Devasta-me

Comenta ou eu arranco teu rim hein!


— Jazz?— chamei entrando no bosque e desviando de uns galhos cheios de plantas mortas e molhadas. O dia estava chuvoso, especialmente chuvoso, me pareceu, mas estamos em Forks e então não deveria parecer tão mórbido.

— Rebecca.— sua voz me chamou por trás e eu me virei com um sorriso amarelo.

— Oi.— cumprimentei, andando em sua direção porque precisava mesmo de um abraço seu, no entanto, ele se desviou caminhando paralelamente á mim. Não escondi o quão indignada fiquei pelo seu gesto, mas me contive, ele está nervoso, eu só preciso falar as coisas certas— Você sumiu.— comecei, guardando as mãos nos bolsos envergonhada por ter sido ignorada.

— Sim, eu precisava me alimentar e pensar em algumas coisas.— ele falou, o tom de voz cansado.

— Bella disse que está tudo bem, ela não ficou magoada com você, Jazz.— falei, arriscando um passo na sua direção, mas ainda fugindo de mim, ele deu dois passos para trás.

— Estamos indo embora, Rebecca.— ele disse, me olhando sério. Não entendi o que ele queria dizer.

— Mas... pensei que seria daqui um ano.— falei, genuinamente confusa. Tínhamos discutido isso com Edward e Bella durante as férias de verão. Eu e minha gêmea queremos nos transformar. Bella o mais rápido possível, mas eu e Edward declaramos que só seria depois que nos formássemos. Quando fôssemos para a faculdade e estivéssemos com a desculpa perfeita para que nossos pais não reclamassem nossa ausência. "Estamos ocupadas demais com a faculdade" esse era o discurso, estava decidido esse acordo. Jasper até evitara falar muito, ele não queria me apressar e estávamos ansiosos pela minha transformação. Mas para quê adiantar?

— Temos que ir agora, afinal, para quê ficar mais tempo em Forks? Carlisle não poderia passar dos trinta anos e agora ele diz ter trinta e três, logo nós deveremos recomeçar, de qualquer maneira.

— Eu... não estou entendendo. Quando diz "nós"...

— Não incluímos você nem sua irmã.— ele me cortou, e eu ri sem humor.

— Tá, tá bem, eu não estou gostando dessa brincadeira, Jazz, pode parar.— balancei a cabeça. Não querendo acreditar no que ele disse.

— Minha família e eu.— Jasper disse, sóbrio.

— Eu vou com você, só precisamos falar com meu pai e... não sei, mas eu dou um jeito.— prometi, pensei em voz alta ignorando o que Jasper falava.

— Você está me ouvindo, Rebecca.

— Não, não estou!— rebati irritada— Tudo o que ouvi foram bobagens sem sentido.

— Meu mundo não é para você, Rebecca.— ele respondeu, o encarei furiosa, mas ele continha uma máscara neutra intacta no rosto. Eu nunca quis tanto socá-lo.

— Eu vou com você até o inferno, a gente já discutiu isso.— eu insisti, ele me observou impassível— A gente prometeu um pro outro! Você me prometeu!— a minha agonia transparecia em minha voz.

— Eu quase matei sua irmã...

— Não matou! Foi um incidente que não vai acontecer de novo, você nem a alcançou!

— Porque eu fui impedido, mas me diz uma coisa, Rebecca, o que acha que aconteceria se só estivéssemos nós lá? Acha que eu iria me recompor rápido? Só tiraria um pouco de sangue dela antes de me tocar o que estava fazendo? Hm? Não é assim que funciona! Não comigo!

— Você não machucou ninguém.— eu sussurrei, incomodada com o peso das suas palavras.

— Poderia ter matado vocês duas facilmente— continuou ele como se eu não tivesse falado— Eu sequer pensaria, eu não iria parar! Eu estaria tão cego por estar saciado que eu não pensaria em mais nada!

— Você não me machucaria.— eu defendi.

— Por que acha isso?! Por que eu te amo?— a raiva no seu tom me fez recuar e eu baixei a cabeça ofendida. Ele notou isso.— Eu cansei, Rebecca.

— Cansou... cansou de mim?— eu o olhei sentindo meus olhos arderem, ele seguia firme, não é como nossa discussão pós Phoenix, ele não está pensando, está decidido, ele está acabando comigo.— Não... mentira.

