Agora não

META DE COMENTÁRIOS: 70

O salão que entramos era circular, frio e um tanto medieval, rodeado de colunas e estátuas, tanto as de mármore quanto as que se fingiam apesar dos olhos vermelhos serem bem vívidos.

— Ah, Jane, querida, você voltou!— cumprimentou um homem de manto preto feito o breu, se levantando de uma das três enormes cadeiras, das únicas mobílias do ambiente, a do meio. Ele tinha um enorme cabelo, liso e tão escuro quanto seu manto. Se aproximou de Jane e beijou seu rosto com prazer, a garota sorriu, satisfeita consigo mesma e se afastou com o irmão.

O homem que ficou enfim olhou na nossa direção e eu me surpreendi, ele não era nem de longe tão atraente quanto todos os outros rostos que nos cercavam. Sua aparência é leitosa e murcha.

— Sim, meu senhor.— respondeu Jane— Eu os trouxe de volta vivos, como era seu desejo.

— Ah Jane, você é um grande conforto para mim— ele sorriu juntando as mãos, atrás de si mais vampiros se aproximaram, como guarda costas.— E também, Alice e as gêmeas, Rebecca e Isabella! Isso sim é uma surpresa! Maravilha!

Ele se voltou para os dois que estavam na nossa escolta.

— Felix, seja gentil e conte aos meus irmãos sobre nossa companhia, tenho certeza que não vão querer perder isso.

— Sim, meu senhor.— respondeu Felix, mas não tirei os olhos do homem a nossa frente. Aro. Ele parecia melhor no quadro de Carlisle.

— Estão vendo, rapazes?— o vampiro estranho se virou novamente para nós com um sorriso de avô— O que eu lhes disse? Não estão felizes por eu não ter lhes dado o que pediram ontem?

— Sim, Aro. Estamos.— os dois responderam e uníssono.

— Adoro finais felizes! São raros! Mas quero saber toda história, como isso aconteceu? Alice?— seus olhos se voltaram para a vidente — Seus irmãos pareciam acreditar que seus talentos eram infalíveis, mas parece ter havido um engano.

— Estou longe de ser infalível.— Alice sorriu, parecia perfeitamente a vontade— Como pôde ver hoje, causo problemas com a mesma frequência que os resolvo.

— Você está sendo modesta!— repreendeu Aro— Já vi algumas de suas façanhas e devo admitir que nunca vi nada como o seu talento.

Alice olhou para os irmãos as pressas, coisa que Aro notou.

— Lamento, ainda não fomos apresentados, não é? É que tenho a sensação que já lhe conheço e acabo me precipitando. Seus irmãos nos apresentaram ontem de maneira peculiar, veja, eu e Edward temos algo em comum, mas sou limitado de um jeito que Edward não é.— disse em tom de inveja, suspirando.

— E também é exponencialmente mais poderoso— Edward acrescentou, secamente— Aro precisa de contato físico para ouvir seus pensamentos, mas ele ouve muito mais do que eu. Sabe que só posso ouvir o que está passando na sua mente no momento, mas Aro pode ouvir cada pensamento que sua mente já teve.— ele falou rapidamente.

Isso é... invasivo. Agradeço por Edward não poder ouvir meus pensamentos momentâneos, mas e se Aro conseguisse ver tudo o que eu havia pensado? Se ele é mais poderoso... eu não teria onde esconder nada pessoal.

Alice e Edward se entreolharam, e Edward inclinou a cabeça, o movimento também não passou despercebido por Aro.

— Mas poder ouvir a distância...— comentou Aro com ar quase sonhador— Seria muito conveniente.

Aro de repente olhou por sobre nossos ombros, e todos no salão o copiaram. Felix ressurgiu, com companhia. Mais dois vampiros nada parecidos com Aro e de mantos igualmente pretos. Um tinha até os mesmos cabelos que Aro ainda que minimamente mais curtos. O outro é loiro, cabelos tão claros que quase eram brancos.

— Vejam, Caius, Marcus! As garotas estão vivas, afinal. E Alice está com elas, não é ótimo?

Nenhum de seus irmãos pareceu interessado, o de cabelos negros parecia completamente entediado e o loiro parecia um tanto amargurado.

O de cabelos brancos se afastou, deslizando para um dos tronos encostados na parede ao passo que o outro estendeu a mão para Aro, por um momento pensei que eles fossem apertar as mãos, mas eles apenas tocaram as palmas e ele se afastou indo para o trono á direita.

— Obrigada, Marcus, isso foi interessante.— Comentou Aro, depois ele balançou a cabeça.

Alice bufou de frustração e Edward apressou-se para responder suas dúvidas.

— Marcus vê relacionamentos, está surpreso com a intensidade dos nossos.

