que me restava em forma de bolhas quando tentei gritar.

Bella flutuou na minha frente dando uma cambalhota, um fio de sangue saía de sua cabeça, meus olhos ardiam, mas eu não poderia morrer ali, não quando minha irmã precisava de mim. A água salgada penetrou minhas narinas e entrou na minha boca sem minha permissão. Senti uma ardência horrível por todo meu peito.

Enquanto eu ainda tentava, forçando todos meus músculos para nadar na direção de minha gêmea inconsciente, outra onda nos pegou, e uma forte dor na parte de trás da minha cabeça me levou imediatamente a breve inconsciência.

Rebecca, não não não não, por favor, abri os meus olhos ardendo, e lá estava ele, desfocado na minha frente, os olhos negros cheios de desespero. Quase sorri, feliz de ver essa reação em sua face perfeita, mas então senti uma mão estranhamente quente agarrar meu pulso, e eu fui tirada da água.

Á beira da praia vomitei litros d'água e me senti horrivelmente tonta. Engatinhando, fugi da água que parecia estar querendo me puxar de volta para terminar o trabalho, alguém entrou na minha frente e eu olhei para cima me deparando com Sam Uley.

— Você está bem?— perguntou ele numa voz grave, sacudiu a cabeça para se livrar dos vestígios de água em seu cabelo. Quase o perguntei se era retardado pela audácia da pergunta. Pareço bem, caralho? Apesar de tudo, ele me salvou, assenti engolindo em seco minha ingratidão.

— ...vamos, Bella!— reconheci imediatamente a voz de Jacob pouco mais de dois metros á minha direita. Meu peito se apertou de um jeito incomum, me esfregando na cara uma dor muito maior do que qualquer outra, engatinhei até os dois, tentando conter meu sofrimento antecipado. Bella estava pálida e sua aparência de morta superava as de outros dias, ela não respira, Jacob massageava seu coração insistente.

— Bella... Bella, não...— pedi agarrando o rosto de minha irmã e puxando sua cabeça para meu colo, tirei as mechas molhadas da frente. Minha voz estava embargada e eu senti que desmancharia como castelo de areia no meio de um tornado.

— VAMOS, BELLA!— Jacob gritou, desesperado dando mais uma investida antes de o corpo de minha gêmea reagir e ela cuspir água. Seus olhos demoraram um tanto para se abrirem. Eu nunca tinha ficado tão dividida entre matá-la ou enchê-la de beijos. Jacob roubou ela dos meus braços a abraçando com força, mas não se demorou, suspeito que pelo meu olhar assassino ele tenha pensado melhor.

Eu, é claro, soquei minha irmã com força antes de abraçar ela com mais força ainda.

— Deus, eu te odeio.— suspirei aliviada por ela não estar morta e ela fracamente retribuiu o abraço.

— Está... me enforcando, Becca.— ela disse com dificuldade.

— Pois eu devia, sua desgraçada!— gritei com ela, mas logo me acalmei, o pensamento de que ela poderia estar morta superou a raiva.— Eu te amo demais.— chorei e enchi o topo da sua cabeça de beijos sentindo sal nos meus lábios.— Nunca mais faça isso comigo!

— Você cuida delas, eu vou para a casa dos Clearwater ver se posso fazer alguma coisa!— Sam disse para Jake, correndo para se afastar.

— O que têm os Clearwater?— perguntou a Bella engolindo em seco e claramente se arrependendo disso em seguida. Olhei para Jacob, ele estava muito sério.

— Harry Clearwater teve um infarto— ele avisou fazendo cara de pesar.

— Ele está bem?— perguntei agarrando Bella mais próxima, dessa vez em busca de calor, meus dentes batiam.

— Ele... ele morreu.

NOTA DA AUTORA:

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