— Eu cansei de fingir que sou humano, Rebecca. Cansei de brincar de casinha com você, cansei de agir como se cada minuto do seu lado não fosse uma tortura, cansei de agir como se eu não quisesse me alimentar de você toda vez que seu coração bate forte ou quando você está perto demais.— ele falou rápido, como se tivesse tudo na ponta da língua.

— Para. Jasper, por favor. Para.— eu pedi, me sentindo indefesa, não queria ouvir aquilo. Baixei a cabeça, não suportava o jeito que ele me olhava, como se eu não passasse de um problema.— Eu... eu posso me transformar, se você quiser. Qualquer hora.— eu disse numa voz insegura.

— Esse é o problema, Rebecca, eu não quero você.

Minha garganta se fechou e as lágrimas que eu segurei até o momento, me escaparam sem filtro.

— Não fala isso, eu sei que está mentindo.— eu disse domada pela raiva olhei seus olhos dourados, furiosa— Não. Você não vai descartar tudo o que vivemos juntos. Não vai agir como se eu não fosse nada, como se não me amasse!

— Eu não te amo, Rebecca.

— Você me prometeu!— eu gritei ao mesmo tempo que ele falava e logo perdi a voz, foi como um soco no estômago, meu peito se apertou e eu senti meu coração de vidro rachar, será que ele ouviu isso também?— O que?— eu o encarei, desacreditada, dilacerada, fodida de raiva.

— Eu não te amo.

— Não seja ridículo.— rebati na mesma hora, não, eu não ouvi isso, ele não disse isso!

— Você não é para mim, Rebecca.— prosseguiu ele, fechei os olhos tentando me acalmar.

— Não fala isso, por favor, eu sei que só está fazendo isso para me proteger!

— Olha, mais um problema, eu sempre tenho que te proteger.— ele me interrompeu, a careta de desprezo fez minhas pernas tremerem. Eu cairia e vi nos seus olhos que ele sequer me socorreria.

— VOCÊ SABE QUE PODE MUDAR ISSO!

— EU NÃO QUERO, VOCÊ É SÓ PROBLEMA!— ele rebateu no mesmo tom. Eu chorava, fiquei fraca demais para encará-lo de pé, mas lutei para me manter firme, ainda que bamba— Acha que seria fácil, com você como vampira? Você? Tão descontrolada e impulsiva, mataria tanto que eu e minha família não teríamos sequer tempo de nos esconder.

— CALA A BOCA, CALA A PORRA DA BOCA!— eu gritei fora de mim, apenas comprovando sua teoria. Ele me encarou cético sabendo que eu tinha chegado a mesma conclusão, balancei a cabeça olhando o chão fixamente. Ri sem humor por um breve momento, ficamos em silêncio por um minuto, minhas mãos tremiam.— Eu sei que você está certo, mas, por favor, não me prive de você. Eu não vou aguentar. Isso não.

— É o melhor para todos. Você vai ter uma vida longe de perigo, longe de mim. Vai ser como se eu nunca tivesse existido.

— Acha mesmo que vai ser assim? Sonha tão alto.— eu resmunguei revoltada, mas com a cabeça baixa porque tudo isso está me fazendo passar mal.

—...

—...

— Adeus, Rebecca. Viva bem.— ele disse.

— Espera.— eu levantei a cabeça enfim, ele esperou. Fixei meus olhos nos seus e tirei meu anel e arranquei meu colar do pescoço jogando-os no amplo abismo entre nós— Não quero que se esqueça de nada.— falei, e naquele segundo, um único segundo, eu o odiei.

Céus, eu o odiei com todo meu corpo, minha alma, com todas minhas forças. Mas foi apenas por um segundo, um mísero e insignificante segundo.

— Mentiroso.— eu disse entredentes antes de lhe dar as costas e ir para a casa a pé.

Cheguei em casa subindo direto para meu quarto, meus pés doíam e minhas pernas formigavam por conta da caminhada, mas sequer chegavam á ser tão incômodos quanto o buraco negro no meu peito. Minha mente estava um inferno, eu não parava de passar e repassar o que Jasper me dissera.