— É preciso muito para surpreender Marcus, acreditem.— vendo a cara de Marcus, é possível acreditar nas palavras do seu irmão— É que é tão difícil entender, mesmo agora...— Aro refletiu— Como conseguem ficar tão perto delas?

— Não é sem esforço.— Edward comentou, Jasper assentiu, odeia admitir qualquer fraqueza em voz alta.

— Mas ainda assim... La tua cantante! Que desperdício.

— Vejo isso mais como um preço.— comentou Jasper.

— Um preço muito alto.— disse Aro.

— Apropriado.— Edward rebateu. Jasper riu, sem humor.

— Se importam?— Aro perguntou, de repente apontando para mim e para Bella.

— Pergunte á elas.— Edward disse, ríspido.

— Ah, com certeza, que grosseria a minha.— Aro exclamou, estendeu a mão na direção de Bella primeiro.— Isabella. Estou fascinado que você e sua irmã sejam as únicas excessões ao talento de Edward. Estava me perguntando se seria a mesma coisa comigo, você faria a gentileza de me permitir tentar? Ver se vocês também são uma excessão para mim.

Apesar de perguntar, é duvidoso que eu ou Bella tivéssemos qualquer escolha. Minha irmã hesitou, mas deu um passo na direção de Aro e lhe estendeu a mão, tentei ir para o seu lado mas Jasper segurou meu cotovelo, me impedindo. O olhei séria, e ele afrouxou o aperto me lançando uma censura silenciosa. Postei meu ombro colado ao de Bella. Aro sorriu para nós sem mostrar os dentes, querendo nos acalmar. Ele pegou a mão de Bella, seu semblante foi da dúvida a incredulidade até retornar a máscara de simpatia.

— Incrível... Rebecca?— ele pediu minha mão, lhe estendi, hesitante. A mesma coisa aconteceu só que ele pode controlar melhor as expressões. Ele soltou a minha mão e se afastou— Muitíssimo interessante.— murmurou ele, pensativo.— Hm, me pergunto se elas são imunes a nossos outros talentos.... Jane, querida?

— Não!— Edward e Jasper rosnaram nos puxando de volta para seu lado. Alice se pôs atrás de nós segurando um braço de cada uma.

— Sim, meu senhor?— sorriu a pequena Jane, feliz.

— Imagino, minha querida, se as garotas também são imunes a você.— Aro apontou, Jane olhou na nossa direção, um sorriso convencido nos lábios.

— Não!— Alice gritou quando Edward foi o primeiro a avançar na garota.

Ninguém tocou Edward, ninguém chegou a tempo de machucar ele, mas ele rapidamente estava no chão. Se contorcendo numa agonia evidente. Bella gritou pedindo para pararem.

— O que está acontecendo?— perguntei fazendo uma careta confusa enquanto me prendia em Jasper para que ele não tivesse o mesmo destino.

— Jane.— Aro a chamou, tranquilo. Assim que Jane tirou os olhos de Edward, o mesmo ficou imóvel no chão. Aro inclinou a cabeça na nossa direção. Fixei meus olhos nos de Jane, mas ela encarou primeiro Bella, minha irmã não reagiu, o sorriso de Jane vacilou. Edward ficou de pé. Os olhos vermelhos de Jane se voltaram para mim, mas eu não senti nada, não entendi, não senti a dor que esperava.

Aro riu, quase exalando ironia.

— Fascinante! Elas confundem á todos nós. Duas raridades de uma vez! Incrível, incrível!— repetia ele— E agora, o que fazemos com vocês?

Eu tremi, essa parte que estávamos esperando.

— Suponho que não haja possibilidade de terem mudado de ideia.— Aro lamentou— Suas habilidades seriam um acréscimo á nossa pequena companhia.

— Eu prefiro não.— Edward respondeu.

— Não, obrigado.— Jasper respondeu, no mesmo tom que o irmão.

— Alice?— perguntou Aro, esperançoso.

— Não, obrigada.— Alice disse, firmemente.

— E vocês, garotas?— continuou Aro, o olhei confusa, sem saber se ele estava fazendo uma piada, imaginando que soltaria sua risada icônica. Isso não aconteceu.

Caius foi quem quebrou o silêncio.

— O que?— perguntou ele, parecendo contrariado.

— Ah, Caius, com certeza você vê o potencial.— Aro nos fitou com uma ansiedade curiosa— Não encontramos talentos tão promissores desde Jane e Alec... Talvez seja algo de gêmeos.— ele sorriu.

— Não, obrigada.— repetiu Bella, numa voz meio falhada de medo. Fiquei quieta, deixei que minha cara de desgosto deixasse minha posição clara.

— Lamentável. Que desperdício.— Aro sacudiu a cabeça.

