Deixe-nos
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O mistério ao redor desse garoto me irrita, me frita os nervos, odeio mistério, sempre odiei mas coisas surreais estão acontecendo e eu não sei como reagir, me assusta pensar que ele é mais que humano. Olhei ao redor do meu quarto, pensativa. Ele me subestima muito se acha que eu vou deixar qualquer coisa disso pra depois. É interessante demais para eu simplesmente ignorar, qualquer uma na minha situação pensaria o mesmo, imagino. Ele ia dificultar as coisas, eu podia prever mas ainda não tem como me parar.
Eu estava tão perdida em pensamentos que quase me assustei com o ronco da minha barriga, o doutor Cullen me dissera pra me alimentar e descansar assim que chegasse em casa, mas logo que cheguei apenas me forcei a tomar os remédios para a dor de cabeça, me joguei na cama e dormi esperando fazer efeito. Me sentei esperando uma pontada na cabeça ou uma ânsia como a de mais cedo mas nada veio então desci as escadas devagar, Bella preparava a janta e papai ainda não chegara, me apoiei na parede e olhei minha irmã concentrada. Quis tanto lhe contar tudo, sobre o acidente e sobre Jasper, mas tive medo que fosse como o loiro me disse e ela me achar louca. Eu não contaria nada, me lembrei, a ninguém. Não foi uma promessa ao garoto, mas afinal o que falaria?
Bella me cumprimentou com um sorriso amarelo. Eu estava tão aliviada por ela estar bem que tive de abraçá-la. Beijei sua testa e lhe perguntei como foi seu dia.
— Nada interessante— disse, distante.— Bom, fora quase ver você morrer, tudo bem— ela deu as costas para o fogão— Por que não se jogou comigo?— ela me julgava com o olhar, talvez com uma raiva preocupada.
— Não consegui, o importante é que você está bem, eu consegui te empurrar e isso basta.— respondi, ficamos quietas por um tempo.
— Deve estar grata por Jasper Hale ter te salvado a tempo.— ela disse, fiquei alerta com seu tom curioso e sugestivo.— Achei que tinha visto ele do outro lado do estacionamento, ao lado do Edward Cullen e o resto da família, mas devo ter me confundido.— concluiu, pensativa. Eu não queria discutir algo com ela sem saber a fundo e, apesar de tudo, é um segredo que não me pertence.
— Pois é, devo muito a ele.— desviei e soltei uma risada sem humor— Se é que me entende, eu não quero morrer nem tão cedo. Ele me livrou de uma daquelas.
Bella sorriu minimamente e voltou para seu macarrão. Batuquei os dedos na mesa e ofereci ajuda, me perguntei, faminta, se valia mais a pena pedir uma pizza. Bella recusou, sabendo o desastre que eu sou com a culinária, então subi para fazer dever a falando pra me avisar quando a mesa estiver pronta.
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O dia seguinte na escola foi um porre em vários momentos. As pessoas perguntavam direto como eu estava, invadindo meu espaço constantemente pra me consolar sabe se lá por que, por um segundo quis estrangular todos a minha volta, mas então respirei fundo e me acalmei. Eu estava em Forks, suas vidas não tinham tanta ação tão constantemente, eu seria o foco de sua curiosidade. Me cercavam perguntando a história, como me senti, se vi a vida passar como um filme diante dos meus olhos. Me irritava cada vez mais, no entanto respondia com a maior leveza possível, dizia que era sorte e que não, a minha vida não passou diante dos meus olhos, até que fiquei grata porque se não seria um filminho bem chato. Os Cullen e os Hale ficavam de olho, pude sentir, mas estou orgulhosa pois não vacilei momento algum.
Chegando na aula de biologia Tyler veio me abraçar como se eu fosse uma puta sobrevivente, retribui minimamente sem resistis à vontade de revirar os olhos. Eu nem cheguei tão perto de morrer, tanto melodrama. Quem se feriu mesmo foi ele, minha nossa, quantos pontos tinha em sua testa?
— Me desculpa por tudo, Rebecca! Eu perdi o controle...— levantei a mão para interromper, entediada, meu senhor, pra que tanta culpa? Eu não perdi nenhum pedaço.