Ele não me ama? Desde quando ele não me ama?

Era um loop infinito que me torturava junto com imagens nossas, trocas de olhares, seu sorriso malicioso, seus beijos, seus olhares bobos, nossas mãos entrelaçadas, o desespero em seu olhar quando ele me vira no chão daquele estúdio de balé. Tudo foi mentira? Não.

Ele me prometeu. Ele disse que me amava. Ele me queria. Ele me amava. Ele me ama.

Deus, meu peito tá doendo tanto. Entrei no meu quarto batendo a porta com força, minha respiração acelerada e meu coração martelando tanto que chegava a doer.

Ele me prometeu, ele me amava, ele me ama.

Sozinha em meu quarto e me dando conta do chute que acabei de levar, eu comecei a chorar sem conseguir me controlar. Como ele não me ama? Onde foi que eu errei? Por que ele está me deixando?

Ele estava mentindo com aquelas palavras, eu sei, não imaginei tudo o que vivemos, todos os momentos que ele me levou ao paraíso, todas as risadas, todas as provocações. Todas suas declarações, todas suas promessas. Não tem como fingir amor. Não, pra quê ele faria isso?

Eu me senti destruída, destroçada de dentro para fora, eu nunca tinha enfrentado dor assim. Eu confiei nele, eu dei minha alma, meu coração. Eu o amei como nunca amei ninguém. Não foi tudo da minha cabeça. Não foi um sonho, não foi a porra de uma mentira!

Jasper não faria isso comigo, pensei, ele disse que me amava e que nunca partiria meu coração. Não disse?

E no entanto, foi isso que ele fez.

Eu disse que ele me destruiria, eu sabia que isso aconteceria. Por que eu não me escutei? Por que eu não me preveni? Por que eu não me afastei? Por que... por que... Eu estava sufocando, eu precisava explodir. Cambaleante, caí em minha cama e enfiei a cabeça no travesseiro gritando de raiva, o mais puro ódio. De mim mesma, de Jasper. Do meu coração que ele tinha roubado e acabou de esmagar em um aperto doloroso.

Soquei meu travesseiro com força, várias vezes como se fosse a cara de Jasper ou até mesmo o meu próprio eu. Depois de um tempo, lutei para erguer a cabeça e olhei ao redor no meu quarto sentindo um aperto enorme em minha garganta, as camisas dele não estavam mais ali, nem nenhum desses mimos, suas flores de plástico não estavam mais no vaso encima da cômoda, seus livros não estavam perto do meu computador. Jasper queria sair da minha vida e levou cada parte de si consigo, privando-me até de descontar o ódio que sinto em suas roupas.

Vai ser como se eu nunca tivesse existido.

Rá. Que ironia. Pode tirar tudo de mim, menos as minhas lembranças. Meu álbum estava aberto na minha mesa de cabeceira, aí eu me sentei e me aproximei ainda cega de lágrimas. Tinha um pedaço de foto rasgada, onde apenas eu aparecia, era do dia do meu aniversário, a foto surpresa que Bella tirara de nós na escada. Eu tinha a cara neutra e meus olhos brilharam contra o flash, no meio das minhas costas estava o braço de Jasper, segurando-me.

Eu me lembro com clareza da sua risadinha depois que eu cocei os olhos, irritada pela cegueira temporária. Estávamos tão bem três dias atrás. Ele pode tirar tudo de mim, levar as fotos que quiser, as suas roupas. Mas não pode me tirar minhas lembranças, justo o que está me machucando mais.

O som da risada dele. A cara furiosa ao me defender de James na clareira, a pose protetora. Aquilo foi real, tenho certeza de que fora completamente genuíno. Se ele não me amasse, pra que então me protegeria, pra que gastaria tempo comigo?

Mas aí vinham seus olhos frios, a máscara rude de desprezo pela minha humanidade. As coisas que ele me disse hoje. Não foi real, foi? Era mentira, ele só queria me afastar para me proteger, eu sei. Não quero ver outra realidade. Não sei se consigo.

Rasguei a foto em pedacinhos minúsculos, querendo tacar fogo em tudo que me lembrasse dele. Vendo o que me restou dele picotado no chão, eu cobri o rosto e voltei a chorar. Ele prometeu que não faria isso comigo.

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