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Alice pareceu entrar em estado de choque repentinamente quando eu voltei para a sala após tirar um cochilo. Jasper voou para o lado da vidente e lhe entregou o que me pareceu um bloco de desenhos e um lápis.

— Alguma coisa mudou.— ela disse, a voz cheia de urgência. Os olhos vidrados.

— O que você vê?— perguntou Jasper vindo para meu lado com uma careta preocupada. Bella que estava conversando com Alice até o momento, se aproximou mais para ouvir melhor os sussurros da amiga.

— Vejo um quarto, é comprido e há espelhos por toda parte, o chão é de madeira. Ele está na sala e está esperando...— eu e minha gêmea nos entreolhamos deduzindo que "ele" devia ser James.— Há uma tira dourada ao longo dos espelhos.

— Onde fica a sala, Alice?— Jazz perguntou e abraçou minha cintura me puxando para perto.

— Não sei, falta alguma coisa. Uma decisão á ser tomada.— A garota piscou e começou a desenhar freneticamente forçando o pobre lápis que Jasper havia deixado em sua mão.

— Quanto tempo?— o loiro continuou a questionar.

— Logo. Ele ficará na sala de espelhos hoje ou amanhã, depende. Ele está esperando por algo.— ela disse ainda rabiscando, as formas que seu desenho tomava formas que me pareciam familiares, mas eu não comentei nada, não antes de me lembrar o que era aquele lugar.— Está escuro. Ele está assistindo alguma coisa...

— Consegue ver onde ele está?

— Não. Nenhuma dica.

— E a sala de espelhos, o que há mais nela?

— Só os espelhos e a fita dourada. Há uma mesa preta com um grande som e uma TV.

— Não há mais nada?

Alice balançou a cabeça em negação e os dois vampiros ficaram parados como estátuas, se olhando.

— O que isso significa?— Bella perguntou interrompendo o silêncio que tinha se instalado. Nenhum dos dois respondeu até Jazz suspirar e se virar para nós.

— Os planos do rastreador mudaram, ele tomou uma decisão que o levará a sala de espelhos e á sala escura.

— E nós não sabemos onde fica essa sala.— resmunguei.

— Não.— Alice respondeu se levantando, deixando o desenho exposto na mesa de centro. Mas todos demos as costas á ele conforme ela andava em direção ao quarto.— Sabemos que ele não está mais em Washignton sendo caçado. Ele os enganou.— e ela foi para o quarto com Bella no seu encalço. Me sentei e Jasper me imitou, ele segurou minhas mãos e encarava o chão sem ver nada em especifico.

— Alice só pode ver algo quando decisões já foram tomadas. Como James poderia saber disso?— indaguei mais falando sozinha do que realmente perguntando á Jasper.— Ele sabe os pontos cegos.— murmurei um tanto assustada e eu e o loiro nos encaramos.

— Acalme-se, querida, isso não quer dizer que ele é imbatível. Nada vai acontecer com você ou com Bella. Eu prometo.

— Mas...— deixei minha voz morrer para não tecer nenhum comentário negativo. Ele sabe as suas vantagens, o que também nos mostra que não somos imbatíveis tampouco.

Jazz pareceu ler meus pensamentos e então puxou-me de volta para seu colo num abraço. Deixei meus olhos vagarem pelo cômodo até Bella chegar com Alice novamente.

— Charlie está seguro.— Bella se dirigiu á mim e eu assenti.

— Edward está vindo.— Alice acrescentou e desenhou mais uns traços no seu bloco, frustrada. Bella se aproximou, curiosa e observou por cima do ombro de Alice.— Agora nos resta esperar...

— Ah, isso é um estúdio de balé.— Bella comentou atraindo o olhar de todos, me levantei e encarei o desenho de Alice com mais clareza.

— Por isso era tão familiar.— admiti, pedindo para pegar o desenho, Alice permitiu me arrancando a folha e me entregando.

— Conhecem esta sala?— Jazz perguntou calmamente, o olhar fixo nos nossos rostos.

— Parece um lugar que fazíamos aulas de dança, tínhamos uns 8 ou 9 anos.— Bella falou e eu concordei balançando a cabeça e virei o desenho na direção deles para que eles pudessem ver onde eu apontava.

— Tem o mesmo formato, o banheiros ficavam aqui— apontei na folha— e essas portas davam para outra sala de dança. Só que o aparelho de som ficava...

— Aqui.— Bella completou por mim quando eu me perdi nas minhas lembranças.— Era mais velho e não tinha TV. Havia uma janela, se veria nessa perspectiva caso se olhasse por ela.