— É isso, então? Unam-se ou morram?— Edward sibilou.

— É claro que não.— Aro respondeu, nos olhando ofendido— Estamos aqui para esperar Heidi, não por vocês.

— Aro!— chamou Caius— A lei os reclama.

— Como assim?— Aro perguntou.

— Elas sabem demais.— disse Caius.

— Vocês também têm humanos aqui.— Jasper os lembrou da sua recepcionista.

— Sim, mas quando não forem mais úteis servirão para nos sustentar.— admitiu o loiro— Não são seus planos para essas aí. Se elas trairem nossos segredos, estarão prontos para destruí-las? Eu acho que não.— zombou ele.

— Nós nunca os exporiamos!— exclamei, Caius me olhou furioso pela interrupção.

— Jasper pode pretender transformar uma, mas Edward não quer fazer o mesmo com a outra. Portanto, há uma vulnerabilidade. Admitindo que isso seja verdade, nesse caso, Isabella Swan perde o direito á vida, vocês quatro podem sair, se desejarem.

— NÃO!— gritei— Se a matar vai ter que me matar também!— minha raiva ferveu por todo meu corpo. Caius sorriu.

— Foi o que pensei. Não será um problema, querida— Caius disse, prazeroso, e logo sombras se moveram antes que eu percebesse o que estava acontecendo.

Houve um agito ao meu redor, Edward lutava com Demetri pelo que eu pude ver, ao passo que Jasper se atracava contra Felix.

Eles eram vultos, as capas dançando enquanto só se ouvia o barulho de rochas se chocando continuamente.

Alice segurou Bella, talvez prevendo que esta correria algum perigo. Até todos pararem, Demetri conseguiu imobilizar Edward, e Felix colocou Jasper de joelhos, de costas para ele e encarando Caius em seu trono. Mais dois vampiros deslizaram para ajudar Felix.

— NÃO! POR FAVOR NÃO!— gritei desesperada, minha voz ecoou pelo salão e Aro e Felix olharam na minha direção, Felix segurava o rosto de Jasper o virando para o teto, esticando o pescoço do loiro, pronto para arrancar-lhe a cabeça, outros dois seguravam os braços abertos de Jasper, ele estava indefeso. Avancei correndo na direção dele mas meu corpo se chocou violentamente contra o de Alec. Ele enrolou meus cabelos na sua mão e se colocou atrás de mim muito rapidamente, senti seu hálito frio rondar meu pescoço, Bella gritou mas Alice a impedia de se mover demais.

O rosnado de Jasper se tornou alto, mortal, ele ultrapassava a fúria. Ele se debateu para se soltar mas não havia muito o que podia fazer. Estiquei minha mão na sua direção com dificuldade e apesar do seu braço estar quase todo imobilizado, Jasper girou o pulso para mim, seus dedos a metros dos meus, se esticando numa luta de me alcançar, os olhos fixos nos meus.

— Por favor!— me forcei o mais longe que consegui do corpo de Alec, meu couro cabeludo inteiro doía, mas eu precisava chegar até Jasper. Aro ergueu a mão, como que para pedir para que Alec parasse, e o mesmo me largou rapidamente, caí de joelhos e engatinhei até Jasper. Lutei inutilmente contra os dedos firmes de Felix no seu pescoço — Solte!— me pus de pé novamente, furiosa, minha respiração se alterou, meu coração estava acelerado, eu quero matar todos que tocam em Jasper, todos eles.

Felix me olhou com divertimento e depois olhou para Aro atrás de mim, sua cara se fez de confusa e ele hesitou, soltando o rosto de Jasper de qualquer jeito, os outros dois também se afastaram discretamente. Jasper relaxou a cabeça na minha barriga abraçou minhas pernas.

Aro deu uma risada de lunático e bateu palmas.

— Impressionante!— comentou ele, mas me recusei a encará-lo. Minha mandíbula trincada e a fúria homicida no meu coração. Se eu pudesse... Se eu tivesse o poder suficiente...— Acalme-se, querida Rebecca! Soube que você tem um temperamento e tanto.— Aro deslizou para o meu lado, não gosta de ser ignorado, o olhei de canto de olho, fuzilando-o enquanto Jasper se colocava de pé novamente, suas mãos me escalando e me prendendo num abraço.— Muito corajosa, mas a ponto de ser imprudente.— ele observou meu rosto com atenção, o encarei com impaciência.— Vejo que lutaria qualquer luta por mais perdida que fosse. Hmm— ele olhou para Jasper— seus dons o enganaram, ela certamente te ama.

Olhei Jasper, incrédula, algum momento ele já duvidou isso!?

