De volta para casa
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REBECCA SWAN
Olhei minha irmã aproveitar o sol enquanto se despedia de Phoenix mergulhada no seu melodrama perto das janelas do aeroporto. Só passaríamos um tempo com papai, não era motivo pra tanta depressão já que a ideia de irmos a Forks foi dela, para início de conversa. Ah, a insignificante e constantemente sob chuva Forks, meu novo lar. Pela segunda vez.
— Cuida da sua irmã mais nova pra mim, Becca?— disse minha mãe, os olhos azuis pidões, eu sorri.
— Ela é só dez minutos mais nova, mãe! E a única que precisa de uma babá aqui é você.— a lembrei. Ela me abraçou querendo chorar.— Vamos ficar bem, prometo.— tentei a tranquilizar.
— Eu sei, eu sei, mas vou sentir tanta falta de vocês!
A despedida seguiu nessa linha de tristeza/felicidade, embora eu tenha sido a única que expressou a última.
Bella ficou quieta durante o voo inteiro, não insisti em manter papo e coloquei os fones.
Nunca nos demos especialmente bem apesar de não sermos rivais nem nada do tipo, somos apenas... diferentes uma da outra, e nem a fala "os opostos se atraem" se encaixa. Ela é muito distante de mim, parece não se importar com nada a não ser nossa mãe. Desde pequenas tivemos essa falta de afeto, mas ela ainda é minha irmã, eu me lembro constantemente. Apesar de gêmeas idênticas, eu podia agradecer por roubar os olhos azuis da minha mãe e uma parte de sua personalidade alegre.
Bella ficou com os olhos do nosso pai, castanho-escuros. Além das diferenças de personalidade, eu tentava trazer isso para o exterior também, pintando o cabelo de preto, usando mais acessórios, mais anéis e colares. Sempre um teve um abismo entre nós, mas eu tento e acho que ela também. Eu a amo, dividimos o útero, as vezes até a cama. Mas ela é tão.. não sei como descrever sem me complicar.
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Pegamos um táxi até a casa de Charlie que agora é nossa casa também. Pagamos a corrida e descemos para pegar nossas malas, eu sorria sem parar.
Como nenhuma de nós tinha muitas roupas de frio tínhamos apenas cinco malas no total. Três minhas, duas dela. Chamei pelo xerife, animada, ele apareceu de uniforme sorridente, corri e o abracei primeiro com força.
— Rebecca! Seu pai está velho garota, vai com calma!— eu ri o deixando respirar.
— Não o vejo tem dois anos, tenho direto de sentir saudade!
— Pintou o cabelo— ele reparou, apenas concordei e avisei que subiria quando ele foi cumprimentar Bella. Peguei minhas coisas com um pouco de dificuldade e fui para meu quarto, escadas a cima. Graças a Deus, tinha três quartos e assim não teria que dividir com Bella, como em Phoenix. O saco era apenas um banheiro, odiava misturar minhas coisas.
O resto do dia passou com calma, cada um em seu canto, meu pai nunca foi de se meter muito nas organizações então pude trabalhar em paz. Meu quarto era como me lembrava, a cama nem mudara da última vez. As paredes continham uns rabiscos da minha versão mais nova e eu sorri ao passar os dedos nos desenhos de palito, desenhar nunca foi meu forte para minha infelicidade.
Amanhã iríamos para a escola e embora eu conhecesse a todos desde pequena, não me senti tão animada, afinal, era a escola... ainda.
Depois de umas horas da arrumação desci faminta, Bella tinha cozinhado. Me servi uma porção grande e me sentei à mesa. Meu pai olhava hesitante para o prato, talvez a fama da mamãe e sua criatividade peculiar com comida tenha deixado uma marca, sorri e comi confiante, minha gêmea é uma ótima cozinheira, já que ela sempre foi mais de ficar em casa enquanto eu trabalhava em estágios e me ocupava com outras baboseiras. Papai seguiu meu exemplo e gostou, chegando a repetir o prato. Eu e ele fomos pra sala assistir tv, assistir um jogo qual não consegui acompanhar e não me atrevi a perguntar a cada cinco segundos o que tinha acontecido pro meu pai completamente concentrado na tela. Bella subiu, não ouvi muito bem se ela explicou qualquer coisa.
Charlie pediu uma pizza para nós, subi para chamar Bella, mas ela já tinha trancado a porta então desci e devorei a pizza só com meu pai.
— O que eu perdi?— perguntei durante o comercial.
— Em relação a quê?— ele perguntou, confuso.
— Aqui em Forks, pai, no geral.
— Não muito, sabe como é, é Forks.— ele disse casualmente, sorri.— E como foi em Phoenix?
— Quente.— fiz careta, nunca gostei muito do calor, o suor, mosquitos e tudo mais. Meu pai riu. Não deu continuação a conversa e como estava ficando tarde, decidi ir dormir, lhe dei boa noite depois de lavar a louça e subi as escadas me alongando, o avião me deixou quebrada.
Me deitei na cama de barriga pra baixo, como não sentia muito frio não me cobri, dormi em pouco tempo. Lar doce lar.
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Na manhã seguinte, como Bella ocupava o banheiro eu desci para tomar o café primeiro, Charlie me recebeu me entregando uma xícara de café, agradeci um pouco surpresa por ele lembrar que sempre tomo café antes de começar o dia. Fui para perto da janela e fiquei de pé, chovia fraco então pude notar um monstro alaranjado na frente da vaga da garagem. Observei a picape, confusa.