Jasper e Alice trocaram olhares rapidamente antes de voltarem a nos encarar.

— Tem certeza que é a mesma sala?— Jazz perguntou.

— Parece que sim, mas imagino que a maioria dos estúdios de dança sejam parecidos... os espelhos, a barra.— indiquei, exatamente como eu me lembrava. Deslizei o indicador no desenho até onde ficava a porta, no exato mesmo lugar. Aquilo me deixou desconfiada.

— Vocês teriam motivo para ir lá agora?— Alice perguntou tirando eu e Bella de nossos devaneios.

— Não, não vamos lá há anos. Eu era uma péssima dançarina e Rebecca não achava justo que eu ficasse sempre atrás durante os recitais, então saímos.

— Não há como relacionar este lugar á vocês?— perguntou Alice, parecendo que nossa resposta realmente importava. Dei de ombros e deixei que minha gêmea falasse enquanto eu colocava o desenho encima da mesa de centro e ia para o lado do meu namorado.

— Não, creio que nem seja o mesmo dono, deve ser outro estúdio, em algum lugar.— Bella fez pouco caso como eu.

— Onde ficava o estúdio que vocês frequentavam?— Jazz perguntou olhando para mim, as mãos cruzadas atrás do corpo, sua atitude despreocupada me deixava com uma pulga atrás da orelha, simplesmente não parecia natural.

— Na esquina da casa da minha mãe, íamos a pé depois da escola.— comentei num suspiro.

— Aqui em Phoenix?— Alice prosseguiu o interrogatório, eu e minha gêmea assentimos.

— Rua cinquenta e oito com Cactus.— Bella disse com a voz monótona. Ficamos em silêncio brevemente, encarando o desenho.— Alice, este telefone é seguro?

— Sim, o numero é identificado como de Washington.— garantiu a pequena fada.

— Então posso usar para ligar para minha mãe.— Bella disse e eu encarei Alice esperando ela entregar o telefone.

— Pensei que ela estivesse na Flórida.— comentou Jasper.

— E está. Mas logo ela volta o que não seria o melhor já que...— Bella deixou sua voz tremula morrer. Mamãe não pode voltar enquanto estivermos sendo caçadas. Não após Esme falar que aquela ruiva louca esteve na nossa casa em Forks e na escola, procurando por algo.

— Jasper?— Alice chamou, pedindo opinião do loiro que eu encarei com expectativa.

— Não acho que haja nenhum problema... certifiquem-se de não dizer onde estão, é claro.— acrescentou ele e eu lhe dei um beijo na bochecha enquanto Bella discava se levantando. Ela colocou o telefone na orelha e aguardou o que me pareceram horas.

— Mãe, aqui é a Bella. Rebecca está comigo. Olhe, é importante, assim que receber esse recado preciso que ligue nesse numero.— pelo seu jeito de dizer deduzi que tenha caído na caixa postal e meu ânimo foi sugado. Bella leu o numero que Alice anotava no verso do desenho do estúdio de balé.— Por favor, não vá a lugar nenhum antes de falar comigo. Não se preocupe, eu e Becca estamos bem, mas temos que falar com você imediatamente. Ligue a qualquer hora. Nós te amamos. Tchau.— Bella desligou o telefone e nós nos encaramos desanimadas. O resto do dia pareceu se arrastar conforme esperávamos a ligação de retorno, mas nada veio, comemos e ficamos andando em círculos, olhando pela cortina e tentando assistir TV, nada segurava nossa atenção. Jasper e Alice estavam um poço de paciência e como eu odiava quando ele controlava minhas emoções, Jasper deixou eu e minha agonia discutirmos em paz. Alice retocava seu desenho da sala escura como podia de acordo com a pouca luz que havia em seu favor, mas continuava frustrada por não poder ver nada mais.

Eu e Bella dormimos nos sofás em algum momento, o tédio do isolamento só me mostra como cada vez menos eu quero ficar nas sombras.

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Acordei junto com Bella no que me pareceu ser cedo demais e notei que estávamos juntas na cama de novo. Suspirei de cansaço e nos levantamos indo de mansinho para a sala depois de escovar os dentes. Alice estava sentada em frente a Jasper e desenhava de novo. Jasper olhou na minha direção e voou para o meu lado imediatamente me pegando no colo, nos levando para a poltrona que aparentemente era apenas território nosso.

— Ela viu mais alguma coisa?— Bella perguntou para Jasper em voz baixa se sentando perto de nós.