— E se eu lhes mostrar que as duas se juntarão á nós? Que não corremos nenhum risco?— perguntou Alice, Aro a observou com atenção. E depois do que pareceu uma eternidade, ele segurou a mão de Alice. Ambos pareceram congelados conforme o futuro lhe era exibido em privado.

Eu... eu ainda seria transformada? Olhei pra Jasper mas ele evitou meu olhar, me perguntei o que aquilo significaria.

— Impressionante! Ver as coisas como você... E ainda nem aconteceram!— Aro comemorou e soltou a mão de Alice, impressionado.

— Mas acontecerão.— Alice disse.

— Sim, sim, está bem determinado! Certamente não há problema.

Jasper suspirou de aparente alívio, de novo, desejei ter o dom de Edward para poder ver o que pensava.

— Aro.— chamou Caius, indignado.

— Caius, meu caro. Pense só nas possibilidades! Eles podem não se juntar á nós hoje, mas sempre poderemos ter esperança quanto ao futuro, imagine a alegria que a jovem e pequena Alice poderia trazer á nossa família. Fora o fato de que estou curiosíssimo para como as garotas vão ficar!

— Podemos ir, então?— Alice perguntou calma.

— Sim, claro. Espero que venham nos visitar em breve.— comentou Aro com satisfação.

— E nós também os visitaremos.— prometeu Caius.— Para nos asseguramos que sua parte foi comprida. Não demorem demais, não damos segundas chances.

— Vão, Heidi está a caminho.— pronunciou Marcus pela primeira vez, a voz monótona.

— Nesse caso é melhor partirmos o quanto antes.— Jasper assentiu na direção de Edward e Alice.

— Sim, é uma boa ideia. Acidentes acontecem.— Aro comentou misterioso, ao menos para mim.— Mas por favor, esperem até que escureça.

— Claro.— Edward assentiu.

— E peguem.— Aro estalou os dedos, acrescentando depressa, chamando Demetri e Felix, os dois tiraram seus mantos e os entregaram para Jasper e Edward.— Vocês chamam muita atenção.— eles os vestiram— Ah, cabe em vocês— Aro comentou, admirado.

— Obrigado, Aro.— os rapazes disseram em coro.— Vamos esperar lá em baixo.— Edward continuou.

— Adeus, jovens amigos.— despediu-se Aro.

— Vamos.— o nervosismo de Edward cresceu e ele nos acelerou pelo caminho que tínhamos entrado.

Foi quando nós nos esbarramos com um grande grupo de pessoas, seguindo fielmente uma mulher de beleza chamativa em um vestido vermelho. As várias exclamações dos turistas atrás de si reverberavam nas paredes.

— Bem vinda ao lar, Heidi.— cumprimentou Demetri que foi mandado para nos mostrar a saída.

— Demetri.— sorriu a mulher completamente atraente, os dentes reluzindo, muito feliz consigo mesma.

— Bela pescaria.

— Você não vem?

— Num minuto, guarde um pouco pra mim.

Quando eu comecei a entender do que falavam meus pés pareceram chumbo e eu vi duas crianças em meio tantos adultos. Jasper não me deixou parar. Ele tentou me manter olhando para frente quando as portas se fecharam, mas a gritaria me deixou elétrica.

— Não!— tentei me mover, quantas pessoas tinham entrado lá? Meu Deus, meu Deus, isso é doentio! Jasper me pegou no colo enquanto os gritos diminuíam em uma velocidade alarmante. Silenciados pela morte.

Eu comecei a chorar.

— Espere, Jasper, todas aquelas pessoas...— solucei sentindo um aperto no peito.— As crianças!

— Eu sei, Rebecca. Eu sei. Não há nada que você possa fazer.

Voltamos para a recepção e Demetri saiu apressadinho. Jasper enfim me pousou no sofá de couro, longe da balconista curiosa. Edward, Alice e Bella estavam sentados na nossa frente, minha irmã estava agindo da mesma forma que eu, tremendo e soluçando.

— Eu estou com medo, Jasper.— segredei-lhe. Ele se ajoelhou na minha frente e segurou meu rosto com suas mãos frias.

— Eu sei.— ele me olhou com pesar como se não soubesse o que fazer, me deixou chorar e permaneceu do meu lado sem falar nada, era bom tê-lo ali.

Aos poucos parei de tremer. Segurei o rosto de Jasper, ao menos contente com uma coisa.

— Ainda bem que você está vivo.— sussurrei com a mais pura sinceridade.

— Graças a você, sempre graças a você.— ele acariciou meus cabelos de leve.— Temos muito o que conversar, querida.— ele disse, a testa franzida.

— Sim, temos.— concordei.

— Mas agora não.— pediu ele.

— Agora não.— concordei novamente, não estou com cabeça para isso, não agora.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top