— Se economiza, Crowley, você que se feriu mais e para de pedir desculpas, está me irritando. Não sofri nada.— bufei indo para minha mesa esperando a minha irritante parceira, Lauren. A loira estava tão feliz quanto eu ao me ver e virou a cara, talvez para revirar os olhos como eu, tínhamos mil e uma pessoas que prefiriamos estar junto agora. Não nos falamos mais que o necessário.
A aula se seguiu lenta e dolorosamente, talvez porque eu soubesse que na próxima eu veria Jasper Hale. Seu casaco ainda está na minha mochila e ele não fez a mínima questão de me ver, analisei a situação ciente de que nada está a meu favor. Meu pé tremia debaixo da cadeira e as vezes sentia o olhar da loira ao meu lado me repreender, como eu não ligava nem um pouco para o que ela fizesse ou pensasse de mim, não parei nem um segundo, pensei em sua cara sob meus pés e isso me fez sorrir me distraindo da aula por uns minutos.
[...]
Quando o sinal bateu, eu guardei minhas coisas rapidamente e fui uma das primeiras pessoas a se levantar.
— Está com pressa, Swan?— Lauren perguntou e eu simplesmente a ignorei mesmo ela tendo falado alto o suficiente para que boa parte da turma tenha ouvido.
Fui para a sala de história me sentar na ultima carteira, conversei com uns colegas tentando me acalmar enquanto balançava minha caneta na mão freneticamente. Talvez eu tenha ansiedade, é, talvez seja algo assim. A professora estava atrasada, Jasper estava atrasado. A consciência disso me dava nos nervos. Numa das giradas da caneta, acho que meus dedos travaram e sem querer arremessei a caneta a uma distância considerável, xinguei e procurei a caneta pelo chão no meio da sala me sentindo uma idiota, a vi perto da segunda carteira da minha fileira e me ajoelhei para pegá-la. Alguém fez o mesmo que eu em sincronia e nossos dedos se esbarraram, recolhi os dedos de frio, olhei para frente e vi Jasper agachado na minha frente, ele pegou a caneta a estendendo para mim tomando cuidado para nossas mãos não se esbarrarem novamente.
Olhei seus olhos, continuavam dourados mas num tom menos intenso. Seus cachos estavam molhados, prova de que correu na neve do lado de fora. Para mim não podia estar mais encantador.
— Pra quem não quer saber de mim, até que a gente se esbarra bastante.— comentei e nós nos erguemos, fiquei intimidada com sua altura pela primeira vez.
— Não se preocupe, vou fazer com que não se repita— revirei os olhos, ele ainda fala rudemente.
— Não precisa se afastar, sabe— o olhei, procurei na sua cara linda e com leves olheiras por qualquer reação que não fosse arisca.
— É melhor pra todo mundo.— falou, estalei a língua.
— Covarde.— soprei uma risada fraca e sem o menor senso de humor, ele levantou a sobrancelha para mim.
— Se soubesse a história toda, a senhorita me entenderia, é o mais seguro.— disse em um tom baixo, não queria ninguém nos ouvindo.
— Acho que sou grande o suficiente para decidir por mim mesma o que é seguro ou não.
— Pode ser grande, mas não é inteligente o suficiente.— ele cutucou minha têmpora e eu inflei as narinas. O fuzilei com o olhar, odeio muitas coisas e no top dez está ser chamada de burra. Lhe dei as costas e abri minha bolsa depressa puxando de lá sua blusa cinza enquanto ele me observa. A joguei na sua cara, ele sorriu de canto passando a língua na bochecha e baixou a cabeça ajeitando a roupa.
— Vá a merda.— disse e me sentei no fundo carrancuda, mas para meu maior estresse ele não mudou de lugar se sentando na minha frente como um ato de pura audácia. Bati a caneta na mesa ao mesmo tempo que tremia minha perna debaixo da mesma. Hale sentou de lado na sua cadeira e virou a cara para mim.
— Dá pra parar?
— Nossa, o que eu faço te irrita?— fiz bico— Que pena, adoraria saber como se sente frustrado com isso.— bati a caneta com mais força.