— Sim, alguma coisa á levou a sala com o vídeo de novo, mas agora tem luz.— disse ele e eu me inclinei do seu colo na direção de Alice para observar seus rabiscos sentindo meu sangue congelar em minhas veias.

— O telefone fica aqui.— Bella apontou e nós nos olhamos, reflexo uma da outra, assustadas.

— Esta é a casa da nossa mãe.— eu justifiquei me afundando no colo de Jasper novamente, me sentindo tonta, Alice disparou para seu telefone, falava velozmente no pequeno aparelho. Mesmo sem minha permissão, Jasper usou seu poder em mim tentando sufocar meu pânico, se inclinou para Bella e tocou-a no ombro como se o contato físico deixasse seu poder mais intenso.

— Edward vem pegar vocês.— Jasper disse e eu e minha gêmea o encaramos.— Eu, ele e Carlisle vamos levá-las para algum lugar, e vamos proteger vocês.

— Sim, Edward vai pegar o primeiro voo para Seattle, vamos para o aeroporto nos encontrar com ele e vocês partirão.

— Minha mãe...— comecei cega de ódio.

— Ele está atrás da nossa mãe, Alice!— Bella disse com a voz repleta de histeria, pelo visto nem Jasper estava calmo o suficiente para nos conter.

— Emmett e eu ficaremos e vigiaremos até que ela esteja segura.— Alice prometeu.

— Não podemos vencer, Alice.— Bella falou— Vocês não podem proteger todos que nós duas conhecemos pra sempre. Ele já não está nos rastreando, ele vai encontrar alguém, vai machucar alguém que nós amamos...

— Nós o pegaremos, Bella.— Alice disse olhando carinhosamente para minha irmã, solidária.

— E se você se ferir, Alice? Acha que tudo bem por nós? Acha que ele só pode usar nossa família humana para nos atingir?— Bella rebateu e Alice olhou na minha direção sugestivamente, os olhos não em mim, mas em Jasper. Jasper agarrou minha nuca me puxando para si sem tirar sua outra mão de Bella e eu senti uma grande névoa de letargia intensa e pesada fechar meus olhos sem minha permissão. Me remexi no colo de Jasper ouvindo Bella dizer algo e depois um bater de porta antes de eu conseguir escorregar do colo do loiro e lutar contra a névoa.

— Você prometeu que não usaria seu dom em mim!— fuzilei com o olhar o loiro que me olhou triste e desviou o rosto, lhe dei as costas, irritada e entrei no quarto atrás de Bella ainda sentindo um resquício incômodo do dom de Jazz. Ficamos enfiadas no quarto por sabe-se lá quantas horas sem sequer sermos incomodadas.

Saímos juntas do quarto por causa que ouvimos o telefone tocar e eu queria pelo menos ou ouvir minha mãe ou ver Jasper se desculpando de joelhos, mas para minha surpresa, ele sequer estava no quarto. Olhei para o relógio e vi que era cinco e meia da manhã.

— Eles estão embarcando no avião.— Alice disse se virando para nós após desligar o telefone.— Chegarão ás nove e quarenta e cinco.

— Onde está Jasper?— perguntei já que o que ela falara interessava mais a Bella do que á mim.

— Pagando a conta.— ela respondeu de pronto e eu assenti planejando dar meia volta para o quarto— Ele sente muito, Becca, mas achamos que era necessário.

— Pois eu acho que não era.— rebati, sendo inconsequentemente rude com a garota, suspirei de arrependimento imediato— Desculpa.— Alice assentiu como se sequer tivesse sido abalada.

— Não vai ficar aqui?— Bella perguntou e a fada balançou a cabeça em negação.

— Temos que ficar mais perto da sua mãe.— ela disse e o telefone tocou novamente— Alô?— ela atendeu, o alívio transpareceu no seu rosto— Não, ela está bem aqui.— ela disse e nos estendeu o telefone. Bella foi a primeira a pegar o aparelho.

— Alô?— Bella atendeu e foi se afastando de Alice comigo no seu encalço.— Ah! Calma, mãe. Está tudo bem, tá? Só aguarde um momento e Rebecca vai te explicar tudo.— arregalei os olhos e Bella deu de ombros, chegamos até a porta do quarto e Bella parou, parecendo confusa.— Mãe?— Bella entrou no quarto na minha frente e eu segui-a fechando a porta atrás de mim, olhei-a confusa quando ela pareceu ter congelado. Ficou em silêncio enquanto eu a encarava fazendo diversos gestos para que ela falasse qualquer coisa.— Não, mãe, fique onde está.— a voz de Bella não passava de um sussurro e eu a observei sentindo meu nervosismo crescer, Bella me passou o telefone.