— Por que aquilo está aqui?— perguntei, meu pai desviou os olhos do seu jornal por um breve instante para conferir o que eu falava.
— Quando você e Bella estiverem prontas para a escola, eu explico— disse e voltou a ler. Estranhei, mas não continuei a questionar já que Bella apareceu pronta em seguida, subi as escadas apressada. Cuidei da higiene e me arrumei, coloquei uma blusa de manga cumprida branca, uma jaqueta marrom por cima e duas leggings pretas, vesti minhas botas de "exército" e coloquei uma touca preta, deixei o cabelo solto e me encarei no espelho, me senti bonita e sorri. Às vezes só não queria ser tão pálida, parecendo a merda de uma folha de papel, mas fora isso todo o resto me deixava satisfeita. Desci para ver o mistério sobre a caminhonete, Bella e papai estavam do lado de fora me esperando, me juntei à eles, intrigada.
— E então?— comecei. Charlie tirou do seu bolso uma chave e a jogou na nossa direção, Bella se encolheu e meu braço se estendeu agarrando a chave num reflexo.
— É de vocês. Vão dividir por um tempo, até eu poder juntar dinheiro para outra— ele coçou a cabeça esperando nossa reação.
— Eu amei, não ter que andar até a escola me tranquiliza muito— brinquei, mas estava realmente satisfeita— Eu dirijo— avisei entrando depois de jogar minha bolsa na parte de trás da picape. Bella deu mais uma olhada na lata velha. Parecia ter gostado.
— Eu adorei, obrigada, pai.
Nos despedimos e fomos para o colégio, Bella admirava a máquina, ri enquanto ela acariciava a porta do veículo.
— Parece ter gostado mesmo— comentei, ela me olhou.
— É barulhenta, acabada e velha, mas prefiro mil vezes isso a andar no carro de polícia do Charlie.— ela disse. Não continuei o papo e ela também não insistiu.
Eu conhecia Forks muito bem, então não demorei para achar a escola, chegamos adiantadas, na verdade. Ótimo, assim podemos cuidar das nossas inscrições com calma.
Tivemos uma recepção curiosa ao avisarmos quem éramos. Éramos as filhas do xerife de uma cidade sem muita agitação, é claro que todos saberiam que chegaríamos.
Eu e Bella compartilhávamos muitas aulas, menos a Biologia avançada, ela é mais das ciências do que eu. Tentou me ensinar repetidas vezes, mas o meu desinteresse e teimosia resistiam em me fazer detestar a matéria.
Apresentei a Bella a escola e fomos para a aula de inglês onde me esbarrei com Jéssica Stanley na porta. Ela arregalou os olhos ao me ver. É uma garota cheinha e de cabelos lisos que tem uma cara de sonsa que chega a dar raiva, mas quem sou eu para julgar, não é mesmo?
— Rebecca!— ela me abraçou e eu retribuí, não sentira tanto sua falta, pra ser bem franca, mas até que gostei de vê-la.
— Jéssica, como você está linda!
Assim que o abraço desmanchou, apresentei Bella. Elas foram simpáticas uma com a outra, mas não se abriram rapidamente. O professor chamou nossa atenção nos mandando sentar, Bella ficou vermelha e tive que tomar a frente, nos apresentando. O professor ficou um pouco surpreso, eu o conhecia, ele disse, mas seu rosto não me era familiar. Quando eu digo que conheço todo mundo, digo os adolescentes, personagens relevantes e não forças superiores a quem eu sou obrigada pelo senso comum a demonstrar respeito e dar autoridade.
Isabella e eu nos sentamos uma do lado da outra, muitos nos encaravam, eu também não gostava dessa atenção toda mas conseguia ignorar mais fácil que ela. A curiosidade dos outros é inofensiva.
O dia passou corrido até a hora do almoço, muitos reencontros para mim e muitas apresentações da minha irmã que mal abria a boca. Eu vi Eric, Mike e Ângela. Meus prediletos e de longe os mais civilizados. Mike não tirava os olhos da minha irmã, tive de me segurar para não rir da desgraça alheia pelo óbvio desinteresse da parte dela. Muita gente a encarava ou a cumprimentava achando que era eu, foi até que divertido vê-la corar tantas vezes em questão de poucos minutos.
Peguei um pedaço de pizza e um suco de laranja e fomos nos sentar numa mesa que durante um momento parecia lotada. Tyler Crowley chegou para me cumprimentar animado, ele foi minha paixonite quando eu era criança, mas agora, vendo-o depois de um tempo, consigo conversar com ele apenas como um conhecido.
— Está bonita, Rebecca.— ele elogiou e eu sorri de canto.
— Obrigada, Tyler. Você também não cresceu nada mal.
Dado o cumprimento por acabado, me voltei para Bella, Jess apontava para as pessoas e dizia quem era cada um. Bella ouvia obediente, interagindo vez ou outra, e uma hora ela olhou por cima do ombro, ficou focada por uns segundos, pareceu ter perdido o fôlego.
— Quem são eles?— minha irmã perguntou suspirando para Jess, olhei para os alvos de sua dúvida convencida que teria a resposta. Mas não, nunca os havia visto na vida e com certeza eu não teria esquecido aqueles rostos. Pareciam anjos, agora entendi por que minha irmã perdera o ar. Fiz o mesmo, quase que involuntariamente.
— Chegaram aqui têm dois anos, pouco depois de você ir embora, Rebecca.— Jess disse e minha pergunta não dita foi respondida também, acabei de voltar pra Forks com Bella, faz sentido não os reconhecer— São os Cullen.
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