— Rebecca.— ele chamou, os olhos irritados, sorri internamente, gostei do jeito que fala meu nome. Quero ignorá-lo, mas é impossível desviar o olhar, nos encaramos pelo que me pareceram ser horas. A irritação deixou ambos e, hesitante, minha perna foi parando até ficar imóvel, eu gosto da vista, seus olhos e cílios loiros, seu maxilar, lábios, nariz, já falei dos cachos? Parei de balançar a caneta.
— O que têm de tão diferente em você?— perguntei. Jasper baixou o olhar para minha mão e sorriu de canto.
— Nada, senhorita. Nada mesmo.— ele me lançou um olhar enigmático e se virou para frente quando a professora deu sinal de que estava viva.
Irritada, comprimi os lábios e cerrei os punhos para conter a vontade de lhe puxar o ombro. Sacudi a cabeça sabendo que de nada adiantaria puxar conversa com ele.
Jasper Hale está na minha frente, mas não podia estar mais distante. A aula acabou e eu não pude fazer nada além de o acompanhar com o olhar.
No intervalo, fui me sentar separada, sendo uma das primeiras a chegar no refeitório, sozinha enquanto esperava pelos meus amigos, pensei em olhar o loiro em sua mesa, mas estava irritada demais para tal.
Como meus amigos demoraram para chegar fui a fila da cantina e peguei batata frita, salada e uma pepsi. Comi sozinha tremendo a perna, olhava ao redor a procura da minha irmã, mas aí ela entrou com o Cullen no encalço e minha raiva atingiu seu pico. Eles estão em todo o lugar? Os encarei sem ser notada, conversavam baixo enquanto Bella pegava comida, interessados demais um no outro. Eu não o quero perto dela. Não sei o que Jasper é e duvido que sua família não compartilhe do mesmo segredo. Mastiguei minha salada afundada na minha observação ignorando meus colegas que vinham se sentando comigo. Tomei a pepsi e devorei as batatas.
Emburrada e decidida a acabar com essa palhaçada, me levantei e fui na direção do casal em pisadas firmes, senti meus cabelos batendo em meus ombros como uma capa esvoaçante.
— Ei, você, garoto Cullen!— chamei cortando o clima dos dois e parando a pouco mais de um metro de distância— Eu vou te falar uma coisa e espero ser suficientemente clara. Sai de perto da minha irmã.— sibilei entre dentes.
Eu não sei o que eles são então não quero que Isabella se exponha a riscos.
— Rebecca.— Bella me censura, entrando na frente do Cullen como se fosse capaz de defendê-lo de minhas ofensas— O que você pensa que está fazendo?
Inclinei-me para o lado mantendo o olhar em Edward Cullen.
— Você não me ouviu, gatinho? O que está fazendo parado aí?
— Para com isso, Rebecca!— Bella dá um puxão em meu braço para atrair meu olhar.
— Você não deve ficar perto desse garoto, a gente não sabe o que ele é.— lhe disse o mais baixo possível.
— Acho que a Bella é grande o suficiente pra decidir se me quer longe ou não.— o Cullen finamente fala, tomando o holofote para si. Cerrei os dentes ao ponto que Bella se voltou para ele transpirando esperança— Porém..— continuou ele— a senhorita tem razão, é melhor mantermos distância... o vilão nunca fica com a mocinha.— ele olhou para Bella e senti que era uma referência da conversa que eu perdera. O garoto se afastou me dando um sorriso de canto e saiu.
— Mas o que é que tem de errado com você?!— Bella me perguntou de forma ríspida e eu me admirei com sua audácia.
— Livrando seu rabo?— usei da retórica. Bella ficou vermelha e inflou as narinas, se afastando de mim na direção oposta a que Edward Cullen fora.
Nem Jasper nem Edward deram as caras na escola pelo resto da semana, me deixando carrancuda e a Bella irritada comigo por ter afastado sua paixonite, ela não falou comigo dois dias inteiros. Não me preocupei já que uma hora ela me perdoaria, Bella sempre fora muito maleável.
Eu posso estar irritada com Jasper, mas minha investigação ainda nem começou. Nota-se que em nenhum momento digo que estou sendo mais prudente que minha sósia.
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