— Oi, mãe.— cumprimentei— Desculpe por ter deixado Bella mandar a mensagem de voz assustadora, mas eu prometo que..

— Não é de surpreender que você é a gêmea mais encrenqueira, com esse histórico não acredito que vá longe.— disse uma voz desconhecida e agradável, me interrompendo— Agora se não quer que eu machuque a mamãe, preciso que me ouça com bastante atenção, estão em outro cômodo?— perguntou ele que falava rápido e era estranhamente num tom de voz bem macio. Trinquei os dentes de puro ódio— Diga "Sim, mãe, estamos seguras" se estão sozinhas.

— Sim, mãe, estamos seguras.— repeti em voz alta e firme e me sentei na cama puxando Bella comigo.

— Ah, sim, bem melhor, gostei do tom. Diga, "mãe confie em mim."— continuou a voz agradável me obrigando a fazer o teatro enquanto eu sentia o ódio me engolir por inteiro— Vamos, está demorando, não quer que sua mãe perca um braço por sua teimosia, quer, Rebecca?

— Mãe, confie em mim!— repeti imediatamente, deixando uma pontada de desespero escapar, queria ameaçá-lo, explodi-lo em mil pedaços e jogá-lo no fogo do inferno, mas tudo que eu poderia fazer era abaixar a cabeça e jogar seu jogo.

— Eu estava preparado para esperar, mas mamãe chegou antes do esperado depois de uma ligação do pai preocupado. Mais fácil assim, não concorda? Menos suspense e ansiedade para você e sua irmã.

— Bella está segura, e permanecerá assim, não se preocupe com ela, mamãe.— rebati de pronto o que fez o homem do outro lado da linha rir. Notando minha tensão e contrariedade Bella arrancou o celular da minha mão e tomou o controle da situação.

— Desculpe, mãe, Rebecca...— ela se interrompeu e ficou em silêncio por um momento me olhando séria.— Não.— espera— Sim. Sim.— ela respondeu com a voz falha, me olhando nervosa.— sim. Sim. Onde está Phill?— perguntou Bella mas pareceu ter se arrependido.

Eu nunca quis matar tanto alguém em toda minha vida! James foi o sortudo da bolada. Ele ameaçava toda minha família e eu sequer tinha chance contra ele, a impotência me esmagou.

— Obrigada, mãe... eu te amo, a gente se vê logo.— ela baixou o telefone e me encarou com lágrimas nos olhos. Fiquei negando com a cabeça para ela, queria dizer que ela não iria, ela não se arriscaria, mas eu não sabia onde deveria ir, o que fazer ou quanto tempo tínhamos, querendo ou não eu precisava dela. Nem sequer poderia pedir a ajuda de Jasper. Tudo estava se tornando um pesadelo e eu sentia uma estranha sensação de déjà-vu.

Saímos do quarto, abaladas e Bella devolveu o telefone para a Alice.

— Minha mãe ficou preocupada e queria voltar para casa, mas eu a convenci a ficar.— Bella disse, a voz morta.

— Vamos cuidar para que ela fique bem, não se preocupem.— ela garantiu olhando nossos rostos e eu quase lhe disse "tarde demais". Sentei-me sem esconder minha cara de preocupada e massageei minhas têmporas.

— Alice, se eu escrever uma carta para minha mãe, você entrega á ela?— Bella perguntou, de repente— Deixaria na casa, quero dizer.

— Claro.— Alice sorriu e nos estregou papel e caneta, olhando cautelosa para o rosto acabado de Bella.

Pretendia deixar Bella escrever o que quisesse para a mamãe, mas quando dei uma espiada por cima do seu ombro e vi o nome de Edward no topo da folha, entendi sua intenção. Meu Deus, acho que nós temos mesmo que nos despedir.

— Eu posso ter uma folha também?— pedi embora internamente ficasse contrariada só de imaginar tudo dando errado. Alice me entregou minha folha e eu esperei Bella assinar para pegar a caneta de sua mão. Por uns segundos longos, eu não fazia ideia do que escrever.

Bati a caneta repetidamente contra a folha, mas por fim soltei um suspiro longo e apoiei o papel em minha coxa ao escrever.

"Ei, cachinhos, se você está lendo isso é porque muito provavelmente tudo deu muito errado e eu estou———

Só... não fique com raiva de mim por tempo demais, tá? Eu fiz o que era necessário, mas eu amo você. Sinto muito por não poder te contar o que deu errado.

Com amor, Rebecca."

Assinei e suspirei como se aquilo doesse mais do que qualquer coisa. E na verdade, doeu mesmo.